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EXPOSIÇÕES ATUAIS


A Hayward, um edifício brutalista de 1968


Martin Kippenberger, livro Psycho Buildings


Archigram, Instant City in Bournesmouth, 1968


Mike Nelson, To the memory of H. P. Lovecraft, 1999


Gelitin, Normally, proceeding and unrestricted with without title, 2008


Michael Beutler, instalação


Atelier Bow-Wow, Life Tunnel, 2008


Do Ho Suh, Staircase - V, 2008


Tomas Saraceno, Observatory, Air-Port-City, 2008


Ernesto Neto, Life fog frog ... Fog frog, 2008


Tobias Putrih, Venetian, Atmospheric, 2007


Rachel Whiteread, Place (Village), 2006-2008


Do Ho Suh, Fallen Star 1/5, 2008


Los Carpinteros, Cold Study of a Disaster

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COLECTIVA

Psycho Buildings: Artists Take on Architecture




SOUTHBANK CENTRE - HAYWARD GALLERY
Belvedere Road
London SE1 8XX

28 MAI - 25 AGO 2008


Tal como o Maio de 68, também a galeria Hayward completa neste verão os 40 anos do seu aniversário, com uma grande exposição intitulada Psycho Buildings. A dupla data é celebrada no evento: inaugurada em 68, também a geração de 68 está por detrás da criação do edifício da Hayward. A Hayward foi concebida no fim do modernismo, por um grupo de jovens arquitectos da organização estatal Greater London Council, dois dos quais integrariam o grupo londrino Archigram. O grupo, revolucionário e provocador, agitou a arquitectura radical, criando ao longo dos anos 60 projectos visionários, irónicos e acutilantes, propondo cidades móveis, edifícios flexíveis, flutuantes e voadores, cidades habitadas por eventos itinerantes 24h por dia, desestabilizando a herança da arquitectura modernista e contra propondo a alienação pelo consumo. A Hayward é uma dobra desta transição, é um edifício brutalista, compacto, encerrado e rígido, em betão à vista e com detalhes sobredimensionados, como rampas, escadarias, terraços e varandas austeras. É um centro de arte cuja arquitectura é perene e indestrutível, como um bunker.


Ralph Rugoff, director da galeria, cita o livro de fotografias de Martin Kippenberger que concede o nome à exposição. Psycho Buildings, para Kippenberger, são construções anónimas, estranhas, temporárias, edificações improvisadas, irracionais, abandonadas, ou mal construídas. São ocupações desviantes dos homogéneos espaços suburbanos, descobertas nos interstícios e nos baldios convivendo com a arquitectura convencional e com a normalidade do dia-a-dia.


Este é o desafio da exposição: Rugoff adopta a ideia de edifício desviante para propor a 10 artistas uma aproximação à arquitectura. Contudo, a exposição não é uma pesquisa, reflexão ou investigação de comportamentos “desviantes”, como a referência indicaria. A dureza do registo fotográfico dos Psycho Buildings deu lugar a um conjunto de estruturas e instalações espaciais bipolares: ora revisitando a euforia optimista e visionária dos projectos dos arquitectos dos anos 60; ora expressando pressentimentos de um cataclismo civilizacional através da arquitectura. A sensação, emoção e expressão dominam a galeria. O ambiente é de celebração e a exposição aproxima-se das emoções de um parque temático.


O grupo de 10 artistas aponta propostas distribuídas pelos espaços interiores e exteriores da galeria, impecavelmente montadas sem que contudo estabeleçam diálogos entre elas. O tom do discurso consiste em dois pólos: archi-sonhos e archi-pesadelos. Podemos diferenciar grosseiramente três grupos: interpretações e intervenções sobre as psicoses do edifício da galeria; a criação de novas arquitecturas e estruturas visionárias; e representações ansiosas do quotidiano através da arquitectura.


No primeiro grupo incluímos Michael Beutler, Mike Nelson e Gelitin destacando-se estes dois. Mike Nelson desfere um ataque brutal às paredes brancas da galeria, transformando as suas entradas num alçapão semi-cerrado, tornando a galeria na morada de uma besta primitiva. To the memory of H. P. Lovecraft (1999), confronta a pureza do white cube com o corpo, o gesto, a acção destrutiva e suja de um ser que não pertence àquele lugar. Gelitin criam uma situação insólita no terraço exterior da galeria: concebem um lago artificial com barcos precários onde se pode remar num passeio bucólico a 12 metros do chão, no centro de Londres. Desviando a arquitectura brutalista da sua austeridade e apelando à interacção directa, envolvem a performance do espectador na re-significação da arquitectura existente.


