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ENTREVISTA


Irina Popova na livraria 1359.


Exposição "Another Family", na Pickpocket Gallery, Lisboa.


Apresentação do livro "Another Family" na 5ÂȘ Feira do Livro de Fotografia de Lisboa.


Irina Popova na performance-workshop na livraria 1359.


Irina Popova nas ediçÔes Pickpocket.


Livro "Another Family"


Livro "Another Family"


Livro "Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"


"Another Family"

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IRINA POPOVA


Irina Popova esteve na 5ª Feira do Livro de Fotografia de Lisboa para falar dos seus projectos e conduzir um workshop. Dias mais tarde fez uma performance onde estendeu ao público a oportunidade de com ela editar um livro de fotografia. Em conversa com a Artecapital, a autora de “Another Family” confessou estar cansada que continuem a questioná-la sobretudo sobre esse projecto quando há tanto por perguntar. Talvez por isso, tenha sido ela a iniciar o rumo desta conversa, começando por focar a performance que aconteceu esta semana na livraria 1359.


Por Natália Vilarinho e Liz Vahia


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IP: Tenho um novo projecto, estamos a escolher agora as fotografias, é uma produção em conjunto com o editor deste espaço (mostra o computador).


AC: Como é que surgiu esta ideia?

IP: Alguns dias atrás apercebi-me que estou sempre a tentar derrubar barreiras e que procuro estar aberta a tudo o que possa aparecer, como textos e imagens. Este projecto é muito sobre o processo de criação e a ideia é utilizar as coisas inacabadas: escolhemos as palavras, os textos e as imagens que produzi desde que estou em Lisboa e juntamo-las, fazendo de cada um dos 20 exemplares deste projecto únicos. Vou receber as pessoas, vou falar com elas durante meia hora e o resultado será um livro, onde colocarei alguns textos escritos à mão.


AC: Vai ser como uma “assemblage”?

IP: Sim, a ideia é fazer com que cada um dos exemplares seja único.


AC: Como está a ser estar em Lisboa?

IP: Para mim é um período muito produtivo, porque tudo o que está a acontecer é muito inspirador. Tenho trabalho, tenho uma exposição, tive uma apresentação na Feira do Livro e agora vou dar um workshop de três dias. Estou muito expectante porque sei que cada uma das pessoas que se inscreveu é única.


AC: Vais mostrar como é que um fotógrafo se pode aproximar eficazmente das pessoas?

IP: A ideia era deixar simplesmente que as pessoas fossem para a rua, derrubar todas as barreiras, interagir, encontrar histórias e segui-las, viver aventuras e receber algo inesperado. A ideia andava sobretudo à volta da interacção com a cidade e com o seu ambiente. Mas no Sábado fiz uma apresentação na feira do livro e uma pessoa que assistia colocou-me uma questão: partindo da ideia de que o meu trabalho é muito sobre a privacidade, perguntou-me se eu deixaria alguém fotografar a minha vida, assim como eu fotografo a vida dos outros. E eu respondi que sim, que não teria qualquer problema com isso. Mas depois alguém, e não aquele que tinha colocado a questão, escreveu-me uma carta dizendo: “disseste que deixarias alguém fotografar a tua vida, então eu quero fotografar a tua estada em Lisboa”. O que é que eu poderia responder? Mordi a minha língua, porque de algum modo é também uma forma de dar aos outros um pouco de mim. Respondi que sim, mas quando publiquei isto no facebook, a pessoa que realmente tinha feito a pergunta em público disse: “Mas fui eu que fiz essa pergunta, também quero fotografar-te!”. E o que é que eu podia fazer? Disse que sim, então estão a fazer os seus trabalhos à vez…


AC: Como uma competição de fotografias…

IP: Não, não, eles têm diferentes personalidades e formas de abordagem opostas. Não lhes presto atenção, não lhes estou a dar nada, apenas os deixo entrar, sou completamente eu mesma. É interessante, porque estamos a explorar a fronteira entre a presença pública e privada, acerca da consciência de uma pessoa ser fotografada. Como fotógrafa entendo a fotografia e entendo a forma como sou vista e fotografada. Para mim é uma experiência muito importante. Estão a acontecer tantas coisas… Ao mesmo tempo estou a fazer este livro, que exige muito de mim porque interajo com a cidade. Isto é uma cadeia de interacções: algumas pessoas fotografam-me, eu fotografo a cidade, eu escrevo os textos, é tudo muito muito interessante.


