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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Ângela Ferreira, “Maison Tropicale”, 2007. Vista parcial da instalação. Pavilhão Português, 52.ª Bienal de Veneza. Fotografia: Roger Meintjes


Ângela Ferreira, “Maison Tropicale”, 2007. Vista parcial da instalação. Pavilhão Português, 52.ª Bienal de Veneza. Fotografia: Mário Valente


Ângela Ferreira, “Maison Tropicale”, 2007. Vista parcial da instalação. Pavilhão Português, 52.ª Bienal de Veneza. Fotografia: Mário Valente


Ângela Ferreira, “Maison Tropicale”, 2007. Vista parcial da instalação. Pavilhão Português, 52.ª Bienal de Veneza. Fotografia: Mário Valente


Antiga localização de uma das casas de Jean Prouvé em Niamey, no Níger


Uma das três casas de Jean Prouvé em Nova Iorque, montada debaixo da ponte de Queensborough, sobre o Hudson

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ARQUIVO:


ÂNGELA FERREIRA

Maison Tropicale




PAVILHÃO DE PORTUGAL | BIENAL DE VENEZA



10 JUN - 21 NOV 2007

Portugal em Veneza e a Maison Tropicale em trânsito

Pude ver, no final de Maio, uma das três casas de Jean Prouvé em Nova Iorque, montada debaixo da ponte de Queensborough, sobre o Hudson, com vista para o skyline de mid-Manhattan, no momento em que era leiloada pela Christie’s, e apercebi-me da condição itinerante deste protótipo. A casa foi vendida por cinco milhões de dólares. O projecto modernista de casas pré-fabricadas, para um clima tropical, tinha como objectivo a melhoria da qualidade de vida a uma escala utópica de repetição industrial, nas colónias francesas africanas. Porém, só foram fabricadas três e instaladas duas em Brazzaville, e uma em Niamey, no Níger – vi uma das casas, perfeitamente recuperada, em Nova Iorque. As casas foram retiradas de África em 2001, por um francês que as comprou e enviou para a Europa. Se ouvimos que a casa é um hino ao colonialismo, também sentimos o prazer do local, da circulação interior e exterior, e podemos desfrutar o design inteligente num dia de sol nova-iorquino, com calor abafado…

Ângela Ferreira apaixonou-se, segundo me disse na inauguração, em Veneza, pela casa que viu em Paris um ano antes, e daí desenvolveu o projecto para o Pavilhão de Portugal, nesta edição da Bienal onde é a única representante portuguesa (as outras duas participações estão em exposições paralelas à Bienal, como é o caso de Jorge Molder e Joana Vasconcelos). A exposição é comissariada por Jürgen Bock. Ângela Ferreira nasceu em Maputo, vive em Portugal e na África do Sul, e o seu trabalho inspira-se no contexto político pós-colonial e pós-moderno e na reinterpretação de factos históricos.

O que é ser pós ou neo-colonial, na pós-modernidade africana?
A casa deixou um vazio nos locais onde foi instalada pela primeira vez, o que indica o seu carácter original e funcional, por oposição a uma espécie de fetichismo ocidental na visão do mundo colonial. A casa está em perpétua viagem, sem adequação possível, como resíduo histórico de um outro contexto. Os locais originais são documentados por Ângela Ferreira e apresentados em impressões fotográficas de grande formato. A casa em permanente viagem, desmontada e em contentores, é aquilo que podemos considerar a realidade actual da casa e o que suscita inquietação.

A peça escultórica de Ângela Ferreira é um túnel ou passagem – uma estrutura de alumínio – onde se suspendem alguns dos módulos mais importantes da casa, reproduzidos em madeira. Passa-se pela peça, pelo túnel e por entre os módulos e talvez se tenha a mesma revelação que eu tive na casa de Queens, a de que ela está ali, mas viaja ou flutua. Entre colonizadores e colonizados, coleccionadores de design e possíveis habitantes.

A artista, no espaço da exposição, nunca mostra a casa, mas apenas a sua ausência: lugares vazios e a abstracção de um contentor. A própria artista transita entre culturas e articula numa instalação silenciosa, minimal e de referência modernista uma visão ambígua, e deixa ao público a responsabilidade da divagação. É esse o ponto de empatia, ou não, com o seu trabalho. Enquanto intelectualmente as referências e relações políticas são estimulantes, no momento da experiência da obra há uma questão que é estilística – no ponto de contacto do formal há uma quebra, criada pela própria expectativa conceptual. Essa quebra provoca um desconforto que, apesar de intencional, é o resultado da segurança investida na beleza austera da peça e no fascínio das relações abstractas pré-definidas: a artista pretende que a sua instalação seja um interface para uma análise do mundo colonial, pós e neo-colonial.

A peça escultórica é sem dúvida eficaz na sensação espacial que provoca e sobretudo na sua relação com as fotografias da realidade africana, onde a casa modernista não parece indispensável e que, face ao vazio formalista da escultura, constituem a riqueza da exposição. A instalação é particularmente interessante no panorama português onde, estranhamente, o passado colonial e o pós-colonialismo nunca foram socialmente analisados e confrontados – no país do último grande império colonial europeu. Mas levanta-se a questão do seu sentido enquanto proposição politicamente correcta.





Ana Cardoso