Links

EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Erwin Wurm, Ego and Super Ego (2007). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Erwin Wurm, Director Kneeling (serie As Bolsas) (2023). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Constança Babo


Erwin Wurm, série Dreamer (2024). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Erwin Wurm, série Neuroses (2024). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Vista da exposição Erwin Wurm. A 70th-Birthday Retrospective, Albertina Modern, 2024-25. © Robert Bodnar


Erwin Wurm, Self-Portrait as Pickles(2008). Vista da exposição, Albertina Modern. © Constança Babo

Outras exposições actuais:

JORGE GALINDO

BLACK PAINTINGS


Galeria Duarte Sequeira, Braga
THELMA POTT

JOANA VASCONCELOS

TRANSCENDING THE DOMESTIC


MICAS — Malta International Contemporary Arts Space,
CATARINA REAL

JOSÉ LOUREIRO

O DEFEITO PERFEITO


Galeria Fernando Santos (Porto), Porto
RODRIGO MAGALHÃES

JOANA VILLAVERDE

MY PLEASURE


Galerias Municipais - Pavilhão Branco, Lisboa
JOANA CONSIGLIERI

OLGA DE AMARAL

OLGA DE AMARAL


Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris
CLÃUDIA HANDEM

NAN GOLDIN

INTIMIDADES EM FUGA. EM TORNO DE NAN GOLDIN


MAC/CCB - Museu de Arte Contemporânea, Lisboa
PAULO ROBERTO

BARBARA CRANE

BARBARA CRANE


Centre Pompidou, Paris
PAULO ROBERTO

FRANCIS BACON

HUMAN PRESENCE


National Portrait Gallery, Londres
THELMA POTT

TINA BARNEY

FAMILY TIES


Jeu de Paume (Concorde), Paris
CLÃUDIA HANDEM

JONATHAN ULIEL SALDANHA

SUPERFÃCIE DESORDEM


Galeria Municipal do Porto, Porto
SANDRA SILVA

ARQUIVO:


ERWIN WURM

ERWIN WURM. A 70TH-BIRTHDAY RETROSPECTIVE




ALBERTINA MODERN
Karlsplatz 5
1010 Viena

13 SET - 09 MAR 2025

O universo do absurdo de Erwin Wurm, no Albertina Modern

 

 


Queria estudar pintura, mas, por coincidência, tornei-me escultor.
Então, comecei a pensar sobre o que a escultura poderia ser hoje.
Isso conduziu-me à pesquisa do vazio, da virtualidade, do volume,
qualidades básicas da escultura.

Erwin Wurm

 

 

Erwin Wurm, artista austríaco reconhecido e apreciado internacionalmente, é celebrado na ocasião do seu 70º aniversário pelo Albertina Modern, em Viena, com uma retrospetiva abrangente composta por obras datadas de 1980 a 2024, algumas das quais foram concebidas propositadamente para a ocasião. Assim se expõe o que consiste num longo e notável percurso artístico, a visitar até ao dia 9 de março de 2025.

Tendo-se dirigido à University of Applied Arts Vienna para estudar pintura, foi encaminhado para a escultura, desvio este que resultou na transfiguração do pictórico em “Flat Sculptures” (esculturas planas) e na tridimensionalidade da cor e da linguagem escrita. O desenho manteve-se fundamental para Wurm, surgindo sob os mais diversos modos e formatos, com o uso de lápis, cera, esferográfica e aguarela.

Deste modo, o artista cedo combinou a pintura e a escultura, sendo que mesmo quando dedicado a explorar a segunda prática, com materiais tais como a madeira e o metal, cobria as superfícies com layers de tinta, concedendo-lhes renovadas visualidade e plasticidade. É, pois, sobretudo sob a forma de esculturas, mas também de alguns desenhos, instruções, vídeos e fotografias, que Erwin Wurm, entre a abstração e a figuração, convida o público a refletir sobre os paradoxos e absurdos do mundo contemporâneo.

Como se explica na exposição do Albertina Modern, o processo criativo de Wurm consiste em materializar, em objetos, as coisas mentais. Assim o personifica “Mind Bubble Walking” (2024), obra composta por um par de pernas onde assenta um balão representativo do pensamento, tal como é próprio do universo da banda desenhada. O artista explora, justamente, a mente humana bem como as principais questões que o preocupam e ocupam: os confrontos entre o sujeito e o mundo, entre a imaginação e o real.

 

Erwin Wurm, Mind Bubble Walking, 2024. © Erwin Wurm / Bildrecht, Wien 2024. Foto: Markus Gradwohl

 

É transversal à obra de Wurm a problematização da atualidade e do que constitui o contemporâneo. Entre o capitalismo, a moda, a educação, ou o self, o artista convoca e discute os mais diversos domínios da contemporaneidade. Um descapotável vermelho, “Fat Convertible” (2005), simboliza a ganância, o excesso e o fetichismo da mercadoria na sociedade atual. Já uma escola rural, “School” (2024), expõe e condena a limitação e a opressão do pensamento burguês e a determinação de normas e convenções sociais por parte da religião.

