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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Hans Schabus, Culturgest, 2011. Maquete em k-line. // Astronaut [Astronauta], 2003. Casaco de trabalho. Cortesia: artista e de Kerstin Engholm Galerie, Viena.


Hans Schabus, Atelier, 2010. Vídeo HD mono canal transcrito para Blu-ray, PAL, 16:9, cor, som, 9’28’’ (loop). Cortesia do artista e de Kerstin Engholm Galerie, Viena.


Hans Schabus, Atelier, 2010. Vídeo HD mono canal transcrito para Blu-ray, PAL, 16:9, cor, som, 9’28’’ (loop). Cortesia do artista e de Kerstin Engholm Galerie, Viena.


Hans Schabus, Welt [Mundo], 2007. Selos, folhas de arquivo, molduras de alumínio.


Hans Schabus, Über das Prinzip Hoffnung beim Schachten [Sobre o princípio da esperança no acto de escavar um poço], 2003. Escadaria de madeira.

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ARQUIVO:


HANS SCHABUS

O espaço do conflito




CULTURGEST
Edifício Sede da Caixa Geral de Depósitos, Rua Arco do Cego
1000-300 Lisboa

02 JUL - 18 SET 2011


Desde que Miguel Wandschneider assumiu a direcção artística da programação das exposições da Culturgest que o visitante habitual deste espaço foi forçado a confrontar-se com as suas próprias noções (em alguns casos já seladas) de modernismo e formalismo na forma como são abordadas pela e na produção actual. Quase toda a programação tem-se situado em torno de um tipo de programa artístico centrado em grande medida na problemática inerente à sua própria produção e apresentação no contexto museológico e expositivo.

Nesse sentido, a actual exposição de Hans Schabus surge de forma quase natural. Pela primeira vez em território nacional, é possível ver o trabalho do artista austríaco na exposição intitulada O espaço do conflito na Culturgest, em Lisboa. Schabus representou o seu país de origem na Bienal de Veneza de 2005 e tem sido alvo de interesse e reconhecimento crescentes.

Hans Schabus trabalha sobre o que o rodeia mas não é um “post-studio artist”. Não responde apenas às idiossincrasias e desafios propostos pelos próprios espaços que ocupa, pelo contrário, as suas propostas são site-specific mas o autor usa o seu atelier como ponto de partida para uma pesquisa em torno da própria prática artística, seja ela a partir de referências ou dos processos mentais e metodológicos que desde sempre foram usados por artistas no “recolhimento” do seu espaço de trabalho.

Brancusi, o autor de Endless Column tornou-se curador do seu próprio trabalho no local onde foi concebido e materializado: o seu estúdio. Em 2003, Hans Schabus apresentou uma maqueta em tamanho real do seu próprio atelier. A citação ao trabalho de Brancusi suscita uma dupla questão: por um lado, a especificidade espacial da apresentação de um trabalho escultórico e, por outro, uma característica que serve de metáfora à investigação do próprio artista... a pesquisa que não tem fim, tal como a coluna que é um objecto escultórico que é infinito, transpondo uma das características de uma escultura: ocupar um determinado volume no espaço.

Assim sendo, o artista acaba por pensar hoje o espaço expositivo como parte integrante da problemática, não para simplesmente questionar esse mesmo espaço institucional, mas para partir do mesmo como matéria moldável e moldadora de ideias e conceitos que nele são mostrados. Enquanto espaço fundador de conceitos, activa tudo o que nele é inserido. Talvez só exista um local mais místico do que o atelier: o museu. Hans Schabus serve-se do poder destes espaços para recorrentemente avançar e recuar sobre a linha entre o teatral, o propositado e o casual.

Na Culturgest é possível ver um vídeo seu intitulado Atelier, no qual imagens feitas a partir do seu atelier são conjugadas com a banda sonora do final do filme Wild Bunch de Sam Peckinpah. Imagens do exterior e da área circundante ao atelier vão-se cruzando com planos do interior e, apesar de a sequência se intensificar, é evidente a calma que reina tanto no exterior como no interior do espaço do atelier, tornando o vídeo num thriller forçado.

Numas das salas pode ver-se um conjunto de peças compostas por selos. Welt (Mundo) é um conjunto de selos do próprio artista cujo critério de exposição e arranjo nada tem a ver com as nações de onde os selos provêm. Estão simplesmente organizados por cor, numa subversão irónica e quase perversa de noções pré-concebidas que servem a composição de colecções e a organização geopolítica. Noutra peça, Übriggeblieben (Welt) (Resto do Mundo), os selos estão voltados para a parede impossibilitando o seu visionamento e, em última análise, o mesmo esquema de organização. A terceira peça intitula-se Leer(Welt) , (Vazio). Talvez constituam álbuns de selos vazios? Há um permanente auto-boicote às metáforas propostas, como se o artista testasse os limites dessas mesmas metáforas e da nossa crença enquanto espectadores no valor simbólico das peças e dos materiais que as compõem.

Em Über Das Prinzip Hoffnung beim Schachten (Sob o principio da esperança no acto de escavar um poço), Schabus alude novamente à ideia de processo, de fé e, tendo em conta que a peça é uma escadaria em caracol retirada da casa dos seus pais, alarga o alcance da obra a um leque alargado de hipóteses e contradições de foro pessoal, como se deliberadamente o artista ocultasse do espectador uma parte da “resolução” da peça. Também a fotografia intitulada Rio Tejo, Lisboa, 26 de Junho de 2011 tem uma ligação a um anterior trabalho do artista onde navegou os canais dos esgotos de Viena numa aparente referência ao trabalho de Bas Jan Ader In Search of the Miraculous, um título apropriado a uma procura que tem tanto de racional como de absurdo.

Sobre o que já foi dito é de salientar a presença de Astronaut (Astronauta) e Culturgest, duas peças que se tocam, aliás astronauta é um casaco de operário com marcas de uso e tinta (casaco de trabalho do artista?) e Culturgest é uma maquete apoiada na parede, onde repousa o casaco anteriormente referido... Numa exposição anterior na Secessão de Viena, Schabus apresentou uma peça com o título Astronauta numa referência aos limites espaciais que são o objecto de pesquisa tanto do artista (Yves Klein, Le Saut dans le Vide) como do astronauta. Aqui o casaco do trabalhador e o título da peça repousam sobre a maquete do espaço expositivo que constitui também ele matéria passível de ser reinterpretada e albergar o trabalho do escultor... neste caso um artista que na sua definição clássica, se ocupa primeiramente do espaço.

O trabalho de Hans Schabus é pejado de referências que acrescentam camadas e sentidos às obras. Mais do que as homenagens que possam suscitar, são matéria prima para a construção de metáforas. O seu trabalho vive no espaço e do espaço, seja este físico, teatral ou metafórico, mas são sobretudo os espaços por onde se movimenta o artista – o atelier, o museu – que são a matéria prima para as suas peças.


Bruno Leitão