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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF


Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF

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ARQUIVO:


LUÍSA CUNHA

ODD




LUMIAR CITÉ - MAUMAUS
Rua Tomás del Negro, 8A
1750-105 Lisboa

28 SET - 22 DEZ 2024

ODD OR EVEN

 

 

 

“JANELA PARA O INTERIOR” (Luisa):

 

Era uma vez uma ilha de vidro onde tudo se tornava transparente. Os navegadores evitavam essa ilha perigosa mas os inexperientes, quando a viam pela primeira vez exclamavam olha olha. Outros não diziam nada. (Ana, tisana 98). 

 

Visitei pela primeira vez o Espaço Lumiar Cité, no Bairro da Alta de Lisboa. Fui ver a exposição da Luísa Cunha. Aviso que o texto se pode tornar irritante…Ferir aquele tipo de sensibilidade que se parte como o vidro, sem avisar; i.e, que é feita de um material de tal modo frágil, não-dúctil, que dificilmente (se) molda (n)uma leitura e/ou percepção plástica…Não se encontra aqui nada com que se fique informado.

ODD é uma exposição ímpar com três peças. Duas são sonoras — um par de peças de igual género, portanto. A peça ímpar não é sonora.

ODD é uma palavra formada por três letras; i.e., um número ímpar de letras — uma letra O, ímpar, e dois D’s, que por sua vez formam um par de letras iguais. 

ODD é uma palavra inglesa polissémica, que tanto pode significar ímpar, no sentido numérico, quanto estranho, inesperado, bizarro…

LUUUUUIIIIIIISAAAA…Luisa!?” — Esta é uma outra peça sonora (Artista à procura de si própria, 2015), a que fiquei exposta, causando danos irreparáveis…Apercebo-me que ainda não encontrou uma “JANELA PARA O EXTERIOR” (Luísa), desde o momento em que esteve exposta na Plataforma Revólver, na exposição comunidade. Quero ser ressarcida, o quanto antes.   

ODD (2011) é também a primeira peça sonora a que temos acesso quando entramos na Galeria, ainda no piso térreo. É ímpar, porque não foi criada em 2024, como as demais duas, para a exposição homónima ODD (o par formado pela outra peça sonora e a que não é sonora) — Encontrou o seu Lugar no mundo, não diria silenciosa, mas adequadamente, ainda que provisória e precariamente. Em algum momento a lógica escapa-nos, felizmente. Estranho…Mas ainda não me sinto irritantemente even (= par e expressão idiomática, ficar quite) com a “LUUUUUIIIIIIISAAAA”. 

O que torna ODD significante (e não cada um dos seus significados isolados) é o que em ODD me previne da ubiquidade vítrea; isso que me demora no acesso a uma saída de emergência com acesso ad aeternum e in continuum a uma entrada de emergência, o que em alguns casos pode implicar partir o vidro. Tudo isto se passa na sala de estar da convivência com a minha irritabilidade — que habita um apartamento do cérebro reptilíneo colectivo — sempre pronta a reagir aos mais ferozes ataques, de coisas que não se explicam, de imediato, teimando assim em implicar-me (Sophia). 

Por significante, refiro-me à imagem do signo e por significado o seu conceito, nos clássicos termos saussurianos. Mas o que é mesmo significativo em ODD (2011) é a possibilidade de entretecer imagens no espaço em construção que a Galeria — literalmente — é. A Voz em loop informa-nos que o que é procurado não está ali. Escuto, com a perturbação de uma imagem visual, em uníssono, THIS IS NOT HERE da Yoco — Até ver, tratarei neste texto as autoras pelo nome próprio; não consigo ter a Luísa por Cunha, nem ver-me Folgado. Quero permanecer com elas e não sobre elas.

Mas a Voz (a única audível) convida-nos a deslocar-nos no espaço voluntariamente, a subir as escadas de acesso ao piso mezanino; a fazer ascender a nossa percepção reptílinea, glamorosamente, "upstairs"…Qualquer proposta artística de deslocamento de sentido séria, pergunta-nos subliminarmente, também, onde estamos. Pode-se inclusive não ter ainda chegado aonde já se está.

 

Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. © Maumaus 

 

Pensei: “E se não soubesse inglês ou conseguisse literalmente escutar como o Manel, o que faria com o meu mais frágil e quebradiço material artístico de troca, o sentimento de inadequação?” Prontamente respondi-me: “Subia à mesma, não há mesmo mais nada ali”. O problema é que eu ainda estou carregada de peças sonoras… Carrego o mundo. Acabo de chegar de uma aldeia do INTERIOR do país, de uma “residência artística”, que ninguém de lá sabe ‘onde fica’, e ainda não tive tempo de descarregar as peças sonoras para “Altifalantes emitindo vozes gravadas”. Vozes de lá perguntaram-me em loop: “Mas afinal…O que é que é o teu trabalho?” 

“Conhece a tua aldeia e conhecerás o mundo” — Disse-me o pároco. Talvez nunca descarregue o mundo — o mundo sem tempo, só de imagens — e permaneça como o titã Atlas, que não se pode distrair a fazer selfies, nem descarregar as imagens do smartphone, o que inclui as sonoras. O mundo e o surdo-mundo; o mundo partilhado com o meu amigo Manel, uma Galeria Móvel de Sons Perdidos, artisticamente instalados no espaço gerado por cada encontro, que sempre viveu na aldeia do (seu) INTERIOR, que a acorda diariamente com o som do seu tractor que não escuta, e que para se conseguir fazer escutar faz desenhos no espaço com gestos. Frustra-se quando não o entendem, mas ri-se…DESCULPA LUÍSA! NÃO TE VI!

