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DANIEL V. MELIM _ PARTE II
18/06/2021
[Esta é a segunda parte da entrevista com Daniel V. Melim, a primeira parte pode ser acedida aqui]
PARTE II_Dar ao mundo algo da esfera do toque íntimo
Daniel V. Melim estudou Pintura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e Applied Anthropology and Community and Youth Work no Goldsmiths College - University of London, curso em que foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Aparte da formação académica, Daniel V. Melim frequentou variadas formações em áreas tão diversas como meditação, yoga, butoh, contacto-improvisação, composição em tempo real (performance), teatro de improviso, trabalho com voz, método Louise Hay e design de eco-aldeias. Por isso é natural que na sua biografia afirme que o seu interesse está nas “dimensões afectivas, históricas, colectivas, ecológicas, espirituais e curativas da criação.”
Foi finalista do Prémio EDP Novos Artistas 2007, vencedor do Prémio Fidelidade Mundial Jovens Pintores em 2011 e shortlister do projecto mundial 100 Painters of Tomorrow (Thames & Hudson, 2014).
A conversa com Sérgio Parreira dividiu-se em duas partes. Na segunda que se apresenta aqui, Daniel V. Melim aborda a relação da sua pintura com a música, a performance e a escrita.
Por Sérgio Parreira
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SP: Sei que sugeri um caminho anteriormente, mas mencionaste algumas coisas que me interessa entender. “(…) nada disto vale nada se não transmitir diretamente algo relevante a quem vê”. Esta tua afirmação, parece-me particularmente relevante. A criação plástica artística, como a entendemos, vive do seu interlocutor, o espetador. Para além desta tua consideração, muito pertinente, como “encaras”, vês o espetador das tuas obras, e como o consideras no “ato de criação”?
DVM: Eu acho que quem vai interagir com o que faço já está presente desde o início do que faço. Eu sempre aferi a vida que há no que crio através do espelho que os outros me dão. Não quer dizer que faça para ser agradável, nem muito menos para ser fácil, mas notar (pelas suas reações, verbais ou não verbais) que certos lugares humanos acordam nas pessoas com certos trabalhos meus, faz-me decidir ir por certos caminhos e não por outros. É meio estranho, eu sempre gostei que gostassem do meu trabalho, mas acabo por usar o seu feedback mais como pretexto para seguir caminhos que no fundo eu já queria seguir. Como se eu me fosse conhecendo também através do olhar do outro. E há certas coisas que vendem mais. Considero de uma hipocrisia tremenda dizer que isso não entra na equação do que faço ou não, porque estamos todos embrulhados até ao pescoço na dança triste do capitalismo tardio. Agora o que não pode jamais acontecer é sentir que estou a torcer a minha alma para colocar algo no mundo em que não acredito, isso não é possível. Há um fenómeno curioso, que é o de te apaixonares tanto por algo que estás a explorar e de teres absolutamente que confiar que, se aquilo te diz tanto, vai dizer também algo a alguém. É preciso também essa confiança, que tem algo de pequena travessia do deserto constante também. Se passas anos sem galerista ou a vender pouco, às vezes há tentações fortes (até legítimas) que surgem, e que têm a ver com esse lado de encaixe ou não da obra no mundo. Tentações de desistência, de conformismo, de espetacularização do trabalho, enfim, cada um saberá com que demónios tem de lidar, e porque faz o que faz. No final, é uma coisa muito solitária e auto-exigente, mas que tem sempre a ver com dar ao mundo algo da esfera do toque íntimo. "Extremo amor e extrema exigência" (sic), dizia o Eugénio de Andrade em relação às suas criações.
SP: Apesar de concordar contigo de que a naturalidade, ou o local onde crescemos é circunstancial e que não depende de uma escolha, a ação e a matéria que este local nos oferece, no entanto, determina resultados assim como, por vezes, nos indica objetivos. Uma nota antes de colocar a minha questão: O teu trabalho, e ainda no seguimento do teu processo de reconversão, aproveitamento, transposição da madeira obsoleta em suporte de criação, surge de episódios circunstanciais, logo, locais. É manifestamente identificável uma “origem”. Fascinante, por sinal, única, e potencialmente enigmática. Ou seja, não que o objeto artístico tenha que ter nacionalidade, mas, o resultado da criação bebe das circunstâncias. Concordas?
