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ENTREVISTA


Bettina Funcke. Fotografia: Jason Frank Rothenberg.


Projecto editorial 100 Notes–100 Thoughts, dOCUMENTA (13).


Projecto editorial 100 Notes–100 Thoughts, dOCUMENTA (13).


Projecto editorial 100 Notes–100 Thoughts, dOCUMENTA (13).


Projecto editorial 100 Notes–100 Thoughts, dOCUMENTA (13).


Projecto editorial 100 Notes–100 Thoughts, dOCUMENTA (13).


100 Notes –100 Thoughts, n°14 – Alejandro Jodorowsky.


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BETTINA FUNCKE, EDITORA DE 100 NOTES € 100 THOUGHTS / DOCUMENTA (13)


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A dimensão escrita do pensamento é o mote principal da iniciativa editorial 100 Notes–100 Thoughts, composta por uma série de publicações com uma importância fundamental para o processo de formação da dOCUMENTA (13). Integrando um grande círculo de pensadores e autores de diferentes disciplinas – a arte, as ciências naturais, a filosofia e a psicologia, a antropologia, a economia e as ciências políticas, os estudos literários e linguísticos, assim como a poesia – reúne fac-similes de cadernos de notas, ensaios encomendados, colaborações e conversas que estão a ser lançados previamente à exposição.

Nesta entrevista, concedida por e-mail, a 29 de Agosto, a coordenadora editorial de 100 Notes–100 Thoughts, Bettina Funcke, responde a perguntas sobre o projecto e explica-nos resumidamente o espírito desta plataforma que sucede à iniciativa documenta 12 magazines, lançada na anterior edição da Documenta.

Escritora e editora, Bettina Funcke é responsável pelo departamento editorial da dOCUMENTA (13). É autora do livro Pop or Populus: Art between High and Low e de artigos e ensaios publicados em revistas como a Afterall, Artforum, Bookforum, Parkett, Public e Texte zur Kunst. Na área editorial trabalhou para a Dia Art Foundation (1999–2007), foi editora sénior da delegação nova-iorquina da Parkett, bem como co-fundadora da The Leopard Press e de Continuous Project.


Por Sandra Vieira Jürgens
29 de Agosto de 2011



100 NOTES – 100 THOUGHTS


P: Como surge o projecto 100 Notes – 100 Thoughts?

R: Há dois anos, a Carolyn Christov-Bakargiev e a Chus Martínez tiveram a ideia de integrar um grande círculo de pensadores radicais, provenientes de diferentes áreas e de diferentes contextos geográficos, no processo de formação da dOCUMENTA (13), de modo a criar uma importante plataforma pública para os pensadores, a qual existirá paralelamente às plataformas públicas para os artistas. Entusiasmou-nos a ideia de publicar a série de cadernos ao longo dos 18 meses que antecedem a abertura da exposição em Kassel, em Junho de 2012, permitindo que o público possa conhecer antecipadamente o desenvolvimento das ideias da dOCUMENTA (13). Os cadernos permitem estender a presença da exposição para lá do espaço e do tempo de permanência da exposição em Kassel, factor que é fundamental para a abordagem da Carolyn Christov-Bakargiev.




P: Em termos gerais, como definiria as linhas desta edição?

R: A ambição é grande, embora também seja importante que a edição dos cadernos seja modesta, já que é esse o espírito do projecto. Em geral, existe a necessidade de desenvolver uma nova metodologia, que também é extensível à forma como falamos de arte e ao porquê de olharmos para arte – a série afirma que temos de ir além da arte para chegar ao cerne da arte, ou seja, para abordar algumas das questões mais amplas que hoje enfrentamos. Nós convidamos os autores e os artistas a partilhar o seu pensamento enquanto processo; não queremos verdades absolutas ou teses completamente desenvolvidas. Queremos poder testemunhar como o pensamento surge, como há liberdade nesse processo, como é confuso e poético, e nunca definitivo.



P: Porquê publicar uma série de cadernos de apontamentos?

R: Os cadernos de apontamentos são o formato certo para expressar esta sensibilidade. Constituem uma forma aberta, íntima, introdutória, permitem desenhar, escrever, e prestam-se a um pensamento diagramático.



P: Quais foram os critérios seguidos na escolha das colaborações, na selecção dos textos e dos ensaios encomendados aos autores?

R: Nós convidámos os autores a escrever ensaios e a ilustrá-los se assim o desejassem e convidámos os artistas a fazer o que quisessem dentro dos limites da página impressa e do orçamento disponível, o que em geral foi trabalhar ou reagir a textos à sua escolha, e convidámos estudiosos e artistas a partilhar cadernos de apontamentos já existentes com pequenos prefácios que contextualizassem o material reproduzido.

Todas as colaborações e contributos têm influenciado o pensamento da directora artística, Carolyn Christov-Bakargiev, no seu percurso para a dOCUMENTA (13). As várias disciplinas e linhas de pensamento exprimem-se de maneira própria e interagem em diferentes formatos e linguagens, e essa é a ideia central da dOCUMENTA (13). Os temas e escolas de pensamento abrangem as ciências e tecnologias de ponta, como a física quântica, e as suas alianças com as mais antigas tradições, com a ecologia, a poesia, a história local. O arquivo e o livro de artista, o colapso e a recuperação todos convergem aqui.



P: Na apresentação do projecto vem referido que se trata de “publicar o impublicável e de apresentar um espaço de intimidade e não de crítica”. Qual é a sua opinião sobre o actual papel e os modelos da crítica de arte?

