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COLECTIVADepósito. Anotações sobre Densidade e ConhecimentoREITORIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO Praça Gomes Teixeira (Praça dos Leões) 4099-002 Porto 27 JAN - 30 JUN 2007 A exposição “Depósito. Anotações sobre Densidade e Conhecimento” combina trabalhos de vários artistas com uma fracção do espólio dos vários museus e instituições da Universidade do Porto. Entre animais embalsamados, esqueletos, instrumentos científicos e modelos variados, a exposição pretende organizar um diálogo entre a herança do museu de história natural e a produção artística contemporânea. A solução para o espaço e disposição das peças, da responsabilidade do comissário e de Inês Moreira pareceram-nos acertadas, sugerindo-nos a ideia de uma solução cartesiana, entre o eixo da arte e o da ciência, para uma localização das sociedades contemporâneas. As peças da Universidade estão dispostas numa parede (ou estante) que domina a exposição, numa relação ortogonal com o plano horizontal reservado às obras dos artistas. É um estafado lugar comum sublinhar a estreita relação de dependência entre os nossos quotidianos e os progressos científicos e técnicos, e as conexões entre o conhecimento científico e a arte, tanto ao nível da criação como da crítica, abandonaram hoje qualquer pretensão de fragilidade para passarem a fazer parte da matriz identitária das nossas sociedades. As disciplinas humanas e as naturais interligam-se e consomem-se reciprocamente, a especialização extrema das matérias faz-se compensar por práticas pluri e multidisciplinares, a apropriação de conceitos, de parte a parte, é uma prática corrente e desejada. A arte, que durante a primeira metade do século XX se relacionou mais proximamente com as ciências humanas, sendo disso o exemplo mais óbvio e conhecido a utilização da psicanálise pelo surrealismo e vice-versa; embora antes, noutros campos, como o da literatura, Freud tenha sido já uma referência para importantes correntes do século XIX, como o naturalismo de Frank Wedekind (depois precursor do expressionismo) ou de Arthur Schnitzler. A partir do século XX, com a revolução relativista a alterar os próprios fundamentos das ciências clássicas, com o tempo e o espaço, até então absolutos na sua rigidez inviolável, transformados em variáveis até certo ponto dependentes de condições de percepção (velocidade, posição, etc.), a produção artística e a crítica estenderam-se até estes campos, importando conceitos e trabalhando-os de forma independente. Hoje, com os avanços na genética, o corpo torna-se não só um motivo mas também barro, media de criação. Os conceitos de origem estão em debate e constante negociação enquanto a neurobiologia e a filosofia da consciência investem na pesquisa do cérebro e no estudo da emergência do indivíduo enquanto consciência. A amplitude e magnitude da discussão epistemológica sobre a ruptura paradigmática entre modernidade e pós-modernidade, é a maior prova da familiaridade entre as disciplinas, e a arte, acompanhando-a, configura e é configurada pelos progressos que fazemos na construção deste corpo de conhecimento. A Universidade, como símbolo desta agremiação entre as mais diversas disciplinas é o centro nevrálgico das nossas sociedades e uns dos principais motores de inovação e progresso. Como tal, é um palco apropriado para esta exposição. A Universidade do Porto, através desta iniciativa, combina o legado das sociedades geográficas do século XIX, ainda hoje capaz de mobilizar público e curiosos, com o discurso mais especializado da arte contemporânea. A escolha de Paulo Cunha e Silva para comissário deste projecto justifica-se, já que este tem vindo a trabalhar na área específica das relações entre arte e ciência. “Depósito. Anotações sobre Densidade e Conhecimento”, parte dos pressupostos já assinalados para construir um objecto independente, da autoria do comissário (os trabalhos não estão identificados no local, apenas no flyer que funciona como folha de sala), a partir do conceito de depósito e as suas obrigatórias noções de organização, relação e caos. Assumindo que cabe ao espectador parte do trabalho de associação e leitura entre os dois planos (ou universos) representados na exposição, “Depósito” funciona como um baú onde várias gerações armazenaram os seus produtos, aberto à interpretação e à livre associação. Há no entanto, em toda esta lógica, um hiato geracional entre o eixo vertical, rico em referências a processos, métodos e técnicas do século XIX, e o horizontal, que representa produtos, ideias e conceitos que formatam toda a nossa expectativa face ao século XXI. Ainda que no conjunto dos trabalhos artísticos existam referências a esta época, a produção científica e teórica dos mil e novecentos faz-se sentir quase só no conceito da exposição, que invoca preocupações com a probabilidade e o caos determinista. Assim, entende-se uma dificuldade em construir associações entre o espólio científico de uma tradição moderna (positivista e cartesiana) e trabalhos artísticos que dependem quase unicamente de formulações exclusivas à pós-modernidade. Ainda que esta omissão seja facilmente explicada pelo atraso e alheamento português no que diz respeito a estes campos científicos (física, quântica, biologia, etc.) durante grande parte do século XX, achamos pertinente levantar a questão sobre a representação desta passagem, de um tempo para outro, sem referência aos pilares da ponte que efectivamente a permitiu. Na exposição encontram-se representados os artistas: André Cepeda, Eduardo Matos, João Leonardo, Mafalda Santos, Manuel Santos Maia, Marta de Menezes; Miguel Flor, Miguel Palma e António Caramelo, Nuno Ramalho, Pedro Tudela, Renato Ferrão, Rita Castro Neves, Sancho Silva e Tiago Guedes.
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