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COLECTIVAA LINHA ESTÁ OCUPADACITA - CENTRO INTERPRETATIVO DO TAPETE DE ARRAIOLOS Praça do Município 19 7040-074 Arraiolos 08 JUN - 10 OUT 2021 A linha está ocupada…a divagar devagar
Nas recentes celebrações de “O tapete está na rua!”, evento anual sobre a temática do Tapete de Arraiolos, a geometria relaxou. Assim, anunciou Pedro Barateiro com a sua obra “Relaxed Geometry”, presente no CITA - Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos - remetendo para a (necessária) queda da tradição e das normas instituídas. Claro que as linhas tradicionais que resultam em sugestivos pontos nos tão afamados tapetes não terminaram, mas, esta obra torna-se um símbolo da relativa abertura de Arraiolos a outras possibilidades que não a dos limites das suas tradições. Não se trata de querer a substituição de uma coisa por outra ou de proclamar uma guerra cultural. Trata-se, na verdade, de esclarecer a inevitável bifurcação artística. Por um lado, o caminho tradicional, que perdura, que herda e que perpetua a história, e, por outro, o caminho do desconhecido, que propõe originalidade, que rompe para descobrir, que osa conquistar a eternidade pelo avesso. Por isso, o título desta exposição “A linha está ocupada…”, sob organização de Benedita Pestana e Mercedes Vidal-Abarca, remete para o potencial da ideia de linha no seu sentido mais lato. O áudio do filme “Aprender de cor”, outra peça de Pedro Barateiro, remete-nos para outro tipo de linhas: para o potencial de três linhas abstratas, as linhas da comunicação, do pensamento e da tomada de decisão. No sentido inverso, partindo dos pontos furados de uma radiografia, unidos abstratamente, materializa-se em várias sequências numa parede branca, a montagem em linha diagonal de várias linhas de fio de linho que sugerem as oscilações de um sismógrafo. De todas as obras expostas, talvez seja esta obra de Tomás Cunha Ferreira, a que mais despe e reduz o conceito de linha a si mesmo, embora compondo-a em formas abertas. Já, o processo de Alexandre Camarao na obra “Relance”, vai para além do estudo da linha enquanto essência, analisando-a em termos de comparação entre sistemas. Ele fez das linhas de um poema cantado por Gal Costa em 1973, uma nova linguagem representada numa instalação de fios de lã sobre juta. Transformou, assim, as linhas de uma linguagem poética textual numa linguagem poética visual abstrata. A proposta de Mumtazz, falecida em 2017, deixou-nos uma herança de panos com rostos humanos bordados a cores bem vivas que relembram as pinturas do expressionismo alemão, caracterizadas pelas suas linhas bem vincadas, e as pinturas do pintor holandês Karel Appel inspirando-se na arte das crianças. Aqui, o desenho das linhas bordadas resulta num espontâneo trabalho sobre as representações do mundo valorizadas enquanto elementos isolados ou entidades. Já, o mundo que nos chega pela mão de Ana Jota, é o do mundo natural, o das paisagens. Um tapete, este sim com alguns pontos de Arraiolos, reporta-nos a uma paisagem desértica, como as do estado do Arizona, formada por elementos mínimos e cores primárias. Depois de desbravar caminhos desconhecidos, voltamos então, por fim, com esta obra-tapete, aos recursos da tradição, mas sem o rigor dessa mesma tradição. O programa do evento “O tapete está na rua!” englobou, para além desta exposição e de outras atividades, uma outra exposição organizada pelo “Sindicato dos Pintores” - projeto de Mariana Gomes - apresentada na galeria do “Córtex Frontal” - projeto de residências artísticas e oficinas - situado na Rua Melo Mexia nº 9. Com mais de meio século de atividade artística, Jorge Martins apresenta neste espaço composições de linhas simples que constituindo formas fechadas, abertas ou associadas a outras linhas, se tornam organismos vivos sob fundos de cores contrastantes. Outras composições de formas ondulantes e planas que sofrem processos físicos como radiação, combustão e dissipação por contato com diferentes tonalidades de luz e cor fazem parte da proposta. Todo o conjunto trata-se de um jogo visual abstrato que leva o corpo a sentir calma, equilíbrio ou euforia e que leva a imaginação a deambular por sugestões de bactérias intestinais ou de células simples isoladas em laboratório.
Isabel Simões, Sem título. © Nuno Lourenço. Jorge Martins, Sem título. © Nuno Lourenço.
Isabel Simões fez jus ao título desta exposição “Divagar devagar”, divagando sobre a dinâmica das máquinas e sobre a beleza das infraestruturas. Mais que devagar, a artista paralisa inconscientemente, em 2021, o ponto 4 do manifesto futurista de F. T. Marinetti: “(…) Um automóvel de corrida cuja carroceria é adornada por grandes tubulações como serpentes de alento explosivo… um automóvel que ruge, que parece correr acima da metralha, é mais belo do que a Vitória de Samotrácia. (…)”. Assim, apresentou quatro magníficos trabalhos de tubos, fios, escadas e estruturas de vidro e betão valorizados por fortes contrastes de cor e luz numa grande complexidade técnica. Fora de qualquer manifesto, nenhuma das obras destas exposições, nenhuma inovação técnica, é, para Arraiolos, ainda mais bela que o seu tapete!
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