DVM: Sim, concordo.
SP: Quanto aos teus trabalhos de “forma” música “(cujas bases teóricas ainda estou a estudar)”, tenho tantas perguntas, mas vou tentar sintetizar ideias, ou, desafios e provocações em formato de questão, o melhor possível. Música e/ou Performance Vs Simultaneidade de ambas (Onde começa ou termina cada uma delas)?
DVM: Eu comecei a fazer música para dar voz e corpo presente ao que escrevia "para a gaveta" há anos, e por uma necessidade orgânica de fazer som (sozinho e com outros músicos). Publiquei apenas um livro há anos pelo MUDAS, mas de certo modo a música veio resolver esta coisa de não querer vida de escritor mas não gostar de criar palavras para a gaveta. Descobri que música é a coisa que sou mais feliz a fazer, independentemente de só ter começado a estudá-la há nem dois anos. Então comecei a usar todos os pretextos que encontrava para a fazer. A figura da performance acaba por ser a ponte mais direta entre o campo das artes visuais, onde estou há anos, e o da música. Comecei por fazer em 2018 uma performance com a Mariana Camacho na capela do Museu de Arte Sacra do Funchal, num projeto da Porta 33 comissariado pelo Miguel Von Hafe. Cruzei nessa performance vocal o meu interesse por recolhas etnomusicológicas antigas (nesse caso as feitas durante 40 anos pelos Xarabanda na Madeira) com o meu interesse por música experimental (loops, distorções). A coisa acontecia em meio a pinturas minhas feitas sobre um armário antigo desmembrado de modo a evocar um altar, e com recurso também a um tambor em que um Dragoeiro local estava pintado com o próprio "sangue de drago" vermelhão (técnica de tingimento antiga). Num segundo momento, em 2019, pude fazer a performance inaugural da Bienal Anozero, usando esse espaço para fazer um trabalho semelhante, mas desta vez habitando de certo modo o que seria a materialização de uma das figuras "encarnavalizadas" de uma pintura minha. O movimento corporal nessa inauguração da Bienal também aconteceu mais. No seguimento disso, durante todos os sábados da Bienal estive lá em residência sonora. De manhã estive a fazer som e canto (ora acústico, ora com a Loop Station), em interação com as minhas peças. De tarde, conduzia todos os sábados um workshop em que abordámos através da criação das memórias sonoras de cada um. No final fizemos uma apresentação. Então, aí, a música e a performance estão entrelaçadas com um trabalho que tem primordialmente a ver com o terceiro eixo (os dois primeiros são as Artes Visuais e a Música) daquilo que me ocupa: o trabalho com pessoas.
Comecei também a fazer videoclips para o meu trabalho. Embora se tratem ainda de "rough mixes" das músicas, achei que queria partilhar já três delas, pois não gosto mesmo nada de criar para a gaveta. Assim pude ter já feedbacks vários e começar a melhorar várias coisas. Há aí um primeiro concerto online apalavrado, mas as quarentenas várias ditarão quando é que a coisa ocorre e como.
Então, a mim interessa-me criar música quer dentro do universo das artes visuais, quer autonomamente disso tudo, só pela música em si, pelo que se é natural que haja imensa coisa que cruza das imagens para o som, não pode isso servir de desculpa para a música ser em si menos robusta. Daí que tenha sentido necessidade de começar a estudar um mínimo de teoria e voz (e em breve baixo também, que descobri ser o instrumento que mais me chama), porque a minha onda DIY e etno-off-the-tracks não resolvem tudo aquilo a que me proponho fazer sonoramente. E porque é importante saber tocar com outros, e há códigos que se podem aprender, mesmo que depois seja para jogá-los pela janela, ao menos sei o que estou a jogar pela janela. Seja como for, levou mais de 5 anos a eu começar a gostar mesmo do que fazia em artes visuais, por isso imagino que vá levar também uns anos a sentir-me realmente identificado com o que faço em termos sonoros.
SP: Consegues identificar, explicar, a necessidade, que claramente existe, na tua interação presencial / performática / musical, com algumas das tuas criações de “imagens”?
