Links

ENTREVISTA


Ana Jotta.

Outras entrevistas:

ROMY CASTRO



AIDA CASTRO E MARIA MIRE



TITA MARAVILHA



FERNANDO SANTOS



FABÍOLA PASSOS



INÊS TELES



LUÍS ALVES DE MATOS E PEDRO SOUSA



PAULO LISBOA



CATARINA LEITÃO



JOSÉ BRAGANÇA DE MIRANDA



FÁTIMA RODRIGO



JENS RISCH



ISABEL CORDOVIL



FRANCISCA ALMEIDA E VERA MENEZES



RÄ DI MARTINO



NATXO CHECA



TERESA AREGA



UMBRAL — ooOoOoooOoOooOo



ANA RITO



TALES FREY



FÁTIMA MOTA



INÊS MENDES LEAL



LUÍS CASTRO



LUÍSA FERREIRA



JOÃO PIMENTA GOMES



PEDRO SENNA NUNES



SUZY BILA



INEZ TEIXEIRA



ABDIAS NASCIMENTO E O MUSEU DE ARTE NEGRA



CRISTIANO MANGOVO



HELENA FALCÃO CARNEIRO



DIOGO LANÇA BRANCO



FERNANDO AGUIAR



JOANA RIBEIRO



O STAND



CRISTINA ATAÍDE



DANIEL V. MELIM _ Parte II



DANIEL V. MELIM _ Parte I



RITA FERREIRA



CLÁUDIA MADEIRA



PEDRO BARREIRO



DORI NIGRO



ANTÓNIO OLAIO



MANOEL BARBOSA



MARIANA BRANDÃO



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO E SANDRA VIEIRA JÜRGENS



INÊS BRITES



JOÃO LEONARDO



LUÍS CASTANHEIRA LOUREIRO



MAFALDA MIRANDA JACINTO



PROJECTO PARALAXE: LUÍSA ABREU, CAROLINA GRILO SANTOS, DIANA GEIROTO GONÇALVES



PATRÍCIA LINO



JOANA APARÍCIO TEJO



RAÚL MIRANDA



RACHEL KORMAN



MÓNICA ÁLVAREZ CAREAGA



FERNANDA BRENNER



JOÃO GABRIEL



RUI HORTA PEREIRA



JOHN AKOMFRAH



NUNO CERA



NUNO CENTENO



MEIKE HARTELUST



LUÍSA JACINTO



VERA CORTÊS



ANTÓNIO BARROS



MIGUEL GARCIA



VASCO ARAÚJO



CARLOS ANTUNES



XANA



PEDRO NEVES MARQUES



MAX HOOPER SCHNEIDER



BEATRIZ ALBUQUERQUE



VIRGINIA TORRENTE, JACOBO CASTELLANO E NOÉ SENDAS



PENELOPE CURTIS



EUGÉNIA MUSSA E CRISTIANA TEJO



RUI CHAFES



PAULO RIBEIRO



KERRY JAMES MARSHALL



CÍNTIA GIL



NOÉ SENDAS



FELIX MULA



ALEX KATZ



PEDRO TUDELA



SANDRO RESENDE



ROSELEE GOLDBERG



MARTA MESTRE



NICOLAS BOURRIAUD



SOLANGE FARKAS



JOÃO FERREIRA



POGO TEATRO



JOSÉ BARRIAS



JORGE MOLDER



RUI POÇAS



JACK HALBERSTAM



JORGE GASPAR e ANA MARIN



GIULIANA BRUNO



IRINA POPOVA



CAMILLE MORINEAU



MIGUEL WANDSCHNEIDER



ÂNGELA M. FERREIRA



BRIAN GRIFFIN



DELFIM SARDO



ÂNGELA FERREIRA



PEDRO CABRAL SANTO



CARLA OLIVEIRA



NUNO FARIA



EUGENIO LOPEZ



JOÃO PEDRO RODRIGUES E JOÃO RUI GUERRA DA MATA



ISABEL CARLOS



TEIXEIRA COELHO



PEDRO COSTA



AUGUSTO CANEDO - BIENAL DE CERVEIRA



LUCAS CIMINO, GALERISTA



NEVILLE D’ALMEIDA



MICHAEL PETRY - Diretor do MOCA London



PAULO HERKENHOFF



CHUS MARTÍNEZ



MASSIMILIANO GIONI



MÁRIO TEIXEIRA DA SILVA ::: MÓDULO - CENTRO DIFUSOR DE ARTE



ANTON VIDOKLE



TOBI MAIER



ELIZABETH DE PORTZAMPARC



DOCLISBOA’ 12



PEDRO LAPA



CUAUHTÉMOC MEDINA



ANNA RAMOS (RÀDIO WEB MACBA)



CATARINA MARTINS



NICOLAS GALLEY



GABRIELA VAZ-PINHEIRO



BARTOMEU MARÍ



MARTINE ROBIN - ChĂąteau de ServiĂšres



BABETTE MANGOLTE
Entrevista de Luciana Fina



RUI PRATA - Encontros da Imagem



BETTINA FUNCKE, editora de 100 NOTES – 100 THOUGHTS / dOCUMENTA (13)



