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SNAPSHOT. NO ATELIER DE...




Vista do atelier. Imagem cortesia do artista.


Composição conjugal, 2013, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Improvisação doméstica, 2013, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Volumétrie noire, 2017, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Untitled, 2018, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Moog System 55, 2020, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Mute Speakers, 2020, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.


Untitled, 2020, João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.

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JOãO FERRO MARTINS

LIZ VAHIA


10/10/2022 

 

João Ferro Martins (Santarém, 1979), licenciou-se em Artes Plásticas na ESAD, Caldas da Rainha. Vive e trabalha em Lisboa. A sua obra de instalação e de cariz escultórico desenvolve-se predominantemente em torno do universo do Som e da Música, a sua formalidade é caracterizada pela justaposição ou pelo deslocamento de objectos triviais e o trabalho pictórico, dominado pela simplicidade e pela síntese cromática. Também produz trabalho em filme, vídeo, fotografia e cenografia. É fundador, juntamente com Hugo Canoilas, do coletivo A kills B, e com André Tasso e Bruno Humberto do projecto de música improvisada Catarata.

Prestes a apresentar uma nova obra entre o concerto e o palco de teatro, João Ferro Martins conversou com a Artecapital sobre o seu processo de trabalho, assente numa poética e performance da materialidade, qualquer que seja o formato. Como o próprio diz, “o trabalho é todo o mesmo, coloco a mesma energia em tudo e julgo que alguém que ouça a música, veja uma acção performativa ou visite uma exposição vai perceber perfeitamente que tudo vem do mesmo lugar.”


Por Liz Vahia

 

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Soundscape #1 (2007), João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.

 

LV: Vi recentemente uma obra tua na exposição colectiva “Garganta”, patente no CIAJG até este mês de setembro, intitulada “Soundscape #1” (2007), e pareceu-me que podia ser paradigmática do trabalho. Porque no teu trabalho há uma verdadeira “poética do som”, na medida em que a poesia não pode dispensar as palavras concretas que usa, também o som no teu trabalho não sobrevive sem vermos a sua origem material. Há no teu trabalho um pensamento que conjuga a materialidade e a imaterialidade: o som são os equipamentos/instrumentos sonoros, a imagem é a máquina fotográfica, a pintura é o opaco, a cor que se sobrepõe a algo. Concordas?

JFM: Concordo sim, é uma forma de agir que atravessa o meu trabalho diagonalmente. Eu parto quase sempre para uma operação no sentido de uma certa desconstrução. E quase sempre essa desconstrução passa por questionar as lógicas técnicas ou o discurso dessa mesma operação. O que acontece, para além da vertente visual da obra é que o discurso passa muitas vezes pela exposição desse desarticular dos próprios meios que suportam a ideia. Daí uma certa ambiguidade das obras, por um lado falam de um assunto mas que na resolução, ora técnica, ora poética desconcerta o conceito originário. Por vezes o gesto é tão simples como tornar algo impróprio para uso, com alguma classe, e assim dar-lhe uma oportunidade particular no lugar da fruição estética.


LV: Essa questão da materialidade do objecto parece-me bastante importante no teu trabalho, a um nível mesmo conceptual. O objecto vive nessa materialidade e mesmo deixando de ter um uso funcional, ou de estar completamente destruído e impedido de qualquer função, ele mantém essa identidade objectual. Como é que te aparecem os objectos que vemos nas tuas obras? Há uma actividade de acumulação para futuro uso, ou procura-los especificamente?

JFM: Acho que os procuro especificamente para os acumular! :P A coisa que pode diferir é se ficam muito ou pouco tempo à espera de ser alguma coisa. Mas sim, claro, às vezes sou atraído por qualquer coisa particular e vou à procura. Também acontece, por via de uma experimentação que tenha feito, descobrir um tipo de objecto que mostra um certo potencial. Por exemplo, é normal que o trabalho em cenografia e com as tecnologias de palco acabe por contaminar o trabalho das Artes Plásticas que é de onde venho.


LV: Em termos de processo de trabalho, como concilias todas as tuas actividades musicais e performativas, que acompanham também a tua produção artística e têm grande visibilidade? É uma busca por uma presença colectiva a par com uma experimentação individual? Tens o mesmo grau de envolvimento com essas actividades que, na realidade, nem são bem “extra” trabalho plástico, pois não?

JFM: Acho que em termos de visibilidade, as Artes Plásticas é onde estou cimentado. Nas outras áreas fui sempre mais tímido e, de certa forma, também ainda não lhes dei o tempo suficiente. Mas o trabalho é todo o mesmo, coloco a mesma energia em tudo e julgo que alguém que ouça a música, veja uma acção performativa ou visite uma exposição vai perceber perfeitamente que tudo vem do mesmo lugar. Eu sempre vi a produção artística como uma coisa total e por isso sempre me foi difícil estar cingido a uma tecnologia, a uma forma de criar discurso. Acho que é algo que vem de uma curiosidade extrema e de uma tendência para complicar a minha própria vida, no bom sentido. Não consigo abdicar daquilo que sinto em cada uma das áreas de trabalho porque sou deslumbrado pela poética da técnica e cada uma destas áreas tem as suas particularidades e subtilezas.

 

 

Escultura automática #4 (2017), João Ferro Martins. Imagem cortesia do artista.

 


LV: Vamos poder ver muito em breve, no encerramento do Momento II do Temps d’Images, um espectáculo teu e do Alexandre Pieroni Calado, intitulado “LEBRE”. No texto de apresentação, diz que “é um espectáculo da palavra enquanto imagem-tempo”, queres falar-nos um pouco do que se trata?

JFM: É um trabalho para palco que tem também uma versão em concerto, ou vice-versa. Parte da figura mitológica do Hermes e vem na consequência de um outro trabalho que se poderia dizer de Teatro físico, com banda sonora e voz-off. Aqui decidimos que a voz seria feita ao vivo o que no fundo isso é a base do Spoken word e do Hip hop. O trabalho é estruturalmente a desmontagem da ideia de concerto sobre a qual trabalhamos conceitos ligados aos atributos de Hermes, uma figura totalmente paradigmática dos nossos dias. Ligada ao discurso e às encruzilhadas.
Está a ser um trabalho muito estimulante de música e performance com pessoas de quem gosto muito, e com quem é um enorme prazer trabalhar.
A questão imagem-tempo é tão simples como o facto de ser uma peça de palco onde se criam quadros vivos e que discorre linearmente mas aqui a palavra ganha um protagonismo especial por via da sua manipulação a diferentes níveis. A ver...
Mais informações poderão consultar no site do Temps d'Images. https://tempsdimages-portugal.com/programacao/


LV: Alguém que tem tantos projectos diversos, há alguma coisa que ainda guardes para fazer? Alguma valência que gostasses de experimentar?

JFM: Sim, completamente, tenho projectos específicos, coisas que quero fazer na área da Agricultura, a sério! E, certamente, na área da Cerâmica. ;)