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ENTREVISTA


Luís Castro, © Alípio Padilha


Gabinete Curiosidades Karnart, vista geral. © Karnart


COMB, 1996. © Célia Penteado


COMB, 1996. © Célia Penteado


COMB, 1996. © Célia Penteado


QUIMERAS, 2019. © TNSJ - Susana Neves


QUIMERAS, 2019. © TNSJ - Susana Neves


QUIMERAS, 2019. © TNSJ - Susana Neves


IDÍLIO, 2019. © Alípio Padilha


IDÍLIO, 2019. © Alípio Padilha


IDÍLIO, 2019. © Alípio Padilha


Buonarroti, 2021. © Alípio Padilha


Buonarroti, 2021. © Alípio Padilha


Buonarroti, 2021. © Alípio Padilha


Buonarroti, 2021. Fotografia de instalação © Vel Z


Buonar, 2022. © Alípio Padilha


Buonar, 2022. © Alípio Padilha


Buonar, 2022. © Alípio Padilha


Buonar, 2022. © Alípio Padilha


Buonar, Inês Vaz e instalação "Infância de Michelangelo". © Vel Z

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LUÍS CASTRO


01/09/2022 

 


Luís Castro abre-nos as portas do Gabinete de Curiosidades Karnart para nos falar do seu momento presente e das suas criações actuais. A estreia de “Buonar”, agora a 3 de Setembro, segunda parte do tríptico dedicado à vida e obra de Michelangelo Buonarrotti, e o lançamento a 28 de Setembro do livro “Perfinst”, conceito que vem caracterizando os já longos vinte e um anos de trabalho desta estrutura, são os próximos eventos no seu calendário.
Luís Castro nasceu em Nampula, Moçambique. Com uma licenciatura em Medicina Veterinária, um curso de Língua e Cultura Italianas e várias formações e estágios diversos na área do teatro, é desde 2001 director artístico da Karnart, juntamente com Vel Z, onde tem vindo a desenvolver este conceito de “perfinst”, que cruza as Artes Performativas e as Artes Visuais.

 


Por Liz Vahia

 


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LV: O “perfinst” caracteriza o trabalho desenvolvido na Karnart. Como chegaram à constatação de que tinham um conceito específico que era preciso nomear?

LC: O conceito de "perfinst" nasce em Londres em 1996 aquando da criação do espectáculo "COMB", que era um espectáculo que não se enquadrava nem no conceito do teatro nem no conceito da dança, nem mesmo na nova-dança ou no novo teatro-dança. Tinha qualquer coisa de artes plásticas, porque tinha uma instalação muito detalhada, tinha performance, tinha intérpretes de diferentes áreas. Para o comunicar acabámos por escolher "performance installation show". Era uma expressão muito grande, por isso tirámos as quatro primeiras letras a cada uma das palavras, "perf" e "inst", juntámo-las em "perfinst" e anunciámos o espectáculo como "a perfints show". E a partir daí começámos a pensar o que é que este "perfinst" teria de próprio, de genuíno, de campo, de abertura, de pesquisa, de possibilidade de investigação… e fomos por aí. Projecto a projecto, espectáculo a espectáculo, fomos percebendo que no início eles partiam muito de texto, depois foram deixando de partir, foram entrando as artes plásticas à mistura, os objectos a assumir protagonismo, as imagens, etc., e começámos efectivamente a perceber que estávamos a falar de um espectáculo que cruzava disciplinas. Aliás, hoje em dia concorremos aos apoios do Ministério da Cultura em Cruzamento Disciplinar. É de facto uma zona de cruzamentos de disciplinas em que muito resumidamente o performer, portanto o actor e o intérprete, se objectiza, ou se objectifica, e o objecto se humaniza, na medida em que se torna ele o responsável pelas emoções que normalmente são atribuídas ao intérprete. É ele que assume um protagonismo pela forma como é apresentado, pela ruptura que intervém relativamente à dramaturgia que se ouve, eventualmente, ou que se trabalha de outra forma. O “perfinst” partiu de uma necessidade de comunicação e depois transformou-se numa descoberta progressiva que hoje em dia, vinte anos depois, se instituiu como um conceito já com abordagens académicas, textos e especificidades próprias, modelos, métodos próprios.


LV: Um dos pontos interessantes no trabalho da Karnart é de facto o objecto se apresentar como um protagonista também. Podes falar-nos da colecção de objectos da Karnart e como esta se foi autonomizando como um gerador dramatúrgico?