AC: E essas fotografias que eles estão a tirar, vão ser mostradas ao público?

IP: Elas farão parte do workshop, de certeza, mas não sei o que é que eles vão fazer com elas. Isto também é uma parte de uma experiência. Sou muito influenciada pela Marina Abramovic, e como fotógrafa interesso-me muito pelo tema da privacidade, por isso estou a fazer isto como a Marina Abramovic fez uma das suas primeiras performances, em que se colocava à disposição das pessoas para fazerem o que quisessem com ela (Rhythm 0, de 1974). Eu estou a deixar que estes fotógrafos façam comigo o que quiserem. Eliminei todas as barreiras, é só o seu próprio sentido de censura que limitará o que vão fazer, como irão fotografar-me, em que situações e também o que irão fazer com as fotografias, é tudo com eles.


AC: Um pouco como o trabalho de Sophie Calle, quando contrata um detective privado para a fotografar (Detective, 1980)…

IP: Sim, também me interesso muito pelo trabalho da Sophie Calle. Não sei qual vai ser o resultado, deixo tudo em aberto para eles decidirem. Não actuo, sou eu mesma. Tudo o que acontecer vai adicionar algo à minha personalidade. Lisboa é uma cidade muito intensa e estou a viver uma vida aqui.


AC: Podes construir uma nova Irina Popova.

IP: Sim, posso construir uma nova identidade, penso que isso é também uma parte do processo, mudar e tornarmo-nos pessoas melhores.


AC: As coisas mudaram muito desde que fizeste o “Another Family”…

IP: Bem, as fotografias, a parte principal do livro, foram tiradas em 2008, por isso foi há muito tempo atrás. Este projecto ainda está a decorrer, ainda está a ser mostrado em muitos sítios e as pessoas ainda reagem. Recebo mensagens pela internet todas as semanas, de diferentes pessoas, a perguntar o que é que aconteceu à família. Para ser franca eu cansei-me e isso foi a motivação para fazer o livro, porque me cansei das mesmas perguntas de sempre, e a história é tão… há tantos detalhes que têm que ser contados para se saber toda a história… Eu tive de fazer o livro para juntar todos os materiais, como uma forma de resposta a todas as perguntas e o que é que aconteceu? Foram feitos 500 exemplares, ainda está disponível para compra, há muita coisa escrita que está disponível online, mas as pessoas continuam a fazer-me perguntas sobre o projecto. Não sei o que hei-de fazer com isto.


AC: São sobretudo pessoas da Rússia que te escrevem?

IP: Não, são de todo o mundo. Eu não consigo perceber porque é que as pessoas estão tão maravilhadas com este projecto, porque é que pensam que é tão forte, porque aquela história pode acontecer todos os dias e acontece, não é uma história única, não acontece nada de único ali, é só a vida das pessoas. Talvez o que chame mais a atenção é a proximidade, o modo como me consegui aproximar tanto deles, mas mesmo nesse ponto não penso que tenha feito algo único, apenas dei um passo na direcção daquelas pessoas e as coisas começaram a acontecer em frente à minha câmara. Não é único. É só uma história.


AC: Mas tudo o que aconteceu depois, com a reacção online contra a família, é um assunto forte, o facto das pessoas exigirem uma suposta “normalidade” nos outros. O teu projecto como um todo, as fotografias e a tua reacção afirmando “eu recuso-me a julgá-los”, é forte…

IP: Sim, isso também fez parte do livro, como uma resposta, incluí os comentários que surgiram na internet. É também uma parte da história, sobretudo acerca do modo como a nossa sociedade funciona e reage. Eu fotografo as coisas muito de perto e parece que as pessoas ficam muito perturbadas com a proximidade, tentam recusá-la e constroem barreiras à sua volta.


