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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição. Fotografia: Cortesia Museu Colecção Berardo.


Vista da exposição. Fotografia: Cortesia Museu Colecção Berardo.


Vista da exposição. Fotografia: Cortesia Museu Colecção Berardo.


Vista da exposição. Fotografia: Julia Flamingo.


Vista da exposição. Fotografia: Julia Flamingo.


Vista da exposição. Fotografia: Julia Flamingo.


Vista da exposição. Fotografia: Julia Flamingo.


Vista da exposição. Fotografia: Julia Flamingo.

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COLECTIVA

CONSTELAÇÕES: UMA COREOGRAFIA DE GESTOS MÍNIMOS




MUSEU COLEÇÃO BERARDO
Praça do Império
1499-003 Lisboa

10 ABR - 22 SET 2019


 

 

Apesar de existirem esforços que confrontem a ideia de uma história da arte linear, não é tão fácil descontruir tal pensamento junto dos visitantes de exposições. Linhas e textos cronológicos de parede auxiliam na contextualização de determinada obra no seu tempo e espaço, por outro lado pecam em reiterar uma “evolução” na história da arte – noção que muitos académicos, curadores e instituições culturais vêm lutando contra. Se fôssemos representar esta história com uma linha sobre o papel, ela não seria uma reta, mas rabiscos que vão para frente e para trás, sobem e descem: algo como constelações num céu infinito, cheias de pormenores e nuances. É esta a palavra – Constelações – que intitula a exposição de Ana Rito e Hugo Barata no Museu Coleção Berardo.

 

O casal de curadores foca-se nos fluxos da história da arte - ou a “coreografia de gestos mínimos”, como eles nomeiam seu exercício de curadoria remetendo à dança e parafraseando o filósofo português José Gil. Eles tomaram como ponto de partida o excepcional grupo de obras da Coleção Berardo dos anos 1960, 1970 e 1980, e fizeram diversas intervenções numa timeline já existente, aproximando e colocando em diálogo obras de nomes inquestionáveis do minimalismo e da arte conceptual com outros artistas contemporâneos, principalmente portugueses. Dou destaque ao grupo de obras acachapantes assinadas pelos maiores artistas do século XX como Vito Acconci, Carl Andre, Richard Serra, Bruce Nauman e Dan Flavin, aqui admiradas não somente pela reviravolta que as suas obras propuseram no contexto dos anos 60 e 70 nos Estados Unidos da América, mas também pelo modo como eles mudaram a maneira de pensar a arte e o mundo em todo o Ocidente.

Foram esses artistas que trouxeram ideias como o espaço como obra, a linguagem nas artes visuais, o conceito como principal elemento de um trabalho, o uso de materiais simples, a não-subjetividade da arte, a separação entre arte e técnica. Tantos foram os seus méritos e questionamentos e tão abrangentes foram suas conquistas que se tornou impossível não encontrar os seus traços em qualquer produção posterior no mundo ocidental. E, ao aproximá-los com a prática artística portuguesa, os curadores também diminuem a distância entre eles e o público local e trazem para um mesmo palco grandes nomes internacionais e nacionais num movimento de experimentação e liberdade.

É assim que uma escultura luminosa de Dan Flavin é colocada ao lado de uma série de fotografias do coletivo Os Espacialistas. Para além da aproximação cromática (ambos trabalhos funcionam no branco sobre branco), o diálogo entre elas está na espacialização da obra de arte. A partir de 1963, quando Dan Flavin fez a sua primeira escultura com tubos de luz (e continuou até à sua morte, em 1996), ele objetivava não apenas a apropriação de materiais industriais, mas o construir um espaço a partir da luz, pensando na relação que ela criaria com o público. Os Espacialistas, por sua vez, que trazem o vocabulário da arquitetura para sua produção visual, apresentam a foto-performance “Canto Branco (Dan Flavin)”, em que registram os seus próprios corpos na sua relação com o espaço.

Outra aproximação genial é dos trabalhos geométricos de John McCraken com a escultura de parede de Fernanda Fragateiro. Como outros artistas minimalistas, o americano usava a geometria para indicar o máximo de objetividade na obra. Para eles, o que era importante não era a mensagem e sim o meio: a verdade era aquilo que se via, sem margens para interpretações. “Pylos”, uma escultura de laca rosada, é exposta ao lado de “Having Words”, de Fernanda Fragateiro, que consiste num bloco amarelo criado por páginas de um livro. Elas perderam a sua função original de transmitir mensagens através da palavra para se tornarem suporte de um objeto visual.

Outras afinidades são homenagens mais descaradas como a de João Onofre, que nunca escondeu a sua admiração por Bruce Nauman, nome incontornável quando o assunto é a arte conceptual na performance e vídeo. Na videoarte do artista lisboeta, uma personagem anda continuamente dentro de um círculo, numa ação monótona e interminável; logo em frente está a emblemática escultura “Smoke Rings”, que mostra a pesquisa de Nauman em torno de esculturas espaciais circulares. Já de Richard Serra, grande entusiasta do minimalismo num período pouco posterior às primeiras produções de Sol Lewitt, Dan Flavin e Carl Andre, está uma das suas esculturas de aço em pequenas dimensões. O trabalho “Point Load” ganha uma releitura nas mãos de Diogo Pimentão, que usou grafite sobre papel para emular as chapas de aço dobradas de Serra. Tais aproximações também são um bom chamariz para introduzir produções locais aos visitantes internacionais do museu.

Num núcleo voltado para a linguagem e a arte conceptual, estão obras não menos impressionantes de nomes como Art&Language, John Baldessari e Joseph Kosuth. Deste último está presente um exemplar da famosa série “Three Installations”: uma planta, a fotografia desta mesma planta e a descrição da palavra “planta” no dicionário constroem a máxima de Kosuth que era usar a palavra nas artes visuais aproximando-a da ideia e da imagem. Ele pregava pela não-representatividade da arte. A frase “Self-Described and Self-Defined”, escrita num luminoso rosa, tem a mesma resolução formal do neon de Ana Pérez-Quiroga, que esboça a frase “A tua roupa ficava um espanto no chão da minha sala”.

A proposta pedagógica também traz textos complementares de parede que indicam as tais constelações e se mostram resultado de uma investigação de anos por parte da dupla de curadores. “Nós conhecemos a coleção de trás para a frente e desde 2011 estamos trabalhando com constelações em termos formais e conceptuais. Tentamos incluir na parte académica a curadoria investigativa, ou seja, um projeto de pesquisa através do ato da curadoria. Isso vai de encontro com a vontade da direção artística de que haja uma constante investigação e reformulação da coleção”, explica Ana Rito. Esse não deveria ser um mérito do Museu Berardo, visto que o papel de uma instituição deste tipo não é apenas criar, manter e apresentar um acervo coerente e relevante, mas explorar a sua potencialidade e abordagens de acordo com o contexto presente dos seus interlocutores. E quantos presentes não poderiam existir?

O projeto ganha uma segunda edição a partir de outubro, quando obras de outros artistas serão trazidas para construir novas relações com as obras do piso -1. Já no próximo ano, Ana Rito e Hugo Barata farão as suas intervenções no grupo de obras da coleção localizada no Piso 2, onde estão trabalhos das primeiras vanguardas do século XX até finais dos anos 1950. Será lançado, ainda, um catálogo com ensaios aprofundados acerca do tema da constelação.

 



JULIA FLAMINGO