R: Para dizê-lo em poucas palavras: há uma crise. E há enorme quantidade de publicações de textos sobre arte. E há muita arte para ver. E não sabemos o que fazer com tudo isso. E é também assim que deve ser: fazer-nos hesitar, parar, pensar de novo, e não saber. É difícil escapar ao efeito da gíria dos críticos. Há, é claro, o valioso texto monográfico que partilha informações relevantes sobre as origens de artistas específicos, e as suas formas de trabalhar, que são o resultado de uma longa pesquisa e, possivelmente, de uma relação de longa data estabelecida entre o artista e o autor. Mas precisamos de especialistas, mas também de especialistas de diferentes áreas, que possam trazer o seu conhecimento aos objectos mudos e relacionar a arte com a situação presente, para nos ajudar a formular as questões relevantes que estamos a enfrentar historicamente e até talvez dar respostas a estas perguntas para sabermos como continuar a partir daqui. E para tornar esses pensamentos acessíveis e não muito especializados, os cadernos de apontamentos podem ser uma forma útil: os apontamentos estão ainda suficientemente perto de um impulso, não inteiramente formado, que às vezes pode assumir um significado universal, ou um potencial poético. É também um momento frágil de escrita ou de desenho podendo assim parecer impublicável, e raramente é crítico.


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INTERVIEW WITH BETTINA FUNCKE / 100 NOTES – 100 THOUGHTS
by Sandra Vieira Jürgens
August 29, 2011



New York-based writer and editor, Bettina Funcke, is currently the Head of Publications for dOCUMENTA (13). Her book, Pop or Populus: Art between High and Low, was recently translated into English and published by Sternberg Press (2009). She has lectured on aesthetics, art theory, and art writing at Bard College, the ZKM in Karlsruhe, Columbia University, and Yale University. Her writings on contemporary art and its production have been published widely, in both artist monographs and magazines including Afterall, Artforum, Bookforum, Parkett, Public, and Texte zur Kunst. Latest essays include texts on Elad Lassry, Wade Guyton, Gerard Byrne, Jacques Rancière, as well as conversations with Carol Bove, Johanna Burton, and Peter Sloterdijk. After editing books at Dia Art Foundation (1999–2007), she was Senior Editor U.S. for Parkett, and is also a co-founder of The Leopard Press and the Continuous Project group.



SVJ: How did the 100 Notes – 100 Thoughts idea begin?

BF: Two years ago, Carolyn Christov-Bakargiev and Chus Martínez had the idea to include a large circle of radical thinkers from different fields and from different geographic contexts into the process of developing dOCUMENTA (13) so that an important public platform for thinkers would be produced that will exist in parallel with the ones for the artists. We got excited that publishing the notebooks throughout the 18 months leading to the opening of the exhibition in Kassel in June 2012 would allow the public to anticipate the developing ideas for dOCUMENTA (13). The notebooks exist spatially as well as time-wise beyond the exhibition in Kassel, which is essential to Carolyn Christov-Bakaergiev’s approach.



SVJ: As a whole, how would you define the guidelines for this publication project?

BF: The ambition is high, though it is important for the notebooks to be modest, too. There is a need for a new methodology in general, but also in respect to how we talk about art and why we look at art – the series states that we have to move beyond art to get to the core of art, that is, to address some of the larger questions we are facing today. We invite authors and artists to share their thinking as a process; we don’t want final truths or fully developed theses. We want to be able to witness how thinking emerges, how there is freedom in that process, how it is messy and poetic, and never final.



SVJ: Why publishing a series of notebooks?

BF: Notebooks are the right format for that sensibility. They are open, intimate, preliminary, allow for writing, drawing, and lend themselves to diagrammatic thinking.



SVJ: What were your criteria regarding collaborations, the selection of texts and commissioned essays?

BF: We invite authors to write essays and to illustrate them if they wish, and we invite artists to do what they want within the limitations of the printed page and the budget, and that is often working with and responding to texts of their choice, and we invite scholars and artists to share existing notebook pages with small introductions to contextualize the material reproduced.

All contributors have influenced the thinking of Artistic Director Carolyn Christov-Bakargiev on her way to dOCUMENTA (13). The various disciplines and lines of thinking express themselves in their own ways and interact in the different formats and ways of speaking, which is a central idea for dOCUMENTA (13). Topics and schools of thought range from radical sciences and technology, such as quantum physics, and their alliances with the oldest traditions to ecology, poetry and local history. The archive and the artist book, collapse and recovery all come together here.



SVJ: In the presentation of the project it is referred that it follows “publishing the unpublishable and presenting a space for intimacy and not yet of criticism”. What is your view on the present role and the models of art criticism?

BF: To say it in too few words: there is a crisis. And there is a lot of publishing of writing about art. And there is a lot of art to see. And we don’t know what to do with it all. And that is also how it should be: to make us hesitate, stop, think again, and not know. It is hard to escape the jargon-effect. There is, of course, the valuable monographic text that shares relevant back ground information about specific artists and their ways of working after long research and possibly a long-standing relationship between artist and writer. But we need specialists, specialists from different fields, too, who can bring their knowledge to the mute objects and to connect the art to where we are today, to help us formulate the relevant questions we are facing historically and maybe even ways to possibly give answers to these questions so we know how to move on from here. And to make these thoughts accessible and not too specialized, the notebook can be a useful form: there the notes are still close enough to an impulse, not fully formed, that they can sometimes take on a universal meaning, or a poetic potential. It is also a fragile moment of writing or drawing and thus it can seem unpublishable and is rarely criticism.



dOCUMENTA (13) - Publications
www.tinyurl.com/44uzhp9