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ALEXANDRE ESTRELADeserto AcéfaloIN.TRANSIT Edifício Artes em Partes R. Miguel Bombarda, 457 4050-379 PORTO 18 ABR - 26 MAI 2009 No contexto dos 10 anos_10 exposições, do projecto IN.TRANSIT, comissariado por Paulo Mendes, pode ser vista até dia 26 deste mês, “Deserto Acéfalo”, de Alexandre Estrela. “Deserto Acéfalo” (1997/2009) é constituído por uma impressão digital, “Acéfalo” (1997) e por uma vídeo instalação “Sound Escape” (2003). O observador quando entra na sala depara-se com a instalação montada no chão: um projector emite a imagem vídeo que é projectada e coincide com a impressão (40 x 60 cm). As dimensões, o facto de o observador ter de olhar para baixo, para o conjunto da peça e a sua percepção de todo o dispositivo que a compõe, evitam, desde logo, que esta se confunda com um vídeo comum. Na realidade, cada um dos dois elementos que a incluem são fundamentais para a sua leitura. A impressão “Acéfalo” reproduz um dos famosos “Cowboys”, de Richard Prince. A imagem aponta-nos a figura de um cavaleiro a descer uma duna de areia. Alexandre Estrela retira a cabeça ao cavalo. Paradoxalmente, ao fazê-lo equilibra os elementos. E se “Acéfalo” resulta, após a intervenção do artista, num estado mais próximo do equilíbrio, “Sound Escape” vem contrapor-lhe um desequilíbrio. “Acéfalo” faz referência à revista Acephale, criada por Bataille em 1936 e ao desenho que André Masson fez para ilustrá-la. Masson recupera “O Homem de Vitrúvio” de Da Vinci, corta-lhe a cabeça, coloca-lhe um punhal na mão esquerda, chamas na mão direita e um crânio no lugar do sexo. Alexandre Estrela apropria-se de uma imagem de Richard Prince, que por sua vez utiliza a técnica da re-fotografia, que tem como objecto uma imagem publicitária (Marlboro Man), que tenta traduzir um mito (o cowboy americano). Este processo de tradução e sucessivas apropriações, culmina com uma imagem icónica do cowboy e termina abruptamente com a intervenção de Estrela ao apagar a cabeça do cavalo. O cavalo desce a duna em velocidade, impelido para a frente, corre o risco de cair, o cavaleiro segura as rédeas, forçando o pescoço do animal. A cabeça com o seu peso reforça esse movimento para a frente aumentando o desequilíbrio. Sem cabeça os elementos cavalo/cavaleiro readquirem uma estabilidade. O cowboy de Richard Prince assenta numa modalidade que implica uma atitude perceptiva, o hiper-realismo. Nesta o real é substituído por algo que se oferece sempre já reproduzido, falta-lhe o referente, é fantasmática. Baudrillard descreve-a assim: “É também a derrocada da realidade no hiper-realismo, na reduplicação minuciosa do real, de preferência a partir de um outro medium reprodutivo – publicidade, fotografia, etc. – de medium em medium o real volatiliza-se, torna-se alegoria da morte, mas reforça-se também através da sua própria destruição, torna-se o real pelo real, fetichismo do objecto perdido.” É esta estrutura hiper-realista que o artista vai metamorfosear enxertando um expediente de uma outra atitude perceptiva, o surrealismo. O surrealismo é um instrumento de conhecimento que pretende “Romper com as coisas como são e substituí-las por outras, em plena actividade, em plena génesis, cujos contornos móveis se registam em filigrana no mais profundo do ser” (Marcel Raymon). E se, como afirmámos anteriormente, o apagar a cabeça do cavalo em “Acéfalo” reconduz o conjunto a uma estabilidade, a projecção “Sound Escape” vem re-acrescentar-lhe um desequilíbrio perceptivo. Feita em colaboração com Paul De Jong, exibe uma paisagem em loop com uma velocidade crescente até criar a ilusão de um movimento em sentido contrário e fixar-se numa só imagem. O dinamismo da projecção actua com a imagem estática impressa. Esta funciona como uma referência visual, necessária para que a ilusão perceptiva possa surtir efeito. O observador acede à peça, num primeiro momento, com a segurança de um ponto mais elevado, olha para baixo, para o chão, mas num segundo momento essa posição é invertida pelo jogo das ilusões perceptivas, obrigando-o a questionar esse seu estado inicial.
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