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Tânia Ferrão, Daniela Fortuna, Laura Ferreira, Alexandre Alagoa, Débora Pequito, Inês Rego, Rogério Silva, Maria João Costa, Alexandre Murtinheira, Sara Reis, Carmen Esteves, Leonardo Ramos, Beatriz Bravo e Tamia Dellinger
Curadoria Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca
A Plataforma Revólver tem o prazer de apresentar a exposição I stood up and... never sat down again com a curadoria de Pedro Cabral Santo e Victor Pinto da Fonseca.
Decidido pelos recém-licenciados que nela participam, o título da exposição recupera para um plano de abstracção o sentido particular da mudança que a pintura Hotel Bedroom (1954) instaura na obra de Lucien Freud, nos termos em que o pintor a formulou a William Feaver: «My eyes were completely going mad, sitting down and not being able to move. Small brushes, fine canvas. Sitting down used to drive me more and more agitated. I felt I wanted to free myself from this way of working. Hotel Bedroom is the last painting where I was sitting down; when I stood up, I never sat down again».
É este movimento, que troca o estar sentado pelo estar de pé, que os finalistas da licenciatura em Arte Multimédia, do ano lectivo de 2014-2015, acolheram como desígnio. Porque é ele que, contrariando os conformismos e as conformidades, finalmente os liberta da sedentarização em que não se podem rever, por o seu tempo ser tanto o dos lugares desabrigados em que o mundo se tornou, como o da errância sem fim à vista, que deles faz os estrangeiros que, em qualquer parte, vivem a ameaça do afastamento de alguém ou de alguma coisa e, portanto, a iminência da abstracção.
Mas neste estar de pé inscreve-se também a primeira exigência do caminho – ou do estar a caminho – e a clausura numa essencial transitoriedade, que é a da impermanência das sombras e dos reflexos, geradora da primeira conjuntura das imagens. E não será por acaso que é precisamente a impermanência a informar a maioria das obras agora expostas. Como não será por acaso que, ainda na sua maioria e em diferentes patamares de nitidez, elas se estruturam em torno da presença velada ou desvelada do(s) corpo(s) que as habita(m). Corpos que associamos a dispositivos mnemónicos nos quais os lugares, os seres e as coisas existem nos hiatos abertos pela sobreposição de um antes e um depois como se, fora deles, só pudessem existir na brevidade dos interregnos.
Em Spectrum, Alexandre Alagôa amplia o mundo com a claustrofobia dos espectros retidos no outro lado das imagens, ou no avesso da disponibilidade dos ecrãs. Em Esta é a minha caixa, Alexandre Murtinheira faz da caixa uma passagem entre duas realidades formal e semanticamente distantes, e o suporte da dimensão irreal das aparições que surgem da insistente presença de um objecto esvaziado dos seus conteúdos funcionais. Beatriz Bravo, em ..., encontra no sótão o pretexto para as fotografias de um imaginário fixado no tempo póstumo da utilidade das coisas. Com Passagem, Carmen Antunes Esteves faz coincidir a dimensão voyeurista do ver com o dispositivo perspéctico, fundador das imagens em perspectiva. Na animação Pós-Guerra, Daniela Fortuna aloja nas sombras que deslizam na penumbra ruinosa dos vazios, a memória anónima da guerra. Com Desconforto, Débora Pequito encena na inospitalidade dos lugares, a busca infindável da reconciliação com um lugar interior. Em Rua das Janelas Verdes, Inês Rego devolve-nos o trecho de uma rua de Lisboa, reescrita nos vários tempos de um habitar que a banda sonora arrasta para o presente. Em ..., Leonardo Ramos confia ao obtuso das imagens os secretos vínculos que elas estabelecem com uma indecidível realidade. Em Sombro, Maria João Costa delega na silhueta a sua pertença à domesticidade de um lugar, desse modo concretizando-se na imagem como vestígio. Com Postais, Rogério Paulo da Silva acciona no observador o estranhamento da familiaridade resultante do confronto com a actividade das imagens. Dream Sequence é a imponderabilidade onírica das imagens que Sara Maçã edita para hipnotizar o observador. Livro efémero é o objecto ressonante de Tamia D., que contém nas qualidades fotossensíveis da sua matéria a fatalidade do seu apagamento. Obedecendo à proposta de ilustrar o capítulo «Sacrifício ao amor», do livro de Afonso Cruz, O Pintor debaixo do lava-loiças, lançada na unidade curricular de Ilustração Desenvolvimento I, leccionada pelo Professor Pedro Saraiva, Laura Ferreira e Tânia Ferrão apresentam dois livros de ilustrações que vão ao encontro das imagens sugeridas pelas palavras, aos quais Tânia Ferrão acrescenta uma animação em vídeo realizada a partir das imagens do seu livro.
