Links

O ESTADO DA ARTE


Vista da exposição "Preludio. Intención Poética", sobre a colecção do MACBA - Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Foto: Yolanda Jolis/MACBA


Vista da exposição de María Teresa Hincapié no MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Foto: Miquel Coll. Cortesia: MACBA


“En silencio pero juntos”, performance de María José Arjona, no âmbito da exposição de María Teresa Hincapié. MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Cortesia: MACBA


“En silencio pero juntos”, performance de María José Arjona, no âmbito da exposição de María Teresa Hincapié. MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Cortesia: MACBA


"Cinthia Marcelle: A Conjunction of Factors". Vista da exposição no MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Foto: Miquel Coll. Cortesia: MACBA.


Cinthia Marcelle, “A família em desordem”. Vista da instalação no MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Foto: Miquel Coll. Cortesia: MACBA.


Cinthia Marcelle, “475 Volver”, 2009. Vista da instalação no MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Cortesia: MACBA.


“No Ar/On Air” (2009-em curso), de Cinthia Marcelle. MACBA – Museo de Arte Contemporânea de Barcelona. Cortesia: MACBA.


Vista da Sala Universo da CosmoCaixa, Barcelona. Cortesia: CosmoCaixa


Vista do Lab Math da CosmoCaixa, Barcelona. Cortesia: CosmoCaixa


Desafios de Ciência na CosmoCaixa, Barcelona. Cortesia: CosmoCaixa


Experiência Grandes Astronautas na CosmoCaixa, Barcelona. Cortesia: CosmoCaixa

Outros artigos:

2024-03-09


CAMINHOS NATURAIS DA ARTIFICIALIZAÇÃO: CUIDAR A MANIPULAÇÃO E ESMIUÇAR HÍPER OBJETOS DA BIO ARTE
 

2024-01-31


CRAGG ERECTUS
 

2023-12-27


MAC/CCB: O MUSEU DAS NOSSAS VIDAS
 

2023-11-25


'PRATICAR AS MÃOS É PRATICAR AS IDEIAS', OU O QUE É ISTO DO DESENHO? (AINDA)
 

2023-10-13


FOMOS AO MUSEU REAL DE BELAS ARTES DE ANTUÉRPIA
 

2023-09-12


VOYEURISMO MUSEOLÓGICO: UMA VISITA AO DEPOT NO MUSEU BOIJMANS VAN BEUNINGEN, EM ROTERDÃO
 

2023-08-10


TEHCHING HSIEH: HOW DO I EXPLAIN LIFE AND CHANGE IT INTO ART?
 

2023-07-10


BIENAL DE FOTOGRAFIA DO PORTO: REABILITAR A EMPATIA COMO UMA TECNOLOGIA DO OUTRO
 

2023-06-03


ARCOLISBOA, UMA FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA EM PERSPETIVA
 

2023-05-02


SOBRE A FOTOGRAFIA: POIVERT E SMITH
 

2023-03-24


ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA
 

2023-02-16


QUAL É O CINEMA QUE MORRE COM GODARD?
 

2023-01-20


TECNOLOGIAS MILLENIALS E PÚBLICO CONTEMPORÂNEO. REFLEXÕES SOBRE A EXPOSIÇÃO 'OCUPAÇÃO XILOGRÁFICA' NO SESC BIRIGUI EM SÃO PAULO
 

2022-12-20


VENEZA E A CELEBRAÇÃO DO AMOR
 

2022-11-17


FALAR DE DESENHO: TÃO DEPRESSA SE COMEÇA, COMO ACABA, COMO VOLTA A COMEÇAR
 

2022-10-07


ARTISTA COMO MEDIADOR. PRÁTICAS HORIZONTAIS NA ARTE E EDUCAÇÃO NO BRASIL
 

2022-08-29


19 DE AGOSTO, DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA
 

2022-07-31


A CULTURA NÃO ESTÁ FORA DA GUERRA, É UM CAMPO DE BATALHA
 

2022-06-30


ARTE DIGITAL E CIRCUITOS ONLINE
 

2022-05-29


MULHERES, VAMPIROS E OUTRAS CRIATURAS QUE REINAM
 

2022-04-29


EGÍDIO ÁLVARO (1937-2020). ‘LEMBRAR O FUTURO: ARQUIVO DE PERFORMANCES’
 

