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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Cildo Meireles, “Fontesâ€, 1992/2008. 300 cm x 600 cm x 600 cm. Cortesia: Cildo Meireles


Cildo Meireles, “Red Shift I. Impregnationâ€, 1967- 84. 300 cm x 1000 cm x 500 cm. Colecção Inhotim Centro de Arte Contemporânea, Minas Gerais, Brasil


Cildo Meireles, “Virtual Spaces: Cornersâ€, 1968. 32 x 23 cm. Cortesia: Cildo Meireles. Colecção Luisa Malzoni Strina


Cildo Meireles, “Glove trotterâ€, 1991. 520 x 420 cm. Cortesia: Cildo Meireles, Daros-Latinamerica


Cildo Meireles, “Babelâ€, 2001. 500 cm x 300 cm. Cortesia: Cildo Meireles

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ARQUIVO:


CILDO MEIRELES

Cildo Meireles




TATE MODERN
Bankside
London SE1 9TG

14 OUT - 11 JAN 2009

O corpo cerebral

Um mundo que se estilhaça (realmente) sob o peso dos nossos passos e onde peixes translúcidos dentro de um aquário não podem servir de âncora, ainda que escorregadia, ao nosso equilíbrio físico e mental: “Atravésâ€, de 1983-9, é uma das experiências possíveis na viagem sensível à retrospectiva de Cildo Meireles, no 4° andar da Tate Modern, em Londres.

Poderíamos dizer que o céu e outras exposições podem esperar... após a visita aos painéis finais de Rothko, na outra ala do Museu porque saímos impregnados de cor-matéria (crepuscular entre cinzas e castanhos na série de murais “The Seagramâ€, 1968) até que Cildo nos transporta para um outro cosmos feito de díspares aventuras. O artista brasileiro considerado um dos grandes impulsionadores da arte conceptual no seu país, alia nas suas obras o lado físico do filho de um defensor dos direitos dos índios (viajou durante grande parte da sua infância, acompanhando o seu pai por Curitiba), à dimensão mental do seu confronto com o tempo e com o quebrar do tempo (em “Fontes, dedicada a Alfredo Fontesâ€, 1998-2008), do seu confronto com o sangue primordial ( em “Red Shift I. Impregnationâ€, 1967- 84). Os materiais que utiliza são ecléticos, tal como a sua obra não é homogénea, nem conceptual de forma estrita.

O percurso proposto por Guy Brett e Vicente Todolí privilegia as instalações artísticas, que apesar de serem de grandes dimensões não eclipsam os trabalhos de outra escala, infinitamente mais pequena, que se encontram sabiamente distribuídos pelo espaço.

A instalação artística como diria Boris Groys é a mais material das obras de arte, porque é uma obra espacial e é aquela que mostra o lado material da sociedade em que vivemos, porque “instala†o que normalmente circula. É a arte material, e passar deste lado de ocupação de um espaço físico para um espaço virtual mental, extremamente forte, é a característica fundamental das instalações de Cildo Meireles. Se o material corporiza algo no espaço, o conceptual abstrai desse espaço em que entramos fisicamente.

A exposição começa de forma clássica diríamos, cronológica, com as obras do autor que datam dos anos 60. “Espaços virtuais: Cantos†(1967-8), que explora os princípios euclideanos de espaço, porém em grande escala, num espaço doméstico (quarto ou sala com as cores do hemisfério sul) em que os quatro cantos da parede parecem permitir uma viagem para além do ângulo; logo nesta obra se começa a suspeitar da possibilidade da sombra atravessar a parede; depois seguem-se as “Condensados†(1970), que são miniaturas de obras já realizadas pelo artista, numa escala liliputiana. São obras que se podem usar como um anel: “Condensado I Deserto, Condensado II – Mutações Geográficas: Fronteira Rio/São Pauloâ€. “Inserções em Jornais†(1969-70), ou a maneira de entrar dentro da censura da ditadura militar no Brasil que durou de 1964 a 1985. “Cruzeiro do Sul†(1969-70), uma obra contra a simplificação imposta pelos missionários, sobretudo jesuítas, relativamente à cosmogonia dos índios Tupi.

Depois entramos nas “Inserções em Circuitos Antropológicos†(1971) e nas suas obras em torno do dinheiro: cruzeiros versus dólares – a grande escala de comparação e dicotomia monetária do povo brasileiro. E ao fundo do segundo espaço expositivo podemos entrar no “Desvio para o Vermelho†(1967-1984), um espaço único em vermelho, chão, cadeiras, mesas, frigorífico, comida, televisão, posters e uma passadeira de sangue que desliza de uma torneira no interior de um espaço escurecido e que verte, verte, verte infinitamente no nosso espaço mental buñueliano: vermelho.
O peixe que é o mensageiro de Cildo Meireles e que transporta o corpo físico para o interior da nossa psique desta vez tinha essa cor.

Há depois o tempo que entra dentro de nós e com que nos confrontamos, incontáveis fitas de números que marcam as horas, e cujos números se perdem pelo chão, e os relógios que rodeiam este espaço cego e que marcam o seu silêncio audível (lembro-me da imersão na banheira da heroína do filme com o nome homólogo de Ingmar Bergman); é a magnifica instalação “Fontes, dedicada a Alfredo Fontesâ€, de 1998-2008.

“Glovetrotterâ€, de 1991, é uma metáfora ao índio moderno, às suas metrópoles e ao cosmos ficcional em que vivemos. Ficam ainda muitas obras por descrever e para quem poder ir descobrir nesta excelente exposição de Cildo Meireles, uma das mais interessantes mostras domomento na capital britânica.



Sílvia Guerra