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7ª EDIÇÃO DA TRIENAL DE LISBOA LANÇA REFLEXÃO SOBRE A HUMANIDADE ENQUANTO FORÇA GEOLÓGICA

2025-03-26




A pergunta “Quão pesada é uma cidade?” é o ponto de partida da 7.ª edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa, que irá decorrer em vários espaços da cidade, entre 2 de Outubro e 8 de Dezembro de 2025. Três exposições, um ciclo de conferências e uma publicação ampliam o debate sobre a intensificação do Antropoceno e as complexas transformações da cidade e do planeta.

Foi apresentado ontem o programa da edição deste ano, onde foram revelados os principais eixos, que se desdobra em três exposições principais (Fluxes, Spectres e Lighter); um ciclo de conferências (Talk, Talk, Talk); e um livro, que resultará desta confluência de pensamentos, reunindo entrevistas, ensaios, imagens e contributos de mais de uma dezena de participantes. Também foram divulgadas as shortlists dos Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp nas categorias Début e Universidades. O encontro foi ainda a ocasião para a apresentação pública do galardão dos prémios, desenhado pelo arquitecto Álvaro Siza Vieira e feito a partir de mármore de Estremoz.

A sessão contou com intervenções de José Mateus, presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa, da dupla de curadoria Territorial Agency, e da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues.

José Mateus começou por destacar o momento actual: “Vivemos um paradoxo: a humanidade que encontrou na técnica e na ciência a confiança para fazer face às forças da Natureza, é agora responsável por um confronto crítico entre a biosfera e a tecnosfera.”

Esta ideia foi aprofundada pelos curadores, Ann-Sofi Rönnskog e John Palmesino, da Territorial Agency, começando pela imagem escolhida para a apresentação pública em Lisboa. Captada por sensores que orbitam o planeta, mostra as quantidades de dióxido de nitrogénio libertadas em Março de 2025. “É uma imagem que mostra a combustão planetária e quanto dióxido de nitrogénio produzimos por combustão, seja a queimar combustíveis ou a queimar florestas. Pensamos que representa a nova cidade em que vivemos, e só é possível observá-la graças a uma nova tecnologia que existe apenas há seis anos. Quisemos trazê-la como uma imagem da nova cidade, da tecnoesfera”, explicou Ann-Sofi Rönnskog. Salientando que em nenhum momento da história do planeta esteve tão presente a ideia de peso - são 30 biliões de toneladas de estruturas e materiais, o equivalente a toda a biosfera – John Palmesino antecipou aquilo que podemos esperar da próxima Trienal: “A Terra é formada por uma série de sistemas auto-organizados – litosfera, hidrosfera, atmosfera, criosfera –, e, só a partir da segunda metade do século XX, conhecemos esta nova dimensão, a tecnoesfera, que está a transformar completamente todos os ciclos do planeta. Abandonámos os últimos 10 mil anos de estabilidade climática, que marcou a ascensão da literatura, da poesia, das artes, da arquitectura, da civilização humana, e entrámos numa nova época, cunhada pelo físico Paul Crutzen, o Antropoceno, em que os humanos são considerados uma força geológica. O que significa imaginar esta intensificação de fluxos, esta transformação da cidade? É aquilo que pretendemos fazer através das três exposições da Trienal.”

As questões levantadas pelos curadores são o core da tríade de exposições-pensamento Fluxes, Spectres e Lighter, com desenho expositivo de Fernando Brízio, e que estarão patentes no MAAT – Central Tejo; no MUDE, Museu do Design; e no Centro de Arquitetura – MAC/CCB, respectivamente.

Entre os destaques da próxima edição, estão duas instalações tridimensionais: “Correspondences”, um projecto colaborativo e poético de Soundwalk Collective e Patti Smith, criado a partir de longos travelling e registos sonoros, que integra a exposição Spectres, no MUDE; e “Every Thing Eats Light”, de Alexandra Daisy Ginsberg – escolhido para a mostra Lighter, no MAC/CCB – um vitral que representa a evolução dos cloroplastos, antepassados de todas as plantas verdes que hoje existem, e que nos lembra da nossa dependência destes organismos, já que todos os seres vivos se alimentam de luz.

As reflexões anteriores encontram eco nas Talk, Talk, Talk, um ciclo de conferências que cruza várias disciplinas em três dias de debate, de 29 a 31 de Outubro, na Fundação Calouste Gulbenkian, com curadoria de Filipa Ramos. A autora e curadora destaca que “o peso, elemento central da investigação da Trienal 2025, é um dos maiores elefantes nesta sala pesada, perturbada e distópica chamada Antropoceno, criada pela humanidade para si e para outros seres.”

Shortlists dos Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp

Foram também reveladas as shortlists dos Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp. Das 75 candidaturas ao Prémio Début, foram seleccionados 20 ateliers. Em Maio, serão conhecidos os cinco finalistas que vêm a Lisboa, durante a Trienal, fazer uma apresentação pública do seu trabalho.

Apresentando a lista de ateliers selecionados para o prémio Début, a arquitecta Inês Lobo, membro do júri, destacou a diversidade dos nomes escolhidos, oriundos de todo o mundo, e a relevância de pensar a arquitectura como “espaço para a vida”.

Aos vencedores das diferentes categorias será atribuído um troféu da autoria do arquitecto Álvaro Siza Vieira, que definiu a peça a partir de uma ideia de arquitectura: “Partida de uma rocha de mármore de Estremoz, um dos seus lados conserva a textura rústica da pedra. E depois, a geometria, isto é, a arquitectura. (...) o surgir da arquitectura a partir de um material natural”, referiu o autor. Este objecto, produzido a partir de desperdícios de mármore português, será, a partir desta edição, o símbolo dos Prémios Trienal de Lisboa Millennium bcp.

A encerrar a sessão, a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, salientou: “Mais do que um evento, a Trienal de Lisboa é um compromisso com a arquitectura enquanto ferramenta de transformação social e urbana. No cruzamento com outras disciplinas e promovendo a inclusão de públicos cada vez mais diversificados, a Trienal afirma-se como um catalisador de novas ideias, impulsionando o debate crítico e consolidando Portugal no panorama global da arquitectura e das indústrias criativas.”


Fonte: Trienal de Arquitectura de Lisboa