LC: A colecção de objectos da Karnart existe desde sempre. Alguns faziam parte da minha colecção enquanto adolescente ou do espólio familiar. O meu pai era investigador veterinário especializado em entomologia e trabalhava no norte de Moçambique, por isso desde pequeno eu lido com caveiras, frasquinhos com insectos, fetos, objectos... Eu próprio tenho uma licenciatura em veterinária, que depois nunca exerci, mas que efectivamente concluí. Portanto, este mundo dos objectos naturais e a paixão pelos objectos artesanais, pelas antiguidades, pelo coleccionismo, pela montagem, pelo puzzle, acompanha desde sempre e tem constituído um motor muito evidente do nosso trabalho. Quando nos foi cedido este espaço do antigo atelier de Lagoa Henriques, o actual Gabinete de Curiosidades Karnart, percebemos que o espaço, pela arquitectura interior que tem, servia de forma modelar, exemplar, ao gabinete de curiosidades. Comprámos uma série de vitrines e armários e essa colecção foi toda instalada de forma nobre, dando origem ao Gabinete. Todos os objectos entram nos espectáculos e voltam a ser arrumados nas vitrines. Estão organizados em vitrines com uma dramaturgia própria, não estão só expostos de forma técnica, ou de forma aleatória, estão expostos eles próprios sendo "perfinst" condensados. Quem olhar para aquelas vitrines percebe que aquela disposição é não só estética, mas também dramatúrgica. Portanto, entram nos espectáculos e voltam às vitrines e têm a sua leitura biográfica, ou seja, vão aumentando de curriculum. A nossa ideia é a de um dia, assim que tenhamos possibilidades para isso, biografar todos os objectos e deixar essa biografia à disposição do público à medida que vai vendo as instalações, seja com QR code seja de outra forma qualquer. Este espectáculo que vamos estrear, “Buonar”, já tem muito essa vertente, pois é um espectáculo que fala dos objectos e da sua biografia de uma forma muito especial.

 

Gabinete de Curiosidades Karnart, Armário Naturalia-Mineralia. © Adriano Filipe

 


LV: Imagino que cuidar da colecção e manter o espaço do Gabinete de Curiosidades Karnart dê trabalho continuado. Têm uma equipa dedicada a essas tarefas? Este é o espaço que sempre imaginaram para a Karnart?

LC: Eu sou o principal curador ou o principal tratador da colecção. Neste momento temos uma pessoa connosco, David Rodrigues, que me assessoriza nessa vertente, tratando das limpezas e das manutenções, no entanto, a composição das instalações é totalmente minha. Temos também o lado do Vel Z, o outro director artístico da Karnart, que dá sugestões, mas a colecção é realmente responsabilidade minha. A nossa ideia é, no futuro e com mais financiamento, termos uma pessoa especializada na colecção, do ponto de vista de visitas guiadas, ou seja, uma pessoa que possa falar, que saiba tudo sobre a colecção, ou saiba o máximo possível, mas continuarei sempre a ser eu a juntar os objectos, a formar as colecções. Temos imensas ofertas de amigos que triamos e olhamos e escolhemos. "Se este é o espaço que sempre imaginámos para a Karnart", não, na verdade nós adaptamo-nos aos espaços que nos surgem. Nós, antes deste espaço, estivémos na antiga Escola Superior de Medicina Veterinária, na secção de Anatomia, durante 8 anos e adaptámos aquele espaço de uma forma muito especial. Não tinha as Curiosidades expostas, de todo, este espaço actual é que é o Gabinete de Curiosidades. Por outro lado, este é menos espaço de espectáculo do que o outro era. Aqui estamos sempre um bocadinho condicionados com espectáculos site specific, porque não temos uma sala ou um auditório onde possamos apresentar os espectáculos que têm uma vertente mais tradicional ou de palco à italiana. Não é este o espaço que sempre imaginámos para a Karnart, mas é um espaço que serve muito bem o nosso objectivo, sobretudo o do Gabinete de Curiosidades.


LV: Apesar da forte relação com as artes visuais, o vosso trabalho também gosta de textos fortes. Como se dá esse balanço entre um e outro na criação de cada espectáculo?

LC: Há espectáculos que se alicerçam em texto e outros que se alicerçam noutras vertentes, em imagens, em temas, nas alterações climáticas, em questões fracturantes de género, no aborto, na homossexualidade, na religião... Há temas que são ponto de partida para espectáculos, há textos que são ponto de partida para espectáculos, mas há também imagens, esculturas, há coisas de artes visuais que são pontos de partida para os espectáculos. Os pontos de partida são variados, gerando dramaturgias variadas. Temos as dramaturgias de texto, que surgem normalmente quando pegamos em autores clássicos como Shakespeare, Santareno, ou mesmo em romances, por exemplo Raúl Brandão, ou em poesia. Nestes casos procedemos a uma dramaturgia cerrada, ou seja, trabalhamos os textos de uma forma específica: decantamos, separamos frases e refazemos os textos, digamos assim, como uma dramaturgia própria. Quando partimos só de objectos, por exemplo, instala-se a dramaturgia de objectos que corre ou não em paralelo com a dramaturgia de textos. Quando são objectos mais tecnológicos, a dramaturgia é tecnológica, imagética, por exemplo, a partir daquilo que se filmou, do actor em movimento cuja imagem é projectada sobre ele próprio, ou outra variante qualquer. Nestes casos, a dramaturgia é outra. Eu diria que o texto serve, e serviu e continua a servir, alguns dos espectáculos de uma forma marcada, mas há outros pontos de partida que são tão importantes como aquele e que são outros. Não se pode olhar para o trabalho da Karnart como um trabalho ou focado em texto ou focado em objectos, tem que se olhar para o trabalho da Karnart, sobretudo após vinte e um anos de trabalho (sem contar com os cinco anteriores à formação da Karnart tecnicamente enquanto estrutura) como uma criação múltipla.

