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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Filipa César, “Telaviv #1”, 2009. Lambda Print. 125 x 156 cm. Ed. 5


Filipa César, “La Pyramide Humaine”, 2009. Lambda Print. 53 x 63 cm. Ed.5


Filipa César, “The Four Chambered Heart”, 2009. Vídeo. HDV, cor, som, 29’. Dimensões variáveis. Ed. 1/5

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Museu de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto
THELMA POTT

ARQUIVO:


FILIPA CÉSAR

The Four Chambered Heart




CRISTINA GUERRA CONTEMPORARY ART
Rua Santo António à Estrela, 33
1350-291 Lisboa

20 JAN - 19 FEV 2009


“The Four Chambered Heart” é o título da nova exposição de Filipa César e encontra-se actualmente em apresentação na Galeria Cristina Guerra.

Não é a primeira vez que a artista (Porto, 1975) reúne um grupo de pessoas para comentar um filme, veja-se o caso de “F for Fake”, 2005, um vídeo onde quatro personagens - um advogado, um escritor, um actor e um dramaturgo - vêem e interpretam “Vérités et Mesonges”, 1974 de Orson Wells, ao mesmo tempo que as suas leituras, intercaladas com imagens daquela película, duplicam a tensão entre original-cópia, criatividade-apropriação ou verdade-ficção então gerada por Wells. Contudo, se o ponto de partida da projecção vídeo “The Four Chambered Heart”, 2009, é o mesmo, isto é, possibilitar uma discussão em torno de um filme, percebemos, por outro lado, que o seu propósito e estratégia apontam noutra direcção.

No âmbito da sua residência artística no Israel Center for Digital Art, em Holon, César decidiu projectar o filme La Pyramide Humaine, 1961 de Jean Rouch no formato de 16mm para uma plateia de estudantes israelitas muçulmanos e hebreus de diferentes escolas de cinema de Israel. Neste filme, Rouch, percursor do Cinéma Vérité, junta na mesma turma do liceu de Abidjan, Costa do Marfim, alunos brancos europeus e negros africanos, com o intuito de interpretarem certos papéis e de os discutirem posteriormente. Ao definir-se entre o registo ficcional e o documental, La Pyramide Humaine acaba por possibilitar novas relações de amizade entre aquelas pessoas a partir de uma história imaginada. Apesar de Filipa César repetir a experiência de Rouch, adaptando-a a um outro contexto espaço-temporal, Israel 2008, nenhum segmento deste filme aparece no seu novo trabalho. Ele é apenas o substrato de “The Four Chambered Heart” o qual, por sua vez, só nos devolve os comentários dos estudantes israelitas ao filme. Neste sentido, estamos perante um trabalho que se organiza a partir de um processo tautológico que inscreve mnemonicamente um filme dentro de um vídeo, mas que procura encontrar uma alteridade, a própria vida.

À medida que o vídeo se desenvolve, uma rapariga que se encontra ao lado de uma câmara de vídeo vai lançando questões, permitindo aos alunos exporem as suas opiniões sobre La Pyramide Humaine, as condições de produção do próprio filme, a crítica ao aparatus cinematográfico ou à actual lógica de entretenimento do cinema. Entretanto, a um dado momento, um dos alunos desconstrói com facilidade todo o dispositivo cinematográfico accionado pela artista e interroga os pontos de contacto/afastamento entre os projectos de Rouch e Filipa César, bem como o próprio papel de actor não-actor que cada um dos estudantes ali assume. Progressivamente, a conversa sobre cinema escorrega para um debate político sobre o conflito entre a Palestina e Israel, a intervenção da Europa, o esquecimento da língua árabe em Israel, ou o colonialismo. Em, “Le Passeur”, 2008 a artista já tinha experimentado um semelhante diálogo entre política e cinema, entre a vida e as ficções. Contudo, “The Four Chambered Heart” está longe de atingir a complexidade do primeiro não conseguindo, por outro lado, e ao contrário do filme de Jean Rouch, fazer com que nos esqueçamos da pertença identitária de cada um dos estudantes.

Sabemos que a montagem sempre ocupou um lugar importante na obra de Filipa César e também aqui é mais uma vez estruturante. Ao recusar uma narrativa linear, a artista opta por colar cenas filmadas em momentos distintos e sem continuidade entre si, seguindo as lições de Dziga Vertov, pelo que o vídeo não tem princípio nem fim. Com recurso a close-ups fechados dos rostos dos alunos, a artista vai construindo um agenciamento de imagens eficaz e com ritmo. Se algumas delas se constituem a partir do que se vai dizendo, outras derivam de brincadeiras, como olhar para a colega através de uma lente, ou mesmo de silêncios que acentuam momentos de tensão e aproximação entre os estudantes.

A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias, das quais se destaca a série a preto e branco tirada ao interior das diferentes escolas de cinema israelitas visitadas pela artista, e o registo vídeo da projecção de La Pyramide Humaine que, apesar de não ser considerada uma peça, resulta num outro jogo tautológico, desta vez um ecrã dentro de um ecrã.


Sofia Nunes