DVM: Como já referi, a performance vem muito como maneira de trazer as músicas para o meio em que já trabalhava, as Artes Visuais. Esta coisa do encontro entre o som e a imagem, entre a palavra e a intenção com que é dita foi algo que ficou ainda mais aguçado nos últimos anos, quando tive oportunidade de estar presente nalguns rituais de cura oriundos de povos originários sul-americanos. Para os Shipibo e outros povos, ainda é óbvio que a imagem transporta um som (e vice-versa) e que os sons codificados (palavras) transportam uma intenção que pode matar ou curar, ou pelo menos certamente exercer um impacto significativo em algumas pessoas. Interessa-me muito a intenção com que ponho coisas no mundo, o tipo de relações que ponho em marcha com o que faço, por isso comecei há alguns anos a colocar título em todas as obras (até 2018 basicamente é tudo sem título ou com títulos lacónicos). Foi por isso que comecei a cantar as imagens, pois trata-se de emanar sonoramente a partir da mesma intenção com que as imagens são criadas, usá-las como partituras visuais. Partituras no sentido aberto do termo, claro. Foi também pelo meu crescente interesse no conjunto de relações que se accionam no mundo a pretexto das obras de Arte que comecei a levar mais a sério o trabalho de mentoria e terapia artística que faço com pessoas e os seus processos criativos. O trabalho aos sábados na Anozero com as pessoas e as memórias sonoras foi nesse sentido, e a presente preparação de plataformas online dedicadas a dar a conhecer o meu trabalho de mentoria e terapias artísticas também vai nesse sentido.
SP: Reparo que quando executas algumas das tuas performances musicais, sejam estas com ou sem imagens, ocultas o teu rosto. Porque o fazes?
DVM: Fiz a performance de Inauguração da Bienal de Coimbra com um chapéu e o rosto coberto com um pano de flores, e uma saia por cima das calças. O rosto assim oculto é figura que aparece muito naqueles foliões de antanho, em que se tinha de improvisar os disfarces todos porque não havia dinheiro para mais, e é uma figura que aparece muitas vezes em imagens minhas porque mantém simultaneamente presentes a vitalidade, o segredo indizível e o improviso constante. Foi algo pontual, querer ser assim como uma figura das minhas próprias pinturas, não sei se vai acontecer muito mais vezes.
SP: Creio que também já criaste alguns instrumentos musicais, que são simultaneamente “imagens” / trabalhos visuais. Porque não, simplesmente adquirir o instrumento para as criações “musicais”? Gostava de entender este teu processo criativo, da execução do objeto musical, produção de um objeto simultaneamente imagem e potencialmente experimentação?
DVM: Na performance que fiz na capela do Museu de Arte Sacra em 2019 uso o tal tambor pintado que referi antes. Pelo ângulo em que o Dragoeiro está representado com a tinta da seiva da própria árvore, parece uma enorme boca. Com esse tambor na minha mão a acompanhar, cantei um poema do Herberto Helder. Devido à natureza do poema, e à própria origem do Herberto e dessa árvore ser a ilha da Madeira, essa imagem adequou-se. É difícil explicar, mas acho fascinante a cena de uma tela ser também um local de percussão e som. Porque não só tens a tradição Ocidental da pintura em tela esticada sobre um aro de madeira, como também a tradição muito mais antiga dos tambores de mão, eles próprios também de uma superfície esticada sobre um aro de madeira. Tentei fabricar eu os meus próprios tambores-tela ovais, com linho esticado sobre aros de peneiras modificados, mas não funcionou porque a tela fica sempre um bocado romba, por isso optei por pintar um tambor de mão já feito. Mais uma vez, não sei se vai acontecer algo assim de novo, foi uma resposta a uma situação concreta. Mas de facto tenho tendência para inventar materialidades diferentes, quando o que há não responde ao que quero.
SP: Fala-me um pouco do que está a acontecer no vídeo em que estás: “junto à peça costa da Madeira à noite, pintada sobre peça de beiral de telhado caído de casa do Funchal.” Citação da legenda no teu site.
