QUEER LISBOA – FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA QUEER | 14 A 22 SET, CINEMA SÃO JORGE E CINEMATECA PORTUGUESA
Artecapital
2018-09-13
A 22.ª edição do Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer arranca esta sexta-feira, dia 14 de setembro, com uma programação de 100 filmes de 32 diferentes países e mais de 30 convidados internacionais. O festival inaugura às 21h com a antestreia nacional de Diamantino, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, vencedor do Grande Prémio da 57.ª Semana da Crítica da última edição do Festival de Cannes, com a presença de toda a equipa artística e técnica do filme no palco da Sala Manoel de Oliveira. Diamantino é uma abordagem delirantemente queer e metafísica ao estado do mundo, onde Carloto Cotta interpreta uma estrela mundial do futebol em plena crise existencial, e à mercê das suas manipuladoras e mercenárias irmãs, numa cruzada onde se confronta com expressões neofascistas, a crise dos refugiados na Europa, a modificação genética e a busca da fonte da genialidade. Esta coprodução da Maria & Mayer (Lisboa), da Syndrome Filmes (Rio de Janeiro) e da Films du Bélier (Paris), tem estreia prevista em sala em finais de novembro.
No sábado, dia 15 de setembro, tem início o programa “O vírus-cinema: cinema queer e VIH/sida”, que congrega um ciclo de cinema, uma exposição e o lançamento de um livro de ensaios. O ciclo, a ter lugar na Cinemateca Portuguesa e no Cinema São Jorge, pretende dar a conhecer os realizadores do vídeo-ativismo do VIH/sida, colocando estas obras de emergência em diálogo com algumas das longas-metragens mais emblemáticas sobre este tema. Neste fim-de-semana vai ser possível ver Bright Eyes (1986), de Stuart Marshall (sábado, dia 15 de setembro, 17h, Sala 3), um dos primeiríssimos documentários sobre a sida; e Buddies, de Arthur J. Bressan Jr. (1985), aquela que é considerada a primeira ficção sobre a sida, apresentada aqui em cópia recentemente restaurada, com sessão no domingo, às 19h30, na Sala Manoel de Oliveira. O arranque do ciclo na Cinemateca Portuguesa dá-se no sábado, às 21h30, com a exibição de Kids (1995), de Larry Clark, um dos expoentes do cinema indie norte-americano e que foi também o primeiro argumento escrito por Harmony Korine.
No sábado, às 16h30, no foyer do Cinema São Jorge é lançado o livro “O vírus-cinema: cinema queer e VIH/sida”, uma edição da Associação Cultural Janela Indiscreta, com coordenação de António Fernando Cascais e João Ferreira, que reúne um total de 25 ensaios, onde 24 diferentes autores escrevem cada um sobre um filme que aborda esta temática, oferecendo-se assim diferentes perspetivas sobre os desafios que a epidemia representou para o cinema. Nesse mesmo sábado, às 18h, inaugura a exposição “O vírus”, na Galeria FOCO. Com curadoria de Thomas Mendonça, trata-se de um desafio lançado a um conjunto de jovens artistas para conceberem uma peça à volta da temática do VIH/sida e dos filmes programados no ciclo, procurando-se assim uma perspetiva de como a epidemia é vista e interpretada por uma nova geração.
Um dos destaques da Competição para a Melhor Longa-Metragem é a exibição de Sauvage (dia 15 de setembro, 22h, Sala Manoel de Oliveira). Primeira longa-metragem de Camille Vidal-Naquet, o filme teve honras de estreia na Semana da Crítica do Festival de Cannes, neste que é um assombroso e desarmante retrato do universo da prostituição masculina, localizado numa descaracterizada Estrasburgo, cidade-fronteira de uma Europa à beira do precipício - o mesmo precipício onde se encontra Léo, o herói do filme, numa admirável interpretação de Félix Maritaud (recentemente revelado em 120 battements par minute). Também integrado na Competição para a Melhor Longa-Metragem está Girl, de Lukas Dhont, um impressionante retrato de uma rapariga trans, Lara, que tem de conjugar as mudanças do seu corpo devido à redesignação sexual, com as exigências físicas do treino para bailarina profissional. O filme é exibido no domingo, dia 16 de setembro, às 22h, na Sala Manoel de Oliveira.
