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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Untitled, 1968. Cortesia do artista, Luhring Augustine, Nova Iorque, e Simon Lee Gallery, Londres.


Speedy and Barb, 1968. Cortesia do artista, Luhring Augustine, Nova Iorque, e Simon Lee Gallery, Londres.


Dead, 1968-1970. Cortesia do artista, Luhring Augustine, Nova Iorque, e Simon Lee Gallery, Londres.


Untitled 2, da série Tulsa, 1963. Cortesia do artista, Luhring Augustine, Nova Iorque, e Simon Lee Gallery, Londres.


Untitled, 1970. Cortesia do artista, Luhring Augustine, Nova Iorque, e Simon Lee Gallery, Londres.

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AMO-TE


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A NATUREZA ABORRECE O MONSTRO


Culturgest, Lisboa
LEONOR GUERREIRO QUEIROZ

ARQUIVO:


LARRY CLARK

Larry Clark – Tulsa, Teenage Lust




FOAM PHOTOGRAPHY MUSEUM
Keizersgracht 609
1017 DS Amsterdam

13 JUN - 12 SET 2014

Larry Clark - Ainda na contramão da imagem institucional

Antecipando a estreia do novo filme de Larry Clark, The Smell of Us (filmado na cidade de Paris e centrado no quotidiano dos seus adolescentes), o Foam Fotografiemuseum de Amesterdão exibe duas séries fotográficas emblemáticas do realizador: Tulsa (1971) e Teenage Lust (1983). Mas este verão quente de 2014 é também a antecâmara de uma outra exposição fotográfica de Clark, a realizar na parisiense Galerie du Jour-Agnès B. (de 13 de setembro a 25 de outubro), intitulada They thought I were but I aren’t anymore..., e ainda da estreia de um documentário sobre o filme Kids (1995), realizado por Hamilton Harris - precisamente um dos miúdos que participaram no filme - projecto inspirado na dissidência ficcional de Clark. O método de trabalho deste assenta e explora as contaminações inevitáveis entre real e ficção, entrando de rompante no mundo idiossincrático dos adolescentes, mas saindo desse mesmo mundo numa relação de cumplicidade que desafia ainda mais a já complexa relação sujeito-objecto. Clark confessou que sempre lhe interessou olhar para onde os outros não querem olhar, captando através da sua câmara despudorada pessoas que existem e merecem, acima de tudo, uma dignidade ética e uma autenticidade artística, só possível através da exposição de uma privacidade contundente. Desta forma, o olhar do espectador não pode nunca ser indiferente, mas de grande cumplicidade, tal como o do fotógrafo, incapaz de estabelecer o distanciamento objectivo de quem simplesmente observa. As imagens resultam sempre de uma relação de grande proximidade e compartilha com os sujeitos e situações fotografados, conferindo-lhes uma dimensão contextual e emocional e que, inevitavelmente, resulta também de uma extensão da vida pessoal de Clark. O elemento autobiográfico está sempre presente, sendo totalmente assumido nas séries agora exibidas no Foam: no início de Tulsa, o artista escreve um pequeno texto autobiográfico e Teenage Lust tem o subtítulo de “Uma Autobiografia de Larry Clark”. Esta série inclui fotografias dos pais de Clark, por exemplo, e fotografias do próprio em criança ou adolescente. As fotografias que integram a série abarcam um período de vinte anos (1960-1980).

Tulsa foi a primeira obra publicada de Clark (pelo seu amigo e também fotógrafo Ralph Gibson), um conjunto de fotografias a preto e branco, organizadas numa sequência narrativa e que mostram os amigos da sua cidade natal (Tulsa, Oklahoma) e um mundo de violência, sexo e consumo de drogas. As fotografias foram tiradas entre 1963 e 1971 e revelam uma grande intimidade e intensidade emocional. Clark mostra-se surpreendido por estas imagens continuarem a surpreender e a perturbar o público, após tantos anos. Na verdade, apesar do sucesso de público e crítica que suas exposições têm tido, o seu trabalho continua a ser alvo de acérrimas discussões em torno do exibicionismo e da gratuitidade da violência e do sexo explícito nas suas imagens (não raro, o autor é acusado de pornografia e de escopofilia). No entanto, muitos outros reconhecem na sua obra a continuação do estilo documental inaugurado por uma geração de fotógrafos americanos à qual pertence Robert Frank, e artistas famosos como Nan Goldin e Wolfgang Tillmans, apontam o autor como inspiração e uma grande influência. Para estes, Clark faz parte do panteão de artistas que abana os valores estéticos e morais do capitalismo, capaz de uma “reviravolta ética” (a expressão é do filósofo francês Jacques Rancière): fotografa toda uma juventude marginal e escondida, mas sem a hipocrisia e os falsos moralismos das estruturas políticas e sociais dominantes na sociedade americana.

A tragicidade e violência de Tulsa, de um realismo poético surpreendente, inspiraram o “Heroin Chic” na década de 1990, uma glamorização do consumo de drogas que contaminou a fotografia de moda e que, mais uma vez, fez estalar a questão da moralidade e ética na criação artística, trazendo à tona o nome de Clark como o grande percursor da exposição do corpo desviante dos valores sociais e morais que sustentam o ideal do “sonho americano”.

As imagens de Tulsa e Teenage Lust centram-se numa juventude, cuja individualidade é sempre assumida através do corpo que concentra todos os desejos, vulnerabilidades, ansiedades e frustrações, numa “realização do corpo até ao excesso” (expressão de Steve Shaviro). Estes corpos não são meras representações, mas antes presenças súbitas (como disse Deleuze): corpos em ação e de conhecimento, desafiadores das convenções e agindo insolentemente em frente da câmara na fronteira indefinida entre real e ficção. Mas estas imagens realistas e cruas reclamam também uma sensibilidade e honestidade extraordinárias.

Clark prefere concentrar-se no conteúdo social das suas fotografias, que considera pertinente numa sociedade demasiado saturada de imagens chocantes, mas totalmente vazias de conteúdo social, esclarecendo que o que lhe interessa são as consequências e não os meios: “Eu nunca faço nada só para chocar, para agredir (...) Certo, às vezes mostro um casal jovem e atraente a ter sexo, mas não é isso que interessa. O que interessa são as consequências”.

A exposição inclui ainda filmagens raras captadas durante a realização da série Tulsa e a exibição de alguns filmes como o Wassup Rockers (2005). Tulsa e Teenage Lust foram originalmente publicados em livro e a dificuldade ou a impossibilidade em encontrá-los à venda (Teenage Lust está fora de circulação há vários anos) pode ser a razão perfeita para não perder esta exposição. Até 12 de setembro.



Ana Barroso
Doutoranda e investigadora na Universidade de Lisboa. Tem publicado em vários livros e revistas nacionais e estrangeiros sobre arte e cinema.


[A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


Ana Barroso