2022-03-27


PRATICA ARTÍSTICA TRANSDISCIPLINAR: A INVESTIGAÇÃO NAS ARTES
 

2022-02-26


OS HÁBITOS CULTURAIS… DAS ORGANIZAÇÕES CULTURAIS PORTUGUESAS
 

2022-01-27


ESPERANÇA SIGNIFICA MAIS DO QUE OPTIMISMO
 

2021-12-26


ESCOLA DE PROCRASTINAÇÃO, UM ESTUDO
 

2021-11-26


ARTE = CAPITAL
 

2021-10-30


MARLENE DUMAS ENTRE IMPRESSIONISTAS, ROMÂNTICOS E SUMÉRIOS
 

2021-09-25


'A QUE SOA O SISTEMA QUANDO LHE DAMOS OUVIDOS'
 

2021-08-16


MULHERES ARTISTAS: O PARADOXO PORTUGUÊS
 

2021-06-29


VIVER NUMA REALIDADE PÓS-HUMANA: CIÊNCIA, ARTE E ‘OUTRAMENTOS’
 

2021-05-24


FRESTAS, UMA TRIENAL PROJETADA EM COLETIVIDADE. ENTREVISTA COM DIANE LINA E BEATRIZ LEMOS
 

2021-04-23


30 ANOS DO KW
 

2021-03-06


A QUESTÃO INDÍGENA NA ARTE. UM CAMINHO A PERCORRER
 

2021-01-30


DUAS EXPOSIÇÕES NO PORTO E MUITOS ARQUIVOS SOBRE A CIDADE
 

2020-12-29


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO - PARTE II
 

2020-11-29


11ª BIENAL DE BERLIM
 

2020-10-27


CRITICAL ZONES - OBSERVATORIES FOR EARTHLY POLITICS
 

2020-09-29


NICOLE BRENEZ - CINEMA REVISITED
 

2020-08-26


MENSAGENS REVOLUCIONÁRIAS DE UM TEMPO PERDIDO
 

2020-07-16


LIÇÕES DE MARINA ABRAMOVIC
 

2020-06-10


FRAGMENTOS DO PARAÍSO
 

2020-05-11


TEORIA DE UM BIG BANG CULTURAL PÓS-CONTEMPORÂNEO
 

2020-04-24


QUE MUSEUS DEPOIS DA PANDEMIA?
 

2020-03-24


FUCKIN’ GLOBO 2020 NAS ZONAS DE DESCONFORTO
 

2020-02-21


ELECTRIC: UMA EXPOSIÇÃO DE REALIDADE VIRTUAL NO MUSEU DE SERRALVES
 

2020-01-07


SEMANA DE ARTE DE MIAMI VIA ART BASEL MIAMI BEACH: UMA EXPERIÊNCIA MAIS OU MENOS ESTÉTICA
 

2019-11-12


36º PANORAMA DA ARTE BRASILEIRA
 

2019-10-06


PARAÍSO PERDIDO
 

2019-08-22


VIVER E MORRER À LUZ DAS VELAS
 

2019-07-15


NO MODELO NEGRO, O OLHAR DO ARTISTA BRANCO
 

2019-04-16


MICHAEL BIBERSTEIN: A ARTE E A ETERNIDADE!
 

2019-03-14


JOSÉ MAÇÃS DE CARVALHO – O JOGO DO INDIZÍVEL
 

2019-02-08


A IDENTIDADE ENTRE SEXO E PODER
 

2018-12-20


@MIAMIARTWEEK - O FUTURO AGENDADO NO ÉDEN DA ARTE CONTEMPORÂNEA
 

2018-11-17


EDUCAÇÃO SENTIMENTAL. A COLEÇÃO PINTO DA FONSECA
 

2018-10-09


PARTILHAMOS DA CRÍTICA À CENSURA, MAS PARTILHAMOS DA FALTA DE APOIO ÀS ARTES?
 