AC: É a tua forma de abordagem que questiona o público, porque não dizes que a criança está traumatizada, dizes que a vida é assim. A atitude expectável seria dizer que aquilo é terrível, mas a tua opinião não é essa e as pessoas não se sentem confortáveis com isso.

IP: Penso que há uma questão mais profunda, acerca do modo como a nossa realidade funciona. Temos uma sociedade que não é perfeita e há pessoas que são atiradas para a marginalidade. A minha abordagem é esta: aquilo é só uma história sobre uma família. Falar do problema na nossa sociedade exige uma análise mais profunda, não é só pegar no telefone e enviar a miúda para um orfanato.


AC: As pessoas ficam confusas com a situação material daquela família e confundem as coisas, há famílias de classe média provavelmente com os mesmos problemas.

IP: Sim, mas mesmo assim não entendo tudo isto à volta da situação daquela família porque todos os dias vês ciganos ou pessoas sem-abrigo no metro, por vezes com crianças, a pedir dinheiro. Há uma série de coisas terríveis a acontecer por todo o mundo e as pessoas não dão conta, olham para elas como uma parte da vida tal como ela é, mas quando de repente vêm fotografias… isto é também a forma como a fotografia funciona, ela transforma as coisas, faz com que o invisível seja visível. É engraçado: a realidade é invisível, mas quando um fotógrafo pega nela, torna-a subitamente visível. E também pode ser de outro modo: a realidade é visível e a fotografia é como um olho que abre as coisas para a realidade para que as possas ver.


AC: Quando começaste a fotografar este projecto, estavas a fazer um trabalho sobre sentimentos.

IP: Sim, foi o ponto de partida, um trabalho que fez parte de um workshop online que foi muito importante para mim. Tinha apenas 21 anos e ainda estava a começar. Estava em São Petersburgo, não tinha a certeza do que ia fotografar, tentei várias vezes aproximar-me de pessoas para as fotografar, o que não resultou. De repente encontrei estas pessoas na rua e comecei a segui-las. O trabalho foi apenas um desafio, apenas algo que me fez sair para fazer alguma coisa, porque normalmente és muito passiva, não dás um passo para fora da tua zona de conforto para sair e fazer algo. Isto é interessante porque de facto sair da zona de conforto faz-te começar a ver coisas novas e muitas possibilidades.


AC: Então esses sentimentos eram os teus próprios sentimentos?

IP: Os meus sentimentos? Não. Estava à procura de sentimentos extremamente fortes. Estava à procura de algo apaixonante, expressionista, algo realmente muito forte. Não me importei com o que seria, amor ou ódio? Estava simplesmente à procura de uma expressão muito forte de sentimentos. E realmente o amor e o ódio vêm juntos.


AC: Qual será a responsabilidade moral do fotógrafo que fotografa temas que não são ficção?

IP: Eu penso que não causar dano é o mais importante. Na realidade o mais interessante é que eu tentei seguir a minha responsabilidade moral e foi precisamente nesse aspecto que as pessoas começaram a culpar-me de ser imoral, porque decidi não apresentar queixa à polícia. Mas o meu ponto de partida foi tentar ser neutra, tentar não ser destrutiva, tentar não julgar e tentar conservar a realidade. Por exemplo, um explorador vai para a natureza, onde há plantas e borboletas muito vulneráveis, mas ele vai tentar não pisar as plantas nem matar as borboletas. Vai apenas observar o modo como crescem e como funcionam mas não está lá para as matar. Este é o meu ponto: mantém o teu caminho, olha onde pisas, tenta não magoar nem pisar a vida de ninguém.


AC: Foi toda a reacção acerca do “Another Family” que fez com que dissesses adeus à Rússia?

