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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Werner Mahler, Fall of the Wall, Berlin, 1989, from the series 'November 9, 1989' © Werner Mahler/OSTKREUZ


Annette Hauschild, Wrapped Reichstag, the final night, Berlin, 1995 © Annette Hauschild/OSTKREUZ.


Harald Hauswald, Construction site at Potsdamer Platz, Berlin, looking east, 1994 © Harald Hauswald/OSTKREUZ


Annette Hauschild, Love Parade, 'Planet' truck, with Wotan Wilke Mohring (among others), Kurfurstendamm, Berlin, 1991


Sibylle Bergemann, Mauerbrache am Potsdamer Platz, Berlin, 1990 © Estate Sibylle Bergemann/OSTKREUZ


Thomas Meyer, from the series 'Tresor', Berlin, 2000 © Thomas Meyer/OSTKREUZ


Maurice Weiss, Chaos Computer Camp, Altlandsberg, Brandenburg, August 1999 © Maurice Weiss/OSTKREUZ

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OSTKREUZ

DREAM ON—BERLIN, THE 90S




C/O BERLIN
Hardenbergstraße 22–24
10623 Berlin

14 SET - 22 JAN 2025

Uma nova Berlim

 

 

A queda do Muro de Berlim foi um acontecimento de incomparáveis proporções, estrutural e constitutivo da identidade da cidade, e determinante da sua história. Aproximava-se o final do ano de 1989, e a nova década anunciou-se enquanto oportunidade para renascer. A ritmo veloz, iniciaram-se a reconstituição e a reunificação de uma Berlim dividida, fragmentada, que se reerguia enquanto capital da Alemanha.

É justamente sobre esse período, sobre os anos subsequentes à queda do Muro, que a C/O Berlin Foundation se debruça, através da exposição “Dream On — Berlin, the 90s”, com fotografias que revelam a Berlim da década de 90, uma cidade inebriada por um espírito de esperança e otimismo, e o desígnio de uma nova vida.

O Muro de Berlim fora o símbolo da Guerra Fria, da Cortina de Ferro, da guerra ideológica entre o Ocidente e o Leste, e a pertinência desta exposição não se pode atribuir somente à perpétua relevância histórica e político-social em causa. Hoje, vivemos um contexto de guerra em território europeu, de dimensões que não acreditávamos voltar a testemunhar. De novo, conflito, fracturação e rutura. Resta-nos ansiar pelo regresso à paz.

A exposição “Dream On — Berlin, the 90s”, exibida entre 14 de setembro e 22 de janeiro, assinala e celebra o 35º aniversário da queda do Muro. O extenso e valioso conjunto de registos fotográficos que a constituem é assinado por um grupo de fotógrafos da Alemanha de Leste que, em 1990, quando o Bloco de Leste se dissolveu, se reuniram enquanto coletivo, sob o nome OSTKREUZ. A atual mostra expõe exemplares dos quatro fundadores da agência, Sibylle Bergemann, Harald Hauswald, Ute Mahler e Werner Mahler, a par de Annette Hauschild, Thomas Meyer, Jordis Antonia Schlösser, Anne Schönharting e Maurice Weiss.

O projeto expositivo resulta, em parte, da estreita relação entre a OSTKREUZ e a C/O, consolidada inclusivamente na curadoria, partilhada entre um elemento de cada instituição, a fotógrafa Annette Hauschild e o curador Boaz Levin, respetivamente. Destaque-se, igualmente, a particular relevância que o coletivo de fotógrafos detém no contexto alemão.

A OSTKREUZ instituiu-se tendo como principal referência a reconhecida Magnum Photos [1], declarando o compromisso de produzir uma fotografia documental dedicada à representatividade da esfera social. Hoje, reconhecida internacionalmente enquanto uma das agências fotográficas mais importantes da Alemanha, conta com 25 fotógrafos independentes que colaboram, recorrentemente, com alguns dos mais importantes jornais da atualidade.

