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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Costa Vece, "Revolucion Patriotismo". Vista da instalação na Galeria Filomena Soares. Fotografia: Lúcia Conceição


Costa Vece, "Revolucion Patriotismo". Vista da instalação na Galeria Filomena Soares. Fotografia: Lúcia Conceição


Costa Vece, "Revolucion Patriotismo". Vista da instalação na Galeria Filomena Soares. Fotografia: Lúcia Conceição

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ARQUIVO:


COSTA VECE

Revolucion-Patriotismo




GALERIA FILOMENA SOARES
Rua da Manutenção, 80
1900-321 Lisboa

21 SET - 06 NOV 2006


Na Cidade do México, um cruzamento divide duas artérias de nomes sonantes: numa das direcções seguimos pela Calle Revolucion e pela outra rumamos à Patriotismo. Foi com esta alusão geográfica que Costa Vece, artista suiço (Herisau, 1969) de origem greco-italiana explicou sucintamente o título “Revolucion-Patriotismo†da sua mostra patente na Galeria Filomena Soares. Curiosa associação de coordenadas: por vezes antagónicas, por vezes irmãs na mesma causa, elas são uma constante referência – e apelo – na forte e engajada imagética que Costa Vece desenvolve.

Ao entrarmos na Galeria Filomena Soares entramos no território polémico e ambivalente da arte política.
Poderá a arte, como afirma Joseph Beuys (citado por Paulo Reis, o comissário desta exposição), desconstruir os efeitos repressivos de um sistema social senil? Costa Vece parece acreditar que sim, conseguindo, de facto, transformar o espaço imaculado e minimalista de uma das galerias com maior área de Lisboa num local onde se sente a tensão, o desconforto, a latência de algo invisível mas presente. Nesta transformação do espaço, o artista foi particularmente hábil ao individualizar dois espaços não comunicantes: grande parte da área da galeria foi vedada por arame farpado. No interior desta zona, acessível apenas visualmente, estão uma carrinha pickup, inúmeros cartazes e bandeiras. No exterior, um estreito corredor foi deixado livre - entre as cordas metálicas e a parede – permitindo ao público percorrer a mostra sem ficar com a roupa presa numa das pontas aguçadas do arame farpado que ameaça practicamente todo espaço. Parece então que a dita descontrução dos efeitos repressivos passa, ela também, pela repressão. Ou pelo menos pela sua ameaça.

Para além do forte efeito visual criado pela instalação – e esta é, de facto, uma das exposições que melhor soube tirar partido do espaço da galeria Filomena Soares – uma dúvida persiste: somos nós, público, os que isolámos ou os que fomos isolados? Somos assistência de um desolador teatro humano que se desenvolve através de vestígios à nossa frente ou, em vez disso, estamos protegidos de uma área de conflito ao ser-nos vedado o seu acesso? Permanece esta perplexidade: entre o – free-land– apregoado no interior e a impossibilidade violenta que nos retira qualquer vontade de aceder a esse território, em que a verdadeira validez reside no artifício, tornando-se quase anedota de si mesmo. Por isso mesmo funciona tão bem visualmente!
Bandeiras penduradas aparentemente ao acaso decoram o interior desta zona de guerrilha. São as “Flagsâ€, que Costa Vece realiza a partir de roupas encontradas, unidas precariamente com alfinetes de dama. A capacidade crítica é inversamente proporcional à eficácia visual e estética. Impactantes, ostensivas, criam os estendartes das ex-colónias: Angola, São Tomé, Moçambique… o rol é longo. Mantas de retalhos, metáforas de nacionalidades feitas de gente e não de utopias nacionalistas, um tema caro a alguém que, nascido na Suiça, viaja com um passaporte grego ou um italiano e que expressa bem claramente as suas “reasons why I’m not to be proud to be italian/Swiss†(2002). As “Flags†produzem um impacto visual forte. São impossíveis de ignorar, sublinham a retórica crítica do artista. Mas movem-se totalmente no plano da estética e não da ética. Por isso mesmo não creio que alguém se sinta verdadeiramente incomodado com o seu passado colonialista e como o seu presente comunitário em luta com a emigração.

O apelo à constestação, à revolta, ao questionar o estabelecido procura ser forte. Mas forte é também a nossa posição, confortavelmente instalados dentro de um espaço teatral, bem encenado mas inócuo, com a camisola que arriscava ser rasgada intacta, o cartão multibanco no bolso e o carro estacionado à porta. Melhor modo para abortar uma revolução?

Revolucion-Patriotismo é uma boa exposição porque funciona como um teatro, como uma farsa, valendo verdadeiramente a pena enquanto tal. Sem ilusões utópicas de mudar seja o que for. E parece-nos observar a consciência lúcida do artista a movimentar-se entre os arranjos cuidadamente blasées que criou…



Filipa Ramos