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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição. © Renato Cruz Santos. Cortesia Culturgest.


Vista da exposição. © Renato Cruz Santos. Cortesia Culturgest.


Vista da exposição. © Renato Cruz Santos. Cortesia Culturgest.


Série Árvores, Ângelo de Sousa. © Bruno Lopes. Cortesia Culturgest.


Série Árvores, Ângelo de Sousa. © Bruno Lopes. Cortesia Culturgest.


Autorretrato, Ângelo de Sousa. Cortesia Culturgest.

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ÂNGELO DE SOUSA

ÁRVORES




CULTURGEST (PORTO)
Edifício Caixa Geral de Depósitos Avenida dos Aliados, 104
4000-065 Porto

26 MAR - 12 JUN 2022

As Árvores de Ângelo de Sousa

 


Ângelo de Sousa (Moçambique, 1938 - Porto, 2011) ficará perpetuamente reconhecido enquanto uma das figuras mais prestigiadas do contexto artístico português. Com um percurso notável, uma obra atemporal, dotado de múltiplas valências e de um potencial criativo que não se circunscreve a disciplinas ou práticas específicas, pois que atravessa várias. Do impressionante espólio que nos deixou, destacam-se inúmeras obras, entre as quais a série Árvores. Esta última, embora não integre o corpo de trabalho que se costuma associar ao artista, tendo sido apenas ocasionalmente revelada ao público, era considerada, pelo próprio, uma das suas criações mais relevantes (como indicado na página da informação). Ora, é precisamente a esta coleção que se dedica a exposição inaugurada no passado dia 25 de março na Culturgest do Porto, a qual permanecerá passível de visitar até dia 12 de junho.

A mostra, com curadoria de Bruno Marchant, é a nona e última instância do projeto Reação em Cadeia, desenvolvido em parceria entre a Fidelidade Arte e a Culturgest e iniciado em 2019, por Delfim Sardo. Contou com nomes relevantes da cultura contemporânea, tais como Ângela Ferreira, que abriu o ciclo, e sustentou-se na premissa de que o universo artístico é definido por ligações inesperadas. Nesse sentido, coube a cada artista escolher o autor seguinte, e foi Silvia Bächli (Suiça, 1956), cuja mostra decorreu entre os passados meses de setembro e novembro, que nomeou Ângelo de Sousa, assim se encerrando, inevitavelmente, a cadeia.

Fora em 1958, com vinte anos, que Ângelo de Sousa começou a desenhar figuras que se assemelham a árvores e, embora umas mais do que outras, como afirmou, “não podem ser outra coisa”. Este exercício não era, efetivamente, dedicado ao arquétipo árvore, o qual se identifica somente enquanto ponto de partida para o que consiste numa livre experimentação de possibilidades e limites formais. Como esclarece o curador Bruno Marchant, “árvores” não nomeia, mas, ao invés, aplica-se com um caráter metonímico que estabelece uma relação de proximidade à natureza.

As figuras da década de 50 são negras, de contornos rígidos e consideravelmente abstratas, mas cedo são substituídas por efígies detalhadas. Quando, mais tarde, ele exerceu a rutura com a figuração, que, aliás, vai de encontro com a restante produção do artista, as ilustrações, simples, são singularizadas pela cor. Também esta última se evidencia em toda a obra artística de Ângelo de Sousa, tendendo a afirmar-se como força dominante. Na viragem do século, porém, a cor extingue-se e dá lugar a árvores definidas por largos traços negros. Por fim, emergem outras, delicadas e frágeis, compostas por leves tracejados e suaves escalas cromáticas que, em retrospetiva, poderão interpretar-se por relação aos seus últimos anos de vida.

Assinala-se, porém, que todas as árvores comportam uma semelhante aura, a qual se evidencia tanto pelos seus idênticos suportes e dimensões, em papel branco A5, como pela curadoria de Marchant. Como resultado, as obras dialogam e ligam-se entre si, numa cadência linear e harmoniosa embora, simultaneamente, dinâmica e estimulante. É, aliás, precisamente numa Reação em Cadeia que as peças suscitam, umas após as outras, um contínuo de emoções e experiências estéticas. Simultaneamente, revela-se o apreço do artista pela repetição, pela contínua exploração plástica de um mesmo objeto. Sobre esta temática em particular, produziu de forma constante, recorrentemente mais do que uma vez por dia, milhares de obras, das quais somente guardou parte. Na Culturgest, expõem-se perto de duzentas, seleção que se imagina difícil mas cujo resultado permite avaliá-la com êxito. Acrescenta-se que, consistindo num corpo de trabalho que acompanhou toda a carreira do artista e ao qual ele foi particularmente devoto, o seu valor amplia-se.

Quanto ao desenho, era o seu método de eleição, tanto para exercitar a mão, como para anotar ou esboçar projetos a concretizar. Foi, aliás, com tal prática, a par da pintura, que Ângelo de Sousa deu início ao seu percurso artístico quando ainda se encontrava em Moçambique, no liceu. De acordo com a época, quando imperava o Neo-Realismo, o artista tendeu para figuração, principalmente com a pintura a óleo, mas cedo se desviou para o abstracionismo. Veio estudar pintura para o Porto, na Escola Superior de Belas Artes (agora Faculdade de Belas-Artes), onde, de seguida, lecionou ao lado dos seus colegas do grupo Os Quatro Vintes, Jorge Pinheiro, Armando Alves e José Rodrigues. Não obstante, Ângelo de Sousa aventurou-se na cenografia e nos figurinos, no Teatro Experimental do Porto, e, sobretudo nas décadas de 50 a 80, dedicou-se à escultura, embora sempre em articulação com o desenho e a pintura. Mais tarde, em Londres, quando frequentava a St. Martin’s School of Art e a Slade School of Fine Arts, explorou o filme e a fotografia. Deste modo, o artista adquiriu um notável domínio nos mais diversos materiais, práticas e técnicas. Com efeito, é, hoje, aclamado por uma obra que, sendo extensa e transdisciplinar, tem como caraterísticas transversais a contínua experimentação e a igualmente ininterrupta vontade de fazer.

Sendo a obra de Ângelo de Sousa objeto de inúmeras exposições, em vida e após esta, não cessa de surpreender, e cada encontro com a sua obra é, sempre, distinto e admirável. No caso da atual mostra, poderá acrescentar-se que, mediante o atual contexto de crise ambiental, contribui para a valorização das árvores, fundamentais fontes de vida. A exposição é, pois, meritória de atenta visita, não só porque, inevitavelmente, sempre o seria, mas também pela sua particular atualidade. Trata-se de uma oportunidade para celebrar o artista, a arte, a natureza e a vida.



CONSTANÇA BABO