IP: Dizer adeus à Rússia é uma decisão com muitos factores. Claro que é uma decisão e uma afirmação política e as reacções ao “Another Family” foram um ponto importante. Fiquei deprimida e desapontada, quis deixar de ser fotógrafa e durante algum tempo deixei de fotografar… Mas viver na Rússia é mais complicado que isso. Viver na Rússia fazia-me sentir que as coisas não estavam a ir no bom caminho e é oficial: não é mais o meu país, e embora esteja ainda ligada a ele, guardo o meu lado russo apenas para mim própria.


AC: Porque é que escolheste a Holanda?

IP: Foi uma coincidência, foi um país que abriu as suas portas. Fiz muitas exposições na Holanda e uma residência artística durante dois anos, o que me deu uma série de possibilidades. É um país no qual te sentes segura e respeitada como artista. Podes fazer as tuas afirmações, podes criar o teu trabalho, porque terás sempre a tua liberdade e serás tratada com compreensão e respeito, o que foi o mais importante. Houve um lado pessoal também, claro. Fui muito feliz na Holanda, vivi lá cinco anos, mas agora que terminei o meu projecto sobre o ghetto de imigrantes penso que foi o último trabalho e que vou procurar outro sítio para viver. A minha vida na Holanda chegou ao fim.


AC: Podes dizer-nos algo sobre esse projecto sobre os imigrantes?

IP: É um projecto recente, um livro sobre um ghetto, uma zona fora do centro de Amsterdão, a que chamei “Atlas of People and Birds”. Senti-me atraída por aquele lugar desde o início. Quando fui para a Holanda soube imediatamente que seria aquele o lugar interessante onde estar, o lugar onde estão a acontecer coisas. É interessante porque Amsterdão, embora culturalmente muito avançada, com projectos de topo na área da publicação, design gráfico, eventos, etc, ao mesmo tempo não é uma cidade onde se viva, não tem qualidade de vida, é um local turístico, um local artificial. Por isso para mim o mais interessante, a única zona de Amsterdão onde poderia viver era aquele fim da linha de metro, aquele sítio obscuro onde todos os imigrantes africanos e do Suriname viviam. A vida ali fervia, tinhas o sentimento de estar viva, e isso para mim foi o mais importante, mas também um pouco assustador. Sair da zona de conforto também é parte do meu trabalho. Demorei cinco anos desde que comecei até terminar o projecto, porque tive muitas fases no meu trabalho. Na primeira fase passei lá uma semana, fui roubada, fiquei sem a minha câmara, e embora tivesse apanhado o tipo que me roubou, fiquei com medo, deprimida com tudo aquilo e fiquei algum tempo sem voltar lá. Depois produzi um filme para a televisão russa sobre a situação dos imigrantes na Holanda, mas isso também não me satisfez porque foi um trabalho com um propósito político, e não gostei disso. Voltei a terceira vez, pedi uma residência artística e consegui. Esperei um ano para conseguir ir viver para lá, mas quando fui pude finalmente fazer parte do sítio, o que me ajudou muito a conseguir fazer este trabalho, porque fiz amigos com toda a gente, ia aos mesmos bares, aos mesmos cafés e tornei-me um local, como eles.


AC: Disseste, sobre este projecto, que quiseste afastar-te do ponto de vista jornalístico.

IP: Precisei de uma nova abordagem. Foi um passo muito importante no meu trabalho, porque já não estava satisfeita com a abordagem jornalística como um todo, porque é muito limitada e limita-te. Não te apercebes quando estás sempre a fazê-lo, mas quando dás um passo para fora disso, consegues ver o quão limitada é a linguagem visual e os clichés que criaste durante os teus anos de fotojornalismo. O mundo actualmente não dá possibilidades suficientes para que o fotojornalismo se desenvolva, porque os media têm contratos para respeitar, etc, etc… e quando produzi o filme, vivi este problema de ser parte de um grande plano de propaganda e não gostei nada disso. Decidi dar um passo ao lado e brincar com os significados: quando digo que criei um atlas de pessoas e pássaros, na realidade estou a falar dos problemas daquele sítio, mas faço de conta que estou a falar dos pássaros. É uma metáfora.


