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ARQUIVO:


PEDRO TUDELA

U MADE U




KUBIKGALLERY
Rua da Restauração, 2
4050-499 Porto

04 MAI - 29 JUN 2024


 

 

Pedro Tudela guia-nos numa visita à sua exposição, inaugurada no passado dia 4 de maio na Kubikgallery, cujo título “U made U” abraça todos os trabalhos que nela se expõem. “U” remete para a individualidade, a agência, a autoria e “made” para a produção. Anuncia-se, deste modo, a problematização da qual se ergue o projeto expositivo: a relação entre o sujeito e o que é por ele criado ou transformado. É a partir daqui, entre quem faz e o que é feito, quem cria e o que é criado, que o artista constrói um espaço estético e de reflexão, pautado pela multidisciplinaridade, pela composição e pelo que podemos apelar de sonoridades visuais.

Na sala principal, o olhar é cativo por uma belíssima série de dezanove desenhos de grafite e lápis com esmalte e verniz sintético, intitulada “Nat~eiletrica”, sendo “eiletrica”, “elétrica” em mirandês. A inspiração de Pedro Tudela foi, justamente, Mirandela, onde passou uma temporada durante a qual constatou que “há uma relação muito franca, estreita e evidente entre a energia, a produção elétrica e a natureza”. Foi assim que se iniciou o processo criativo do artista. Como nos conta,

“Fiz uma série de gravações da produção de energia e da corrente elétrica que resultou num outro trabalho. Entretanto, desenvolvi esta série de desenhos que não são representações da natureza, mas antes decorrem de um gesto impulsivo. No entanto, têm aquele modo “igual diferente” intrínseco à natureza. Por exemplo: o mar, a superfície do mar. Fotografar o mar num segundo e um segundo depois. É um igual diferente. Isso interessou-me enquanto partitura para estes desenhos.”

Segue-se uma outra obra, “R~2i”, esta já tridimensional.

“São elementos de latão que construí a partir de materiais que encontrei na praia. São madeiras e pedras que passei para latão e com as quais criei uma espécie de facas que assim conjugadas parecem compor uma waveform sonora (a representação visual de um sinal sonoro ao longo de determinado tempo). Geram-se encontros entre a coisa natural, aproveitada, e os objetos produzidos que remetem para um outro tipo de tecnologia.”

Com efeito, a obra em questão situa-se entre o antigo ou arqueológico, o tecnológico e o design contemporâneo. Uma reunião de campos e realidades que, pelas mãos hábeis de Pedro Tudela, resulta na constituição de uma magnífica obra de arte.

Mais adiante, outros pedaços de madeira convertidos em bronze encontram-se dentro do que aparenta ser um tubo de ensaio de laboratório, como se se tratasse de artefactos de uma investigação arqueológica ou objetos de um universo sci-fi, de ficção científica.

Enquanto um todo, a obra intitula-se “UmU~” e nela conjugam-se o bronze com o vidro soprado, uma bola de aço no topo e uma base forrada a veludo negro que adiciona profundidade ao objeto.

Retomemos, porém, as facas, visto que ressurgem em mais dois trabalhos, um deles, “X~0”, cuja “visão é muito clara pois aponta para campainhas de portas, elementos de comunicação”. No entanto, embora o diálogo e a ligação sejam convocados, o artista esclarece que “não há uma intenção ou sequer uma tendência de representar algo”. Como nos diz, “muitas vezes, as coisas, simplesmente, estão lá”.

A esta premissa escapa somente um objeto de madeira e aço que cita diretamente a “Cabeça de Touro” de Pablo Picasso, de 1942, embora a reinterprete e transfigure para uma versão quase tecnológica.

A outra obra onde reaparece a faca, desta vez uma catana, pretende evocar as pinturas do séc. XVIII que retratavam armas verdadeiras ou representadas na forma de labaredas. Como tal, somos enviados para outras esferas e outras relações. Com o título “S~”, é um objeto particularmente expressivo, sendo que parece ter rasgado a parede e atravessado, de um lado ao outro, a aguarela emoldurada que aí se expõe. Nesse seu percurso, a faca como que se insere no desenho e inscreve a sua escrita no papel. Recorrendo às palavras de Pedro, esta obra é uma “composição pictórica, uma composição no desenho, uma composição a sério”.

Por fim, exibe-se um dos trabalhos mais valiosos da exposição, o vídeo “Puzzle + @~S” acompanhado por uma pedra do vulcão Etna, estrategicamente suspensa. A qualidade da imagem do filme, com grão e a preto e branco, assemelha-se a uma gravura.

A iluminação desta última sala da Kubikgallery, onde o vídeo se projeta, é parcialmente definida por uma luz vermelha representativa de Hal, o robot da “Odisseia no Espaço”. Recorde-se que nessa reconhecida longa-metragem, o personagem apresenta-se declarando “the computer has never made a mistake or distorted information. We are all, by any practical definition of the words, foolproof and incapable of error”. Aqui, e contrariamente, o vídeo de Pedro Tudela tem como ponto de partida o acaso, enunciado pela ideia de que “life is messy. Life is random. Everything is random. (...) There is nothing you can do to control anything”.

Sobre este trabalho, o artista esclarece,

“Comecei o vídeo há muito tempo. Fiz uma residência na Sicília e estive no Etna, onde filmei. Aqui, mais uma vez, há uma apropriação, uma descontextualização de objetos que são empurrados e convocados para um novo universo: o meu.

Há fumo e uma particular atmosfera. Estava nevoeiro, mas vê-se a natureza muito viva, lá em baixo. O som é da erupção do Etna. Progressivamente, aparece, da neblina, o calhau. Quando este se começa a revelar, faz parte da própria paisagem.”

O filme transita de um plano amplo da floresta para um close-up de uma rocha vulcânica. Nele está presente a unidade, o indivíduo, mas igualmente o seu entendimento enquanto parte de um todo, integrado num global, concepção que atravessa toda a exposição.

De igual modo, transversalmente, observa-se a relação, a conjugação e o diálogo entre o natural e o artificial, ou o orgânico e o sintético, expressando-se a ligação entre o humano e a natureza e a inserção de um no outro. Apela-se, deste modo, à simbiose entre o humano, a técnica e a natureza.

Ocorre que, se por um lado, como nos diz o artista, testemunhamos que “a existência humana está numa profusão cada vez mais tecnológica”, devemos igualmente reconhecer que na base e na origem de tudo está a natureza.

A exposição é acompanhada por uma peça da artista Diana Geiroto, na montra da galeria, intitulada “Landing Issues”, que consiste num pêndulo cujos movimento e forma dialogam com as obras de Pedro Tudela. Ambas as mostras, a visitar, até ao dia 29 de junho.

 

 

 

Constança Babo
É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

 



CONSTANÇA BABO