Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider


Francisco Tropa: Noche Triste, exhibition view, Galerija Gregor Podnar, Berlin, 2015. Photo: Marcus Schneider

Outras exposições actuais:

COLECTIVA

ANAGRAMAS IMPROVÁVEIS. OBRAS DA COLEÇÃO DE SERRALVES


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
CONSTANÇA BABO

JOÃO BRAGANÇA GIL

TROUBLE IN PARADISE


Projectspace Jahn und Jahn e Encounter, Lisboa
CATARINA PATRÍCIO

JOÃO PIMENTA GOMES

ÚLTIMOS SONS


Galeria Vera Cortês, Lisboa
MADALENA FOLGADO

COLECTIVA

PERCEPÇÕES E MOVIMENTOS


Galeria Presença (Porto), Porto
CLÁUDIA HANDEM

MARIA LAMAS

AS MULHERES DE MARIA LAMAS


Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
FÁTIMA LOPES CARDOSO

PEDRO TUDELA

R!TM0


Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso, Santo Tirso
CLÁUDIA HANDEM

COLECTIVA

COLIBRI EM CHAMAS


ZARATAN - Arte Contemporânea , Lisboa
FILIPA ALMEIDA

MARTÍN LA ROCHE

MAGIC BOX


Printed Matter / St Marks, Nova Iorque
CATARINA REAL

ANDRÉ ROMÃO

CALOR


Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
SANDRA SILVA

WIM WENDERS

ANSELM - O SOM DO TEMPO


Cinemas Portugueses,
RICHARD LAURENT

ARQUIVO:


FRANCISCO TROPA

Noche Triste




GALERIA GREGOR PODNAR
Lindenstraße 35
10969 Berlin

13 NOV - 23 JAN 2016


Noche Triste é a segunda exposição individual de Francisco Tropa em Berlim, composta por obras inéditas apresentadas agora na Galeria Gregor Podnar.

Ao entrar no espaço expositivo, somos de imediato confrontados com a ambiência, as cores fortes que captam o olhar e uma noção de quase simetria. Como habitualmente nas exposições do artista, o espectador tem a sensação de estar num espaço paralelo de incrível subtilidade e excelência estética. As obras possuem várias camadas de significado, num constante questionamento com ligações ao pensamento filosófico, fazendo uso de metáforas e alegorias. Francisco Tropa introduz recorrentemente no seu trabalho a mimesis, um discurso que interpela a noção platónica e aristotélica de Arte como imitação da natureza, utilizando para isso peças construídas em bronze e posteriormente pintadas de forma a assemelharem-­se com o objecto original. No espaço, decorre um jogo -­ quer psicológico e irónico entre o que é ou não é, quer recorrendo à inclinação intuitiva e inata do ser humano para com aquele.

A série Noche Triste é constituída por “tabuleiros de jogo”: mesas em prancha de madeira e dispostas em cavaletes, pintadas de negro, em que se sobrepõem rectângulos de tecido de cores várias e nos quais foi impresso um quadrado. As peças, frutas de bronze ­‐ naturezas mortas, portanto – dispõem‐se algumas dentro, outras fora do quadrado, como que peças a avançar num tabuleiro de um jogo ficcionado. O quadrado está usualmente ligado ao elemento terra, a uma dimensão estática e delimitada. Também para Platão o quadrado se relaciona com a materialização das ideias; condicionadas pela materialidade da vida terrena elas surgem, imperfeitas, no mundo físico.

Orange (2015) e Cana (2015), representam esses mesmos elementos presentes na vida quotidiana, mas refeitos em bronze, e por isso desfuncionalizados e transformados “apenas” em objectos estéticos, cujo propósito se torna a contemplação. Ao fundo da sala, Puits, o desdobramento em doze impressões da imagem de uma fenda na rocha, cada uma correspondendo a uma tonalidade necessária para a visualização da imagem final, cuja extensão total não é acessível ao espectador. No fundo, e relembrando Kant, podemos usar o livre jogo da imaginação.

Na segunda sala existe uma noção de proporcionalidade. Novamente um tabuleiro, desta vez com dez nozes reais e dez nozes em bronze, colocadas quase na mesma posição. A série Panta Rhei, é composta por seis obras de parede e quatro esculturas. As primeiras, corroboram a imagem de proporção, são impressões contendo um quadrado dentro de outro quadrado, nas tonalidades amarelo, vermelho, azul e verde e recortes de imagens de pedras. Em três obras as pedras situam‐se dentro do primeiro quadrado, noutras três no segundo. As restantes obras, que podem ser manipuladas pelo espectador, consistem em quatro “jogos”: três agrupados, cada um contendo uma pequena caixa, seis pedras verdadeiras e seis pedras falsas; o quarto um quasi tabuleiro de xadrez com peças que se assemelham a conchas, também em bronze. O nome desta série provém de um conceito de Heráclito, “tudo flui”, um devir universal: toda a matéria se altera num movimento omnipresente e eterno. Não há nada de estático no mundo e mesmo o que aparenta estar parado está na realidade em mutação. Estas obras reflectem essa mesma dimensão mutável, já que todas elas são passíveis de várias combinações, e possivelmente, mesmo que tentássemos, nunca conseguiríamos colocar as pedras no mesmo local exacto.

Noche Triste evoca um evento histórico, embora a sua ligação com a exposição não tenha sido explicitada pelo artista [1]: Na noite de 30 de Junho de 1520 em Tenochtitlán, capital do império asteca entretanto ocupada pelos espanhóis, e depois de várias atrocidades cometidas, houve lugar a uma rebelião dos astecas, cercando a cidade e forçando Cortés e as suas tropas à fuga. Houve centenas de mortos para ambas as partes e segundo a lenda Cortés ter-­se-­á sentado debaixo de uma árvore lamentando as baixas do seu exército.

A última obra da série Noche Triste, a única obra fotográfica da exposição, representa uma ruína de pedra, abandonada e circundada por vegetação seca. É a lei natural, aquilo que já foi uma estrutura é agora uma ruína, e as plantas que já outrora floresceram acabaram por secar. Mais do que uma ligação directa com o evento em Tenochtitlán, o título poderá ser conectado com uma dimensão de perda; afinal, as frutas não são realmente frutas, e onde aparenta haver vida, há representação.

 


Catarina Pires

 

 

:::


Notas

[1] Menegoi, Simone. Noche Triste, texto de sala, Galeria Gregor Podnar, Berlim, 2015.



Catarina Pires