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RIGO 23Nada de Novo / Swim AgainZDB - GALERIA ZÉ DOS BOIS Rua da Barroca, 59 1200-049 Lisboa 13 OUT - 27 JAN 2007 Num dia do ano de 1996, enquanto preparava uma exposição na extinta Galeria Graça Fonseca, Rigo, Ricardo Gouveia (n.1966, Madeira), atrasou-se a chegar ao espaço da Rua da Emenda em Lisboa para abrir a porta aos calceteiros que tinha escolhido usar para cobrirem o chão da galeria com um desenho seu, em tÃpica calçada portuguesa. Enquanto subia a rua, Rigo ouvia o barulho do martelar na pedra. Quando chegou, um dos calceteiros tinha passado o tempo de espera em frente à porta a fazer, num cubo de pedra de calçada, a forma de um coração, que ofereceu ao artista. Como outros acontecimentos da sua vida este também exemplifica a forma e projecto de vida deste artista madeirense mas que vive e trabalha na cidade de São Francisco, Califórnia, há muitos anos. Esta história foi contada pelo próprio artista que ainda guarda o coração feito em pedra preta de calçada. “Nada de Novo / Swim Again†é a apresentação em Lisboa, na galeria Zé dos Bois, de uma exposição que reúne grande parte do trabalho realizado por Rigo desde o Ãnicio dos anos 80. “Peões e Passadeiras, Jam Sessions: Rigo 84 – 23†foi comissariada por Manray Hsu para o Centro das Artes Casa das Mudas, na Madeira (Fevereiro a Junho de 2006). Mas a importância do contexto em que o seu trabalho é apresentado é de tal maneira essencial para o artista e nunca passÃvel de separação da sua maneira de trabalhar que Rigo teria necessariamente de criar uma “outra†exposição para o espaço da galeria Zé dos Bois, um espaço expositivo que conhece desde há muito anos. “Nada de Novo / Swim Again†é comissariada por Manray Hsu e Natxo Checa o director da ZDB com quem Rigo já trabalhou no passado, por exemplo na apresentação de “Carro do Sabão Azul†na galeria em 1998. Em Lisboa, Rigo aproveitou não só todo o espaço da galeria Zé dos Bois como também fez quatro intervenções no espaço urbano. Duas delas de carácter efémero. Uma é o Museu do Triciclo, contentor instalado na Praça do Comércio com imagens e uma colecção de triciclos alterados. Este museu criado pelo autor vai aumentando à medida que é instalado em diferentes locais, com novos velocÃpedes adquiridos nos locais da apresentação (o Museu foi apresentado no âmbito da Bienal LuzBoa entre 25 de Setembro e 19 de Novembro de 2006). Outra é o Museu Taté Wikikuwa, um outro museu dedicado à mostra do trabalho artÃstico de Leonard Peltier, um prisioneiro polÃtico dos Estados Unidos. Este museu já foi apresentado em São Francisco, Reino Unido e Chile e é constituÃdo por uma série de trabalhos a óleo, pintados atrás das grades pelo defensor dos direitos das comunidades Ãndias indÃgenas do norte da América. Em Outubro, este museu esteve no Grémio Lisbonense, anunciado com enormes letras no seu exterior, e agora habita uma das salas da ZDB até ao final da exposição. Os “museus†impulsionados por Rigo têm como objectivo não só o alertar o público para determinadas causas mas também o questionar das definições de museu nos nossos dias, como se, para o artista, a constante utilização da palavra museu significasse a perda da carga que esta palavra acarreta. Muitas vezes estes museus são instalados dentro de outros museus. As duas outras intervenções no espaço urbano são de carácter permanente: “Europa-Latina†é uma pintura mural na Avenida 24 de Julho junto à Casa da América-Latina e “ZDB Forever†é uma instalação em calçada portuguesa com desenho do autor que envolve o edifÃcio da galeria ocupando parte da Rua da Barroca, Travessa dos Fiéis de Deus e Rua da Atalaia - como homenagem à galeria lisboeta. Mas a par de todos estes trabalhos pela