Um conjunto de pavilhões, espaços e instalações define o que designamos de segundo grupo: as propostas espaciais do atelier bow wow, Do Ho Suh, Tomas Saraceno, Ernesto Neto e Tobias Putri celebram o espírito visionário dos anos 60, através de proliferações de experiências espaciais, sensoriais e das possibilidades tecnológicas da arquitectura. Há um optimismo e sentido futurista na peça do atelier bow wow, ironicamente intitulado Life Tunnel. Um corredor metálico brilhante, calculado por Arup, como uma conduta de serviço ou de ar-condicionado que interliga diversos espaços da galeria num escape pela conduta de serviço. É contraposto pela etérea promessa de subida para o céu, ou entrada na memória, oferecida pela sublime escadaria de tule vermelho de Do Ho Suh (Staircase – VI; também propondo uma fuga e a experiência anti-gravidade, o aeroporto flutuante de Tomas Saraceno explora os sentidos e amplia o espaço da terra. Explorando as sensações e os sentidos, uma gigantesca estrutura de Ernesto Neto, orgânica e habitável, apela aos sentidos do olfacto e do tacto (sendo contudo intocável) e o pavilhão da Eslovénia na Bienal de Veneza do artista Tobias Putri intitulada Venetian, Atmospheric explora a visualidade e a atmosfera que circula no seu interior, num cinema para 30 pessoas. Estas peças são espaços sensuais, apetecíveis, singulares, não propõem novas visões da arquitectura mas antes uma oportunidade de acesso a sítios amplamente reproduzidos em publicação. (Sobre Tomas Saraceno ver artigo “Temporada de Pavilhões” na artecapital)


Mais próxima do conceito da exposição, a crítica da arquitectura e dos espaços construídos na funcionalização do quotidiano, bem como a crítica da contemporaneidade através de representações da arquitectura, está circunspecta ao que identificamos como um terceiro grupo. A peça Place (Village) de Rachel Whiteread é uma paisagem alegórica, uma instalação tridimensional de duas colinas que definem uma favela na penumbra, cujas habitações são casas de boneca vitorianas. As casas estão iluminadas e totalmente vazias, sugerindo o isolamento e indiferenciação dos subúrbios, a acumulação de infâncias solitárias, ou uma paisagem desumanizada. Fallen Star 1/5 é o resultado da colisão de réplicas à escala 1:5 (gigantes) das casas de Do Ho Suh: um edifício de apartamentos nos EUA e a casa tradicional da sua infância na Coreia. A estrela caída é a casa coreana, aterrada no quotidiano banal de um país estrangeiro e, ao contrário da casa de Dorothy que foi enviada para Oz, um país imaginário repleto de magia, a casa de Suh aparenta ficar suspensa no desastre. Também suspenso entre enunciação crítica dos temores da devastação global, visão distópica do Ocidente, decor comercial ou hollywodesco, Cold Study of a Disaster de Los Carpinteros é o cenário de uma explosão congelada no espaço. Gás? Avião? Bomba? Radioactividade? Um freeze-frame tridimensional do instante do impacto e os momentos do processo de pulverização de uma célula doméstica tipificada, mostram como a arquitectura pode ser destruída e também usada como arma de destruição do quotidiano. Esta peça ambígua, visualmente espectacular e intensamente fotogénica, é o momento da exposição em que se revela o potencial auto-destrutivo da Arquitectura.


Um conjunto de peças capazes de sobreviver à tematização, e mais interessantes para um visitante especializado, são as instalações de Mike Nelson e Gelitin, bem como os filmes documentais projectados no interior do pavilhão-cinema de Tobias Putrih, dedicados às relações entre arte-arquitectura nos últimos 40 anos: New Babylon de Constant, um filme de Victor Nieuwenhuijs e Maartje Seyferth; Sheds um filme de Jane Crawford; Conical Intersect de Gordon Matta-Clark, Beam Drop de Chris Burden; Oktober 1996, de Gregor Schneider e Little Frank and His Carp, de Andrea Fraser. A exposição é um blockbuster eficaz, uma festa de aniversário preparada para o verão, avidamente percorrida por milhares de visitantes ansiando experiências fortes. Play Buildings seria porventura um título mais assertivo para um conjunto que estimula o sentido lúdico, a interacção, participação e a emoção do público, aproximando-o da arte e da arquitectura através de experiências didácticas. A exposição distancia-se da força subversivo e revolucionário que algumas das suas referências tinham há exactamente 40 anos.



LINKS
www.southbankcentre.co.uk/festivals-series/psycho-buildings/
www.southbankcentre.co.uk/visual-arts/hayward-exhibitions/psycho-buildings/film


Inês Moreira