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CILDO MEIRELESCildo Meireles![]() TATE MODERN Bankside London SE1 9TG 14 OUT - 11 JAN 2009 ![]() O corpo cerebral![]() Um mundo que se estilhaça (realmente) sob o peso dos nossos passos e onde peixes translúcidos dentro de um aquário não podem servir de âncora, ainda que escorregadia, ao nosso equilÃbrio fÃsico e mental: “Atravésâ€, de 1983-9, é uma das experiências possÃveis na viagem sensÃvel à retrospectiva de Cildo Meireles, no 4° andar da Tate Modern, em Londres. PoderÃamos dizer que o céu e outras exposições podem esperar... após a visita aos painéis finais de Rothko, na outra ala do Museu porque saÃmos impregnados de cor-matéria (crepuscular entre cinzas e castanhos na série de murais “The Seagramâ€, 1968) até que Cildo nos transporta para um outro cosmos feito de dÃspares aventuras. O artista brasileiro considerado um dos grandes impulsionadores da arte conceptual no seu paÃs, alia nas suas obras o lado fÃsico do filho de um defensor dos direitos dos Ãndios (viajou durante grande parte da sua infância, acompanhando o seu pai por Curitiba), à dimensão mental do seu confronto com o tempo e com o quebrar do tempo (em “Fontes, dedicada a Alfredo Fontesâ€, 1998-2008), do seu confronto com o sangue primordial ( em “Red Shift I. Impregnationâ€, 1967- 84). Os materiais que utiliza são ecléticos, tal como a sua obra não é homogénea, nem conceptual de forma estrita. O percurso proposto por Guy Brett e Vicente Todolà privilegia as instalações artÃsticas, que apesar de serem de grandes dimensões não eclipsam os trabalhos de outra escala, infinitamente mais pequena, que se encontram sabiamente distribuÃdos pelo espaço. A instalação artÃstica como diria Boris Groys é a mais material das obras de arte, porque é uma obra espacial e é aquela que mostra o lado material da sociedade em que vivemos, porque “instala†o que normalmente circula. É a arte material, e passar deste lado de ocupação de um espaço fÃsico para um espaço virtual mental, extremamente forte, é a caracterÃstica fundamental das instalações de Cildo Meireles. Se o material corporiza algo no espaço, o conceptual abstrai desse espaço em que entramos fisicamente. A exposição começa de forma clássica dirÃamos, cronológica, com as obras do autor que datam dos anos 60. “Espaços virtuais: Cantos†(1967-8), que explora os princÃpios euclideanos de espaço, porém em grande escala, num espaço doméstico (quarto ou sala com as cores do hemisfério sul) em que os quatro cantos da parede parecem permitir uma viagem para além do ângulo; logo nesta obra se começa a suspeitar da possibilidade da sombra atravessar a parede; depois seguem-se as “Condensados†(1970), que são miniaturas de obras já realizadas pelo artista, numa escala liliputiana. São obras que se podem usar como um anel: “Condensado I Deserto, Condensado II – Mutações Geográficas: Fronteira Rio/São Pauloâ€. “Inserções em Jornais†(1969-70), ou a maneira de entrar dentro da censura da ditadura militar no Brasil que durou de 1964 a 1985. “Cruzeiro do Sul†(1969-70), uma obra contra a simplificação imposta pelos missionários, sobretudo jesuÃtas, relativamente à cosmogonia dos Ãndios Tupi. Depois entramos nas “Inserções em Circuitos Antropológicos†(1971) e nas suas obras em torno do dinheiro: cruzeiros versus dólares – a grande escala de comparação e dicotomia monetária do povo brasileiro. E ao fundo do segundo espaço expositivo podemos entrar no “Desvio para o Vermelho†(1967-1984), um espaço único em vermelho, chão, cadeiras, mesas, frigorÃfico, comida, televisão, posters e uma passadeira de sangue que desliza de uma torneira no interior de um espaço escurecido e que verte, verte, verte infinitamente no nosso espaço mental buñueliano: vermelho. O peixe que é o mensageiro de Cildo Meireles e que transporta o corpo fÃsico para o interior da nossa psique desta vez tinha essa cor. Há depois o tempo que entra dentro de nós e com que nos confrontamos, incontáveis fitas de números que marcam as horas, e cujos números se perdem pelo chão, e os relógios que rodeiam este espaço cego e que marcam o seu silêncio audÃvel (lembro-me da imersão na banheira da heroÃna do filme com o nome homólogo de Ingmar Bergman); é a magnifica instalação “Fontes, dedicada a Alfredo Fontesâ€, de 1998-2008. “Glovetrotterâ€, de 1991, é uma metáfora ao Ãndio moderno, à s suas metrópoles e ao cosmos ficcional em que vivemos. Ficam ainda muitas obras por descrever e para quem poder ir descobrir nesta excelente exposição de Cildo Meireles, uma das mais interessantes mostras domomento na capital britânica. ![]()
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