2018-09-06


O VIGÉSIMO ANIVERSÁRIO DA BIENAL DE BERLIM
 

2018-07-29


VISÕES DE UMA ESPANHA EXPANDIDA
 

2018-06-24


O OLHO DO FOTÓGRAFO TAMBÉM SOFRE DE CONJUNTIVITE, (UMA CONVERSA EM TORNO DO PROJECTO SPECTRUM)
 

2018-05-22


SP-ARTE/2018 E A DIFÍCIL TAREFA DE ESCOLHER O QUE VER
 

2018-04-12


NO CORAÇÂO DESTA TERRA
 

2018-03-09


ÁLVARO LAPA: NO TEMPO TODO
 

2018-02-08


SFMOMA SAN FRANCISCO MUSEUM OF MODERN ART: NARRATIVA DA CONTEMPORANEIDADE
 

2017-12-20


OS ARQUIVOS DA CARNE: TINO SEHGAL CONSTRUCTED SITUATIONS
 

2017-11-14


DA NATUREZA COLABORATIVA DA DANÇA E DO SEU ENSINO
 

2017-10-14


ARTE PARA TEMPOS INSTÁVEIS
 

2017-09-03


INSTAGRAM: CRIAÇÃO E O DISCURSO VIRTUAL – “TO BE, OR NOT TO BE” – O CASO DE CINDY SHERMAN
 

2017-07-26


CONDO: UM NOVO CONCEITO CONCORRENTE À TRADICIONAL FEIRA DE ARTE?
 

2017-06-30


"LEARNING FROM CAPITALISM"
 

2017-06-06


110.5 UM, 110.5 DOIS, 110.5 MILHÕES DE DÓLARES,… VENDIDO!
 

2017-05-18


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 2: "UMA HISTÓRIA DA VISÃO E DA CEGUEIRA"
 

2017-04-26


INVISUALIDADE DA PINTURA – PARTE 1: «O REAL É SEMPRE AQUILO QUE NÃO ESPERÁVAMOS»
 

2017-03-29


ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO CONTEMPORÂNEO DE FEIRA DE ARTE
 

2017-02-20


SOBRE AS TENDÊNCIAS DA ARTE ACTUAL EM ANGOLA: DA CRIAÇÃO AOS NOVOS CANAIS DE LEGITIMAÇÃO
 

2017-01-07


ARTLAND VERSUS DISNEYLAND
 

2016-12-15


VALORES DA ARTE CONTEMPORÂNEA: UMA CONVERSA COM JOSÉ CARLOS PEREIRA SOBRE A PUBLICAÇÃO DE O VALOR DA ARTE
 

2016-11-05


O VAZIO APOCALÍPTICO
 

2016-09-30


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 2
 

2016-08-25


TELEPHONE WITHOUT A WIRE – PARTE 1
 

2016-06-24


COLECCIONADORES NA ARCO LISBOA
 

2016-05-17


SONNABEND EM PORTUGAL
 

2016-04-18


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (II)
 

2016-03-15


COLECCIONADORES AMADORES E PROFISSIONAIS COLECCIONADORES (I)
 

2016-02-11


FERNANDO AGUIAR: UM ARQUIVO POÉTICO
 

2016-01-06


JANEIRO 2016: SER COLECCIONADOR É…
 

2015-11-28


O FUTURO DOS MUSEUS VISTO DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
 

2015-10-28


O FUTURO SEGUNDO CANDJA CANDJA
 

2015-09-17


PORQUE É QUE OS BLOCKBUSTERS DE MODA SÃO MAIS POPULARES QUE AS EXPOSIÇÕES DE ARTE, E O QUE É QUE PODEMOS DIZER SOBRE ISSO?
 

