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JOANA VASCONCELOSSem RedeMUSEU COLEÇÃO BERARDO Praça do Império 1499-003 Lisboa 01 MAR - 18 MAI 2010 Joana Vasconcelos é uma artista que não reúne consensos mas ainda assim, tem agora no Museu Berardo uma exposição retrospectiva. Esta exposição é invulgar, porque Joana Vasconcelos tem 16 anos de carreira e 38 de vida, e estes não são os tempos comuns para um artista ter uma retrospectiva. Mas também não é comum uma artista portuguesa de 38 anos ter obras à venda na Christie’s. Poderemos também questionar se o facto de estar representada nesta empresa de leilões faz de Joana Vasconcelos uma artista de um valor artÃstico excepcional ou apenas de um excepcional valor comercial. Em todo o caso Joana Vasconcelos é uma artista profÃcua e trabalhadora, que desenvolveu um conceito inovador e o explora, esperemos, até à exaustão. Esta antologia no Museu Berardo, com comissariado de Miguel Amado, tem a vantagem de nos mostrar um conjunto de obras de Joana Vasconcelos que vão desde as mais famosas, como a peça “Marilyn†(2009), até obras mais recentes, mas também nos mostra obras menos conhecidas e quiçá, menos comerciais, mas que não deixam por isso de contribuir para a sua coerência artÃstica. Joana Vasconcelos bebe tanto de Marcel Duchamp e dos seus ready-made como do artesanato português ou apropria-se simplesmente de objectos kitsch do dia-a-dia transformando-os e dando-lhes uma nova leitura, normalmente mordaz e irónica. As obras de Joana Vasconcelos têm esse poder: o de nos pôr a olhar para nós portugueses com um sorriso amarelo. Mas pelo peso da sua carreira internacional, parece que é um sentimento bastante universal. “Contaminação†(2008-2010) introduz-nos na exposição de uma forma quase brincalhona, obrigando-nos a saltar por cima dos enchimentos coloridos que compõem uma estrutura excessiva e carnavalesca de cor, tecidos e rendas. Encontramos aqui ecos de Annette Messager e dos seus “Articulated Disarticulatedâ€, 2001-2002. Também há um claro paralelo entre os trabalhos de uma e de outra quando se debruçam sobre a condição feminina. Há por vezes artistas femininas que não utilizam o seu género. São artistas, apenas. Joana Vasconcelos adopta a postura de uma artista de género feminino, o que não faz dela uma artista feminista. Podemos vê-lo em “Marylinâ€, um sapato que podia ser o da Cinderela, apanágio do amor perfeito, mas construÃdo com tachos; em “Burka†(2002), uma burka com cabeça de mulher que é suspensa e atirada a toda a velocidade para o chão com uma brutalidade à qual não conseguimos ficar indiferentes. Já o recurso à utilização de objectos (neste caso) exclusivamente femininos, em “A Noiva†(2005), é muito mais um recurso estético ou estilÃstico do que um statement feminino ou feminista. Há duas obras surpreendentes nesta antologia: “Passarelle†(2005) e “Jardim do Éden†(2009) ambas pela interacção que pedem ao visitante e pela surpresa que lhe provocam. Em “Passarelleâ€, uma estrutura mecânica suspende cães de faiança pelo pescoço com coleiras de couro. Esta estrutura desloca-se lentamente se o visitante carregar num pedal, mas até parece que é a grande velocidade, tal é a agressividade do dispositivo. Com a deslocação os cães chocam uns contra os outros e vão-se partindo, numa espécie de metáfora de matança do piroso. Em “Jardim do Éden†entramos numa sala com um labirinto digno de Minotauro, povoado por flores plásticas fluorescentes, cuja única luz vem precisamente das flores. Estas flores emitem também um ruÃdo de fundo que nos traz à memória o barulho de cigarras nas noites quentes de verão. É pena que este ambiente não seja melhor preservado de ruÃdo externos. Antes desta obra temos os três “Coração Independente†com a música da Amália, que não está confinada à quele espaço e polui a sonoridade do “Jardim do Édenâ€. Joana Vasconcelos tem para uns, o mundo a seus pés, para outros não é mais do que uma artista com uma grande capacidade de auto-promoção que lhe permitiu entrar nos circuitos certos. É contudo, inegável que é neste momento um nome incontornável da arte portuguesa. Como só tem 38 anos e uma capacidade imensa de trabalho, veremos como será o futuro.
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