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COLECTIVAPsycho Buildings: Artists Take on ArchitectureSOUTHBANK CENTRE - HAYWARD GALLERY Belvedere Road London SE1 8XX 28 MAI - 25 AGO 2008 Tal como o Maio de 68, também a galeria Hayward completa neste verão os 40 anos do seu aniversário, com uma grande exposição intitulada Psycho Buildings. A dupla data é celebrada no evento: inaugurada em 68, também a geração de 68 está por detrás da criação do edifício da Hayward. A Hayward foi concebida no fim do modernismo, por um grupo de jovens arquitectos da organização estatal Greater London Council, dois dos quais integrariam o grupo londrino Archigram. O grupo, revolucionário e provocador, agitou a arquitectura radical, criando ao longo dos anos 60 projectos visionários, irónicos e acutilantes, propondo cidades móveis, edifícios flexíveis, flutuantes e voadores, cidades habitadas por eventos itinerantes 24h por dia, desestabilizando a herança da arquitectura modernista e contra propondo a alienação pelo consumo. A Hayward é uma dobra desta transição, é um edifício brutalista, compacto, encerrado e rígido, em betão à vista e com detalhes sobredimensionados, como rampas, escadarias, terraços e varandas austeras. É um centro de arte cuja arquitectura é perene e indestrutível, como um bunker. Ralph Rugoff, director da galeria, cita o livro de fotografias de Martin Kippenberger que concede o nome à exposição. Psycho Buildings, para Kippenberger, são construções anónimas, estranhas, temporárias, edificações improvisadas, irracionais, abandonadas, ou mal construídas. São ocupações desviantes dos homogéneos espaços suburbanos, descobertas nos interstícios e nos baldios convivendo com a arquitectura convencional e com a normalidade do dia-a-dia. Este é o desafio da exposição: Rugoff adopta a ideia de edifício desviante para propor a 10 artistas uma aproximação à arquitectura. Contudo, a exposição não é uma pesquisa, reflexão ou investigação de comportamentos “desviantes”, como a referência indicaria. A dureza do registo fotográfico dos Psycho Buildings deu lugar a um conjunto de estruturas e instalações espaciais bipolares: ora revisitando a euforia optimista e visionária dos projectos dos arquitectos dos anos 60; ora expressando pressentimentos de um cataclismo civilizacional através da arquitectura. A sensação, emoção e expressão dominam a galeria. O ambiente é de celebração e a exposição aproxima-se das emoções de um parque temático. O grupo de 10 artistas aponta propostas distribuídas pelos espaços interiores e exteriores da galeria, impecavelmente montadas sem que contudo estabeleçam diálogos entre elas. O tom do discurso consiste em dois pólos: archi-sonhos e archi-pesadelos. Podemos diferenciar grosseiramente três grupos: interpretações e intervenções sobre as psicoses do edifício da galeria; a criação de novas arquitecturas e estruturas visionárias; e representações ansiosas do quotidiano através da arquitectura. No primeiro grupo incluímos Michael Beutler, Mike Nelson e Gelitin destacando-se estes dois. Mike Nelson desfere um ataque brutal às paredes brancas da galeria, transformando as suas entradas num alçapão semi-cerrado, tornando a galeria na morada de uma besta primitiva. To the memory of H. P. Lovecraft (1999), confronta a pureza do white cube com o corpo, o gesto, a acção destrutiva e suja de um ser que não pertence àquele lugar. Gelitin criam uma situação insólita no terraço exterior da galeria: concebem um lago artificial com barcos precários onde se pode remar num passeio bucólico a 12 metros do chão, no centro de Londres. Desviando a arquitectura brutalista da sua austeridade e apelando à interacção directa, envolvem a performance do espectador na re-significação da arquitectura existente. Um conjunto de pavilhões, espaços e instalações define o que designamos de segundo grupo: as propostas espaciais do atelier bow wow, Do Ho Suh, Tomas Saraceno, Ernesto Neto e Tobias Putri celebram o espírito visionário dos anos 60, através de proliferações de experiências espaciais, sensoriais e das possibilidades tecnológicas da arquitectura. Há um optimismo e sentido futurista na peça do atelier