As imagens que ocupam várias galerias dos dois pisos da C/O retratam uma Berlim em ação, em fluxo, movida por um objetivo concreto: a (urgente) recuperação das esferas social e económica, profundamente lesadas e fragilizadas. No entanto, denota-se uma generalizada falta de orientação e uma certa dispersão que se desdobraram em desenfreadas e vertiginosas ações nos mais diversos sentidos.

Foi, por certo, uma época ambígua, ambivalente, e Berlim progredia e reconstituía-se ao mesmo tempo que se tornava terreno das subculturas, com a explosão da música techno. A cidade rapidamente se estabeleceu enquanto o centro da nova cultura eletrónica, adornada pela arte graffiti e pelo estilo punk. A euforia e uma certa alienação apoderaram-se de muitos, como retratam as fotografias “Wrapped Reichstag, the Final Night, Berlin, 1995" e "Love Parade, Planet truck, with Wotan Wilke Möhring (among others), Kurfürstendamm, Berlin, 1991”, de Annette Hauschild. Instaurarou-se o espírito revolucionário, e edifícios e armazéns abandonados foram ocupados para os mais diversos efeitos, muitos deles transformados em discotecas, outros em sedes de movimentos anarquistas.

As inúmeras fotografias desvelam a relação entre um povo e um espaço urbano que durante vinte e oito anos não foi livre, mas terreno de forças armadas e ação militar, definido por fronteiras, checkpoints e zonas de controlo. Nessa paisagem ergueram-se novas edificações, compondo a Berlim que conhecemos, caracterizada por uma arquitetura de contrastes e heterogénea, pouco coesa, mas na qual, apesar de tudo, se absorvem as diferenças.

Não obstante, a nova construção foi apreendida, sobretudo, enquanto representativa de novas oportunidades, sentimento particularmente bem espelhado em "Construction site at Potsdamer Platz, Berlin, looking East" (1994), de Harald Hauswald.

Entre os inúmeros retratos que nos surpreendem e assaltam o olhar, encontramos também exemplares de fotografias relativas à queda do Muro, imagens estas já mais expectáveis, familiares, embora não menos desconcertantes e tocantes. Destaco "Fall of the Wall, Berlin, 1989", de Werner Mahler.

Finda a visita, proponho refletir sobre o título da exposição, “Dream On”, pois nele podemos identificar o sentido de ironia inerente a esta expressão inglesa. Ocorre que a queda do Muro era de tal modo ambicionada, que a sua concretização teve como efeito imediato uma conceção utópica do que constituiria a nova Berlim.

Na realidade, durante largos anos, a cidade permaneceu retida como que num limbo, entre um trágico passado e um esperançoso futuro. E enquanto as jovens gerações dançavam à procura da sua identidade, ao som da rutura do Regime Socialista, constituía-se uma poderosa máquina capitalista que viria a governar e a provocar as suas próprias sequelas.

Para todos os efeitos, a década de 90 foi, decisivamente, o momento de Berlim se reerguer e se afirmar, por fim, livre.

 

 

Constança Babo
É doutorada em Arte dos Media e Comunicação pela Universidade Lusófona. Tem como área de investigação as artes dos novos media e a curadoria. É mestre em Estudos Artísticos - Teoria e Crítica de Arte, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, e licenciada em Artes Visuais – Fotografia, pela Escola Superior Artística do Porto. Tem publicado artigos científicos e textos críticos. Foi research fellow no projeto internacional Beyond Matter, no Zentrum für Kunst und Medien Karlsruhe, e esteve como investigadora na Tallinn University, no projeto MODINA.

 

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Notas

[1] A Magnum Photos é uma reconhecida cooperativa de fotografia internacional. Fundada em Paris, em 1947, pelos fotógrafos Robert Capa, David Seymour, Maria Eisner, Henri Cartier-Bresson, George Rodger, William Vandivert e Rita Vandivert, instituiu-se com a declarada missão de permitir que os seus membros tivessem liberdade criativa e independência, mesmo nas suas colaborações com revistas e jornais. Atualmente a Magnum está sediada em Paris, Nova Iorque, Londres e Tóquio e representa inúmeros dos fotógrafos mais conceituados do contexto contemporâneo.



CONSTANÇA BABO