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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Installation view, Felix Gonzalez-Torres at David Zwirner New York, 2017. © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


Installation view, Felix Gonzalez-Torres at David Zwirner New York, 2017. © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


“Untitled†(Placebo-Landscape-for Roni), 1993. Sammlung Hoffmann, Berlin © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


“Untitled†(Perfect Lovers), 1987-1990. Wall clocks. © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


“Untitled†(Ross), 1991. Collection Karen and Andy Stillpass © The Felix Gonzalez-Torres Foundation. Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


“Untitled†(Loverboy), 1989. Private Collection, New York © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London


“Untitled†(Water), 1995. The Baltimore Museum of Art © The Felix Gonzalez-Torres Foundation Courtesy Andrea Rosen Gallery, New York and David Zwirner, New York/London

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FELIX GONZALEZ-TORRES

FELIX GONZALEZ-TORRES




DAVID ZWIRNER - 20TH STREET
537 West 20th Street


27 ABR - 14 JUL 2017

UNTITLED (TITLE)

Há artistas e exposições que nos marcam por razões que muitas vezes não entendemos. Isto não será eventualmente o caso desta exposição nem do artista em questão. São inúmeros os motivos que me marcaram nesta exibição do artista Félix González-Torres na David Zwirner em Nova Iorque, e creio ser capaz de enumerar quase todas, se bem que não vou naturalmente conseguir fazê-lo apenas neste texto.

Félix González-Torres nasceu em Cuba em 1957 e nacionalizou-se nos Estados Unidos após 1971 depois de se mudar para Nova Iorque. Iniciou os seus estudos em Porto Rico, prosseguindo com diversos programas em Nova Iorque onde também tirou o Bacharelato no Pratt Institute e mais tarde um Masters em Fotografia na Universidade de Nova Iorque. Começou a expor individualmente em 1988 e realizou o seu primeiro trabalho da série Billboard, “Untitled” em 1989 pela ocasião do vigésimo aniversário da revolta do Stonewall (Hoje monumento nacional nos Estados Unidos). A Andrea Rosen Gallery, que hoje coapresenta esta exposição com David Zwirner inaugurou o seu espaço em Nova Iorque em 1990 com uma exposição individual do artista.

Rosen, em Fevereiro deste ano, enviou um comunicado a imprensa a dizer que deixaria de apresentar artistas no formato convencional que tinha adaptado nos últimos 27 anos e que se iria dedicar exclusivamente à apresentação do património e espólio de artistas já falecidos. Destacou também nesta comunicação a parceria com David Zwirner para a representação do espólio de González-Torres em Nova Iorque e Londres.

Esta exposição que inaugurou dia 27 de Abril em Nova Iorque, é a primeira exposição retrospetiva do artista no novo edifício da David Zwirner no número 537 West da 20th Street, e debuta precisamente esta parceria dos dealers neste formato de co representação do seu legado.

Este edifício da David Zwirner é extraordinário em termos arquitetónicos, muito mais que um simples espaço de apresentação, mas uma espécie de “headquarters” da marca, e que tem acolhido exposições de inigualável qualidade e que muitas das vezes transpõem a convencional exibição de objetos de arte para venda, alcançando um caráter mais museológico e de exibição histórica; embora isto possa soar um pouco exagerado, não o é, quando deambulamos pelos dois pisos de exposição com distintas salas de diferentes dimensões, onde a obra de González-Torres é disposta, relembrando-nos os diversos momentos na história e nas nossas vidas em que as suas obras nos disseram algo, enquanto indivíduos, e ao mundo como discurso político de descontentamento, revolta e indignação.

Tomei contato pela primeira vez com a obra de Félix González-Torres quando me encontrava no primeiro ou segundo ano na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, e uma colega me trouxe como presente da sua viagem a Londres um poster branco, com uma moldura a preto. Lembro-me que fiquei algo indignado, não compreendi o significado daquele poster, no entanto, este esteve na parede do meu quarto de estudante durante os restantes anos de estudo e ainda me seguiu para a minha primeira casa situada no Bairro Alto.

Aquela linha geométrica retangular a negro que emoldurava um espaço branco, representava e representa ainda hoje, uma ausência de significado, que pela sua simplicidade de infindas conotações, deixou eternamente em aberto um espaço de memória, que pode, e ainda hoje posso, preencher com tudo e mais alguma coisa que queira e queiramos considerar merecer uma moldura ou um espaço de relevo no nosso imaginário.

