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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Thelma Pott


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vista da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Thelma Pott


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga


Vistas da exposição ‘Francis Alÿs. Ricochetes’, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Filipe Braga

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ARQUIVO:


FRANCIS ALŸS

RICOCHETES




MUSEU DE SERRALVES - MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
Rua D. João de Castro, 210
4150-417 Porto

18 OUT - 16 MAR 2025

Um desejo de trazer de volta as crianças para o centro da nossa atenção

 


O artista belga Francis Alÿs, nascido em Antuérpia, começou por ser arquiteto até que um projecto o levou à Cidade do México onde tem permanecido desde 1986. Alÿs iniciou a sua prática artística no final da década de 1980. Os seus projectos têm-se centrado frequentemente na documentação da paisagem urbana e das estruturas de poder do ambiente construído e evidenciam as formas como a política permeia até actividades aparentemente espontâneas. Interessam a Alÿs as dinâmicas sócio-políticas do poder, a comercialização do espaço público e a erosão da comunidade cívica.

Quando criança viu a pintura “Jogos Infantis” de Pieter Bruegel e esta imagem serviu-lhe de referência contínua desde então. Alÿs filmou a primeira curta-metragem de Children's Games em 1999. Hoje a série documenta, em mais de 40 filmes, a intemporalidade e a diversidade da forma como as crianças brincam.

A abrir a exposição está Children’s Game #2: Ricochets, uma curta metragem filmada em Tânger no ano de 2007, em que dois rapazes lançam pedras ao mar e observam a textura que o movimento das pedras desenha sobre a água.

No museu misturam-se os sons altissonantes de vozes, gritos e risadas infantis. Vários ecrãs em justaposição exibem curtas metragens em que as crianças são os protagonistas da acção. Na Bélgica fazem corridas com caracóis aos quais pintaram as conchas em cores vibrantes, no México brincam à dança das cadeiras, num campo de refugiados no Iraque jogam à macaca, em Cuba competem com chapitas, em Londres fazem pontaria com os seus conkers à procura de uma vitória, na China três meninas saltam à corda, nas ruas de Cuba rapazes dirigem chivichanas em corridas de alta velocidade, no Congo raparigas competem entre si em partidas ritmadas de Nzango, em Copenhaga um grupo cria um nó de mãos enredadas umas nas outras num jogo de Kluddermor e no Afeganistão vemos um rapaz a fazer voar o seu papagaio. Desde que o regime talibã vigora no país, que é proibido lançar papagaios.

 

Vista da exposição Francis Alÿs. Ricochetes, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Thelma Pott

 

O trabalho de Francis Alÿs é um arquivo notável de jogos infantis, alguns universais, outros desenvolvidos em resposta à pandemia, a conflitos bélicos e à pobreza. Enraizada no real e no simbólico, toda a criatividade tem as suas raízes no jogo. E o trabalho do artista, mais do que documentar, fomenta o jogo. Em Ricochetes vemos jogos de crianças que têm uma tradição secular e jogos que foram adaptados às condições geopolíticas do nosso tempo. Há jogos arriscados, jogos solitários e outros que favorecem a colaboração e a coletividade.

A ação em si é um pretexto para que as pessoas olhem para as cidades que estão por trás e para a vida que se vive nesses contextos urbanos num determinado momento da sua história.

Em Children’s Game #39: Parol vemos um subúrbio de Kharkiv destruído pelos bombardeamentos da guerra e mais à frente numa encruzilhada três rapazes, vestidos com equipamento de camuflagem militar e munidos de espingardas de madeira, simulam controlos para descobrirem espiões russos. Fazem sinal ao trânsito que passa e pedem para ver os passaportes dos ocupantes dos veículos. Para poderem passar têm de dizer a palavra-passe ‘Palyanitsya’ - uma palavra ucraniana para pão que os russos têm dificuldade em pronunciar.

