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DAVID ADJAYEUrban Africa. Uma viagem fotográfica por David Adjaye.GALERIAS MUNICIPAIS - PAVILHÃO PRETO Campo Grande, 245 1700-091 Lisboa 25 MAI - 31 JUL 2011 Uma exposição que respira ao ritmo acelerado do urbanismo em África, que nos fala de modernidade em condições climáticas extremas, coabitada pelo colonialismo, as independências e o Islão. Urban Africa é um voo de flamingo pelo continente e pelas suas cidades emergentes feito pelo arquitecto que deseja tornar-se numa molécula. Numa entrevista a buala.org, David Adjaye fala da importância do contexto social em África, das distintas noções de habitar e do espaço público, que é aberto, enquanto no Ocidente está a desaparecer. Fala também como no meio da floresta tropical surge, de repente, uma cidade urbana, Nairobi. Ou do desejo, manifestando-se nesse continente, mais do que em qualquer outro lugar, de encontrar potencialidades em cada material (os bairros de lata são um exemplo). As favelas, com a autogestão, o crescimento descontrolado e a capacidade de se adaptar e reinventar, foram a inspiração também para outros arquitectos e artistas como, por exemplo, Marjetica Potrc, que conduziu uma investigação no Brasil e na América Latina. Urban Africa resolve instalar-se em três espaços interligados, começando por um intro onde os dados estatísticos sobre o continente, que habitualmente servem para análises rígidas, como as línguas, as bandeiras, o clima, a demografia – que habitualmente servem para as análises rígidas – representados nos mapas coloridos, são suavizados pelo uso de design gráfico sofisticado. As divisões (fronteiras), definidas em pleno delírio no tempo colonial e que nalguns casos permanecem até hoje em dia, ignoram o contexto por completo: não ligam nada às etnias, às diferentes religiões, aos povos, às línguas e às especificidades de cada lugar. Scramble for Africa. Virando à esquerda, a seguir, temos projecções de vídeo que nos transportam directamente para as capitais africanas e perspectivam a mobilidade. Nas viagens, Adjaye deixava-se levar e movimentar pela cidade conduzido por taxistas que o levavam aos sítios que eles próprios achavam interessantes, entre comer uma sopa em casa deles, observar os espaços públicos cheios de vida e tirar snapshots dos edifícios pela janela do táxi. O mapa, de estrutura rizomática, apresentando-se na exposição como um modelo para pensar as cidades no futuro ou mesmo no presente, consiste em fotos seleccionadas, de tamanho comum e organizadas por zona (o deserto, a floresta tropical, montanha alta, etc.), por tipo de edifícios (arquitectura civil, comercial e residencial) e pela cidade onde se encontram (Bamaco, Luanda, Marraquexe, etc.), onde, numa rede de ligações entre cidades, os seus habitantes, a arquitectura e o espaço público, a modernidade é reivindicada. Framing. Em vez de usar o “white cube”, um contentor que se apresenta como neutro e é de facto eurocêntrico – foi inventado pelo fundador do MoMa e apreciado pelos nazis, entre outros – Adjaye opta antes pelas cores com forte significado em África, como o amarelo ou o vermelho, e assim situa a modernidade africana em paralelo com a do Ocidente, sem ter de a inserir num framework prefabricado. O espaço público a surgir daqui? Zonas de contacto com Lisboa: para já, são muitas. Desde a música a sair dos carros e das casas nos bairros, até ao Rossio, onde a economia informal a acontecer na sombra do teatro D. Maria perpetua uma visão não-eurocêntrica do mundo habitada tanto pelos sem-abrigo como pelas elites de todas as cores ou os visitantes acidentais a tirarem fotos com as máquinas digitais. Para além de kuduro, lembrem-se do trabalho de Ângela Ferreira para a Bienal de Veneza, Maison Tropicale, que parte da história de uma casa-modelo projectada pelo arquitecto modernista Jean Prouvé recentemente retirada de África e vendida por imenso dinheiro a um coleccionador residente no Ocidente. A obra reflecte sobre a história colonial e as suas ressonâncias no mundo contemporâneo, como o pós-colonialismo ou o neo-colonialismo. As fronteiras reais e imaginárias são atravessadas também na exposição itinerante, Encontros de Fotografia de Bamako, que aterrou por momentos breves na Gulbenkian. David Adjaye foi escolhido para projectar o edifício do Africa.cont, o Centro Cultural Africano em Lisboa, no local do antigo comércio colonial a ser construído quando as condições o permitissem. O futuro pertence a eles.
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