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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


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Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.


Vista da exposição Outras cabeças, outras árvores e outras casas, de Pedro Cabrita Reis. Cortesia Galeria Pedro Oliveira, Porto.

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ARQUIVO:


PEDRO CABRITA REIS

OUTRAS CABEÇAS, OUTRAS ÁRVORES E OUTRAS CASAS




GALERIA PEDRO OLIVEIRA
Calçada de Monchique, 3
4050-393 Porto

10 MAI - 28 JUN 2025


 

A obra de Pedro Cabrita Reis estende-se a inúmeras possibilidades de enunciação misteriosa, catalisada numa atração irresistível pela inquietação enigmática da matéria. Matéria-pintura, matéria-escultura, matéria instalação, matéria-infinitude: restos acumulados de despojos e artefactos subsumidos pela erosão temporal da obsolescência, retirados de vários locais, numa reformulação sintomática de obsessiva reiteração construtiva: artista-artesão; artista-manufactor; artista-inclinado-para-a-demiurgia-industrial. A partir da reconversão dos materiais pobres em menos pobres, o artista perscruta a intencionalidade tecnicamente poética de reconduzir a materialidade do mundo, por intermédio de uma travessia inusitada, a novos estados cristalizados de uma reconversão das ordenações do habitual. Tentar, por isso, transmutar o habitual em inquietante estranheza, propícia àquilo que Freud entendia por uma sintomatologia atípica de objectos e situações outrora familiares. Como entender as obras de Cabrita Reis à luz de um sentido tradicional, auto-englobante e auto-confirmativo porque eliminador das ambivalências? Se a realidade normativa empobrece o sentido aplicado e aplicável das formulações desviantes, Cabrita Reis introjecta a realidade (elementar, infalível, altamente limada pela clareza pós-cartesiana) para a projectar no tecido da posição unheimlich, tendencialmente precária porque altamente falível, mas susceptível de possibilitar a presença do ignoto inefável da elevação arrebatada da poesia matérica. Os sistemas enquadráveis de representação no tecido do mundo, metamorfoseiam-se em estranhas condições de duplicidade, de fragmentação e estilhaçamentos plurívocos de representações que não necessitam de se reportar a uma análoga imagem escolhida arbitrariamente pelos sistemas semióticos desenvolvidos por Saussure. Não será por acaso que Cabrita Reis, no texto da exposição (o mesmo que em Cabeças, árvores e casas em 1988 na Galeria Roma e Pavia), nos revela que ao artista impõe-se a obsessão de evitar cair na relatividade da evidência, para deste modo poder assistir à consagração de um sentido essencial. Talvez possamos mencionar o trabalho de assoberbamento e de inclinação enviesada a favor de um arrebatamento, quase como uma deflagração de um corpo-ardente, volatilizado pela combustão primeva do acto fulgurante de poetizar o mundo. Ou seja, de inscrever no território usual do mundo a inusual premissa de o recondicionar à incandescência do incomum. Paradoxo da condição artística de Cabrita Reis: pegar na realidade e desmembrá-la e excisá-la da sua pretensa indecomponibilidade para nela fazer despoletar o incêndio mirífico da diferença; pegar na unidade da realidade e multiplicá-la em pontos constelares diferenciais, mais ainda revelando neles, resquícios dessa unidade. É isso que pressentimos (ou interpretamos) quando vemos as outras cabeças, as outras árvores e as outras casas em exposição na Galeria Pedro Oliveira, reinterpretadas e revisitadas a partir da primeira, realizada em 1988. Estes elementos são vestígios acumulados da tradição representativa de um mundo, tornados assombros prodigiosos de uma supra-realidade tendencionalmente incumbente de re-revelar ou de re-mostrar uma reconfiguração dos enunciados-outrora-existentes.

 

Pedro Cabrita Reis, Outras cabec?as #4, 2025. Te?cnica mista sobre papel, 102 x 66 cm.

 

Cabeça – símbolo arquetípico da representação factual de um elemento recortado do material anatómico tornado alegoria impassível de enunciação abstracta, para num único dispositivo eliminar as continuidades mutacionais das feições do rosto. Cabeças e não rostos, estratos de sinuosidades e envolvimentos topológicos de saliências, sulcos, planaltos e cumes de um esqueleto - obsessiva preferência demonstrada por Joseph Beuys pela caveira (schädel) – em vez de uma rosticidade idealizada por intensidades espirituais ou inclinadas numa presentificação da ontologia hipostasiada em matéria, até porque la tête on la tait la tête est muette [1]. Não será por acaso que as cabeças aqui apresentadas são feições atenuadas pela camada vestigial, de traços que circundam as estratificações de um crânio, umas vezes esvaziando o miolo do rosto, apresentando nada mais do que um vazio (vazio nunca total, pois as zonas da boca e dos olhos podem ser tapadas por manchas cromáticas) denotado pela sombra (Outras cabeças #2; Outras cabeças #8), outras vezes preenchido por inclinações desequilibradas de preenchimentos cromáticos (próximos de atmosféricas aparições espectrais, traindo as soluções identitárias da claridade habitual das soluções anatómicas) que perfazem uma instabilidade figurativa, de grande precariedade na sua assunção significante de analogia à realidade (Outras cabeças #4; Outras cabeças #20). Pertenço aos que amam na errância das aparências a possibilidade de encontrar um sentido, diz-nos o artista. Há que atingir o plano do horizonte indefinível para apostar na errância da significância. Há que intensificar as instâncias nómadas de representação de forma a poder ser desvelado um sentido, ainda que não seja total, pelo menos a caminho da promessa totalizante da reconvocação dos sentidos.