bow wow, ironicamente intitulado Life Tunnel. Um corredor metálico brilhante, calculado por Arup, como uma conduta de serviço ou de ar-condicionado que interliga diversos espaços da galeria num escape pela conduta de serviço. É contraposto pela etérea promessa de subida para o céu, ou entrada na memória, oferecida pela sublime escadaria de tule vermelho de Do Ho Suh (Staircase – VI; também propondo uma fuga e a experiência anti-gravidade, o aeroporto flutuante de Tomas Saraceno explora os sentidos e amplia o espaço da terra. Explorando as sensações e os sentidos, uma gigantesca estrutura de Ernesto Neto, orgânica e habitável, apela aos sentidos do olfacto e do tacto (sendo contudo intocável) e o pavilhão da Eslovénia na Bienal de Veneza do artista Tobias Putri intitulada Venetian, Atmospheric explora a visualidade e a atmosfera que circula no seu interior, num cinema para 30 pessoas. Estas peças são espaços sensuais, apetecíveis, singulares, não propõem novas visões da arquitectura mas antes uma oportunidade de acesso a sítios amplamente reproduzidos em publicação. (Sobre Tomas Saraceno ver artigo “Temporada de Pavilhões” na artecapital) Mais próxima do conceito da exposição, a crítica da arquitectura e dos espaços construídos na funcionalização do quotidiano, bem como a crítica da contemporaneidade através de representações da arquitectura, está circunspecta ao que identificamos como um terceiro grupo. A peça Place (Village) de Rachel Whiteread é uma paisagem alegórica, uma instalação tridimensional de duas colinas que definem uma favela na penumbra, cujas habitações são casas de boneca vitorianas. As casas estão iluminadas e totalmente vazias, sugerindo o isolamento e indiferenciação dos subúrbios, a acumulação de infâncias solitárias, ou uma paisagem desumanizada. Fallen Star 1/5 é o resultado da colisão de réplicas à escala 1:5 (gigantes) das casas de Do Ho Suh: um edifício de apartamentos nos EUA e a casa tradicional da sua infância na Coreia. A estrela caída é a casa coreana, aterrada no quotidiano banal de um país estrangeiro e, ao contrário da casa de Dorothy que foi enviada para Oz, um país imaginário repleto de magia, a casa de Suh aparenta ficar suspensa no desastre. Também suspenso entre enunciação crítica dos temores da devastação global, visão distópica do Ocidente, decor comercial ou hollywodesco, Cold Study of a Disaster de Los Carpinteros é o cenário de uma explosão congelada no espaço. Gás? Avião? Bomba? Radioactividade? Um freeze-frame tridimensional do instante do impacto e os momentos do processo de pulverização de uma célula doméstica tipificada, mostram como a arquitectura pode ser destruída e também usada como arma de destruição do quotidiano. Esta peça ambígua, visualmente espectacular e intensamente fotogénica, é o momento da exposição em que se revela o potencial auto-destrutivo da Arquitectura. Um conjunto de peças capazes de sobreviver à tematização, e mais interessantes para um visitante especializado, são as instalações de Mike Nelson e Gelitin, bem como os filmes documentais projectados no interior do pavilhão-cinema de Tobias Putrih, dedicados às relações entre arte-arquitectura nos últimos 40 anos: New Babylon de Constant, um filme de Victor Nieuwenhuijs e Maartje Seyferth; Sheds um filme de Jane Crawford; Conical Intersect de Gordon Matta-Clark, Beam Drop de Chris Burden; Oktober 1996, de Gregor Schneider e Little Frank and His Carp, de Andrea Fraser. A exposição é um blockbuster eficaz, uma festa de aniversário preparada para o verão, avidamente percorrida por milhares de visitantes ansiando experiências fortes. Play Buildings seria porventura um título mais assertivo para um conjunto que estimula o sentido lúdico, a interacção, participação e a emoção do público, aproximando-o da arte e da arquitectura através de experiências didácticas. A exposição distancia-se da força subversivo e revolucionário que algumas das suas referências tinham há exactamente 40 anos. LINKS www.southbankcentre.co.uk/festivals-series/psycho-buildings/ www.southbankcentre.co.uk/visual-arts/hayward-exhibitions/psycho-buildings/film
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