2015-08-18


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 2
 

2015-07-29


OS DESAFIOS DO EFÉMERO: CONSERVAR A PERFORMANCE ART - PARTE 1
 

2015-06-06


O DESAFINADO RONDÒ ENWEZORIANO. “ALL THE WORLD´S FUTURES” - 56ª EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE ARTE DE VENEZA
 

2015-05-13


A 56ª BIENAL DE VENEZA DE OKWUI ENWEZOR É SOMBRIA, TRISTE E FEIA
 

2015-04-08


A TUMULTUOSA FERTILIDADE DO HORIZONTE
 

2015-03-04


OS MUSEUS, A CRISE E COMO SAIR DELA
 

2015-02-09


GUIDO GUIDI: CARLO SCARPA. TÚMULO BRION
 

2015-01-13


IDEIAS CAPITAIS? OLHANDO EM FRENTE PARA A BIENAL DE VENEZA
 

2014-12-02


FUNDAÇÃO LOUIS VUITTON
 

2014-10-21


UM CONTEMPORÂNEO ENTRE-SERRAS
 

2014-09-22


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro - Parte II
 

2014-09-03


OS NOSSOS SONHOS NÃO CABEM NAS VOSSAS URNAS: Quando a arte entra pela vida adentro – Parte I
 

2014-07-16


ARTISTS' FILM BIENNIAL
 

2014-06-18


PARA UMA INGENUIDADE VOLUNTÁRIA: ERNESTO DE SOUSA E A ARTE POPULAR
 

2014-05-16


AI WEIWEI E A DESTRUIÇÃO DA ARTE
 

2014-04-17


QUAL É A UTILIDADE? MUSEUS ASSUMEM PRÁTICA SOCIAL
 

2014-03-13


A ECONOMIA DOS MUSEUS E DOS PARQUES TEMÁTICOS, NA AMÉRICA E NA “VELHA EUROPA”
 

2014-02-13


É LEGAL? ARTISTA FINALMENTE BATE FOTÓGRAFO
 

2014-01-06


CHOICES
 

2013-09-24


PAIXÃO, FICÇÃO E DINHEIRO SEGUNDO ALAIN BADIOU
 

2013-08-13


VENEZA OU A GEOPOLÍTICA DA ARTE
 

2013-07-10


O BOOM ATUAL DOS NEGÓCIOS DE ARTE NO BRASIL
 

2013-05-06


TRABALHAR EM ARTE
 

2013-03-11


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (III)
 

2013-02-12


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS: META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (II)
 

2013-01-07


A OBRA DE ARTE, O SISTEMA E OS SEUS DONOS. META-ANÁLISE EM TRÊS TEMPOS (I)
 

2012-11-12


ATENÇÃO: RISCO DE AMNÉSIA
 

2012-10-07


MANIFESTO PARA O DESIGN PORTUGUÊS
 

2012-06-12


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (II)


 

2012-05-16


MUSEUS, DESAFIOS E CRISE (I)
 

2012-02-06


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (III - conclusão)
 

2012-01-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (II)
 

2011-12-07


PARAR E PENSAR...NO MUNDO DA ARTE
 

2011-04-04


A OBRA DE ARTE NA ERA DA SUA REPRODUTIBILIDADE DIGITAL (I)
 

2010-10-29


O BURACO NEGRO
 

2010-04-13


MUSEUS PÚBLICOS, DOMÍNIO PRIVADO?
 

2010-03-11


MUSEUS – UMA ESTRATÉGIA, ENFIM
 

2009-11-11


UMA NOVA MINISTRA
 

2009-04-17


A SÍNDROME DOS COCHES
 

2009-02-17


O FOLHETIM DE VENEZA
 

2008-11-25


VANITAS
 

2008-09-15


GOSTO E OSTENTAÇÃO
 

2008-08-05


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO II – O DISCURSO NO PODER
 

2008-06-30


CRÍTICO EXCELENTÍSSIMO I
 

2008-05-21


ARTE DO ESTADO?
 