Convidados presentes neste primeiro fim-de-semana de festival são o realizador sueco Jerry Carlsson e o francês Thomas Hakin, para apresentarem, respetivamente, Shadow Animals e En Attendent, ambas as curtas-metragens integradas na Competição para a Melhor Curta-Metragem e apresentadas na sessão de Curtas 1, no domingo, dia 16 de setembro, às 19h15, na Sala 3. Nesta mesma Sala, às 21h30, o Queer Lisboa recebe o ator Yuri Yamamoto e o produtor Rogério Mesquita, que apresentarão a longa-metragem Inferninho, filme integrado na Competição Queer Art. Passado quase inteiramente no interior do bar do mesmo nome, Inferninho, realizado por Guto Parente e Pedro Diogenes, explora o sentido de comunidade ameaçado pela gentrificação, sobre um imaginativo e inusitado fundo teatral.
A Sala 2 do Cinema São Jorge acolhe no sábado, dia 15 de setembro, às 18h30 a primeira sessão do Queer Pop, com um programa dedicado a Janelle Monáe. No domingo, a essa mesma hora, a Sala 2 acolhe a apresentação e lançamento do livro Queerquivo - arquivo LGBT português. Projeto do dramaturgo e encenador André Murraças, trata-se de um novo arquivo LGBT português que nasceu da falta de registo de vidas conhecidas ou anónimas, e ligadas ao universo LGBT do nosso país. São quase cinquenta os textos escritos por diversas personalidades sobre aquelas pessoas que nos inspiraram, moldaram e transformaram. A apresentação conta com a leitura de vários textos.
Esta edição do Queer Lisboa reúne um conjunto de títulos que permitem uma reflexão sobre temas como os movimentos migratórios e o que eles implicam em termos identitários, os diferentes olhares entre ocidente e oriente. Além de filmes como And Breathe Normally, Room for a Man, ou Martyr, que integram as competições, o Panorama Special Focus complementa esta presença com filmes como Burka Songs 2.0, de Hanna Högstedt, um ensaio autorreflexivo sobre as leis francesas de restrição do uso da burka; ou Apricot Groves, filme arménio de Pouria Heidary Oureh, que dará lugar a um debate a seguir à sessão, com a presença da programadora Esra Özban. Fazem também parte deste programa um conjunto de curtas-metragens, de entre as quais Sewing Borders, de Mohamad Hafeda, uma imaginativa abordagem de alguns residentes de Beirute a noções de fronteiras espaciais, temporais e históricas. Ainda, em colaboração com o festival Olhares do Mediterrâneo, a ter lugar de 27 a 30 de setembro no Cinema São Jorge, terá lugar uma sessão conjunta no dia 29 de setembro, às 16h30, na Sala 3, do documentário Mr. Gay Syria, da realizadora Ayse Toprak.
A par da exibição da já anunciada ficção lésbica Disobedience, realizada por Sebastián Lelio e protagonizada por Rachel Weisz, Rachel McAdams e Alessandro Nivola, a secção Panorama deste ano acolhe ainda L’Amour Debout, de Michaël Dacheux, sobre o reencontro de dois jovens que agora vivem em Paris e tentam cada um perceber o seu caminho, depois da separação. Em sessão especial, o Queer Lisboa reúne três das mais importantes curtas-metragens queer portuguesas numa única sessão: Anjo, de Miguel Nunes; Flores, de Jorge Jácome; e Self Destructive Boys, de André Santos e Marco Leão.
