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EXPOSIÇÕES ATUAIS


"Hadean Stories", 2018–2019. Vista da exposição Sol Cego de Elisa Strinna. Fidelidade Arte, 2019. Fotografia de Bruno Lopes


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Hadean Stories", 2018-19. Porcelana, gesso, cobre e cristais de alúmen.


"Third Nature", 2017–2019. Vista da exposição Sol Cego de Elisa Strinna. Fidelidade Arte, 2019. Fotografia de Bruno Lopes


"Third Nature", 2017-19. Porcelana, faiança, grés e cabelo sintético.


"Third Nature", 2017-19. Porcelana, faiança, grés e cabelo sintético.


"Unproductive Glory", 2019. Vídeo 4K, 16:9, Cor, Som, 4"50'.

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ARQUIVO:


ELISA STRINNA

SOL CEGO




FIDELIDADE ARTE
Largo do Chiado, 8
1249-125 Lisboa

20 SET - 03 JAN 2020


 

 

O que era primeiro matéria tornou-se energia. A descoberta da Natureza corresponde à sua libertação como energia e a uma transformação mecânica do mundo.
Baudrillard (1992, p. 129)

 

Através da exposição Sol Cego, Elisa Strinna emerge-nos numa nova Era contaminada pelo desgaste de uma comunicação invisível, cuja paisagem agrega o natural à tecnologia. A artista apresenta-nos um ambiente apocalítico como lugar fugaz, paisagístico, anteriormente habitado pelo ser humano, onde a deterioração possui uma forma quase arqueológica do lugar e do ser.

Desse lugar intemporal, espelha outros aspectos «culturais» intrínsecos, quer da natureza quer do ser humano, onde as linhas fronteiriças cada vez mais se desvanecem com o tempo. Strinna retrata os destroços de cabos subaquáticos de circulação de energia como imagens remotas de um passado distante, representando, assim, as múltiplas redes de informação comunicacional. Meios ininteligíveis da linguagem que eclodem como uma gigantesca explosão de energia entrópica.

 

Like some gigantic implosion, the circulation of general accident of communication technologies is building up and spreading, forcing all substances to keep moving in order to interact globally, at the risk of being wiped out, being swallowed up completely. (Virilio, 1998, p. 185)

 

Em Sol Cego a artista transporta-nos para uma paisagem arqueológica «geo-tecnológica», onde a ruína do ser humano e da natureza prevalece como uma simbiose entre a energia e a matéria, o som e a comunicação. As esculturas em porcelana manifestam-se como entranhas orgânicas quase arquétipos de um corpo fragmentado, cujo interior é exteriorizado através de gavinhas florais em proliferação. O espectador caminha entre elas, corroídas pelo tempo, como se de uma «terceira natureza» se tratasse, usando as palavras da artista.

 

Fotografias: Bruno Lopes. Cortesia Fidelidade Arte.
 

 

Entre o artificial e o orgânico, quebra-se a «comunicação» com a obra sonora Blind Sun com a colaboração do músico e compositor italiano Francesco Roberto Dani, interpretada pela cantora lírica portuguesa Beatriz Ventura.

Sentimos uma experiência singular através da música erudita contemporânea, em contraponto com a instalação, cujas esculturas em cerâmica se propagam pelo espaço, e concedendo ao comum espectador diferentes associações estéticas, surpreendendo-o através da música.

Vivencia-se o espaço orgânico, a energia e o som. A natureza e a tecnologia fundem-se num só. Luz e sombra, num retorno a um ambiente perdido, no espaço e no tempo.

A música é vida. É quântica. Nela, a variação composicional produz oscilação semelhante a sistemas de micropartículas, segundo o pensamento de Iannis Xenakis (1922-2001). Lembra de certo modo, a sua música, dada por uma estrutura de «micro-som», análoga a um «sistema granular» que se movimenta das partículas para o Universo, do Universo para as partículas. Assim, a tecnologia e o algoritmo são meios de produzir as flutuações e probabilidades da composição musical, que tanto influenciou a música eletroacústica:

 

Num universo de nada. Um breve trem de ondas, tão breve que seu fim e início coincidem desembaraçando-se incessantemente. O Nada reabsorve, cria. Engendra o ser. Tempo, Causalidade. (Xenakis, 1992, p. 24)

 

Em Blind Sun, obtém-se uma experiência auditiva na contemporaneidade, numa n-dimensão matemática musical através de um «electro-sistema», segundo os «9 elementos químicos mais relevantes que se encontram na composição do Sol, partindo do seu espectro», como constata Delfim Sardo, curador da exposição.

A música é a natureza. O espectro do Sol, energia e vibração.

A comunicação invisível é orgânica e artificial. Fundem-se, nas obras, a matéria e o som.

Nas esculturas, percecionamos a ruína da comunicação.

Entropia da linguagem.

A linguagem torna-se excessiva e perde-se no infinito, onde o ser humano não consegue abraçar, sendo mais como um sistema «fantasmagórico» num simulacro do mundo real.

O processo de destruição continua lentamente, ou dá-se através de uma erupção.

Em Unproductive Glory, 2019, obra em vídeo, numa outra sala, observamos uma espécie de ironia audiovisual, cujo discurso estético é denunciado numa obra satírica sobre o fracasso ou a falha da comunicação ou das redes de transmissão. A artista expressa na sua obra plástica, num processo gradual, a autodestruição de uma instalação de redes elétricas, quase numa entoação musical.

Porém, olhamos e vemos. Sentimos, escutamos e ouvimos. O som move-se com a explosão de cada cabo. O olho acompanha e regista a sequência entre a imagem e o som. Graças a esta íntima relação que nos é tão restrita quanto estranha, percecionamos a incomunicabilidade da ação, que, por sua vez, se dissipa no espaço.

Intuímos uma leve sensação de desconforto e estranheza, mas não saímos indiferentes à exposição, como se a tecnologia pertencesse a um tempo distante, como se fosse inevitável a ruína do momento presente.

 

 



JOANA CONSIGLIERI