2008-04-17


A GULBENKIAN, “EM REMODELAÇÃO”
 

2008-03-24


O QUE FAZ CORRER SERRALVES?
 

2008-02-20


UM MINISTRO, ÓBICES E POSSIBILIDADES
 

2008-01-21


DEZ PONTOS SOBRE O MUSEU BERARDO
 

2007-12-17


O NEGÓCIO DO HERMITAGE
 

2007-11-15


ICONOLOGIA OFICIAL
 

2007-10-15


O CASO MNAA OU O SERVILISMO EXEMPLAR
 

ARTE CONTEMPORÂNEA E INFÂNCIA

MANUEL QUARANTA

2023-03-24




 


Ainda hoje, uma das críticas supostamente ácidas à arte contemporânea invoca que esta ou aquela peça (pintura, objecto, performance, instalação) poderia ter sido feita até por uma criança, como se aquele matiz (“até”) embotasse o trabalho artístico em lugar de enaltecê-lo. Os pretensos juízes referem-se ao elementar do fazer, ao componente básico da acção. São os devotos anacrónicos e desaforados do génio, para quem a menoridade é o prolegómeno da idade adulta, e a idade adulta, o apogeu da existência. Têm alguma razão, claro, pois a qualquer um lhe assiste sempre um sopro de razão, neste caso, razão absurda, mistura de iluminismo e romantismo.

Partilho da ideia de impugnar um conceito de infância, tão em voga na actualidade, baseado no paradigma da queixa, da ofensa fácil e acusação ao próximo. É a infância como adiamento indefinido da idade adulta, não em sentido cronológico, o álibi perfeito para manter afastada a terrível verdade: na vida estamos sozinhos e sem desculpas. Mas existe um outro conceito de infância, ligado à inocência do devir, ao jogo das perguntas livres, à azáfama audaz, que merece a nossa apreciação. Ser criança, segundo esta perspectiva, significa arriscar, entrar no comboio do desejo.

Estabelecidas as bases, prossigo. Na última sexta-feira de 2022, convidei o Milos, filho mais velho de um amigo da primária que vive em Espanha, para passar o dia em Barcelona. Barcelona, admito, não está entre as minhas cidades favoritas. A explicação pode soar naïf ou demasiado burguesa: sinto-me expulso da cidade pela pressão constante de um tipo de turismo cuja inesgotável sede converteu as ruas num parque de diversões. E eu, como a maioria das pessoas, gosto de me divertir, mas não nos parques de diversões. Talvez seja um trauma para tratar em terapia. Porém, existe um espaço em Barcelona que, quando a sorte me acompanha (na Argentina, justificamos os nossos privilégios de classe com a expressão "tive a sorte de viajar") eu visito. Diria que, ainda que pareça exagerado, vou a Barcelona só para visitar o MACBA. De facto, tenho feito isso regularmente. Apanho o comboio na estação de Tarragona, desço no Passeig de Gracia, percorro o Museu, almoço e volto para Tarragona.

Durante esses anos vi no MACBA exposições e trabalhos memoráveis: The Joycean Society (Dora García, 2013), o registo das sessões de um grupo de pessoas reunidas na Zurich James Joyce Foundation, que desde 1986 se reúne para ler semanalmente o Finnegas Wake; Three posters (Rabih Mroué, 2004), vídeo performativo que tenta reconstituir as manobras de um grupo militar ou paramilitar árabe; a exposição Teatro proletario de cámara, desenhos e colagens de Osvaldo Lamborghini; a mostra sobre Oscar Masotta, La teoría como acción; e a lista continua...

O pacto com Milos foi o seguinte (a ordem foi sugerida por ele, e era conveniente do ponto de vista das distâncias): primeiro o MACBA, depois a CosmoCaixa, um museu de ciência vocacionado ao público infantil. Convém esclarecer que Milos é uma criança com porte adulto, por momentos sério, embora com os seus oito anos não haja infância a que se resista.

Exponho a minha hipótese: Milos viveu uma experiência mais enriquecedora no MACBA do que na CosmoCaixa.