cidade, o espaço expositivo da ZDB está quase na sua totalidade ocupado pelo artista – obras de vários perÃodos da sua carreira alimentados pelo seu carácter interessado e dedicado a causas polÃticas e sociais intrinsecamente ligados à sua maneira de viver, à s suas viagens e processos de trabalho. Nas escadarias de pedra que nos levam aos dois andares da exposição e à s várias salas estão expostos os trabalhos que de alguma maneira são as suas obras mais visÃveis e conhecidas – intervenções no espaço urbano da cidade de São Francisco onde o artista utiliza sinais gráficos com palavras – uma palavra utilizada e escolhida para o local e contexto onde é colocada. Rigo apresenta fotografias destas obras e vÃdeos em pequenos monitores que contam a história dessa mesma intervenção no espaço, por exemplo “Extinctâ€, um mural, parte integrante do projecto “Art in the Urban Landscapeâ€, pintado pela primeira vez por trás de uma gasolineira Shell em São Francisco e que mais tarde os proprietários do edifÃcio ao verem o potencial publicitário e lucrativo da ideia ameaçaram retirar. O artista decidiu recorrer à protecção legal para obras de arte e os proprietários acabaram por ter que financiar um mural igual numa outra parede do mesmo edifÃcio. Ainda hoje, a parede original continua branca e uma gasolineira permanece nas imediações. No meio de obras quase “históricas†da carreira de Rigo – os seus grandes murais - setas que apontam para “SKY†e “CARSâ€, “TRUTH†ou “ONE TREEâ€, o autor contamina a sua própria exposição com novos trabalhos colocados lado a lado. Algumas peças ainda realizadas em tempo de escola, fotografias do artista muito jovem enquanto fazia uma performance com um amigo em Porto Salvo (pela primeira vez apresentadas aqui) ao lado de um “remake†de uma exposição de 1986 no Espaço Poligrupo Renascença, em Lisboa ou da série das águias de 1994 - pinturas a preto e branco que reproduzem sinais de direcção, como instruções e que o autor vê como águias – inscrição nas paredes da galeria a lápis – “Estas pinturas são águiasâ€; algumas obras da sua exposição na Galeria Graça Fonseca, “Enquanto os Golfinhos Não Voltam ao Tejo†(1996) ao pé da “bicicleta do Sr. Franklinâ€, uma obra doada por um senhor que apareceu na Praça do Comércio, enquanto o contentor do Museu do Triciclo estava ali exposto a dizer que tinha uma bicicleta antiga para doar – “Uma bicicleta velha que tenho lá no quintal há muito anos debaixo de uma lonaâ€. Também muito perto está - “Bairro Alto – Cubo Branco†uma pequena janela alta feita numa das paredes da sala de exposição que apenas nos deixa vislumbrar um bocadinho do bairro onde se encontra a galeria – um piscar de olho à própria galeria ZDB, com menos janelas para o bairro que a acolhe e mais paredes úteis de exposição. Da mesma maneira que deve interessar ao espectador as questões e causas que esta exposição apresenta, e o percurso e obra do artista, é também visÃvel ao mesmo tempo e com um pouco mais de atenção (em especial para as folhas de sala disponÃveis) que é igualmente importante o processo, relacionamento e abertura destas mesmas obras – são todas fruto de uma vivência particular do artista, e aproximam-nos necessariamente das batalhas da sua vida, logo da sua arte. “Nada de Novo / Swim Again†é o tÃtulo da exposição mas também o tÃtulo de mais uma obra nova deixada nas paredes da galeria – stencil sobre papel autocolante feita em colaboração com um “grafitterâ€, SLAP e também Viktor, um trabalhador da equipa da ZDB que ajudou a construção e instalação da exposição. SLAP fez um cenário no papel autocolante, Viktor traduziu as palavras “Nada de Novo / Swim Again†para a sua lÃngua – o russo.
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