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52º BIENAL DE VENEZA: ÂNGELA FERREIRA APRESENTA “MAISON TROPICALE”2007-05-24Foi apresentado ontem, em conferência de imprensa no Instituto das Artes, o projecto que Ângela Ferreira (com comissariado de Jurgen Bock) vai realizar no âmbito da representação portuguesa da edição deste ano da Bienal de Veneza (a 52ª). Designado “Maison Tropicale” ocupará a Fondaco Marcello – espaço expositivo nacional durante os próximos três anos – com uma vertente marcadamente escultórica mas também fotográfica. Integrado nas principais linhas orientadoras da sua pesquisa artística (com cunho crítico e político) o projecto reflecte a relação especial de Ângela Ferreira com a arquitectura modernista que proliferou em África no período colonial e que, segundo a artista, constituiu uma autêntico laboratório de construção, espelhando não só tendências escultóricas, como também os condicionalismos sociais e políticos vigentes – de que os edifícios são considerados testemunhos preferenciais. No cerne da sua pesquisa posicionam-se as tensões que, ao longo da História, tem pautado a relação entre o Ocidente e o continente africano. O período colonial e pós-colonial são também temas que se cruzam com a sua história pessoal: a artista nasceu em Maputo e residiu na África do Sul (onde continua a passar temporadas). “Maison Tropicale” é também o título de um projecto arquitectónico realizado, no final dos anos 40 e início da década de 50, pelo arquitecto e designer francês Jean Prouvé em resposta a uma encomenda do governo francês. Para dar respostas a alguns dos problemas habitacionais que se colocavam, Prouvé projectou casas pré-fabricadas de que se construíram três protótipos cujo destino foi uma viagem de avião para Niame (Níger) e Brazaville (Congo), colónias francesas na época. O transporte efectuou-se através da colocação dos diferentes módulos em contentores especificamente concebidos e recorreu-se a aviões de guerra para concretizar a viagem. Após terem resistido a cerca de 50 anos em razoável estado de conservação – atravessando muitas vezes conflitos bélicos – as casas foram vendidas, desmanteladas e trazidas para o Ocidente onde estão a ser exibidas e comercializadas (integralmente ou desmembradas; conversão em objectos artísticos/escultóricos) em galerias de arte e outros espaços expositivos de elite, num processo de completa desvirtuação. Com “Maison Tropicale” Ângela Ferreira pretende também alertar e denunciar esta situação de expropriação ilegítima. A vertente escultórica do projecto traduz-se na construção de uma estrutura (em madeira e alumínio) que remete para os contentores que serviram para transportar os objectos; o espectador tem que atravessá-los (para atingir o restante espaço expositivo) confrontando-se com algumas reinterpretações dos mesmos. Uma casa em trânsito que permite olhar de dentro para fora. A vertente fotográfica, por seu lado, relaciona-se com a necessidade que existiu em perceber e documentar o que restou da memória física destas casas nos países africanos que as acolheram, os seus vestígios e ausências mais ou menos explícitos. Destaque especial foi dado ao catálogo, disponível a partir de dia 08 de Junho – data da inauguração do Pavilhão Português – que será profundamente documental e com uma relevante vertente ensaística, e para um filme (igualmente documental) com estreia marcada para 2008. Recordamos que a Bienal decorre entre 10 de Junho e 21 de Novembro e tem como director Robert Storr que seleccionou a temática “Think with the Senses - Feel with the Mind. Art in the Present Tense” para pautar o projecto artístico, colocando África e toda a Diáspora no seu cerne. |