JOSÉ ROCA - 8ÂȘ Bienal do Mercosul



LUÍS SILVA - Kunsthalle Lissabon



GERARDO MOSQUERA - PHotoEspaña



GIULIETTA SPERANZA



RUTH ADDISON



BÁRBARA COUTINHO



CARLOS URROZ



SUSANA GOMES DA SILVA



CAROLYN CHRISTOV-BAKARGIEV



HELENA BARRANHA



MARTA GILI



MOACIR DOS ANJOS



HELENA DE FREITAS



JOSÉ MAIA



CHRISTINE BUCI-GLUCKSMANN



ALOÑA INTXAURRANDIETA



TIAGO HESPANHA



TINY DOMINGOS



DAVID SANTOS



EDUARDO GARCÍA NIETO



VALERIE KABOV



ANTÓNIO PINTO RIBEIRO



PAULO REIS



GERARDO MOSQUERA



EUGENE TAN



PAULO CUNHA E SILVA



NICOLAS BOURRIAUD



JOSÉ ANTÓNIO FERNANDES DIAS



PEDRO GADANHO



GABRIEL ABRANTES



HU FANG



IVO MESQUITA



ANTHONY HUBERMAN



MAGDA DANYSZ



SÉRGIO MAH



ANDREW HOWARD



ALEXANDRE POMAR



CATHERINE MILLET



JOÃO PINHARANDA



LISETTE LAGNADO



NATASA PETRESIN



PABLO LEÓN DE LA BARRA



ESRA SARIGEDIK



FERNANDO ALVIM



ANNETTE MESSAGER



RAQUEL HENRIQUES DA SILVA



JEAN-FRANÇOIS CHOUGNET



MARC-OLIVIER WAHLER



JORGE DIAS



GEORG SCHÖLLHAMMER



JOÃO RIBAS



LUÍS SERPA



JOSÉ AMARAL LOPES



LUÍS SÁRAGGA LEAL



ANTOINE DE GALBERT



JORGE MOLDER



MANUEL J. BORJA-VILLEL



MIGUEL VON HAFE PÉREZ



JOÃO RENDEIRO



MARGARIDA VEIGA




ANA JOTTA


Ana Jotta possui uma obra múltipla e repartida por diferentes técnicas, desde a pintura, escultura, instalação, fotografia, cerâmica... Referências provindas da história da arte misturam-se com referências da cultura popular e vernacular. Com duas exposições internacionais anunciadas para breve, em Paris no Le Crédac e na Bienal de Liverpool 2016, Ana Jotta conversou entretanto com Victor Pinto da Fonseca sobre a vida e a arte, o espaço e os objectos, as “coisas” que lhe interessam, o irracional, os lugares “para” ou “dos” artistas.

 

Por Victor Pinto da Fonseca

 

>>>

 

VPF: Em julho participarás na Liverpool Biennial 2016, demonstrativo do interesse que o teu trabalho revela em curadores internacionais. Pessoalmente, gosto de pensar que a tua prática artística - a utilização de coisas e materiais próximos de ti, do dia a dia - é como experienciar e traduzir a simplicidade da vida; mas, a essência, o que mais admiro na produção da tua obra, é a força do teu carácter, a tua atitude. Uma ideia mais ou menos similar ao "Live in Your Head. When Attitudes Become Form", [1969], Harald Szeemanns.

- Parece-te fazer sentido semelhante abordagem do teu trabalho? Não me esqueço, ao mesmo tempo, que a tua obra também está ligada à pintura...O que te faz ser simultaneamente pintora e escultora...Existe conexão entre a pintura e os objectos?

AJ: A vida não é simples, linear sim - daqui até ali. O trabalho também não é simples, mas duma maneira muito diferente: a vida, já disse há tempos, é sujeita, púdica, quente; a arte é impudica, vital e fria.

- Mas eu sou uma pintora que muitas vezes, por falta de energia ou saúde, não consegue reduzir-se a uma superfície: é sempre mais fácil lidar com coisas, objectos, mais próximos, parecidos connosco, que também temos volume.


VPF: "É preciso uma vida para nos tornarmos um jovem artista", Jan Fabre.

- Que significado tem para ti teres recebido o grande Prémio EDP 2014 e mais recentemente o Prémio AICA 2015, como distinção de carreira? Ao mesmo tempo, que opinião tens sobre a cena artística actual em Portugal, num momento em que me parece que a arte em Portugal é cada vez mais estranha à natureza das pessoas?

AJ: Para nos tornarmos um jovem artista, mesmo velhos, é preciso não ter medo, ser económicos e certeiros.

- Dinheiro é sempre bem vindo, das honrarias, desconfiar. A cena artística é igual em todo o lado. Não é o mundo global?


