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FEIRA DE ARTETHE ARMORY SHOWJAVITS CENTER 429 11th Ave, New York NY 10001, Estados Unidos da América 06 SET - 08 SET 2024
Passados apenas dois dias da minha chegada à cidade de Nova Iorque, e com o compreensível entusiasmo de estar ao meu acesso o agitado movimento cultural desta cidade, visitei a feira de arte The Armory Show, num fim de semana preenchido com uma série de outras feiras de arte, de maior e menor dimensão. Dando um muito breve contexto e deixando por contar uma história com demais curiosidades e sob a alçada da qual se poderia analisar e compreender não apenas o mundo da arte; The Armory Show é uma feira de arte contemporânea fundada em 1994, que celebrou este Setembro o seu 30º aniversário. Recuperando o nome da famosa exposição internacional de arte moderna acontecida em 1913, e tendo como propósito dos seus fundadores - os art dealers Colin de Land, Pat Hearn, Matthew Marks and Paul Morris - captar a atenção mundial e criar uma rede de suporte dos artistas, The Armory Show apresenta-se (lê-se na sua página e em todos os comunicados de imprensa) não só como ambiciosa, como uma força galvanizadora no mundo da arte e impulsionadora do cenário cultural em Nova Iorque. A feira apresenta-se distribuída por várias secções, cada uma das quais com uma diferente figura curatorial e incluiu esta edição uma programação off-site. Conta com a participação de galerias estabelecidas, galerias jovens - com menos de dez anos - e organizações sem fins lucrativos, de museus a fundações. Tendo eu visitado a edição anterior desta mesma feira, em 2023, e muito embora céptica ao modelo de partilha pública dos trabalhos de tantos artistas - não nos esqueçamos que é colocado o ónus em feira e não em arte - visitei The Armory Show disponível e curiosa. Se é verdade que as feiras de arte não são os lugares apropriados para realmente ver ou experienciar a produção artística, enquanto visitante, estas dão-nos a ver outros dados; permitem-nos uma visão geral, uma paisagem das práticas e dos fulgores dos dias, assim como considerações sobre tendências e influências. Se for isso verdade - se as famosas feiras de arte nos permitem uma visão geral do que se passa ao nível da criação (em contexto mercantil e institucional) - não poderia carregar maior tristeza. Tendo para mim assente a minha falta de modéstia ao pensar que poderei tecer considerações sobre a qualidade do que é apresentado, não posso deixar de apontar a maçadora repetição de práticas, a excessiva apresentação de pintura, sem meio termo entre um pastiche expressionista, maioritariamente abstracto e um pastiche minimalista, geométrico e de ar airoso; repetidos registos da mimetização de colagens em pintura, execuções de mestria puramente técnica de imagens anteriormente formadas, sem uma qualquer preocupação pela exploração do próprio meio da pintura e quase mesmo o ignorando; abordagem abundantemente plana e sem consideração pela possível profundidade dos planos de imagem; a apresentação dos vários stands com trabalhos a condizer cromaticamente, sem qualquer arrojo, sem um qualquer toque provocador e articulados por critérios meramente decorativos, tornando as obras apresentadas como - não que assim não o sejam - meros objectos de comercialização. Uma mesma melodia repetitiva, sempre igual. De forma generalizante, não se revelaria a diferença de períodos históricos nas peças apresentadas de artistas do século XX - não fosse pelo peso, reconhecimento e qualidade que as caracterizam - o que indicia uma grande desconsideração pela contemporaneidade, nas suas multiplicadas formas e registos. Será? Será isto uma condição do mercado? Ou será essa a condição das obras dos artistas que se podem encontrar no mercado, sintomático de que o que realmente acontece de fulgurante foge à sua captura comercial? Os stands que têm soluções contemporâneas (receio desgastar ainda mais uma palavra já esvaziada) - nos registos, formas e na consideração do espaço como um todo da experiência do ver - o que retirará também as peças do único espaço decorativo em que se encontram encerradas (muito embora, naturalmente, lá possam voltar) - são francamente fracos nas obras que nos apresentaram. Arriscando apenas a escorregadela numa estética trendy ou recurso a soluções de montagem exuberantes sem grande razão de ser para além do seu próprio espectáculo. Disso sintoma; quando visito uma feira tiro duas listas de fotografias - uma das soluções de instalação inteligentes e a outra de peças que me interessam. Embora não seja o indivíduo mais facilmente impressionável, é revelador a parca quantidade de fotografias por mim registadas, em qualquer uma das categorias pelas quais me organizo.
Blade Study presents Paige K. B.: Artist's Studio in the production of her booth, Very Beautiful Images With Quite A Bit Of Concerning Text Laid Over The Artwork, Booth #426. © Eric Helgas
Sendo este um curto comentário centrado na minha decepção, deixo apenas uma nota de consideração pela apresentação da galeria nova iorquina Blade Study - este ano vencedora do prémio Gramercy International Prize, que premeia jovens galerias - com o belíssimo trabalho da artista Paige K.B.; a galeria Hunt Kastner pelas peças apresentadas de Anna Hulacova, Eva Kotatkova, Jaromir Novotny, Ji?í Skála, Jiri Thyn e a Goya Contemporary Gallery sediada em Baltimore, pela garra da instalação “Angry Woman” (1972) de Louise Fishman. Como último pensamento, deixo a feira, um pouco triste com a falta de arrojo do mercado da arte e das instituições que o vão também amparando. No final, Nova Iorque continua tão entusiasmante como previsto, só não aqui.
Catarina Real
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