Árvore – infrene simbologia que convoca múltiplas convocações de distintos estratos geográficos, teológicos, sociológicos, filosóficos e antropológicos, nunca por eles locupletando as possibilidades de registo de significado, apenas denotando tentativas de reconduzir a noção-árvore à intenção de esclarecimento do saber humano: mesmo que alguém extirpe com um machado um carvalho e o desfigurar e o impossibilitar de frutificar, ele deporá testemunho em sua defesa [2]. Nestes desenhos de árvores vislumbramos uma gama multímoda de segmentações e diversificações de soluções compositivas para a sua elaboração imagética (valores oscilantes entre a claridade e áreas cinzentas englobadas em tonalidades que transitam pela ambiência vital quente e pela distância fria): imagem-árvore representada no papel não necessariamente induzida por atitudes reflexivas de pensar o conceito visual de árvore (como vistas em qualquer landscape painting ou em qualquer exercício impressionista), mas pela necessidade individual de intensificar imageticamente a orgânica força que dela se desprende e potencia no observador (Outras árvores #11). Retratar nesta força, não a composição idealizada do retrato tradicional do ser-árvore, mas o acto de perfuração e penetração nos poros da sua morfologia, para neles fazer medrar a intensidade alucinatória do desejo premente e impreterível de elaborar graus de dinamismos bio-poéticos (Outras árvores #15). Árvores representadas pela intersubjectividade do encontro inexorável do rosto da natureza com a voragem assimiladora do artista.

 

Pedro Cabrita Reis, E outras casas #19, 2025. Te?cnica mista sobre papel, 102 x 66 cm.

 

Casa – tema-matricial de Cabrita Reis, instalado na sua obra pelas equivocidades, pelas contradições, pelos caminhos inapropriados e inapropriáveis que se estendem nos territórios pictóricos ou nos espaços reais do mundo. Acima de tudo, parece existir uma irredutibilidade aos postulados arquitectónicos do fazer-uma-casa como sistema padronizado de instituição formulada de determinadas estruturas compositivas. A casa de Cabrita Reis é uma casa desviante em relação à sua utilidade teleológica (disponibilizada por uma intencional premissa de subsistência edificada), pois ela apenas existe como (im)potência e não acto, ou quando executada na tridimensionalidade, como sinal de um vislumbre esquivo de habitabilidade. A casa de Cabrita Reis é uma substância imperfeita do retrato do albergue, do reparo, do amplexo simbólico da estadia, da anunciação gestualizada da vontade cultual de retratar no solo da terra a permanência da presença, aproximando-se da leitura hölderliniana de Heidegger: dichterisch wohnet der Mensch (poeticamente vive o homem). Intui-se o homem-poeta nos desenhos-casa do artista, mesmo quando apenas revelam deviniências de finas linhas, que contornam o espaço vazio, na aproximação volumétrica da estância-habitável. Mais do que estímulos perfeitos de prodigioso retrato reconhecível, os desenhos de casas são indiscerníveis elaborações de formas de uma representação altamente instável na sua anunciação figurativa. Leves impressões pontuadas por elementos externos que se agregam com adesivo nas formas (E outras casas #2; E outras casas #3) ou estruturas coloridas de estratos compósitos de formas geometrizantes (E outras casas #11; E outras casas #19) formam os desígnios visuais destas casas onde se dorme para renascer [3].

Em Outras cabeças, outras árvores e outras casas (como aliás em toda a sua obra) não existe a vontade totalitária do controlo rigoroso e matemático que descura a poesia da vida das formas. O que resta do contacto com o outro, com as explorações na outridade da realidade, revela apenas e somente uma ignição, uma constante e necessária ignição reformuladora, como sinal de emergência simbólica de algo que tomou um rumo divergente àquela ilusória clareza do entendimento tradicional e que o conforto homogeneizado pelas reificações unívocas de um pensamento esclerosado pela igualdade (ou inanidade) foi posto em interrogação por uma contínua inquietação. São cabeças que albergam em si as casas que por sua vez se traduzem em sistemas arborescentes de dinamizar o espaço, como podem ser casas desenhadas como crânios que indiciam sintomas vegetais de crescimento arborizado, etc… Talvez aquilo que importa mesmo referir, não passa pelos processamentos, pelas técnicas, pelo estudo rigoroso e do acaso, impressos no desenvolvimento das construções e execuções plásticas, mas um sentido e inextinguível desejo de manter a confirmação do equívoco de pensar a diferença.

 

 

 

Rodrigo Magalhães
Nascido no Porto em 1993. Doutorado no presente ano de 2024, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Estudos do Património, vertente de História da Arte, versando a obra de Alberto Carneiro, Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes. Colaborador mensal há cinco anos do Jornal Cultural As Artes Entre As Letras. Os meus interesses de investigação ancoram-se na História da Arte, nomeadamente na análise e historiografia de tendências, movimentos e desenvolvimentos estéticos da arte contemporânea com o intuito de caracterizar, salientar e valorizar aspectos do património material, tanto nacional como internacional, na ligação com aspectos imateriais do pensamento contemporâneo. Investigador Independente.

 


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Notas

[1] BECKETT, Samuel. Collected poems in English and French. John Calder Publishers, London. 1977, p.53.
[2] Píndaro. Odes. Quetzal Editores, Lisboa. 2010, p.50.
[3] ROSA, António Ramos. Poesia Presente. Assírio & Alvim, Lisboa. 2014, p.40.

 

 



RODRIGO MAGALHÃES