VPF: Vamos falar da tua próxima exposição individual (em Abril) em Paris, no Le Crédac, e do que irás fazer lá. Sei que o Crédac é um centro de arte contemporânea de referência (bem dirigido e muito prestigiado); e conhecendo o espaço, acredito que tem um ambiente perfeito - refiro-me à escala e à arquitectura do espaço - para intervires de maneira que o teu trabalho possa ser visto não só individualmente mas também relacionando-se com o espaço...

- Podes partilhar com a Artecapital como é que surgiu o convite da Claire Le Restif? E revelar-nos o que apresentarás... trabalho recente, site especific?

AJ: O sítio é grande, sim. Espaço e arquitectura não me interessam nada, não tenho relações com espaços ( "A Arte do Escaparate, da Montra"), a não ser para tentar evitá-los, que não sejam um obstáculo e um estorvo para a vida das coisas. As coisas, essas sim interessam-me, têm vida própria; gosto muito de Artes Decorativas e de trabalhos manuais.

- [A Claire Le Restif] Viu por acaso. Tinha acabado de chegar a Lisboa, fazia anos, e alguém lhe disse que naquela noite havia um vernissage duma Ana Jotta, "A Conclusão da Precedente", que talvez lhe interessasse ver. E interessou. Quanto a trabalhos, só me interessam as novidades; o que está feito, está feito. Vamos lutar com o dito espaço e evitar que ele tome conta da situação e deles, dos trabalhos.


VPF: "Quando o cubismo começou a ser conhecido, falava-se sobretudo de Metzinger. Ele explicou o cubismo enquanto Picasso nunca explicou nada. Levou-se alguns anos para se dar conta de que não falar era melhor do que falar de mais" In: Entrevistas com Pierre Cabanne, Marcel Duchamp.

- A tua obra comunica extraordinariamente mas simultaneamente tu resistes à procura de popularidade, ao lado publicitário. Contrariamente, parece-me que - no tempo actual - a maioria dos artistas têm tendência para falar de mais do seu trabalho... Ou será uma espécie de tensão provocada pela maior visibilidade cultural da arte (muitas vezes associada ao entretenimento) e o maior interesse dos media pela arte contemporânea, que os faz explicar tudo?

AJ: Continuamos a não nos darmos conta de que não falar é sempre melhor. Ou se trabalha ou se fala. Para simplificar, as coisas todas, arte incluída, são agora objectos " transgénicos". Não tenho que resistir a coisa nenhuma, a não ser a mim própria. Apesar de, é possível ainda trabalhar. Basta dizer não. Não há só 1 mainstream, há muitos.


VPF: Ainda a propósito de teres recebido recentemente o Prémio AICA 2015, li um artigo sobre ti (num jornal diário), no qual a palavra "liberdade" surgia diversas vezes associada à crítica do teu trabalho e/ou à tua pessoa, o que num certo sentido, não deixa de ser romântico, considerando que o romantismo enquanto arte sempre apareceu ligado ao conceito de liberdade individual!

- A Ana Jotta que considera que, "A arte é vital (...) viver e trabalhar é absolutamente a mesma coisa, sem diferença alguma" (e aqui voltamos à questão da tua atitude, que muito admiro na tua obra), é uma romântica ou resiste às referências da história de arte?

AJ: Estás a falar do artigo no Público da V. R .? Se sim, se estás, ser-se livre, e no meu caso, como diz o João Fernandes, é ser "uma gata sem dono". Dizer não é um facto, não é romântico.

- Não tenho que resistir a coisa nenhuma, muito menos a referências, sou do irracional, que é um mundo muito vasto, inclassificável. Só faço o que me apetece.


VPF: O Eugène Delacroix, na época em que realizou a viagem ao Norte de África, retratou através de diversas cartas as suas visões e entusiasmos sobre Marrocos. A determinada altura, numa das cartas enviadas a um amigo parisiense, descreve mesmo Tânger como, "É um lugar totalmente para pintores. Se alguma vez tiveres uns quantos meses para perder, vem à Barbéria, aqui verás o natural, que nas nossas terras sempre se disfarça, e para mais sentirás a preciosa e rara influência do sol que dá a tudo uma vida penetrante."

- Tenho ideia que tens muito de viajante no teu percurso de vida e curiosamente terás mesmo realizado diversas estadias em Marrocos... Consideras que existem lugares totalmente para artistas, ou - um lugar totalmente para artistas -, é apenas uma ideia ilustrativa do romantismo da época?

AJ: Outros tempos. Gosto de Tânger, tenho lá casa. É uma cidade pequena, como Lisboa, a medida certa para mim; não gosto de cidades grandes, das grandes cidades, onde está tudo feito, onde há tudo, informação demais. E quando digo a medida certa, é precisamente para "não me perder". Outra vez o teu romantismo do "exótico".

- Já não há lugares para artistas, lugar para artistas (há poucos desses). A arte, a tal "transgénica", a desse tal mainstream, é a corrida do artista-jóquei para ganhar o troféu do "Estado das Artes".