O Queer Pop apresentará na sua primeira sessão um programa dedicado a Janelle Monáe, que, depois de ter explorado em “The ArchAndroid” e “The Electric Lady” momentos de um ciclo maior ao qual chamou “Metropolis”, e de ter experimentado vários projetos de cinema e TV, apresentou em 2018 o álbum “Dirty Computer”, cujas canções serviram o seu projeto audiovisual mais ambicioso. Já a segunda sessão será dedicada à Eurovisão, um Festival que, nascido em 1956, tem hoje uma história que, entre canções, gentes e factos, traduz, de certa forma a evolução política, social e musical da Europa. O camp habita há muito a história eurovisiva, mas depois da vitória de Dana International em 1998 a cultura queer definiu ali um espaço que conquistou então outra visibilidade e novos significados. Em complemento a esta sessão, será ainda exibido o documentário Punk Voyage, de Jukka Kärkkäinen e J-P Passi, sobre a banda finlandesa Pertti Kurikan Nimipäivät (PKN).
Nas Hard Nights, o regresso do cinema de dois realizadores, já anteriormente convidados do festival e cuja obra temos acompanhado: Bruce LaBruce, com o seu It is not the Pornographer that is Perverse..., um conjunto de quatro vinhetas interligadas, maioritariamente passadas em Madrid e protagonizadas por Colby Keller; e Émilie Jouvet, com My Body my Rules, um filme-performance que pretende dar voz e imagens a pessoas cujo corpo ou sexualidade são vistos como incomuns.
Produtor e realizador de documentários, áudio e realidade virtual, Rob Eagle dará um Workshop com o título Vidas queer no contar de histórias interativo. O Workshop, gratuito e aberto a todos os interessados, oferece uma perspetiva alargada das ferramentas à nossa disposição para contar histórias de vidas queer nos media interativos para além do cinema tradicional e sobre o que podemos construir sozinhos e com os recursos disponíveis em Lisboa.
O Queer Lisboa anunciou igualmente uma parceria com a ModaLisboa e o Doclisboa, para a programação de um conjunto de documentários sobre o universo da moda. A 51.ª edição da ModaLisboa decorre de 11 a 14 de outubro, e o Queer Lisboa antecipa este evento apresentando três documentários que revelam a importância da cultura queer na moda e de como a moda tem contribuído para o esbatimento de noções heteronormativas de género. Neste programa, destaque para o filme We Margiela (2017), da produtora holandesa mint film office, que acompanha o nascimento da emblemática casa de moda dirigida pelo enigmático Martin Margiela, responsável por uma verdadeira revolução nesta indústria e que dará também lugar a um debate com a presença de Eduarda Abbondanza, diretora da ModaLisboa e Rui Palma, fotógrafo de moda. Os outros destaques vão para o documentário Kevyn Aucoin - Beauty & the Beast in Me (2017), de Lori Kaye, um impressionante retrato do maquilhador Kevyn Aucoin, já falecido, feito com base nos seus próprios registos vídeo caseiros, que capturam a sua vida pessoal e profissional. Por fim, o Queer Lisboa anunciou a estreia nacional do documentário George Michael: Freedom - Director’s Cut (2018), de George Michael e David Austin, uma exaustiva viagem pela música e vida de uma das maiores estrelas pop contemporâneas cuja carreira atravessa mais de três décadas e que teve uma estreita relação com a moda, particularmente a partir do momento em que recusou aparecer publicamente na promoção das suas canções, dando azo ao mediático processo judicial do cantor, contra a Sony. O ciclo de documentários prosseguirá no Doclisboa 18.
O encerramento do festival é feito com o documentário Bixa Travesty (2018), realizado por Claudia Priscilla e Kiko Goifman e vencedor do prémio de Melhor Documentário do Teddy Award da Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim, onde teve a sua estreia mundial, em fevereiro último. Neste mais recente trabalho da dupla de realizadores brasileiros cujo trabalho o Queer Lisboa tem programado desde as suas primeiras obras, a dupla propõe-nos um imaginativo e desafiante documentário, dominado pela presença no ecrã da eletrizante Linn da Quebrada. Autodenominada “bixa travesty” e artista multimédia, oriunda da periferia de São Paulo, Linn ganhou notoriedade nos palcos com a canção “Enviadescer”, em 2016, sendo desde então uma pertinente e ativista voz pela defesa dos direitos das minorias queer.