MANUEL BAPTISTAFalésia. Tema e Variações![]() GIEFARTE - GALERIA DE ARTE Rua da Arrábida, 54 BC 1250-034 LISBOA 18 ABR - 30 MAI 2017 ![]() ![]() Inauguração 18 de Abril na Galeria Gierfarte Perante a multiplicidade do desenho, inventamos palavras novas São desenhos que chegam como uma surpresa, como um acontecimento, no sentido deleuziano do termo, mas aquilo que os qualifica não é serem surpreendentes. São desenhos que têm um corpo, uma estrutura (enquanto série, como corpo de trabalho – lento, demorado, fluído). São opacos e transparentes, fazem-se e desfazem-se num processo orgânico, gráfico, plástico. Estão a acontecer lentamente, geologicamente, perante os nossos olhos, perante o nosso corpo, perante os nossos olhos feitos corpo. Dobras, estrias, ondulações, erosões, brenhas, fragas, falésias. Os desenhos são lugares e são visões. Visões de um lugar que não existe, algures entre Albufeira e Portimão – dir-se-ia o Barranco dos Abelharucos. Têm algo de Bravo, estes desenhos («Lagos são os Lagos, altas são as Fragas»), mas, estranhamente, são desenhos graves. Gravidade que nunca tinha pressentido no fazer artístico de Manuel Baptista. Nesse sentido, são estranhos mas, de alguma forma, são de uma evidência desarmante. Os objectos artísticos que mais me tocam são aqueles que surgem como se tivessem estado sempre aqui, próximos de nós, no nosso espaço físico. Como uma falésia em erosão, como um corpo que envelhece, uma mesma forma sofre alterações, de escala, de ritmo, de disposição, de densidade. Aparece e desaparece, mostra(-se) e esconde(-se). Os desenhos são forças que se movem, perante e para nós. Houve sempre no desenho de Manuel Baptista uma tematização do devir. Podemos não perceber o desenho que temos à nossa frente, mas percebemos o desenhar do desenho. A percepção é uma forma de tradução fisiológica. É filtrada pelo corpo – pela experiência, por um lado, pela inocência, por outro. A inocência é uma força, uma qualidade que se vai perdendo e que se volta a adquirir. Um desenho é a ponderação, a luta destas duas coisas – experiência e inocência. Desenhar estabelece essa continuidade, essa passagem, é uma aprendizagem permanente de si mesmo enquanto prática mas é também uma aprendizagem do corpo e do espírito – do corpo enquanto espírito, do espírito enquanto corpo. Talvez por isso estes desenhos sejam graves e sejam cândidos, simultaneamente. Nunca é demasiado tarde para termos uma infância feliz. Perante a multiplicidade do desenho inventamos palavras novas, como forma de aproximação, como forma de experiência, como forma de atravessar o tempo. Texto de Nuno Faria ![]() |