Testemunha-se, então, que a escultura serve a Wurm enquanto ferramenta de questionamento e medida de avaliação do presente. Simultaneamente, o artista expande essa que é uma das mais tradicionais práticas artísticas. Através de diferentes abordagens e linguagens, atribui novos sentidos à escultura, intervindo tanto ao nível da sua estética formal quanto do seu conteúdo.

Sob este desígnio, de estender os limites do escultórico, Wurm averigua até que ponto o volume, a massa, o peso, o tamanho, a forma e o espaço podem ser reconfigurados. Para tal, recorre sobretudo a roupas, na medida em que peça a peça, camada a camada, alteram-se quaisquer proporções e escalas sem interferir com a base, o corpo.

Já numa redução mais radical do volume visível, operam as “Dust Sculptures”, nas quais somente se detetam contornos de objetos, inscritos por poeiras. É convocada, deste modo, a efemeridade do objeto artístico e discutidos os lugares do artista e da obra de arte.

O mesmo é problematizado com as “One Minute Sculptures”, que emergem de instruções fornecidas ao público. Este trabalho segue-se ao projeto “Do it”, de Hans Ulrich Obrist, no qual Wurm participou em 1995 e cuja finalidade fora, precisamente, a disseminação de indicações para a produção de esculturas elementares, instigando uma ativa, participativa e interativa circulação da criação artística. Questiona, igualmente, a reprodutibilidade e, com ela relacionadas, a singularidade e a originalidade da obra de arte.

 

Erwin Wurm, Psyche (As You Like It), 2024. © Erwin Wurm / Bildrecht, Vienna 2024. Foto: Markus Gradwohl

 

Com efeito, em Wurm destaca-se o modo como as fronteiras entre escultura e pintura se tornam esbatidas e diluídas, e como os objetos conquistam uma certa performatividade na medida em que, embora fixos, são dotados de um certo movimento, são vivos. Tome-se como exemplo a série “As bolsas”, com pernas longas e finas que parecem deslocar-se, ajoelhar-se e posar. Conceptualmente, remetem para o quotidiano dos dias de hoje, apontando-lhe as suas excentricidades e banalidades. “Director Kneeling”, por sua vez, desvaloriza um cargo social elevado e “Ego and Super Ego” (2007) surgem ridicularizados sob a forma de duas elipses tridimensionais anexadas e adornadas com uma camisola. 

Como se indica na exposição, Wurm subverte as percepções da realidade e questiona como se comportam os corpos e os espaços na esfera do absurdo, onde opera o paradoxal. Deste modo, a sua obra é tão crítica quanto humorística e um auto-retrato pode surgir sob a forma de um conjunto de pickles, “Self-Portrait as Pickles” (2008). Ao mesmo tempo, o pepino de conserva é representativo dos hábitos alimentares tradicionais austríacos e da cultura dos snacks incentivada pela indústria alimentar. Além disso, como o artista refere, "embora cada pepino seja individualmente diferente é imediatamente identificável como pepino, classificado enquanto tal, tal como um ser humano".

 

Erwin Wurm, Dreamer on Knees, 2024. Collection Guido Maria Kretschmer and Frank Mutters. © Erwin Wurm / Bildrecht, Vienna 2024. Foto: Markus Gradwohl
 


O humano é, sem dúvida, central na obra de Wurm, tanto como corpo físico, mesmo que somente discernível por superfícies e texturas de materiais, quanto como matéria mental. Relativas à mente, refiram-se as séries “Dreamer” e “Neuroses”, a última das quais remetendo para perturbações mentais tais como a ansiedade e sendo constituída por peças de roupa. Ocorre que, para Wurm, a roupa funciona como uma segunda pele, a dois níveis: por um lado, abriga o corpo físico e, por outro lado, protege o sujeito do mundo, como se de um escudo se tratasse. Subjacente está também a crítica ao lema "a roupa faz o homem".

Ora, embora podendo admitir-se a fragilidade dessa premissa, também é verdade que se poderá afirmar que “a obra faz o artista”. Observo isso mesmo em Erwin Wurm, cuja obra se traduz numa pertinente e arrojada produção, em simultaneidade com um atual, singular e distinto artista.

 

 


Constança Babo

(Porto, 1992) é crítica de arte e membro da AICA Portugal. É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona, mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Realizou, igualmente, os cursos Curating New Media Art e Redefining Museums: Curatorial Theory and Practice for a New Era, no Node Center – Curatorial Studies Online, e Questions of Judgement, na Universität der Kunst Berlin. Foi research fellow no projeto internacional BEYOND MATTER, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e colaborou como investigadora no projeto MODINA, na Tallinn University. Também publica artigos científicos.



CONSTANÇA BABO