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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Armanda Duarte, “Ao nível dos olhos” (parte integrante da obra “Uma laje”, 2010). Exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.


Armanda Duarte, “Sopro livre” (parte integrante da obra “Três degraus”, 2010). Exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.


Armanda Duarte, “Sopro livre” (parte integrante da obra “Três degraus”, 2010). Exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.


Armanda Duarte, “Coisas redondas e tangentes” (parte integrante da obra “Uma laje”, 2010). Exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.


Armanda Duarte, “Coisas redondas e tangentes” (parte integrante da obra “Uma laje”, 2010). Vista da exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.


Armanda Duarte, “Desenho intermédio” (parte integrante da obra “Uma laje”, 2010). Exposição “Três degraus, uma laje” no Chiado 8, 2010. © DMF, Lisboa.

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ARQUIVO:


ARMANDA DUARTE

Três degraus, uma lage




CHIADO 8 ARTE CONTEMPORÂNEA
Largo do Chiado, n.º8
1249-125 Lisboa

01 OUT - 23 DEZ 2010


A Chiado 8 tem tido curadoria de Bruno Marchand e apresentado um programa expositivo por vezes bastante arriscado e difícil. É o caso de Armanda Duarte, que ocupa todo o espaço disponível da galeria, mesmo se o deixa vazio. Porque o vazio tal como o cheio, tem matéria dentro, tem volumetria, cor e cheiro, como nos refere Bruno Zevi: “O ritmo dilatado ou contraído, cerrado ou articulado, nítido ou complexo, elementar ou misterioso e transitório de um espaço (...) constitui a consequência emergente da fantasia arquitectónica.” (1)

Nos trabalhos de Armanda Duarte estão diluídas as fronteiras entre escultura, arquitectura e instalação, e há geralmente uma relação quase dialéctica com o espaço que os acolhe. Em “Três degraus, uma lage”, Armanda questiona o espaço e a nossa percepção espacial, a matéria e os materiais, e novamente a nossa percepção deles. Convoca também questões de escala e de tempo. A exposição está dividida em duas obras, mas cada uma delas contém várias peças. “Três degraus” (2010) contém “Sopro livre”, que podemos ver quando entramos. Mas também podemos não ver se estivermos menos atentos. Uma pequena estrutura quase invisível feita de esferas de vidro transparente com 48 cm de altura, ergue-se do pavimento, frágil e leve como bolas de sabão sopradas uma a seguir à outra. Este objecto artístico, sem dúvida produto da mão humana, não deixa ao mesmo tempo de mimetizar um caule de uma qualquer flor, a sua fragilidade, elegância e beleza.

Atravessamos então uma sala vazia que nos irá levar à segunda peça. Esta sala funciona como um rito de passagem, quase como se nos limpássemos da primeira peça para poder apreciar a segunda. Ao mesmo tempo, a sala vazia obriga-nos a reconhecer a mutabilidade de um espaço quando lá pomos um objecto. Quem não conheça o espaço da galeria pode não se aperceber imediatamente de qual é a alteração introduzida por Armanda Duarte. “A arquitectura sempre foi o protótipo de uma obra de arte cuja recepção foi distraída e colectiva” (2). “Ângulo de repouso” é um plano inclinado que une a parede ao chão, uma espécie de rampa. Este plano parece-nos tão sólido como a própria parede, mas se nos aproximarmos (e teremos de nos aproximar mesmo muito) distinguimos que este plano é composto por areia muito fina e que a solidez e resistência se esvaem ao mais pequeno toque. Um material que parece perene e robusto é afinal inconstante e frágil e exige-nos delicadeza. Deverá a obra de arte ser temporária e transitória? Não será afinal sempre efémera, porque é sempre destrutível?

“Uma lage” é uma obra constituída por outras três e encontra-se num espaço expositivo completamente diferente do que alberga “Três degraus”, menos hermético e anónimo. “Coisas redondas e tangentes” é um conjunto de objectos reunidos numa lógica de readymade que vão desde bolachas a elásticos delimitados por um mosaico do pavimento, e que passaram pelas mãos da artista antes e durante a montagem da exposição. “Desenho intermédio” é uma espécie de inventário desses objectos, com todas as suas características físicas descritas como se fosse um catálogo técnico. A obra descodifica também as formas gráficas que a artista lhes atribui e que vemos em “Ao nível dos olhos”. Esta intervenção remete-nos para os antigos frisos romanos que ao longo da parede e à altura dos olhos nos definem o espaço e a altura do plano vertical desta sala.

Sem dúvida que “Três degraus” acaba por ser uma peça mais impactante porque convoca uma alteração espacial muito maior e nos permite questionar de modo mais aprofundado e sensitivo o espaço que nos rodeia e a imponderabilidade da matéria. Há também todo um jogo de equações matemáticas que Bruno Marchand explica de forma muito clara no catálogo da exposição e que intuímos quase involuntariamente quando nos encontramos na Chiado 8. No fundo, Armanda Duarte introduz-nos nas questões espaciais e de percepção que convoca através de um processo de redução fenomenológica que nos permite chegar a uma essência do que é o espaço.



NOTAS

(1) ZEVI, Bruno, Architectura in Nuce: Uma Definição de Arquitectura, Lisboa, Edições 70, 1979, p.51
(2) BENJAMIN, Walter, “A obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica” in Sobre Arte, Técnica, Linguagem e Política, Lisboa, Relógio D’Água Editores, 1992, p. 109






Bárbara Valentina