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JOÃO GALRÃOYou are in my dreams![]() GALERIA GRAÇA BRANDÃO (PORTO) Rua Miguel Bombarda, 410 A 4050-382 Porto 03 JUN - 31 JUL 2006 ![]() ![]() “You are in my dreams” é o título da segunda exposição individual de João Galrão no espaço 552 da Galeria Graça Brandão no Porto. Vários elementos permitem estabelecer quer uma relação de continuidade, quer uma diferenciação entre os objectos/escultura/pintura apresentados na exposição de 2003, nesta mesma galeria, e esta. Destaco quatro: 1) O monocromatismo que neste caso se assume como ausência de cor. Esta foi substituída por uma cobertura de tinta de esmalte acrílica branca, ou pela cor local do gesso que veste ou constitui os objectos da exposição. Consequência da erradicação da cor é a sensação de vazio, de “nada”, o silêncio do prolongamento frontal do branco sobre branco, a imaterialidade sugerida, a osmose espacial e arquitectónica e a aceitação por parte do artista de que sem esta relação com o espaço envolvente, a qualidade corpórea dos objectos perderia todo o sentido de existência. 2) A revelação das estruturas construtivas de alguns objectos de parede produzidos a partir de paletes industriais de madeira, ou na visibilidade das estruturas de apoio da peça de chão. Na exposição anterior, o esqueleto dos objectos apenas se percebia através de um exercício de suposição que levava o espectador a questionar que tensões e forças projectavam ou engoliam as protuberâncias de gesso. 3) Uma maior amplitude da noção de tensão. Mais do que uma diferença, a intensificação de um vector já existente. A indistinção disciplinar e identitária que Paulo Cunha e Silva, em 2003, sublinhou no texto do catálogo então publicado, mantém-se. As fronteiras entre objecto pictórico e objecto escultórico não se pretendem claras. Aqui tudo se conjunta. As pinturas desejam a tridimensionalidade escultórica e as esculturas, figuras, num processo contínuo de transformação da superfície, do seu volume e do volume em movimento que é sempre aparente. Este suposto movimento de distensão/contracção é em si mesmo gerador de tensões várias. Esta noção está também presente na acentuada texturação de que foram alvo todas as superfícies, desde a peça de chão à de canto passando pelas de parede. Leonor Nazaré fala das texturas no trabalho de João Galrão como um princípio activo que reclama, de quem se aproxima curiosidade táctil, indecisão, atracção e incerteza. Tudo explode na superfície dos objectos, transformando-os numa espécie de topografia acidentada. 4) A dimensão discursiva das formas corporalizadas desmente a abstracção que pressupõe a anulação de uma intenção representativa. Este discurso revela-se também na ironia das referências. “Nothing between us” para o díptico cujas telas foram justapostas sem qualquer tipo de separação entre ambas ou “I wait for you there” para um objecto que parece ter sido fossilizado. Existe uma relação directa entre o conteúdo conceptual dos títulos e a forma como os objectos se apresentam ao observador. Por outro lado, essa discursividade prende-se com o universo musical. Na exposição realizada em Vila Nova de Cerveira – “After Hours” em 2005, as peças de Galrão tinham ganho uma estridência psicadélica e a luz que reflectiam foi sincronizada ao ritmo de músicas seleccionadas pelo autor. Nesta exposição, desapareceu a cor e a luz artificial, como já referi, mas mantém-se o ritmo e o brilho local sugerido, não pela vibração de luzes, mas pela intermitência e pulsar formal das saliências que em todas as peças criam a sensação de uma movimentação escarpada. Referências: “After Hours, João Galrão”, Vila Nova de Cerveira, Galeria Projecto, 2005. SILVA, Paulo Cunha e, “A pele das Formas”, João Galrão, Porto, Galeria Graça Brandão, 2003, p. 2. NAZARÉ, Leonor, “João Galrão”, Roteiro da Colecção da Fundação Calouste Gulbenkian [www.camjap.gulbenkian.org] ![]()
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