Os pisos do museu de arte contemporânea transbordavam de exposições roçando o lúdico, algumas ligadas à infância, outras requeriam o compromisso e a habilidade do espectador: passar por baixo de ripas de madeira, descalçar-se para caminhar sobre tapetes, entrar em salas completamente escuras. No segundo piso, descobrimos Una fabulación basada en un mito mixe, uma instalação composta por um totem monumental rodeado de uma dezena de pinturas belíssimas de carácter arcaico e dois ecrãs que projectavam animações realmente cativantes.

O ponto extremo foi o piso térreo, dedicado na sua totalidade à artista brasileira Cinthia Marcelle. Nas suas obras, o corpo do espectador estremece ao percorrer espaços e tempos deslocados; por exemplo, precisamos evitar diferentes obstáculos na instalação desordenada La familia en desorden, um lar caótico onde é tenso o percurso em termos afectivos e se ressalta a materialidade (e precariedade) do mundo doméstico.

Embora mais tradicionais, uma série de vídeos da artista atraiu a nossa atenção: uma escavadora sulca a terra desenhando o signo do infinito (numa outra exposição, no segundo piso, aparecia o mesmo signo), um camião de bombeiros traça um círculo no chão e deita água no centro, num cruzamento de caminhos confluem quatro músicos de cada lado tocando os seus instrumentos e vestidos com roupas de diversas cores, depois trocam posições e retiram-se por onde não tinham vindo. Esse vídeo vimo-lo na íntegra, porque nos outros era fácil identificar a operatória, mas em Cruzada era imprescindível manter-se expectante.

 

 

Na última sala encontrámos uma instalação de grande escala, No Ar/On Air; aqui Marcelle tinha montado uma emissora de rádio na qual o espectador podia programar a sua música e interferir na programação de outros espectadores. Por sugestão de Milos, ficámos ali um bom bocado, tentando escolher uma música que agradasse a ambos.

Estivémos no MACBA duas horas e um quarto. Após a primeira hora, Milos reclamou cansaço, dor de cabeça, mas notei que era um protesto automático ao universo adulto, por isso o encorajei a continuar e acabámos por ver todos os pisos, incluindo a performance com caixas de cartão que acontecia no rés-do-chão, e com a qual Milos ficou perplexo: nós no meio de um grupo de jovens acariciando caixas, dançando com elas, fundindo-se com um material intimamente ligado à pobreza, ao perecível e à fragilidade.

Dali em diante, segundo o lugar-comum, começaria a diversão de Milos. Almoçámos no McDonald's, ele o seu happy meal, eu uma Signature, apanhamos o autocarro, e quase uma hora depois de entrar, saímos na paragem da CosmoCaixa, na outra ponta da cidade.

O espaço da CosmoCaixa é imponente. Um edifício de 50.000 m2 destinado à aprendizagem e ao entretenimento dos mais pequenos. Mas bastaram vinte minutos para notar uma particularidade. Para além de mergulhar num bosque inundado fascinante, com pântanos, peixes pré-históricos e árvores altíssimas, o único estímulo para as crianças consistia em carregar num botão para activar os dispositivos. Não quero ser injusto, mas contavam-se pelas mãos as situações em que a intervenção humana excedia o facto de carregar num botão ou girar uma manivela. São dispositivos que efectuam experiências físicas, químicas e astronómicas, e a participação do público é bastante limitada. Não há imersão, e não me refiro às tristemente famosas experiências imersivas actuais, mas sim à restrição da experiência.

De regresso no comboio para Tarragona, perguntei-lhe qual dos dois museus tinha preferido; Milos pronunciou-se, sem duvidar, a favor da CosmoCaixa. Acredito na palavra de Milos, lógico, mas a minha impressão sobre o seu percurso indica-me que as vivências no MACBA transformavam o seu trânsito numa experiência, o que não sucedeu na CosmoCaixa. Uma das provas é a memória sobre as peças do museu de arte contemporânea de que mais gostou. As mesmas que destaquei neste texto, com base na sua opinião. Ao mesmo tempo, as fotos funcionam como indício.

