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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Gabriel Orozco, Black Kites, 1997. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Damien Hirst, For the Love of God, 2008.


Diane Arbus


Gabriel Orozco, My Hands Are My Heart, 1991. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Gabriel Orozco, Simon’s Island. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Gabriel Orozco, Clam Shell, 2003. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Gabriel Orozco, Until You Find Another Yellow Schwalbe, 1995. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Gabriel Orozco, Cats and Watermelons, 1993. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.


Gabriel Orozco, Ventilator, 1997. Cortesia do artista; Marian Goodman Gallery, New York; Galerie Chantal Crousel, Paris; e Kurimanzutto, Mexico City.

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Culturgest, Lisboa
LEONOR GUERREIRO QUEIROZ

ARQUIVO:


GABRIEL OROZCO

Gabriel Orozco




TATE MODERN
Bankside
London SE1 9TG

19 JAN - 25 ABR 2011


Gabriel Orozco pertence a uma comunidade migrante, numa altura em que não apenas as cidades estão constantemente ‘on the move’, mas também o fluxo das pessoas é imparável, desde os imigrantes económicos aos intelectuais e artistas. Contudo, há uma grande diferença entre uns e outros. Se os primeiros são ‘expulsos’ para um mundo que desconhecem, os segundos têm uma vida privilegiada de alguém que se encontra em vários lugares ao mesmo tempo. As migrações globais servem de inspiração aos intelectuais e às suas teses, e os artistas produzem obras a partir delas.


Orozco vive entre o México, Nova Iorque e Paris, e expõe com regularidade em todo o mundo. O seu trabalho reflecte isso: o transiente e o efémero são aspectos fundamentais da sua obra. A eles pode-se adicionar ainda o interesse pelos jogos, a lógica do acidente, o acaso, a impressão do corpo, o ready-made e o ‘handmade’.


A Tate Modern apresenta actualmente uma retrospectiva de Gabriel Orozco que condensa os últimos vinte anos do seu trabalho artístico, ou seja, desde os anos noventa, quando Orozco se torna conhecido a nível internacional, depois de ter mudado para Nova Iorque (aparentemente isto não teria acontecido tão cedo se ele não tivesse feito a mudança para uma das capitais de arte).


A seguinte mostra encontra-se na sequência das exposições dedicadas à obra singular do artista nos últimos anos, desde a emblemática retrospectiva no Centre Pompidou até ao show no MoMa, ambas em 2010. Contudo, não se trata de uma exposição itinerante, já que cada mostra é adaptada ao espaço particular da instituição anfitriã, assim como escolha das obras varia em relação a cada espaço. Se a retrospectiva no Pompidou apostava na relação entre a obra e o exterior, sendo a rua em frente uma extensão do trabalho de Orozco, a exposição na Tate Modern representa uma clássica instalação/retrospectiva no ‘white cube’.


A obra icónica, My Hands Are My Heart (1991), marca o início do seu percurso no mundo da arte e prefigura a exposição seguinte com os pormenores característicos da sua vasta obra, como por exemplo o uso de materiais não escultóricos, mas antes retirados do quotidiano, a impressão do corpo, a preservação do momento de criação e uma certa espontaneidade. A maneira como o trabalho foi concebido é quase acidental, Orozco e o seu amigo realizador estavam a brincar com a máquina fotográfica do último, e o resultado são duas fotografias a cores que mostram o corpo do artista a pressionar um pedaço de barro com as mãos.


A outra obra conhecida tanto por especialistas como pelo público geral é Black Kites (1997), um crânio humano verdadeiro com um padrão geométrico a preto e branco desenhado por cima que faz lembrar um tabuleiro de xadrez ou um papagaio de papel. O trabalho foi concebido especialmente para a Documenta X e levou vários meses para ser completado e aprovado pela curadora Catherine David, devido ao uso de um material pouco comum. Foi feito na sequência de uma prolongada estadia no hospital devido ao colapso pulmonar e pode ser visto como uma elaboradíssima confrontação com a mortalidade.


