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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand


Ernesto Neto, "Léviathan Thot", Instalação, Panthéon 2006. Fotografia: Jean Breschand

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ARQUIVO:


ERNESTO NETO

Léviathan Thot




PANTHÉON
Place du Panthéon, 5e
75005 Paris

15 SET - 30 DEZ 2006

Life after death ….

Ao passar pelo portal aberto do Panthéon vemos uma míriade de formas escultóricas brancas que pendem e oscilam como os frutos de uma árvore de glicínias. São as marcas do corpo antropomórfico que Ernesto Neto criou para inaugurar o Festival d´ Automne em Paris, obra comissariada pelo Ministério da Cultura Francês.


Léviathan, o monstro marinho da profecia bíblica, no livro de Job, metáfora política e social celebrizada por Thomas Hobbes para simbolizar o corpo-Estado e Thot, o deus egípcio protector dos escribas e medida do tempo, são as referências para esta instalação monumental do artista carioca.


A famosa cúpula da originária igreja de Sainte Geneviéve (projecto de 1756 do arquitecto Soufflot ao serviço de Louis XV)) serviu para abrigar diversas devoções: da cristã à republicana passando pela positivista. O templo é dessacralizado no período pós-revolucionário para abrigar os túmulos dos grandes homens da Nação tricolor (1791), de Rousseau a Victor Hugo e permanece até à construção da Torre Eiffel o monumental símbolo da capital francesa.
Encontra-se também dentro do Panthéon a réplica do Pêndulo de Foucault, de onde emerge o núcleo central da obra de Neto.


O Estado como monstro encerrado entre os eixos de uma cruz grega é reconvertido pela magia do escriba do tempo, Thot, no ondear branco da saia de uma mãe-de-água, o cimento balança dentro das estruturas de tule; as ervas aromáticas da América do Sul voltam à boca da Europa e os visitantes esquecem que estão no túmulo de uma história.


Este artista brasileiro com uma carreira com projecção internacional, desde os anos 90, foi escolhido por comissários como Paulo Herkenhoff (é na 24° Bienal de São Paulo que o seu trabalho se distancia da filiação neo-concretista brasileira de Helio Oiticica e Lygia Clark) e Harald Szeemann (49° Bienal de Veneza); as suas obras figuram nas colecções permanentes do Kunstalle de Basel (1999), da Galleria Comunale d´ Arte Moderna de Bolonha (2000) e do MOMA de Nova York (2000).


Ernesto desenvolveu um conceito escultórico que invade os espaços, criando a partir deles uma série de “naves”, criaturas sensíveis e femininas que procuram o equilíbrio, elaboradas a partir de materiais flexíveis como a lycra de poliestireno e a malha de poliamida bem como o arroz, a areia, as especiarias.
O corpo é a matriz das suas criações.


Com Léviathan Thot, Ernesto Neto consegue operar uma “magia” no Panthéon francês. O espaço sombrio fruto do racionalismo pós-revolucionário (foram muradas 38 das 42 janelas do edifício), túmulo por excelência de uma herança cultural laica e burguesa onde o espírito universalista jaz num espaço vazio, transforma-se num espaço habitado por uma transbordante força vital.
Os grandes lábios femininos que pendem dos 80 metros de altura do edíficio abrem as entranhas do monstro orgânico que vive na sua arte:

… o monstro é, ao mesmo tempo, absolutamente transparente e totalmente opaco. Ao encará-lo, o olhar fica paralisado, absorto num fascínio sem fim, inapto ao conhecimento, pois este nada revela, nenhuma informação codificável, nenhum alfabeto conhecido (…) O seu corpo difere do corpo normal na medida em que ele revela algo de oculto, algo de disforme, de visceral, de “interior”, uma espécie de obscenidade orgânica.
O monstro exibe-a, desdobra-a, virando a pele do avesso, e desfralda-a sem se preocupar com o olhar do outro; ou para o fascinar, o que significa a mesma coisa…


(José Gil, in “Montros”, re-edição Relógio D´ Água, Lisboa, 2006)


Nesta obra triunfal a vida é suspensa e fica em equilíbrio através dos nós que são a única junção deste enorme corpo.

Nó que ata a Europa ao corpo da América Latina.





Sílvia Guerra