Look at Me (2024), eis a segunda peça sonora — Creio que a Voz talvez tenha de subir de tom, no entanto a peça, como a sinto, é exacta. O mundo e a consciência que somos do mundo são uma só coisa…Mas há uma “JANELA PARA O EXTERIOR”. OLHA! OLHA! (Ana). 

 

Luisa Cunha, ODD, Lumiar Cité, 2024, vista da instalação. Cortesia da artista e Maumaus/Lumiar Cité. Foto: DMF 

 

Trata-se agora da peça ímpar não-sonora; um vinil com duas cores — muito bem aplicado sobre o vidro — onde, uma vez dotado do sentido da visão, se entender português, e tiver um lado maligno (é o que se diz das pessoas que lêem e/ou escrevem ao contrário), o visitante poderá ler “JANELA PARA O EXTERIOR / JANELA PARA O INTERIOR” — Não se pode dar o mundo nem a sua partilha por garantidas. 

Se não puder ou quiser ler, o visitante escutará apenas — e apenas como tudo — “Look at me”, e em loop. Esse loop é preciso…Claro está, como vidro (invejavelmente bem limpo, como eu nunca conseguirei algum dia limpar um). O loop sonoro é o que permite o twist que faz da faixa 2D de vinil uma faixa de moebius; a pluridimencionalidade das suas duas cores, teve de ser cuidadosamente achata para não ferir a sensibilidade do vidro…Faixa, Faixa, Faixa de…

Azul e laranja é o par de cores do loop de contaste ímpar de complementares que viabiliza a misteriosa passagem da “JANELA PARA O EXTERIOR” para a “JANELA PARA O INTERIOR"  — Na aparição da cor, a sua complementar ausente faz-se presente. Tudo isto acon-tece-nos com o mundo e não sem “fios sinestésicos” (Mª Gabriela), no vazio generativo resultante de uma dose precisa de surdez e cegueira. 

E para uma ubiquidade vítrea, só memo um humor vítreo. Refiro-me ao olhar da câmara de Jacques Tati em Playtime (1967), mas também e sobretudo ao mistério, que ainda é — aqui graças à Luísa — ver. E ali vê-se o imenso e plural Bairro, nos seus gestos libertos de convenções para ver e pensar o que se vê; para o bem e para o mal, e não o seu ab-surdo. (Os filólogos que me perdoem e não se irritem por a palavra surdo não começar por “r”, mas toda a violência e amor que acontecem no mundo que somos também fogem às regras). 

A retina é o que retém a luz no olho humano — e o olho humano é nos termos do(s) sentido(s) deste com-texto também o mundo. Porém, a córnea, essa pele que a protege prolonga-se até à parte anterior do olho, de modo a que não mais a possamos percepcionar. Di-lo Byung-Chul Han em entrevista — Nesse loop ocular toda a magia e mistério do mundo; o visível e o invisível. Tudo isto digo eu, que estive lá; já na folha de sala lê-se “Sem Título, 2024”. CALMA MANEL! O que não é entendido — o recalcado — retorna em loop. A Luísa é, afinal, a nossa heroína: Salva-nos dos introjectadores do surdo-mundo e expõe-os em loops sonoros! 

Se o Manel é surdo-mudo, o mundo é ab-surdo. No tocante à recepção da arte, o recalcado não está na janela para o interior do país ou bairro social…Ele parte por vezes daqui para lá, silenciosamente. Está presente na pulsão por inferiorizar (de modo delicado e normalizado), por não se interiorizar e então superiorizar(se). Um exemplo: O recalque daquilo que faz com que o (pequeno) funcionário de um (grande) museu se torne notícia; por este, na sua pressuposta ‘ignorância’ (que o pressupostamente torna pequeno) deitar fora a obra de um (grande) artista — O recalque está, presente, também em todas as repostagens nas redes sociais desta notícia…Por grandes e PEQUENOS. Pouco sabemos da receção da arte. Coisa para críticos. 

A inadequação é um material frágil, pouco plástico e precisa sempre de uma “JANELA PARA O EXTERIOR”…Das ‘janelas para o interior’ que rasgam horizontes não se fazem notícias…É que realmente há pessoas que não percebem mesmo nada de arte…Têm de aprender a perguntar! “Então Filipa…Não quer perguntar nada à artista?” — A pergunta não foi feita pela artista, a artista apenas estava presente. O evento introjetante passou-se numa sessão de imprensa, aberta a pessoas como nós, que escrevem ensaios; i.e., pouco informam. A Filipa é minha colega e também conhece o Manel. Partilhou e autorizou que mencionasse esta instalação sonora em devir que imaginámos juntas “…à artista…à artista…à artista”…

A proposta é esta Luísa: Artista à procura de si própria (2015), num inesperado loop, um longo circuito relacional, encontra-se com Não quer perguntar nada à artista? E dão um abraço. 

Sincero. 

Against all odds, we’re even.

 

 

 

 

 

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Madalena Folgado
É mestre em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa e investigadora do Centro de Investigação em Território, Arquitetura e Design; e do Laboratório de Investigação em Design e Artes, entre outras coisas. E principalmente entre outras coisas.

 



MADALENA FOLGADO