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GUIDANCE 2025 APRESENTA PROGRAMA SOB O MOTE DA ‘OUTRALIDADE’

2024-12-11




Depois de ter proposto na edição anterior, enquanto celebração necessária, a condição de “humanidade” na dança, o GUIdance 2025 apresenta – de 6 a 15 de fevereiro, em Guimarães – um programa que estimula formas de expressão virtuosa, poética, radical, social e política através do compromisso de relação integrada com a "parte outra", que pode ser humana e mais que humana. (De)Batendo na linha da frente com matérias importantes como tradição, mitologia, migrações, padrões sociais, transcendência, entre outras, o que ligará concetualmente esta edição é um neologismo: ‘outralidade’, uma ideia básica mas simultaneamente complexa de que já não chega reconhecer o lugar da diferença, sendo preciso incorporá-la na forma como nos descobrimos a nós mesmos, renovando os significados a partir de um interior que vem da "parte outra". Uma outralidade constituída por toda a humanidade que nos caracteriza na sua mais imponente diversidade, mas também pelo cosmos (desconhecido) e por todas as forças vivas e inertes alinhadas pela força misteriosa da vida.

Assim, nesta nova convocatória anual sobre as matérias do corpo, do gesto e da articulação do imaginário social que é o GUIdance, surge um programa diverso e abrangente, com a relação como primado, onde cabem criadores conceituados e emergentes – como Rocío Molina, María del Mar Suárez La Chachi, Vera Mantero & Susana Santos Silva, Silvia Gribaudi, Marta Cerqueira, Clara Andermatt, Habib Ben Tanfous, Benjamin Kahn, e Israel Galván – que garantem uma diversidade de estilos de dança numa convivência intergeracional e entre diferentes géneros artísticos como a dança e a música. Apresentado de 6 a 15 de fevereiro em Guimarães, no Centro Cultural Vila Flor, no Teatro Jordão e no Centro Internacional das Artes José de Guimarães, o programa desta edição reúne 9 espetáculos (incluindo estreias nacionais e absolutas, bem como coproduções), e também ações de mediação cultural como conversas, masterclasses, debates, sessões de cinema, visitas às escolas, ensaios abertos, performances no museu e encontros com a comunidade.

Esta viagem do íntimo ao coletivo, na companhia de alguns dos coreógrafos mais inovadores do mundo, revela um foco ibérico e prepara-se para conduzir o flamenco para terrenos mais experimentais e desafiar as normas do género. A diversidade é igualmente marcada por inspirações que tocam em várias raízes geográficas (Portugal, Espanha, França, Itália, Bélgica, Tunísia, Irão), fomentando a natural empatia que envolve a força criadora da arte.

A inaugurar a 14ª edição do GUIdance, a 6 de fevereiro, o palco abre-se para uma das protagonistas da nova era da dança flamenca, Rocío Molina, apresentar em estreia nacional “Al Fondo Riela (Lo Outro Del Uno)”, um espetáculo onde surge rigorosamente vestida de preto, acompanhada por dois talentosos guitarristas. Esta é uma peça sobre a perda da realidade, onde Molina (premiada com um Leão de Prata da Dança na Bienal de Veneza em 2022) dança farrucas, seguiriyas, bulerías e soleás, numa luta constante com a sua própria imagem, mergulhando nas profundezas dos seus medos para se libertar de todos os seus fantasmas. Seguindo os passos de pioneiros como Israel Galván, Molina desafia os dogmas da tradição ao reinventar um flamenco que respeita a sua essência e abraça a vanguarda.

As honras de encerramento do GUIdance 2025 cabem precisamente a Israel Galván, que traz a Guimarães a estreia nacional da sua peça "La Consagración de la Primavera", a 15 de fevereiro. Israel Galván começou a dançar flamenco desde muito jovem e hoje é considerado um dos bailarinos e coreógrafos mais inovadores do mundo. Galván inspira-se numa variedade de temas, conduzindo o flamenco para terrenos mais experimentais e desafiando as normas do género. Fascinado pelas silhuetas do bailarino russo Vaslav Nijinski, neste espetáculo entrelaça o flamenco com a imponente partitura de Igor Stravinsky, “A Sagração da Primavera”, subvertendo e reconstruindo a tradição, enquanto explora todas as possibilidades do flamenco. Galván utiliza o seu corpo como caixa de ressonância – dos dedos das mãos aos pés, com o clássico zapateado –, deixando-se consumir pelo ritmo da música interpretada ao vivo pelos pianistas Daria van den Bercken e Gerard Bouwhuis, num espetáculo que promete encerrar o GUIdance de forma apoteótica.

Retomando os passos desta edição, na sexta-feira 7 de fevereiro a coreógrafa e bailarina María del Mar Suárez La Chachi e a cantora Lola Dolores embarcam numa interpretação pessoal da crueza intensa do taranto, um estilo do flamenco originário da zona de Almería. Canção primitiva, simples, seca, sem acompanhamento de guitarra, que surgiu da necessidade de cantar de forma independente. Em “Taranto Aleatorio”, a história desenrola-se em torno de duas mulheres que partilham um espaço quotidiano, seja um parque, à porta de uma casa ou um pátio. Entre conversas e momentos de silêncio íntimo, a narrativa é interrompida pela dança e pelo canto. Numa abordagem aleatória do taranto, a coreografia nasce como um delicado redemoinho até se transformar numa enorme tempestade, marcada por gestos irreverentes, pelo humor e o inesperado. Este é um dos espetáculos selecionados no âmbito da rede europeia de apoio à dança contemporânea emergente Aerowaves, onde se inclui o Centro Cultural Vila Flor como presenting partner.