 

Buonar, 2022. © Alípio Padilha

 


LV: A 3 de Setembro vão estrear a segunda parte de um projecto sobre a vida e obra de Michelangelo, intitulado “Buonar”. Como é que surgiu a ideia e porquê esta divisão em três partes a partir do apelido do artista?

LC: "Buonarroti" surgiu porque já trabalhámos muitas vezes a partir de escultura ou de pintura. Por exemplo, "Idílio" e "Quimeras" partiam da escultura "Cristo velato" de Giuseppe Sanmartino que existe em Nápoles e que é uma escultura lindíssima. Já trabalhámos com outros pontos de partida equivalentes e quizémos muito trabalhar a partir da obra de Michelangelo, da vida e da obra, que é uma coisa vastíssima, como todos sabemos. O que fizémos em Novembro e Dezembro do ano passado foi uma instalação guiada que se apropriou do Gabinete de uma forma muito marcada, onde o público seguia com roteiros acompanhando uma performer, robótica, quase ela própria uma escultura do Michelangelo que teria atravessado quinhentos anos, que não falava com o público, tinha umas lentes e deambulava pelo espaço iluminando, apontando as instalações. O público ia descobrindo, confrontando a leitura das instalações actuais com a leitura do tempo do Michelangelo, viajando sempre numa ambiguidade, numa dicotomia durante todo o espectáculo. E quando o espectáculo acabou percebemos que ainda havia imensa matéria prima que não havia sido explorada. Por isso, para este ano resolvemos criar outros dois objectos, e passámos a abordar o todo como um tríptico, ou como um políptico até, caso conseguíssemos fazer mais partes. Esta parte que se estreia agora, "Buonar", liberta os objectos do Gabinete de Curiosidades do jugo de "Buonarroti", digamos assim. É a altura em que a performer-museóloga, que é feita pela actriz Inês Vaz, apresenta os objectos na sua biografia detalhada, ainda fazendo alguma relação com o tempo e com a situação do Michelangelo que lhe corresponde, mas são sobretudo os objectos a libertarem-se dessa colonização, dessa escravatura a que o universo de Michelangelo Buonarrotti os tinha submetido em 2021. "Roti", o próximo espectáculo em Novembro, fechará este ciclo de uma forma que ainda vamos perceber como é que vai ser. Temos alguns pontos de partida, concretamente sabemos que o duo musical The Banksy´s, de Victor Rua e Ilda Teresa Castro, vão estar connosco, e também mais uma performer certamente, mas depois o espectáculo vai surgiu noutra dimensão e vai fechar de alguma maneira este ciclo.


LV: Também agora em setembro irão lançar um livro sobre o conceito “perfinst”. Queres apresentar um pouco do que vai conter o livro? Será também uma oportunidade para pensar retrospectivamente estes 20 anos de trabalho?

LC: Sem dúvida, é uma oportunidade de ouro para pensar retrospectivamente os vinte anos de trabalho da Karnart. O livro é um objecto gráfico com sentido editorial número um do Vel Z, na medida em que este pensou a forma do livro propriamente dito, depois desenhado graficamente de forma magnífica pela Maria João Ribeiro (aka Bloodymary), de A Bela e o Monstro Edições. O livro é coordenado pela Rita Martins e divide as duas partes do conceito “perfinst”: temos uma parte que é "Perf" e uma parte que é "Inst”, sendo uma mais relacionada com a parte performativa e outra mais relacionada com a parte instalativa, com a parte plástica. Para além do texto introdutório da Rita, o livro tem vários separadores, que reflectem os testemunhos dos escritores convidados, que vão desde criadores, intérpretes, à academia, ou aos observadores. Do ponto de vista dos criadores, tem também um ensaio visual do Vel, que não escreve, cria imagens, e o meu contributo com uma série de tópicos que enquadram o conceito de "perfinst" do ponto de vista de quem o criou e de quem nele trabalha. É um livro que vai ser lançado no dia 28 de Setembro às 18h, para cujo lançamento estão todos convidados. O livro é fundamental não só pela beleza do objecto que é, mas também pelo conteúdo e pelo marcar efectivamente um momento de consolidação, de solidificação, de objectização de um conceito que tem existido de alguma maneira de forma efémera, porque os espectáculos são isso, são efémeros.