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MÁRCIO VILELAESTUDO CROMÁTICO PARA O AZULOCUPART CHIADO Calçada do Sacramento, 11 1200 Lisboa 14 SET - 13 OUT 2017 CINQUENTA TONS DE AZUL
Ele, Vilela, quer apenas um céu puro, mas quer isso em toda a sua diversidade, toda a sua profundidade, todas as suas nuances de azul: o seu projeto consistiu em prender aparelhos fotográficos e câmaras a um balão sonda que é elevado a 38 000 metros antes de explodir. Os milhares de fotografias do céu foram assim realizadas, a rarefação da atmosfera traduziu-se num escurecimento da imagem: é um Pantone de azuis que temos ali, mais rico do que qualquer catálogo de cores. O artista selecionou algumas imagens, da mais azul ao nível do solo à mais sombria no ponto mais alto da trajetória; no topo, sem atmosfera, é um negro de ausência que reina. Chegado a 38 km, o balão explode e a foto desse instante mostra o invólucro em farrapos em redor do núcleo. Os aparelhos descendem no final de paraquedas, e Vilela recupera-os.
Ponto de ruptura do balão a 38.000m de altitude, Impressão jacto de tinta sobre papel de algodão, 52x77cm
É um trabalho obsessivo de investigação, um processo que move o autor, porque (um pouco como Müller-Pohle) a máquina tira as fotos automaticamente e o artista seleciona de seguida, uma inversão da regra clássica: escolher o enquadramento do ponto de vista para fotografar. O artista não é mais um fotógrafo, no sentido de fazer fotografias, ele é o criador e organizador de um processo quase científico que leva a resultados visuais áridos e refinados. Este projeto é um pouco um beco sem saída: abandono de toda a pretensão estética para privilegiar o único programa. Os trabalhos anteriores de Vilela tinham a ver com a paisagem, que ele via um pouco como um espelho de si mesmo, e já tinha sido fascinado por outras imagens incertas, as névoas dos Açores, encobrindo quase toda a paisagem no cinza nebuloso das nuvens, o oceano visto de cima ou o "white out": uma maneira, já, de privilegiar o olhar sobre o visto.
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