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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Victor Erice / Abbas Kiarostami. Correspondances. 2007 © Centre Georges Pompidou.


Lettre 1. Víctor Erice. Le Jardin du peintre. 22 avril 2005. © Nautilus Films


Lettre 3 Víctor Erice. Arroyo de la Luz. 22 octobre 2005 © Nautilus Films


Lettre 4 Abbas Kiarostami, "Le Coing". décembre 2005 © Nautilus Films


Lettre 5 Víctor Erice, "José". 18 juin 2006 © Nautilus Films


Abbas Kiarostami, "Onde fica a casa do meu amigo?" (Khane-ye dust kojast ?), 1987.


Víctor Erice, “O espírito da colmeia†(El espíritu de la colmena), 1973.

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ARQUIVO:


VICTOR ERICE / ABBAS KIAROSTAMI

Victor Erice / Abbas Kiarostami. Correspondances.




CENTRE POMPIDOU
Place Georges Pompidou
75191 Paris

19 SET - 07 JAN 2008

E o Cinema entrou no museu.

Desde Setembro que os visitantes se multiplicam à entrada da exposição “Erice / Kiarostamiâ€. Verdadeiro sucesso de bilheteira, a mostra “Correspondances†(concebida pelo CCCB de Barcelona) constitui mais um sintoma desse fenómeno que não sendo novo, se tornou numa verdadeira tendência expositiva do circuito internacional: a entrada do Cinema no espaço do museu. Mas atenção: não se trata aqui de explorar mais uma vez os caminhos da atracção que parece fatalmente combinar linguagem cinematográfica e arte contemporânea. Na sequência de exposições anteriores, como “Hitchcock et l’art†(2001) ou “Voyages en Utopie. Jean-Luc Godard 1946-2006†(2006), o Centre Georges Pompidou aposta novamente na ideia de que o lugar dos Cineastas se alargou das obscuras salas de cinema às respeitosas galerias dos museus. Contrariamente às mostras Hitchcock e Godard, ambas polémicas (uma por ser “demasiado fetichista†e outra por constituir um “projecto fúnebre e frustradoâ€), a exposição “Correspondances†parece reunir o consenso, como se os Cineastas tivessem finalmente encontrado uma forma de habitar as galerias de uma prestigiosa instituição museológica, sem com isso afirmarem que o Cinema está morto. Sendo assim, em que é que é diferente esta exposição?


Antes de mais, “Correspondances†é um confronto inédito entre a obra de dois cineastas cujas vidas partilham, curiosamente, inúmeros detalhes factuais (nasceram ambos em Junho de 1940 no seio de regimes políticos autoritários) e cujas obras revelam pontos de contacto surpreendentes, entre os quais o fascínio pela infância, ou pelo silêncio das paisagens. Erice e Kiarostami, que não se conheciam pessoalmente, cruzaram-se devido à intuição de Alain Bergala (critico e ensaísta francês) e de Jordi Balló (director de exposições no CCCB de Barcelona) e desse seu encontro resultou uma série extraordinária de oito cartas filmadas, ilustrando um processo de descoberta mútua. Realizados pelos dois cineastas entre 2005 e 2007, estes oito pequenos filmes constituem o centro espacial e poético da exposição, ao qual se chega depois de atravessar os percursos individuais dedicados a Erice e a Kiarostami. São estas “correspondênciasâ€, cuja projecção contínua dura mais de noventa minutos, que concedem todo o sentido ao projecto de Bergala e de Balló: o dispositivo epistolar revela-se, aliás, uma forma surpreendente e profundamente emocionante de diálogo entre dois homens cuja língua comum é antes de mais a do Cinema, com uma orgulhosa maiúscula. Se as “cartas†são objectos simples, curtos, impressionistas e profundamente pessoais, por detrás da sua ligeireza aparente esconde-se toda a poética do acto de criação, a única capaz de transformar um filme nume Obra. Uma das cartas mais bonitas de Erice acompanha a conversa de um professor com os seus alunos na escola primária de Arroyo de la Luz, depois da projecção do filme de Kiarostami “Onde fica a casa do meu amigo?†(1987); Kiarostami responde filmando a viagem de um marmelo arrastado pela corrente de um rio (na última curta-metragem de Erice, “O sol do marmeleiroâ€, datada de 1992, tudo se joga em torno da dificuldade do pintor Antonio López em pintar o marmeleiro do seu jardim); Erice mostra em seguida esse filme ao pastor Juan, filmando os seus comentários e reacções, à medida que ele o observa no écran de um Ipod...


Já os percursos individuais revelam sobretudo as diferenças entre as formas de trabalhar dos dois autores. Kiarostami expõe os seus trabalhos fotográficos e instalações, a par do excepcional “Five†(2003), filme-poema-meditação sobre a obra de Ozu. O seu trabalho, não sendo necessariamente mais pessoal ou poético do que o de Erice, é sem dúvida mais ecléctico e abstracto – mais contemporâneo? Erice, por seu lado, escolheu encenar as telas do pintor Antonio García López (só um cineasta como Erice conseguiria reintegrar a pintura figurativa no espaço do Centre Georges Pompidou ... ), exibindo, a par dos quadros de López, duas maravilhosas curtas-metragens: “Soliloquio†(2006) e “Alumbramiento†(2002). Alain Bergala concebeu ainda dois filmes de montagem, “L’enfance de l’art e L’art de l’enfanceâ€, que exploram as correspondências mais ou menos visíveis entre os filmes dos dois autores. A dimensão pedagógica destes dois últimos objectos reflecte, aliás, uma linha de orientação bastante clara, defendida desde há vários anos por Bergala: a da transmissão do cinema nos espaços escolares e museológicos (a esse propósito, o excelente trabalho da associação catalã A Bao A Qu, responsável pelos ateliers pedagógicos realizados no CCCB merece uma referência especial).


A exposição prolonga-se nas salas de cinema do Centro: para além das retrospectivas integrais de Kiarostami e Erice (a obra deste último é particularmente mal conhecida), o cineasta espanhol programou um ciclo em torno dos “filmes da sua vida†(entre os quais “A comédia de Deus†de João César Monteiro, 1995). Em torno da exposição, uma série de eventos têm celebrado, desde Setembro, o que parece constituir, mo mundo parisiense, a consagração definitiva do Cinema pelo Museu.


Teresa Castro