Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Nan Goldin, Nan and Brian in Bed, 1983. © Nan Goldin


Nan Goldin, Nan one month after being battered, 1984. © Nan Goldin


Nan Goldin, Mark tattooing Boston, 1978. © Nan Goldin


Vista da exposição Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin, MAC/CCB. © Paulo Roberto


Vista da exposição Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin, MAC/CCB. © Paulo Roberto


Vista da exposição Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin, MAC/CCB. © Paulo Roberto


Vista da exposição Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin, MAC/CCB. © MAC/CCB


Vista da exposição Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin, MAC/CCB. © Paulo Roberto


Nan Goldin, Vivienne in the green dress, NYC, 1980. © Nan Goldin

Outras exposições actuais:

JORGE GALINDO

BLACK PAINTINGS


Galeria Duarte Sequeira, Braga
THELMA POTT

JOANA VASCONCELOS

TRANSCENDING THE DOMESTIC


MICAS — Malta International Contemporary Arts Space,
CATARINA REAL

JOSÉ LOUREIRO

O DEFEITO PERFEITO


Galeria Fernando Santos (Porto), Porto
RODRIGO MAGALHÃES

JOANA VILLAVERDE

MY PLEASURE


Galerias Municipais - Pavilhão Branco, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

OLGA DE AMARAL

OLGA DE AMARAL


Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris
CLÃUDIA HANDEM

ERWIN WURM

ERWIN WURM. A 70TH-BIRTHDAY RETROSPECTIVE


Albertina Modern, Viena
CONSTANÇA BABO

BARBARA CRANE

BARBARA CRANE


Centre Pompidou, Paris
PAULO ROBERTO

FRANCIS BACON

HUMAN PRESENCE


National Portrait Gallery, Londres
THELMA POTT

TINA BARNEY

FAMILY TIES


Jeu de Paume (Concorde), Paris
CLÃUDIA HANDEM

JONATHAN ULIEL SALDANHA

SUPERFÃCIE DESORDEM


Galeria Municipal do Porto, Porto
SANDRA SILVA

ARQUIVO:


NAN GOLDIN

INTIMIDADES EM FUGA. EM TORNO DE NAN GOLDIN




MAC/CCB - MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA
Praça do Império
1449-003 Lisboa

24 OUT - 31 AGO 2025

O perfume intenso da vida

 

 

Intimidades em fuga. Em torno de Nan Goldin é o título da exposição multimédia (pintura, escultura, fotografia e vídeo) que está patente no CCB até 31 de agosto de 2025.

A mostra que inclui 66 obras de 36 artistas, (entre os quais Cindy Sherman e Rineke Dijkstra) e que tem por base a coleção Holma/Ellipse (iniciada pelo falecido banqueiro João Rendeiro e reunida por vários comissários, entre os quais Manuel E. González, com ligações à coleção do banco JP Morgan Chase) entre outras, transporta o público para um percurso em que “é convidado a interpretar a intimidade como uma experiência compartilhada e em fluxo” [1].

Neste artigo iremos focar-nos, essencialmente, nas 126 fotografias de Nan Goldin, agora em exibição, e que fazem parte da série de 700 imagens intitulada “The Ballad of Sexual Dependency”, projecto editado em livro (e vídeo) pela primeira vez em 1986, e que é “um diário visual que relata as lutas pela intimidade e compreensão entre os amigos e amantes que Goldin descreve como a sua tribo” [2].

 

Nancy Goldin (n. 1953)

Originária duma família judia de classe média, Goldin nasceu em Washington D.C., mas foi criada nos subúrbios de Boston. Embora marcada pelo suicídio da irmã mais velha, Goldin começa a fotografar aos 15 anos de idade, como forma de documentar o seu mundo pessoal, a sua interioridade, e o mundo que a rodeia. Em 1968 frequenta a Satya Community School, uma escola experimental e progressista de Boston, e entre 1974 e 1977 inscreve-se na conhecida School of the Museum of Fine Arts na Tufts University, uma das instituições mais prestigiadas dos Estados Unidos no campo das artes visuais. É a partir desta altura que Goldin inicia o seu percurso fotográfico inspirado pelo desejo de fotografar aspectos como a intimidade e a autenticidade entre as pessoas. Em 1978 Goldin muda-se para Nova Iorque, onde começa a explorar as subculturas urbanas. O projecto The Ballad of Sexual Dependency terá sido iniciado nessa altura.