No MACBA aparece atento, entusiasmado, executando diferentes movimentos, com o corpo alterado e alterando o espaço, com a matéria das obras em diálogo com ele, ainda que não compreendera plenamente o que sucedia à sua volta, como nenhum de nós compreende, e por isso é feliz. Em vez disso, as imagens feitas na CosmoCaixa mostram-no diante de um ecrã, pressionando botões. No museu de ciência, o único sentido em jogo é a visão: carregar para observar, e manter-se à distância. A da CosmoCaixa é uma experiência passiva, passiva no pior sentido. Em tempos de hiperactividade e hiperconsumo, nada tenho contra o carácter passivo da experiência, ao contrário, mas na CosmoCaixa incentiva-se uma espécie de hiperpassividade.

No texto “Will you laugh for me, please?”, o filósofo esloveno Slavoj Žižek, referindo-se à moda interativa vigente, diz: “Olham fixa e aturdidamente para o ecrã, a real ameaça dos novos meios de comunicação é que eles privam-nos da nossa passividade, da nossa experiência passiva autêntica, e assim nos preparam para a estúpida e frenética actividade – para o trabalho interminável”. Poderia parecer que Žižek fala de outra coisa, porém, está a falar sobre o mesmo.

Um esclarecimento. Tenho a certeza de que se tivéssemos visitado o Prado este texto não existiria. Não distingo, portanto, entre um museu de ciência e um museu de arte, mas sim entre um de ciência e um de arte contemporânea. Um tipo de arte cuja definição (talvez caduca) fuja para a frente, transbordando qualquer classificação; uma arte que de tanto provocar, às vezes, se torna previsível, e em geral só comove (se comove) o espectador iniciado, ou seja, os participantes da área. Mas o que aconteceu com Milos demonstra a ascendência da arte contemporânea sobre as crianças, a princípio, não iniciados às vicissitudes contemporâneas nem aos conceitos.

Não digo, levianamente, que Milos divertiu-se mais no MACBA: descarto de todo semelhante banalidade. O que tento dizer é que no MACBA se agenciou uma experiência, apesar, ou por causa, dos seus oito anos, e uma experiência envolve múltiplas vivências, incluindo contraditórias: entusiasmo, alegria, felicidade, tristeza, aborrecimento, cansaço, distração, incompreensão.

Benjamin, no ensaio “Arte do coleccionismo”, escreve: “O preconceito, digo, de que as crianças conformam existências tão singulares e incomensuráveis que é preciso ser especialmente engenhoso na produção do seu entretenimento. É inútil estar obstinadamente atentos à fabricação de objectos – meios visuais, brinquedos ou livros – que sejam adequados para crianças. Desde o Iluminismo que se trata de uma das reflexões mais bolorentas do pedagogo”.

Formulo-o de outra maneira: Milos aprendeu algo na excursão ao MACBA impossível de aprender numa instituição destinada à aprendizagem.

 


Manuel Quaranta
Licenciado em Filosofia e Mestre em Literatura Argentina. Professor Titular no curso de Belas Artes da Universidade Nacional de Rosario. Publicou três livros, “Diario de Islandia” (2021), “La fuga del tiempo” (2021) e “La muerte de Manuel Quaranta” (2015). Escreve para a revista Polvo, Infobae Cultura, El Flasherito e outros meios de comunicação na Argentina. As colaborações vão desde relatos de ficção até críticas de cinema, passando por resenhas, textos ensaísticos sobre arte e literatura e crítica cultural. Deu conferências no estrangeiro e em 2019 foi convidado como professor visitante na Universidade da Islândia. Realizou instalações e performances, tanto em mostras colectivas como individuais.

 


:::

 

Este artigo foi originalmente publicado na revista Artishock (Chile) com quem a Artecapital desenvolve uma colaboração com o objectivo de aproximar os leitores portugueses de temas da América Latina e viceversa.