AC: Pensas que quando se faz fotojornalismo há um distanciamento das pessoas?

IP: Quando fazes um trabalho de fotojornalismo tens muitos preconceitos na tua linguagem visual, o que te faz repetir os clichés que já foram utilizados anteriormente. Por exemplo, és sempre influenciado pelo Sebastião Salgado e pelo seu trabalho com a fome nas crianças em África, estará sempre na tua cabeça. Tens que por vezes sair desta estética e fazer algo novo.


AC: Fazer “Another Family” influenciou a forma como as pessoas se aproximam do teu trabalho?

IP: Tenho um grande problema acerca do facto de poder vir a ser considerada como uma cantora de uma música só. Tenho um desejo muito forte de encerrar esta história. Tenho o meu livro e parei de falar acerca disto porque já disse tudo o que tinha dizer. Não tenho mais palavras sobre isso, não consigo dizer nada de novo. E sei que é a minha decisão consciente não continuar a seguir esta história, porque tenho mais trabalhos e tento desafiar-me a criar algo tão forte e tão influente como este trabalho. Mas será sempre algo completamente diferente.


AC: Podes explicar a metáfora para os pássaros no teu “Atlas”?

IP: É suposto que os pássaros sejam criaturas totalmente livres, que voam para todo o lado, que não têm fronteiras nem precisam de passaportes para entrar nos países. Escolhem livremente o sítio onde estar. Na primeira vez que fui lá reparei que há imensos pássaros, em todo o lado, pássaros que não vês em muitos sítios. Nunca me interessei particularmente por biologia ou pelo reino animal, sempre achei muito aborrecido. Interesso-me pelo mundo humano e pelas pessoas, por isso foi um desafio interessante começar a falar dos pássaros quando a mensagem é acerca das pessoas e dos seus problemas. No fim aparecem duas gaivotas enormes que nunca viram o mar e que se alimentam dos caixotes de lixo. É horrível. Desconstruo a imagem romântica dos pássaros. É um “Atlas” porque criei, como um explorador, um mapa do local, dos sítios onde encontrei pessoas, situações particulares e pássaros.


AC: Com a ajuda do teu filho.

IP: Sim, há desenhos feitos pelo meu filho com a minha ajuda, porque caminhávamos juntos por aquele sítio para o explorar. Tentei fazer com que ele entendesse o que estava a fazer, que gostasse do processo e que também tivesse um pouco de si nele. Isso foi também uma parte importante, estar com ele e produzir um trabalho que ao mesmo tempo fosse entendido também por ele.


AC: Sobre o “Incomplete Princess Book”, tiveste reacções de alguém cuja fotografia tivesses utilizado?

IP: Não, mas também porque até agora só fiz a exposição em Amsterdão, num museu, o que coloca as coisas num nível completamente diferente. Ainda não publiquei o trabalho online e não sei que respostas vou ter. Também ainda não publiquei o livro, estou a preparar muitos projectos ao mesmo tempo, vou ver o que acontece quando o publicar. No entanto estou preparada legalmente porque sei que vão surgir reacções acerca do facto de usar fotografias de outras pessoas e estou preparada para responder a isso. Sei que esta questão vai ser levantada imediatamente e sei que estou outra vez a caminhar para um território de conflito, que este trabalho vai ser em parte atacado e não aceite. Isso faz-me querer ainda mais produzi-lo, porque vai levantar a questão acerca do modo de funcionamento da internet e da forma como se utilizam as fotografias, como toda a sociedade de informação funciona. Isto faz-me querer ainda mais avançar neste projecto.


AC: Queres dizer algo acerca da “Pick”, publicação editada pela Pickpocket Gallery?