DVM: É o que eu já referi antes, eu estou a usar a pintura como partitura (no sentido aberto do termo) para um canto improvisado. Não é só usar como partitura a imagem de um rochedo no mar à noite, é o ser feita sobre madeira, é aquela madeira ter caído de um beiral. Tudo o que há na minha relação com aquele objeto é "a partitura". E não é preparado, acontece ali. Embora toda a nossa vida seja uma preparação, às vezes até bastante formal, para o que se "improvisa" num momento.
SP: Referiste, “não gostar de criar palavras para a gaveta”, será então também nesta lógica que criaste o livro de poemas / textos / imagens "Chão de orações", embora este seja predominantemente um livro visual. De que se trata esta publicação?
DVM: Eu aproveitei que o MUDAS queria fazer um pequeno catálogo (a pretexto de uma individual lá) para fazer um livro meu. Andava há anos a escrever aqueles textos (formalmente pode-se chamar-lhes prosa poética), que são como gestos de conexão à intimidade de certas realidades, daí eu chamar-lhes "orações". Dada a natureza dos desenhos que tinha nessa individual, a única pessoa que me ocorreu que eu queria que escrevesse no catálogo era o Tolentino Mendonça. Como eu não o conheço pessoalmente, lá tentei contactá-lo mas os dois minutos que tive com ele pessoalmente (à saída de uma conferência que ele deu) não foram suficientes para o convencer, resolvi colocar lá os meus próprios textos. Os textos de crítica de Arte em geral interessam-me muito pouco, pelo que achei que me sentia melhor criando um objeto que valesse por si independentemente da exposição, um livro em que 15 imagens fizessem companhia a 15 textos dessas "orações". E gosto do objeto que daí resultou.
SP: Por fim, destacas ainda como “forma primordial” de ação criativa, o teu trabalho com pessoas. Como surge esta faceta, chamemos-lhe, de intervenção, na tua carreira predominantemente de criação artística?
DVM: Eu venho de uma família de professores. Não escolhi essa profissão "oficialmente", mas gosto muito de trabalhar com pessoas. Durante muitos anos, dei alguns cursos em escolas de Arte privadas em Lisboa, depois estive algum tempo no Serviço Educativo da Gulbenkian. Mais recentemente, dei aulas privadas, mas apercebi-me de que o modelo clássico de "aulas" (com "programa" e "objetivos" e "técnicas") não me interessava. Comecei então a desenvolver a ideia de Mentoria Criativa, algo que assim que possível tenciono colocar em prática quer no meu ateliê em Lisboa, quer num espaço no campo. A Mentoria Criativa trata de envolver a discussão técnico/estético sempre em função da pessoa como um todo, daquilo que a move na vida, e adaptando-me totalmente a cada pessoa com quem trabalho. No fundo, trata-se de criar pretextos para as pessoas se autorizarem a fazer e ser o que já queriam fazer e ser antes de chegarem até mim. Partimos das Artes Visuais mas em total ligação com a escrita, o som, o movimento, qualquer forma de criação. A Mentoria Criativa é o acompanhamento de pessoas (iniciantes ou já com experiência) para quem criar é algo primordial nas suas vidas.
SP: Esta prática “forma de criação" com pessoas, tem para ti, enquanto artista visual, alguma tradução plástica (obras)?
DVM: Já quando participei no Prémio EDP (2006), boa parte da série de desenhos que apresentei eram feitos com intervenções de outros autores, através de processos co-autorais que incluíam um misto de regras e liberdade. Quando deixei de trabalhar com instituições educativas, há vários anos, e em geral me comecei a interessar por aproximar as imagens da vida quotidiana das pessoas, comecei a desenvolver vários projetos em que as imagens (sobre papel) eram geradas a partir de uma conversa com gente que eu não conhecia. Os seus sonhos (focar o invisível, 2014), as suas relações (flor de nós, 2015), aquilo que queriam curar na sua vida (tesouros à procura de mapas, 2012-13), aquilo que queriam agradecer na sua vida (obrigado, 2013). Desenvolvi alguns projetos (imagens para abrir espaço, 2017) em que o destino físico das imagens (rasgar, enterrar, colocar algures, etc.) estava associado a algum tipo de gesto simbólico significativo para o participante. A partir de 2018, comecei a fazer baralhos de cartas baseados na história de vida das pessoas. Durante uma entrevista longa em que pergunto tudo aquilo que tenho curiosidade de saber, registo em cerca de dez cartas desenhadas um conjunto de impressões minhas sobre aspectos (ditos ou intuídos, luminosos ou escuros) da vida da pessoa. No final, falamos sobre as várias camadas de significados em cada uma das cartas, e fazemos uma leitura de cartas com aquele baralho: uma pergunta sobre qualquer tema, seguida de uma tiragem de três cartas cuja sequência visual inspira uma possibilidade de resposta.
