Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Sara & André - Pauliana Valente Pimentel. Edição de 3+1, Impressão Digital em Papel Epson - Fine Art. 80 x 110 cm


André Trindade, “Auto-retrato com Caveiras”. Escultura. 99 x 133 x 23 cm


Yonamine, “S/ Título (Casal Boss)”. Instalação e vídeo. 240 x 240 x 50 cm, 26' loop.


Sara & André - Ana Pérez-Quiroga, “Breviário do Quotidiano #10”. Role of the Artist; Entrevistas; Recensões. 3 painéis – 96 x 112 cm


Contrato

Outras exposições actuais:

COLECTIVA

LE JOUR IL FAIT NUIT


Kubikgallery, Porto
CONSTANÇA BABO

MICHELANGELO PISTOLETTO

TO STEP BEYOND


Lévy Gorvy Dayan, Nova Iorque
THELMA POTT

JORGE GALINDO

BLACK PAINTINGS


Galeria Duarte Sequeira, Braga
THELMA POTT

COLECTIVA

'SE EU TIVESSE MAIS TEMPO, TERIA ESCRITO UMA CARTA MAIS CURTA.'


Fidelidade Arte, Lisboa
LIZ VAHIA

JOANA VASCONCELOS

TRANSCENDING THE DOMESTIC


MICAS — Malta International Contemporary Arts Space,
CATARINA REAL

JOSÉ LOUREIRO

O DEFEITO PERFEITO


Galeria Fernando Santos (Porto), Porto
RODRIGO MAGALHÃES

JOANA VILLAVERDE

MY PLEASURE


Galerias Municipais - Pavilhão Branco, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

OLGA DE AMARAL

OLGA DE AMARAL


Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris
CLÁUDIA HANDEM

NAN GOLDIN

INTIMIDADES EM FUGA. EM TORNO DE NAN GOLDIN


MAC/CCB - Museu de Arte Contemporânea, Lisboa
PAULO ROBERTO

ERWIN WURM

ERWIN WURM. A 70TH-BIRTHDAY RETROSPECTIVE


Albertina Modern, Viena
CONSTANÇA BABO

ARQUIVO:


SARA & ANDRÉ

Sara & André




3 + 1 ARTE CONTEMPORÂNEA
Largo Hintze Ribeiro 2E-F
1250 – 122 Lisboa, Portugal

20 JUN - 31 JUL 2008


Há uma dupla auto-referencialidade inata ao trabalho da dupla Sara & André, que se prende não apenas com a imediata, e tão sensível, promoção de si próprios enquanto objecto discursivo. Na realidade, esta funde-se e é consequência de uma outra, maior e verdadeiramente estruturante, e que é, na sua primeira exposição individual, finalmente revelada – um profundo enraizamento teórico na história da arte. A incompreensível despolitização e irresponsabilidade social característica do trabalho da generalidade dos comercialmente apetecíveis artistas emergentes tem aqui uma proposta do seu reverso. Nada é feito ao acaso. E isso, hoje em dia, não é pouco.

A contratualização é a manifestação embrionária do projecto Fundação Sara & André. Claro que a ideia não é nova. Assenta numa percepção, não tão contemporânea assim, da arte enquanto produto comercial e mercadoria fetiche do sistema económico e mediático. Essa condição mercantilizável não é somente apanágio do produto como também da própria personalidade dos agentes envolvidos. E isto também não é novo. A celebridade é motor de consumo desde Salvador Dalí a Andy Warhol, de Jeff Koons a Damien Hirst, de Truman Capote a Maurizio Cattelan, entre outros. Antiguidade, porém, não significa necessariamente esgotamento. Em potência, e até o dia da neutralização do paradigma do espectáculo, everybody is a star. Prepare-se, então, toda a munição disponível.

O combate faz-se em arena própria mas o problema é, para Dan Graham (e então também para S&A), como apresentar uma crítica do sistema capitalista sob a forma de um produto que faz precisamente parte desse sistema? Aqui assenta a contradição relacional com a contradição do sistema ele próprio. Como não o alimentar? Alimentá-lo com doses, venenosas e intravenosas, mais ou menos controladas de cinismo mais ou menos revolucionário? Adoecê-lo, miná-lo, bombardeá-lo com arremessos de humor, ridicularizá-lo, levá-lo ao absurdo (ou seja, trazê-lo à superfície)? Mas esta também não é uma estratégia nova...

Que fazer?

Implicação e crítica, adesão e derrota (Paul Ardenne), ou radicalização do discurso (insubmissão, desobediência e violência)? Ou seja, como criar hoje? Ana Amorim – a artista (brasileira) impossível – escreve cartas anti-corporativas aos agentes do sistema da arte (e porque dele participa, também recebe respostas). O seu curriculum é uma listagem de recusas sistemáticas de participação em eventos. Para Derrida, toda a arte política implica uma actuação de radical desconstrutividade, ainda que esta possa parecer paradoxal e contraditória.

Sara & André fazem uma exposição hands-off. Escolhem não os melhores artesãos (como Koons) mas os artistas possíveis dentro da micro-estrutura económica que é a sua própria galeria, e iniciam uma linha de produção, uma espécie de mini-Factory em Open Studio. Fazem das contradições económicas do seu ambiente as suas próprias premissas conceptuais – se cinquenta por cento do valor de venda das obras em exposição reverte para o galerista, porque não há-de ser a ele, numa análise feita em espelho, delegada toda a produção da exposição, servindo-se da sua própria mercadoria: os outros artistas? Se S&A tivessem seguido, para além das estratégias de criação de uma Fundação e da delegação sistemática de trabalho, outras orientações do trabalho de M. Cattelan e reproduzissem a sua acção de pendurar o galerista no tecto, minimizariam ou maximizariam o factor de risco desta exposição?

A exposição é, no entanto, eficaz, e obedece a uma montagem rigorosa. Os artistas que integram a exposição trabalham a inacessibilidade da própria dupla enquanto retrato-fenómeno de uma vanguarda improvável ou impossível – para Walter Benjamin, a inacessibilidade é a qualidade primordial da imagem de culto. A obra documental e referencial de Ana-Pérez Quiroga é a sua âncora reflexiva, fundamental também para a legitimação do seu próprio discurso – a contenção e a maturidade da sua participação é a assumpção mais imediata de que essas características são também autoportantes do trabalho de S&A. No lado oposto, a fragilidade semi-controlada do ruído, do excesso, da ironia e da juventude quase libertária, heróica e cine-chunga-remissiva da instalação de Yonamine. Entre eles, André Trindade, Pauliana Pimentel, Pedro Kaliambai e Susana Guardado, ou ego, narcisismo e masturbação. Que a guerra continue. If all else fails, have fun and fuck things up.




Lígia Afonso