Cansado da absorção nos pequenos gestos que, a curta distância, concretizavam os muitos detalhes da pintura, Lucien Freud decidiu pintar de pé e jamais se voltou a sentar. Devotadas à sua condição de vestígio, sombra ou reflexo, as obras presentes nesta exposição fecham o último acto de uma idade que termina e que, para quase todos, coincide com o primeiro acto de uma duração que começa. A todos peço que, à semelhança do que aconteceu com Freud, jamais cedam à tentação da cadeira e de tudo o que nela é sinónimo de passividade e imobilismo. E a todos agradeço, estendendo o agradecimento aos que no mesmo ano terminaram a licenciatura em Arte Multimédia e que, por lucidez ou falta de convicção – e há sempre um momento em que ambas são o nome com que diferentemente se designa a mesma circunstância – não participam na exposição.
Maria João Gamito
Sabendo de antemão o quão difícil se apresenta aos jovens criadores o contexto português, a Plataforma Revólver, e apesar de todas as dificuldades, tem conseguido proporcionar ao longo dos últimos anos uma excelente oportunidade no sentido em que estes possam mostrar com dignidade o seu trabalho à colectividade.
Da Pintura à Escultura, passando pelo Desenho até à videoinstalação, os jovens artistas são representantes, na primeira pessoa, do vasto e complexo “tecido” que representa, nos nossos dias, o património e legado, por um lado afecto à própria produção contemporânea e, por outro, na sua específica relação com o público, o mercado e as instituições. Ou seja, estamos a falar de artistas capazes de se adaptarem aos diferentes media que perfazem a natureza da riqueza expressiva e simultaneamente na capacidade de construir uma linguagem diversa e rica capaz de estabelecer um diálogo consistente com o seu próprio tempo. Como afirmava Paul Valery «Je n´aime pas les fantômes d´idées, les toutes perspectives. Les termes dont le sens se dérobe devant le regard de l´esprit. Je suis impatient des choses vagues».
Estas premissas foram responsáveis por tantos e tantos eventos que possibilitaram aos artistas emergentes o desempenho de um papel que acreditamos ser fundamental e decisivo para o futuro desta actividade que, diga-se de passagem, é sistematicamente ignorada por quem de direito.
O Curso de Arte e Multimédia da FBAUL representa na íntegra o que acabamos de afirmar - apresenta um conjunto de trabalhos oriundos do contexto escolar afectos à referida licenciatura. Assim, as obras, que fazem parte da presente mostra, abordam um vasto conjunto de problemáticas directa e indirectamente implicadas com a produção artística e seu legado histórico, onde toma lugar o propósito experimental, a par da combinação de meios técnicos, de novos formatos e materiais diversos e também referências culturais que permitem desencadear a reflexão em torno dos diferentes temas convocados.
A Plataforma Revólver funciona genuinamente para benefício público, operando um espaço independente, não lucrativo, de entrada gratuita.
Pedro Cabral Santo e Víctor Pinto da Fonseca