Desde 2020, comecei a cantar as minhas pinturas, em performances como as que já mencionei antes (o meu Youtube já tem registo de três destas Pinturas Cantadas, também presentes no meu site www.danielvm.com). O que neste momento estou a desenvolver são performances de Pinturas Cantadas em que a base são entrevistas e convívio com pessoas dos locais onde vou performar. Ou seja, quer as imagens das pinturas, quer os suportes (mobília ou roupa das pessoas, ou objetos encontrados lá nas ruas, ou comprados num antiquário local), quer as palavras que são cantadas e gravadas, ou os estados corporais que evoco na performance, emanam de conversas com pessoas que encontro nos locais. Conversamos sobre as suas histórias, as coisas boas e os problemas da vida. É possível também que algumas pessoas entrem nas performances, ou que use registos áudio do meu encontro com elas. Fechei agora duas parcerias para desenvolver entre este ano e o próximo as Pinturas Cantadas em em duas estruturas, uma em Vouzela, outra em Montemor-o-Novo.. De certo modo, estas Pinturas Cantadas reúnem todas as diferentes vertentes do meu trabalho ao longo de 15 anos.
SP: Antes de terminarmos gostava que partilhasses que projectos tens em curso, dos que estão para breve, ou simplesmente ideias que gostasses que um dia se traduzissem num “objecto plástico", independentemente da matéria ou usando a tua terminologia “forma de criação".
DVM: Neste momento estou a ver se re-aprendo a ter prazer em pintar, pintar ao ar livre, com modelos à minha frente e mais espontaneamente. Foram muitos anos com metodologias muito tensas, o corpo e a alma pagaram um preço que não quero mais pagar. Mas é um processo, reaprender o prazer de pintar.
Em termos do que quero concretizar a curto prazo, é essa direção das Pinturas Cantadas que já referi, que reúne os âmbitos visuais, performativos e de trabalho direto com as pessoas como fonte para a criação. Para mim não faz sentido nenhum que me vejam ou me chamem para projetos só como pintor, isso simplesmente já não é verdade.
Daqui a alguns anos, gostava de ter domínio da linguagem musical o suficiente para que do que escrevo nasça um álbum. Com calma. E gostava de ter um espaço no campo onde as pessoas pudessem usar a sua criatividade (seja ela qual for) como motor de redescoberta pessoal e como complemento terapêutico. Gostava de viver nesse sítio e viver desse trabalho com as pessoas e, por outro lado, viver também da venda das minhas criações. Gostava de descobrir uma maneira de tornar isso financeiramente viável, com as parcerias certas e bem sérias.
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Sérgio Parreira
Vive e trabalha entre Nova Iorque e Lisboa. É licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, e mais recentemente completou o Mestrado em Nova Iorque em Estudos de Mercado da Arte. Tem colaborado enquanto curador independente com diversos artistas nos EUA. No decorrer dos últimos 15 anos em Portugal fez a curadoria e assistência de produção de inúmeras exposições de artes visuais (Isaac Julian, Miguel Palma, William Kentridge, Gary Hill, Mariko Mori, Rui Horta Pereira, Antoni Muntadas, Sharon Lockart, Rigo 23, Marcelli Antunez, Vasco Araújo, Pedro Valdez Cardoso, Ana Perez Quiroga, entre muitos outros), e produziu diversos projetos de diferentes espetros artísticos, da dança ao teatro, performance e musica (ZDB, RE.AL, Temps D’Images, Duplacena, FUSO, Vagar, Horta Seca Associação, etc.).