 

Vista da exposição Francis Alÿs. Ricochetes, Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto. © Thelma Pott

 

Children's Games também descreve o processo de adaptação de Alÿs a cada novo ambiente e a forma como a câmara medeia os seus encontros com as crianças que aí encontra. Quando chega a um lugar novo, Alÿs instala-se desenhando. Enquanto desenha, é comum que as pessoas se aproximem para ver o seu trabalho. E este contacto inicial despoleta um diálogo em que o artista pergunta que jogos se jogam no local. São a aleatoriedade e a imprevisibilidade desta dinâmica que o conduzem muitas vezes na direção dos seus filmes. As suas curtas metragens constituem todo um processo de observação mútua que lhe permite aprender os códigos culturais locais e sentir o que pode e o que não pode ser feito.

Ao longo da exposição, as instalações cinematográficas dialogam com as pinturas, de dimensão pouco maior do que a de um postal, que Alÿs começou a pintar na década de 90. Estas obras retratam cenas que o artista observou nos países em que fez as filmagens. A instalação de ‘Hide and Seek’ dá-lhe um destaque privilegiado. Estrategicamente iluminada e posicionada no canto mais longínquo de um espaço escuro no nível inferior do museu, a pintura representa uma criança a brincar às escondidas.

Protagonista de toda uma sala Children’s Game #19: Haram Football foi filmado em 2017 em Mosul, no Iraque. Numa rua com edifícios que ruíram, vemos um grupo de rapazes a jogarem futebol com uma bola imaginária. Na cidade devastada pela guerra, os rapazes passam a bola entre si, fintam, cabeceiam, defendem e marcam golos com a bola imaginária que existe no colectivo visual de todos eles e que é por isso real no seu jogo. Pedras marcam os limites da baliza e a partida é interrompida pela passagem de tanques de guerra com a bandeira nacional. Os tanques passam, os marcos da baliza são repostos e o jogo continua. Até que o som de um tiroteio ecoa no ar e as crianças terminam de jogar. Esta curta metragem pungente traz à memória cenas do aclamado filme de Abderrahmane Sissako: Timbuktu.

Luz, sombra, escala e som, as principais ferramentas da prática artística de Alÿs, estão em evidência numa sala escura que o artista criou em colaboração com Rafael Ortega. Um espaço onde projectores permitem que as crianças criem jogos de sombras com o corpo ou as mãos na parede.

Alÿs é um observador extraordinariamente atento. Segundo ele, vivemos num momento de transição em que os jogos infantis e a vida social no espaço público estão gradualmente a desaparecer. A omnipresença dos carros nas cidades, a forma como as redes sociais e o entretenimento digital passaram a fazer parte da vida social das crianças e a desconfiança dos pais no espaço público influenciaram toda uma mudança de atitude em relação às gerações passadas. E esta é a razão essencial deste projeto do artista. Para Alÿs, é importante documentar estas coisas enquanto ainda aparecem espontaneamente. Toda a sua obra é um registo, em enredos simples, lúdicos e microcósmicos, das particularidades de um lugar e de formas específicas de interagir com o mundo.

Francis Alÿs: Ricochetes está em exposição no museu de Serralves, no Porto, de 18 de Outubro de 2024 a 16 de Março de 2025.

 

 

 

Thelma Pott
Nasceu em 1984, é artista plástica e curadora. Mestre em Estudos Curatoriais pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Foi curadora assistente no MOMU em Antuérpia e colaborou posteriormente com galerias e museus nacionais e internacionais a título de freelancer. Trabalhou entre outros com os artistas Michelangelo Pistoletto, Luc Tuymans, Cyprien Gaillard, Kader Attia, Diogo Pimentão, Anri Sala, Claire Adelfang, Idris Khan, Raphaël Zarka e António Soares. Entre os seus textos críticos mais importantes destacam-se os ensaios sobre a obra do Pierre Soulages, Luc Tuymans, Cyprien Gaillard, Diogo Pimentão, Tacita Dean, Frank Bowling, Philippe Parreno e Barbara Kruger.



THELMA POTT