Outras das peças apresentadas nesta edição do GUIdance no âmbito da mesma rede internacional Aerowaves são “SubLinhar”, uma criação da artista portuguesa Marta Cerqueira (9 fevereiro), dirigida aos mais novos, que pretende promover um olhar para a dança enquanto veículo para o autoconhecimento, um instrumento para o conhecimento do outro e para o conhecimento do mundo; “Here, I bequeath what doesn’t belong to me” de Habib Ben Tanfous, espetáculo visceral, delicado e único, apresentado em estreia nacional a 14 de fevereiro, onde o bailarino e coreógrafo embarca numa viagem à procura da sua identidade, a partir de arquivos familiares, memórias de infância e eventos pessoais recentes; e “Bless the Sound that Saved a Witch like me” de Benjamin Kahn no dia 15, também apresentado em Guimarães em estreia nacional, uma performance solo, física e sonora, coreografada por Benjamin Kahn para Sati Veyrunes, que transporta o público por diferentes estados (transe, resistência, êxtase) enquanto viaja, imersa numa paisagem sonora vibrante, e se transfigura de um estado para outro, confundindo os limites: às vezes mãe, outras homem, mulher, bruxa ou um ser indefinido.

No primeiro sábado do festival, 8 fevereiro, às 18h30, o destaque começa por se dirigir para uma estreia absoluta protagonizada por Vera Mantero & Susana Santos Silva, uma criação coproduzida pel’A Oficina/Centro Cultural Vila Flor, que tem como ponto de partida um projeto de improvisação sobre movimento, gestos, palavras e afins. Este projeto da coreógrafa e bailarina Vera Mantero, um dos nomes centrais da nova dança portuguesa, com quase quarenta anos de carreira, e da trompetista, improvisadora e compositora portuguesa Susana Santos Silva, um nome central da cena jazz europeia, inaugura o novo ciclo Zona Franca, desenvolvido em parceria com o Theatro Circo/gnration.

A coreógrafa italiana Silvia Gribaudi, eleva a imperfeição humana a uma forma de arte que ultrapassa os estereótipos e as aparências no seu espetáculo “Graces”, inspirado na escultura “As Três Graças”, criada por Antonio Canova entre 1812 e 1817, onde as três filhas de Zeus – Eufrosina, Aglaia e Tália – irradiam esplendor, alegria e prosperidade. Apresentado em estreia nacional a 8 de fevereiro, esta peça joga com três figuras masculinas que tomam conta do palco num espaço e tempo suspensos entre o humano e o abstrato: um lugar onde o masculino e o feminino se encontram, sem papéis definidos, dançando ao ritmo da própria natureza. Tal como é marca de Gribaudi, esta criação transforma imperfeições em arte, com um estilo cómico, cru e empático, que transcende as fronteiras entre a dança e o teatro.

Clara Andermatt é outro dos nomes em destaque nesta edição do GUIdance com “Sensorianas”, obra que partiu do convite dos Estúdios Victor Córdon para criar uma peça sobre o Irão para o programa Outros Mundos. Inspirada pela diáspora iraniana em Portugal, “Sensorianas” é uma coprodução OPART/Estúdios Victor Córdon, A Oficina/Centro Cultural Vila Flor, que foca o universo feminino, reinterpretando dança, poesia e música iranianas. Um espaço de diálogo e reflexão sobre aspetos da vida quotidiana, da liberdade e da diversidade cultural que devemos defender e celebrar. Com mais de trinta anos de carreira, Clara Andermatt tem revelado, ao longo dos anos, uma identidade particularmente singular no panorama artístico nacional e internacional, e um percurso que, indubitavelmente, deixa a sua marca na história da dança contemporânea portuguesa. À semelhança do GUIdance, o percurso de Andermatt tem sido marcado pela viagem e pelo encontro com outras culturas e outras linguagens artísticas, num desejo de aproximação ao outro.

Ao longo de toda a viagem que esta edição do GUIdance nos proporciona, contaremos também com diversas ações que nos (inter)conectam de várias formas. O festival é assim fortalecido e encorpado com iniciativas que colocam o público em contacto com alguns dos mais conceituados criadores e intérpretes internacionais da dança contemporânea, como o Bailar Fora de Casa (6 fevereiro), Talks com artistas no final dos espetáculos (6, 7, 13, 15 fevereiro), Embaixadas da Dança nas escolas com María del Mar Suárez, La Chachi, Silvia Gribaudi, Clara Andermatt e Israel Gálvan (7, 11, 12, 14 fevreiro), duas Masterclasses com Silvia Gribaudi e com intérprete da Cia Clara Andermatt (7 e 14 fevereiro, respetivamente), Debates moderados por Claudia Galhós com o tema Outralidade - regenerar, cuidar, sentir e especular com a vizinhança (8 e 15 fevereiro), Sessões de Cinema em parceria com o Cineclube de Guimarães (9 e 11 fevereiro), um Ensaio Aberto para escolas da peça “Sensorianas” de Clara Andermatt (12 fevereiro), e ainda o Museu GUIdance que se traduz numa Performance de Teresa Silva, com diagramas de Ricardo Basbaum, no âmbito da exposição "Chão" (15 fevereiro).

Na 14ª edição do GUIdance, encontramos desta forma “Uma ideia especulativa, forte, de que o desenvolvimento do nosso conhecimento próprio, deve cada vez mais considerar, como energia fundamental, a relação de curiosidade e empatia por todo o entorno existencial, gerador de todo e qualquer contexto. Isto é, importa considerar e fomentar todas as possibilidades de interação entre seres humanos, não humanos, matéria inerte e matéria cósmica.” (Rui Torrinha, diretor artístico GUIdance)

PROGRAMA COMPLETO: https://www.guidance.pt/


Fonte: A Oficina