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EXPOSIÇÕES ATUAIS


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB


Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB

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JOÃO MARÇAL

PIZZA SPACE-TIME




ZDB - GALERIA ZÉ DOS BOIS
Rua da Barroca, 59
1200-049 Lisboa

28 FEV - 10 MAI 2025

Space Time-Pizza; quem assassinou o futuro?

 


O coro apresentado na Galeria Zé dos Bois até ao passado 1 de Fevereiro de 2025 - a exposição Sing Song com curadoria de Laura Gama Martins e Filipa Correia de Sousa - surgiu como consequência do parabéns a você, pelo 30º aniversário desta associação cultural que, de uma forma ou de outra e apesar da contínua descaracterização do bairro em que se situa e que inevitavelmente reflecte os passos que dá quanto à sua própria descaracterização, continua a ser um projecto de referência no tecido cultural associativo português.

Se esta continua independente, se continua a ser pautada pelo espírito de uma comunidade artística auto gerida e que reparte o pão na mesa, enfim, para o equacionar devidamente seria necessário traçar uma história não apenas da arte portuguesa do presente século, equacionar os efeitos da oscilação de prosperidade e crise e as mais recentes invasões de um turismo massificado.

Não apenas. Seria também equacionar as manifestações de recuperação do tecido cultural como manifestação ética e poética de outros alcances. Uma pequena nota, de entrada na exposição que sucede a referida.

João Marçal (Coruche, 1980) apresenta na galeria do primeiro piso de Zé dos Bois, a exposição Pizza Space-Time, inaugurada a 28 de Fevereiro e com término a 10 de Maio de 2025. A exposição conta com a curadoria de Natxo Checa.

Esta exposição não é uma surpresa no percurso do artista; continua a exploração, em pintura, de padrões, formas e cores que fazem referência à vida. O site da Galeria Zé dos Bois partilha no seu site um excerto do texto de Paula Ferreira para a ANOZERO’24 BIENAL COIMBRA, onde é dito que “Através de um «abstracionismo sentimental», as imagens e experiências visuais do quotidiano, que, de tão triviais, se tornam invisíveis, são descontextualizadas e repensadas pelo artista através de cores, geometrias e repetições.”

 

Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB

 

Os estofos dos transportes públicos são referência demais evidente e repetida na pintura de Marçal, contudo aqui compreende-se um compromisso ainda mais metódico; a exploração do meio da pintura adensa-se num enganoso representar destes padrões. Quase os poderíamos dizer bordados, tingidos numa outra trama que não a janela. A mestria com que o desenho base dos padrões, cujas linhas ainda podemos num momento ou outro deslindar, conduz a inscrição das demais pinceladas, cada uma a cada cor como cada ideia a cada cabeça.

Se os padrões nos transportam para o terror do barulho de apinhados transportes públicos, as estruturas em que escolhe apresentar as pinturas - estruturas metálicas, tubulares e pintadas de amarelo, que criam perfis quadrados ou rectangulares com pontos de apoio no chão e, em diferentes ocasiões, em diferentes paredes - afincam essa rememoração: são estes os pontos de apoio a que recorremos para resistir à oscilação do movimento da caixa que nos transporta colectivamente.

Os pequenos tremores que nos balançam face às leves mudanças de velocidade ou travagens bruscas são suportadas pela força das mãos com que nos agarramos a estes pilares de sustentação. Tal e qual as pinturas de Marçal. Embora, até ver caso algum sismo mais nos assole, não tremem. São um momento congelado de uma viagem como, creio, também o referencial de onde partem.

 

Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB

 

Se este universo locomovente se adensa a cada motivo da exposição que é de resto limpa e quasi minimal nesses gestos - as caixas de pizza que desenhou para a exposição e que se vão amontoando pelo chão das várias salas ou sobem à parede em determinados momentos - trazem-me um cheiro.

[Não é demais desfazer o engano; trazem-me à memória, porque a gordura simulada nessas mesmas caixas é higiénica e inodora.]

Se as pinturas me trazem a imagem, as estruturas de instalação o som, as caixas de pizza trazem-me essa incorporação do cheiro a restos de comida, à gordura impregnada nas caixas de cartão. Face a esta introdução, a exposição leva-me a um ambiente escurecido e muito pouco solar; aos transportes subterrâneos e aos estranhos, obscurecidos e sujos lugares por onde metropolitanos nos deslocam. Se o lixo, o desperdício de invólucros e de restos de comida, se torna inevitavelmente visível em meios de transporte afectados pela luz ambiente - comboios, autocarros... - o ambiente dos vários metros, para além de me trazerem no contexto desta exposição a uma dimensão citadina ou mesmo cosmopolita, permite-lhes um certo esquecimento... A sujidade das cidades, por oposição a áreas mais rurais, detém particulares características materiais. Se é verdade que a possibilidade de acesso a uma pizza gordurosa está demais alargada com as diferentes cadeias de fast food que singram ao longo do (nosso) território, ainda é verdade que a facilidade de acesso a tais iguarias é ainda preponderantemente reservada às cidades.

À medida que transponho para texto as minhas singelas considerações e suspeitas quanto a Pizza Space-Time, parece-me que entro numa partida de Cluedo, jogo cujo objectivo é adivinhar quem assassinou a vítima, onde ocorreu o crime e qual foi a arma utilizada para o perpetrar.

