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PABLO HELGUERACommited Explanations in GeographyTHE COOPER UNION SCHOOL OF ART The Foundation Building, 7 East 7th Street New York, NY 10003-7120 27 JAN - 21 FEV 2009 A História enquanto ferramenta crÃtica para entender o PresenteA recente mudança polÃtica nos EUA fortemente aplaudida por todo o mundo ofusca a realidade do paÃs e da sua influência dentro e fora de fronteiras. Mas o que sabemos nós da sua criação e desenvolvimento anterior ao perÃodo do pós-guerra? O que também sabemos nós do seu processo de construção de identidade e das pessoas que a ajudaram a determinar? Será a informação disponÃvel nos dias de hoje credÃvel? Pablo Helguera procura responder-nos a algumas destas questões, através de uma mostra retrospectiva organizada por Sara Reisman, na School of Art da Cooper Union até dia 21 de Fevereiro. Os trabalhos apresentados são o resultado de uma pesquisa e produção desenvolvidas entre 2002 e 2009, e que em parte ganham força noutra iniciativa do artista chamada “Escola Pan-Americana do Desassossegoâ€. Desassossego este, que parece ter sido emprestado de um autor nosso familiar – Bernardo Soares, um heterónimo de Fernando Pessoa – dando também a entender a busca incansável deste artista na sua prática artÃstica. A exposição reúne assim vários trabalhos em diversos meios, como desenho, colagem, escultura, instalação, vÃdeo e performance explorando conjuntamente problemáticas relativas a mecanismos de comunicação, de criação de identidade, aprendizagem e preservação da memória colectiva revelando-nos episódios de uma América extinta ou envolta num certo obscurantismo. Durante a sua performance, “Manifest Destinyâ€, Helguera com a ajuda de outros dois interlocutores entrelaça três narrativas, que embora aparentemente disjuntas fazem questionar o espectador sobre a criação da identidade individual, colectiva e os seus reflexos ou influências dentro de uma estrutura geopolÃtica com marcas e dependências temporais. Relatos desfasados e sem sincronia, tal como numa transmissão radiofónica, relembram a Guerra Mexicano-Americana – onde uma grande parte das fronteiras continentais norte-americanas ficaram definidas e onde os desejos bélicos expansionistas da nação “under god†conduziram mais tarde a uma guerra civil; a história de Wallace Nutting – um dos responsáveis pela difusão de imagens da paisagem idÃlica do novo paÃs, num perÃodo de reconciliação com a identidade colectiva e cultural norte-americana; e uma pesquisa sobre a biografia de Joyce Hatto, uma pianista inglesa aspirante a virtuosa e que depois da sua morte se viu envolvida numa polémica sobre a autoria de alguns dos seus álbuns mais conhecidos. Helguera sugere assim ao espectador, por via de uma mecânica narrativa complexa, a igual complexidade da narrativa histórica e a sua influência na consciência colectiva e desejos individuais dos membros desse colectivo. Continuando a exploração das consequências do episódio histórico destacado, surgem outros episódios da mesma Ãndole, que mais uma vez abordam as interacções do seu próprio paÃs, o México, com os EUA e que antagonizam as recentes polÃticas de emigração destes. Em “Punitive Expeditionâ€, Helguera volta também a abordar a veracidade e o poder da informação induzindo em erro o espectador através da inclusão de imagens do Afeganistão dentro de um contexto esquecido da História dos EUA – as incursões militares do General Pershing pelo deserto da Sonora, México, que em 1916 tentou capturar o rebelde Pancho Villa, mas sem qualquer sucesso. Pela História e pela manipulação das fontes históricas, Helguera relembra através deste episódio obscuro do passado norte-americano, a também falhada tentativa dos EUA em capturar Bin-Laden, que ainda decorre nos dias de hoje. Segue-se a peça mais curiosa de toda a exposição, pelos sentimentos antagónicos que gera - “Conservatory of Dead Languagesâ€. Usando um mecanismo de gravação agora obsoleto e que consiste em cilindros de cera – o mesmo mecanismo inventado por Thomas Edison, Helguera gravou conversações em lÃnguas americanas nativas, que se pensam estar extintas dentro de 50 anos. É impressionante como a fragilidade dos cilindros acentua a fragilidade das vozes lá contidas. Complementarmente, Helguera apresenta dois vÃdeos: “Marie Smith Jones†e “Chipiloâ€. Se no primeiro, nos é dado a conhecer a última e recentemente falecida “falante†da lÃngua dos Eyak (a comunidade original do Alaska); por outro lado, no documentário “Chipiloâ€, Helguera mostra outro lado do México – o das experiências sociais. O documentário relata uma experiência desta natureza realizada em finais do século XIX e em que através de uma decisão polÃtica, o México procurou integrar famÃlias europeias em certas regiões, na esperança que elas pudessem trazer maior riqueza cultural e económica nas áreas de estabelecimento. Helguera retrata então uma destas comunidades, que se fixaram na localidade de Puebla. Contrariamente ao esperado, o resultado dessa visão de sociedade utópica não fez mais do que criar um enclave, onde ainda hoje se fala o dialecto original – o “Venetoâ€, um dialecto do Norte de Itália. Uma outra visão utópica e social é retratada em dois desenhos e num vÃdeo que abordam a comunidade Shaker, entretanto practicamente extinta nos EUA (com apenas 4 membros, nos nossos dias), mas que fez parte dos grandes movimentos pioneiros de imigração no paÃs. A relação com a História, a sua veracidade e principalmente com a questão temporal é marcada ainda, com dois desenhos que representam em linguagem fonética, duas afirmações atribuÃdas respectivamente a LP Hartley (“the past is a foreign countryâ€) e a Paul Valéry (“the future is not what it used to beâ€). Finalmente, “Panamerican Suiteâ€, parte da documentação gerada durante a sua “Escola Pan-Americana do Desassossegoâ€, apresenta-se como uma colagem narrativa reunindo elementos fotográficos, ilustrações e texto, que vão fazendo referências a aspectos sociológicos e tecnológicos e que mais uma vez questionam a comunicação e identidade cultural dos nossos dias. Apesar da diversidade de meios e temas, Helguera transporta-nos por várias questões, sem no entanto nos conduzir a alguma resposta concreta. Este artista procura dar pistas ao espectador, para que ele possa compreender o passado que destacou e manipulou; procurando criar, por outro lado, um sentido crÃtico sobre a informação que temos acesso no presente.
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