Black Kites obviamente faz pensar na obra For the Love of God de Damien Hirst, esta última conhecida por ser ao mesmo tempo elitista e democrática, mas no fundo elas não têm nada a ver uma com a outra, por o ‘artwork’ de Hirst ter sido mais um elogio ao capitalismo tardio que o fez nascer do que o sinal da sua morte, enquanto o ‘artwork’ de Orozco representa o colapso do sistema dominante antes mesmo de este se ter disso apercebido e se apropriar da obra e do seu potencial político.


Não consigo não pensar também nas fotografias, penso que pertencem a Diane Arbus, que mostram as envelhecidas mulheres aristocratas nas festas da alta sociedade. Elas são decadentes, as suas vidas cheias de excesso, os corpos carregados de diamantes e outros emblemas de luxo. Parecem bestas. O músico sul-africano Spoek Mathambo, que vai estar no Lux no dia 14 para um live integrando as fabulosas Hard Ass Sessions, fez recentemente uma remistura do tema de Joy Division She’s Lost Control no contexto de panorama pós-apartheid de Jo’burg.


No seu pior, a Inglaterra faz lembrar estas mulheres horrorosas, as viúvas dos milionários, mantendo a nostalgia dos outros tempos quando o seu país não foi apenas uma ilha entre outras, mas um grande Império, e no seu melhor Londres é capaz de ser a mais cosmopolita e aberta cidade da Europa. Entre os dois extremos há ainda um restaurante tailandês do género ‘eat all you can’ ou seja o almoço por apenas sete libras, situado na rua mais gay do SoHo, a Old Compton.


Especialmente bem conseguida é a sala maior no quarto andar da Tate Modern, onde se encontram trabalhos paradigmáticos como La DS de 1993 (um antigo Citroën encontrado em Paris e cortado em três partes para depois ser reconstruído com a parte central removida), Elevator de 1994 (um elevador salvo de um prédio demolido cortado em três pedaços, sendo o seu espaço central descartado e costurado pela altura do próprio artista) ou Until You Find Another Yellow Schwalbe de 1995 (uma série de fotografias produzida durante uma residência em Berlim, quando Orozco comprou uma scooter amarela e andou pela cidade à procura de motas parecidas para as fotografar juntas) .


O artista diz que as esculturas são como fruta, feitas de camadas e prontas para serem cortadas. Parecem veículos de transporte e atraem insectos pelas suas cores vivas. As fotografias, por seu lado, são contentores e o corpo um espaço vazio para ser preenchido.


Tudo isto torna se claro numa das suas primeiras obras, Crazy Tourist, feita por mero acaso numa viagem no Brasil, onde o artista fotografou um mercado vazio com as mesas de madeira em cima das quais colocou laranjas cortadas (sem valor económico), encontradas no lugar, e os locais começaram a dizer que ele estava maluco, por fotografar coisas tão inúteis.


Ventilator (1997) é uma lembrança divertida da viagem, desta vez à Ãndia, onde Orozco e a sua mulher recebiam sempre um pacote de papel higiénico ao entrarem no quarto do hotel. O resultado é uma escultura cinética feita do material mais modesto possível: o papel higiénico a flutuar de um ventilador no tecto.


As fotografias como Simon’s Island (1993) ou Cats and Watermelons (1992) capturam momentos fugazes e são constituídas por elementos quase escultóricos, mesmo que imprevisíveis ou puramente acidentais, formando arquipélagos. No caso da primeira imagem, vemos o contorno do corpo de mulher parecendo uma ilha e na segunda imagem a enorme fruta vermelha com a casca verde e as latas de comida para os gatos cuidadosamente instaladas por cima das melancias.


Breath On Piano (1993), por seu turno, grava um traço do seu suspiro nos momentos breves antes da sua evaporação.




Link:
www.youtube.com/watch?v=UKfwSFI8LhQ


Rosana Sancin