Engano-me na ordem, Pizza Space-Time recorrentemente se transformou em Space Time-Pizza. Mantive o erro para que o texto piscasse o olho à dúvida, pobremente inexistente. Creio que me escorreu a imaginação - como a gordura da pizza - para a caixinha da ficção científica imaginando que as possibilidades de interligar os elementos da exposição, como resposta a um enigma, seja quem onde e quando do Cluedo ou a uma adivinha com jogos de palavras à maneira da esfinge, pudesse não estar restrita a uma possibilidade já vivida, o que torna a exposição como um documento do passado, mas como uma possibilidade por viver. A possibilidade que Édipo não levasse a Esfinge a um laivo irascível que a condenou na nossa consciência colectiva a uma espécie de omnisciência (confirmei na infopédia), mas que esta ainda hoje nos assombrasse com adivinhas irresolúveis e que Édipo tivesse ficado sem cabeça e nos poupasse a realidade a um desenrolar do tempo que termina com a mesma infelicidade. Se Space Time-Pizza nos levasse a uma outra realidade, talvez os padrões pudessem aludir à organização organizada de povoações pós apocalípticas, o space, e o time-pizza nos desse pistas de deuses adorados, encontrados fora das escalas de tempo, mas à medida das melhores competições all you can eat de pizza.

 

Vista da exposição Pizza Space-Time, de João Marçal, Galeria Zé dos Bois, 2025. © Vasco Vilhena / Cortesia ZDB
 

 

Não sei, concretização de realidades concretas, vividas ou por viver, nunca foi o meu fado. Contudo, que o fado de outros pudesse ser a dedicação ao por viver, agradecia. Se é, na minha verdade, que Pizza Space-Time é um passeio agradável, se é possível sair-se apaziguado deste passeio, por uma exposição que se cumpre bem dentro das normas pré estabelecidas de averiguação da sua qualidade; seria também minha verdade que o desconforto de enigmas para os quais não temos respostas, para realidades que ainda não sabemos pensar - tal e qual a realidade que vivemos agora mesmo (e não a de ontem, sublinhe-se) - nos (me) poderia salvar do conforto que é ser balançada no ar rarefeito dos transportes públicos.

Assumo, nesta partida do jogo, o papel do suspeito suspeitado em maior percentagem de suspeição que os demais. Movo-me sem passar despercebida. Agora que visitei a exposição, acabo com a minha estratégia de jogo exposta, movendo-me desengonçadamente entre suposições para adivinhar as circunstâncias deste assassinato. Deduzo-o passional; sabemos o aumento dos números pelo que a possibilidade não é incoerente e ainda porque à conversa amorosa falta sempre a última palavra. Ao “abstracionismo emocional” não sei o que lhe falta. O reencontro é sempre uma revisitação da falta e da pertença discursiva ao e no outro; da realidade vivida à exposição apresentada...

Ora, que me torne jogador e suspeito não está longe do desdobramento dos meus papéis - e do cansaço que é ser-se por demais e não encontrar o eco legitimador do fervente esbordar; do espectador ao tradutor ao intérprete.

O cansaço que é tratar de todos os assuntos, gerir, comunicar perguntar resolver pagar pegar esperar. O cansaço, inevitável é, ascende a um meio termo entre raiva e desinteresse, que afoga um certo entusiasmo e leveza a que a experiência almeja. Um certo desleixo do ímpeto criativo num amorfo modo sem leitura leva ao cansaço de uma constante procura do assunto e no seu verso a constante reprimenda face à decisão do que seja. A ligeireza que a boa disposição poderia trazer a ideias e articulação de possibilidades esquissadas a partir da experiência de uma exposição (aqui, uma concreta mas, enfim, é generalizado o cansaço) decai face ao esforço para que minere daí algo que impulsione a vida. Objecto que afunde a vida em si mesma é sinónimo de impedimento de movimentos; porque a liberdade que se subjuga ao já acontecido constrange o entusiasmo e uma qualquer possibilidade de um esperançoso olhar para o que aí vem.

Se se dizia que a cada pincelada a sua cor e a cada ideia a sua cabeça, enfim, talvez no final se desdiga em parte. No final de contas, temos vindo a pintar os mesmos motivos, uma e outra vez.

 


Catarina Real
(1992, Barcelos) Trabalha na intersecção entre a prática artística e a investigação teórica no campos expandidos da pintura, escrita e coreografia, maioritariamente em projectos colaborativos de longa duração, que se debruçam sobre o questionamento de como podemos viver melhor colectivamente. É doutoranda do Centro de Estudos Hu-manísticos da Universidade do Minho com uma investigação que cruza arte, amor e capital. Encontra-se em de-senvolvimento da Terapia da Cor, prática aplicada entre teoria da cor, arte postal e intuição coreográfica. Mantém uma prática de comentário - nas vertentes de textos de reflexão, textos introdutórios a exposições, entrevistas e moderação de conversas - às obras e processos realizados pelos artistas na sua faixa geracional, com a intenção de contribuir para um ambiente salutar de crítica e criação colectiva e comunitária.
Foi artista residente na Residency Unlimited, Nova Iorque, com apoio do Atelier-Museu Júlio Pomar/EGEAC.

 



CATARINA REAL