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A ARTE É BOA OU APENAS VALIOSA?



JONATHAN T.D. NEIL

2014-10-07




 

David Throsby e Anita Zednik publicaram recentemente uma tentativa de quantificar a relação e a diferença entre o valor económico e o valor cultural da arte. O artigo The Economic and Cultural Value of Paintings: Some Empirical Evidence (publicado no Handbook of the Economics of Art and Culture, vol 2, 2014), vale a pena ser lido, mas a conclusão não será surpreendente para a maioria das pessoas. Throsby e Zednik tentam mostrar que o valor económico e cultural da arte, embora relacionados entre si, são diferentes. Afastando-se de uma perspectiva mais fundamentalista e económica, argumenta-se que os dois valores não se reduzem um ao outro nem são perfeitamente correlacionados. Se tal acontecesse, significaria que o valor cultural é apenas o valor económico de um objecto de arte - ie, o seu preço - e vice-versa.

Já anteriormente afirmei que um dos problemas que enfrentamos nas nossas mais recentes discussões acerca do mercado da arte é o facto de termos tendência para modificar o conceito de valor de forma a argumentar por diferentes, conflituosos e em último caso incomensuráveis “valores”, como os valores de mercado e, talvez digamos, os estéticos (ler “económicos e culturais”). O consenso crítico divide confortavelmente o mundo da arte em valores de mercado e outros valores. Os valores de mercado são simples. Para a maioria das pessoas, são simplesmente equivalentes ao preço de algo. Quando artistas, curadores ou críticos grosseiros como Dave Hickey e sociólogos diletantes como Sarah Thornton falam acerca do mercado artístico, lamentam a quantidade de zeros que aparecem com grande regularidade nos preços das obras de arte, quase tanto quanto lamentam as pessoas que comandam o meio.

A ideia de que os valores do mercado da arte parecem não seguir qualquer lei e nenhuma racionalidade; a ideia de que a melhor explicação para serem gastos biliões de dólares em recursos não essenciais é simplesmente que existe mais dinheiro do que nunca para gastar nisso; a ideia de que quem o possui, os ricos, são todos uns idiotas, e inclusivamente a ideia de que o preço das obras de arte, graças a descontos, tratamento preferencial, garantias de leiloeiras ou negócios internos, nunca é o real preço da arte - pensar que alguma destas ideias irracionais acerca do comportamento do mercado da arte poderá conduzir alguém a olhar com atenção ou pensar profundamente acerca do conceito do valor da arte é, numa palavra, patético.

O outro lado do debate, onde Hickey e Thornton e similares iconoclastas de mercado presumivelmente se situam, não parece melhor. Deste lado da questão considera-se o valor estético da arte, o seu valor político ou social, o seu valor educacional, simbólico ou espiritual. Noutras palavras, o seu valor cultural, que não é realmente um valor por si. É um assumir de conclusões ao mais alto nível. A arte não tem valor cultural porque é cultural. A arte tem valor para a cultura porque presumivelmente encarna os valores que a cultura possui. Por exemplo, se a arte tem valor educacional, é porque nos ensina algo, algo que merece ser ensinado, e, mais importante, aprendido. Não é o ensinar e o aprender por si só que interessam, é esse “algo” – digamos, uma admiração por um tipo particular de alcance superior, ou a possibilidade de reflectir e empatizar com a luta de um outro – que, talvez, nós consideramos valioso.

Esse “talvez” importa, porque é por si só uma questão: o que é que consideramos valioso nas obras de arte? Mais simplesmente, para que serve a arte? Qual é a valia da arte? Repito: qual é a valia da arte? O que é muito diferente da questão “que arte é valiosa”? Não apenas porque qualquer que seja a valia da arte, não deverá ser a arte por si só. Tome-se uma das mais persistentes reivindicações para a valia da arte, a sua autonomia, que não é específica e nem sequer começa com a arte: é modelada na liberdade individual, um valor pelo qual devemos continuar a lutar.

É isto que Ronald Dworkin, não-partidário de um separatismo de valores, quer dizer quando escreve que o valor é um “conceito interpretativo”, se não mesmo “o” conceito interpretativo. O valor tem de ser interpretado e argumentado de forma responsável, de modo a que os “vários conceitos de valor sejam ligados e mutuamente apoiados entre si”. Não sou pelo valor cultural, ou qualquer outro valor que se sobreponha ou se separe do mercado ou do valor económico. Sou pelo valor e é por isso que questiono, sem cinismos, a valia da arte. [versão portuguesa do original inglês]

 


Jonathan T.D. Neil
Director do Sotheby’s Institute of Art – Los Angeles. É também editor associado da ArtReview e editor executivo no The Drawing Center em Nova Iorque.


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Este artigo foi originalmente publicado na ArtReview, Setembro 2014.