Este projeto, que se tornou um marco na fotografia contemporânea, documenta a vida quotidiana de Goldin e do seu ‘universo’ pessoal — amigos, amantes e conhecidos — numa vertigem sequencial de imagens cruas e íntimas. “A câmara faz tanto parte do meu quotidiano como falar, comer ou fazer sexo”, terá afirmado Nan Goldin, e esta série reflete fielmente a vida da artista. As suas fotografias são cruas e directas (o uso de um flash na própria câmara revela uma quase ausência de técnica elaborada) e mostram as festas, os amantes, a dor, a dependência das drogas e também os momentos de pura vulnerabilidade, expondo o dia-a-dia de Goldin, mas também dos “meios ligados às drogas pesadas e a subcultura gay e drag do bairro de Bowery, onde morava.” [3]

 

O vulcão cultural Nova-iorquino dos 80’s

Andy Warhol, Jean-Michel Basquiat e Keith Haring por exemplo, eram, no início dos anos 80’s, alguns dos maiores ícones duma Nova Iorque que se tornara o epicentro de artistas emergentes e dos movimentos culturais efervescentes. No entanto, Goldin não pertencia a estes grupos mais exclusivos, influenciados pela estética iniciada por Warhol nos anos 60’s (continuado com o famoso estúdio Factory durantes as décadas seguintes), até porque o seu estilo documental e cru contrasta com a abordagem mais comercial da Pop Art.

Apesar de tudo Nan Goldin admitia ser influenciada por alguns fotógrafos, embora reconhecesse o seu distanciamento. “Eu conhecia os fotógrafos que estavam a fazer coisas relacionadas com os media, desde Cindy Sherman, cujo trabalho adoro, a Sherrie Levine e Laurie Simmons e todos os outros”, (…)” mas nunca fiz parte de nenhum movimento e nunca li teoria. Acho que isso foi benéfico para mim.”, afirmou Goldin. [4]

O trabalho de Nan Goldin tem alguns pontos de contacto com outros grandes nomes: ocorre-me de imediato Diane Arbus, pela crueza do tema humano e dos que estão nas franjas da sociedade, ou Wolfgang Tillmans e a sua abordagem intimista em que o pessoal e o político se misturam, ou Ryan McGinley muitas vezes chamado de herdeiro Goldin, com a sua visão sensível, libertadora e intimista duma juventude rebelde, ou até William Eggleston pelo uso da cor de forma vibrante e quotidiana cheia de espessura emocional.

 

Da fotografia documental para os grandes museus

Desde sempre me interroguei sobre como um trabalho mais próximo do fotojornalismo, se viu catapultado para a esfera da arte contemporânea e com exposições nos mais conhecidos museus do mundo como o Whitney Museum of American Art, o MoMA, Centre Pompidou, Tate Modern, Museu Reina Sofía ou o Guggenheim Museum (Nova Iorque e Bilbao), só para citar alguns. Ao abandonar padrões considerados ‘normais, o trabalho pouco convencional de Nan Goldin (no que são os modelos mais comuns da arte contemporânea), passa por uma estética que privilegia a autenticidade e a visceralidade, mais do que o ‘belo’. A abordagem do género ‘diário pessoal’, criado com base em fotografias cruas e espontâneas, são mais um reflexo emocional imediatista e menos uma criação pensada a partir de uma ideia.

Ao não ter uma preocupação tecnicista do seu trabalho, Goldin opta pela espontaneidade, criando uma ligação do espectador com as suas histórias pessoais e desconcertantes.

A linha documental e de crónica de um certo bas-fond cultural, confere ao trabalho de Goldin, por outro lado, uma relevância que ultrapassa essa mesma génese. A combinação da autenticidade, impacto emocional e documento sociopolítico faz de Goldin um nome incontornável.

O seu trabalho assume, assim, esse potencial em que a arte se torna um meio de transformação e conotação com o nosso mundo.

 

 

 

Paulo Roberto
Mestrando em Ciências da Comunicação – Comunicação e Artes, pela FCSH – Nova, Lisboa, é fotógrafo profissional e professor de fotografia há mais de 30 anos. Possui um bacharelato em Relações Públicas e Publicidade pelo Instituto Superior de Novas Profissões (Lisboa). Estudou na conceituada University College for Creative Arts, em Rochester, Reino Unido (Master degree in Arts & Photography), e é diplomado por várias escolas e academias internacionais de fotografia (França, Espanha, Suíça e Estados Unidos). Foi professor e coordenador de pós-graduações em fotografia no ISLA (Instituto Superior de Línguas e Administração) e em várias outras instituições, durante mais de 25 anos. Publicou 7 livros entre 1989 e 2022, e assinou dezenas de artigos em periódicos da especialidade. É membro do ICP (International Centre of Photography, New York) e da MEP (Maison Européenne de la Photographie, Paris).

 

 

 


 

 

 

:::

 

Notas

[1] Do texto de apresentação do MUSEU DE ARTE CONTEMPORÂNEA MAC/CCB.
[2] Da apresentação do livro, Amazon.com.
[3] kadist.org
[4] www.moma.org

 



PAULO ROBERTO