Esta lógica e mensagem de ausência, do corpo que esteve presente e que agora já não podemos ver porque algo ou alguém nos privou desse prazer, é um pouco o significante de todo o trabalho de González-Torres. Em todas as áreas desta exposição somos convidados a entrar num espaço de interseção entre a presença e a ausência, desafiados a partilhar a memória do artista e os desafios deste, sentimentos e ações, que nos podem ser mais ou menos familiares, mas que não nos deixam de forma alguma indiferentes.

Quase duas décadas após me desfazer do poster da moldura negra, encontrei-me perante uma pilha dos mesmos posters, que tal como na primeira vez que a obra foi apresentada, podem ser levados pelo público que visita a exposição. Sem nenhuma razão sentimental profunda, não trouxe nenhum dos posters disponíveis. Já me tinha encontrado perante esta situação em Dezembro em Miami, e o pensamento foi extremamente simples, apesar da vontade de possuir todos aqueles posters e um pouco da sua obra, as viagens que tinha que fazer de seguida, independentemente dos transportes, iam danifica-los, e de todos as vezes que os pude trazer, os deixei ficar.

Outras obras emblemáticas como os dois relógios sincronizados com a mesma hora, Untitled (Perfect Lovers) 1987-90 (que podem dessincronizar a qualquer momento temporariamente, mas nunca parar por completo a pedido expresso do artista), aos trabalhos, Untitled (Lover boy) 1989, cortinas de um tecido muito leve da cor azul claro que cobrem todas as janelas da galeria no primeiro piso, ou mesmo Untitled (Go-go Dancing Platform) 1991, em que durante uma determinada hora do dia, um bailarino dança com headphones músicas que apenas ele consegue ouvir, vestindo apenas uns boxers prateados; enaltecem justamente a ausência do corpo humano que já referi, e que apesar da abstração e minimalismo formal ou pictórico, exterioriza sempre uma presença constante através de uma sagaz iconografia que por vezes distante é desenhada por insinuação.

Há ainda obras como os desenhos, em que apesar de completamente distintas na matéria de composição, esta estética minimalista que venho a referir redescobre um pluralismo de conteúdos em que uma vez mais o apartamento do corpo, mediante a presença alegórica deste, associado a um titulo, Sem-titulo (título), se declara extremamente subtil, enquanto, e paradoxalmente, intenso.

Esta exposição, num espaço que arquitetonicamente é extremamente imponente, com linhas muito marcadas e materiais pesados, cimento e madeira maciça, é todo ele um pouco quebrado por esta espécie de obras habitadas pela inexistência do corpo físico, cuja ocupação e características, permitem apesar de tudo, que as obras respirem de forma fluída. A separar muitas das salas, foram instaladas algumas das suas últimas obras Untitled (Water) 1995, cortinas de cristais de plástico que enfatizam um ato de movimento e simultaneamente de passagem, como que a enunciar um final de percurso e um reinício de algo potencialmente novo.

Félix González-Torres morreu tragicamente muito jovem em 1996, com complicações derivadas ao seu debilitado sistema imunitário devido ao vírus da Sida. Por vezes, é quase que impossível não olhar para o seu trabalho e respetiva evolução e construção, através de uma lente evolutiva da crise da Sida e agremiada nefasta mortalidade.

Foram inúmeras as questões que Félix Gonzalez-Torres tentou colocar, numa altura em que o artista se questionava, eventualmente, o que mais se poderia ainda fazer na arte. Seguramente que havia, e ele fê-lo, revolucionando a cena artística de Nova Iorque nos anos 80 e 90.

Andrea Rosen divulgou recentemente uma carta que Félix González-Torres lhe escreveu em 1992, onde descrevia assim uma das suas pilhas de folhas, e curiosamente aquela que fez com que há cerca de vinte anos atrás o conhecesse, e que sumariza de forma exemplar a sua forma subtil de outorgar e conceder os seus objetos, a um público: “Isto será eventualmente a oportunidade de alterar a vida de alguém hoje e no futuro, um passaporte vazio para a vida… Um simples objeto branco de encontre a uma parede branca,… à espera.”

 

 



SÉRGIO PARREIRA