IP: Foi muito divertido, porque é uma pequena publicação fácil de fazer, um processo de colaboração com a galeria, com o editor e as pessoas com quem decidimos juntar estas imagens. Foi uma experiência interessante tentar encaixar na linha editorial das outras “Pick”. Vi as anteriores, são muito explícitas, muito abertas e muitas delas com um contexto erótico. São muito desafiadoras e honestas e isso também fez com que quisesse desafiar-me a mim e ao meu trabalho, pensar no que é que poderia fazer que fosse forte, curto e claro o suficiente para encaixar na linha das anteriores “Pick” e não perder o cunho do meu trabalho. Foi muito interessante, gosto muito do resultado, foi uma boa surpresa.


AC - Transformas sempre os teus projectos em livros de fotografia?

IP: Os livros de fotografia são a forma de representação máxima de um projecto. Na sociedade actual tens a maior parte da informação online, o que é perigoso porque o online é algo efémero, não tem uma existência física, é muito fácil perderes o teu trabalho de uma forma literal, o que acontece se perderes os teus ficheiros. O livro é algo sólido que permanece. As exposições também são importantes porque são um evento onde algo acontece numa determinada altura, mas ao mesmo tempo não permanece, por isso para mim são menos importantes que um livro. Agora tenho a minha própria editora, o que me faz ser a pessoa com poder para verificar e escolher o que quero fazer.


AC: Tencionas publicar outros fotógrafos russos?

IP: Sim, nós estamos a apresentar muitos trabalhos de outras pessoas, há alguns fotógrafos emergentes que vão ser publicados pela primeira vez e há também alguns trabalhos que nunca foram vistos antes. A Rússia está a tornar-se outra vez um país muito fechado e um dos nossos objectivos é continuar a comunicar e a apresentar obras de artistas russos.


AC: Podes indicar-nos alguns nomes de fotógrafos russos que admires?

IP: Há um colectivo chamado Triva, três fotógrafos dos anos 70 e 80 que criaram um trabalho muito importante na União Soviética e que nunca foi mostrado ou publicado. A primeira vez que foram apresentados no estrangeiro foi num festival em Amsterdão que organizámos, o “Openborder Festival”. Há também outros nomes como Valeriy Schekoldin, Sergey Maximishin, Denis Tarasov, Sergey Poteryaev & Fyodor Telkov, Ksenia Yurkova.


AC: O que pensas da cena artística contemporânea russa, especialmente em Moscovo com o Garage e o novo NCCA – National Centre for Contemporary Art, por exemplo?

IP: Penso que Moscovo tem tendência para se tornar num dos mais importantes e emergentes centros culturais, mas com a actual situação política, penso que será impossível criar algo grande e ambicioso. Prevejo que a cena cultural mais importante irá tornar-se clandestina, existindo como existia na União Soviética, em pequenos grupos com artistas que vão produzir obras muito importantes, mas ser exibido na Rússia torna-se cada vez mais difícil por causa da censura, etc, etc… É mesmo difícil, não são apenas queixas, há algumas exposições que estão a ser canceladas pela censura, como o “Icons” do Marat Guelman, uma meditação sobre a iconografia. A comunidade religiosa disse que não autorizava a exposição porque era ofensiva para a religião oficial. Está a tornar-se um pouco como o Irão, política e religiosamente. E o Irão também tem uma cena cultural “underground” muito forte.


AC: Tomaste contacto com os trabalhos de alguns fotógrafos portugueses desde que estás em Lisboa?

IP: Sim, adoro o trabalho do Nuno Awouters, um dos autores de uma “Pick”, e recentemente vi o livro “Condor”, do João Pina, que é um trabalho muito forte.


AC: Queres deixar alguma mensagem?

IP: Sim, sinto que em Lisboa há pessoas culturalmente muito avançadas com projectos próprios, que fazem coisas muito boas e inovadoras, mas sem qualquer apoio. Podem existir e sobreviver apenas porque é muito barato viver em Portugal. Mas se eu comparar com a minha experiência na Holanda, onde a cultura recebe um enorme apoio do governo, penso que poderia haver aqui muito mais arte se houvesse apoios. Penso que é incrível que as pessoas continuem a fazer o que fazem e que continuem a acreditar na sua missão. Se não foram descobertos ainda, daqui a alguns anos vão ser descobertos de certeza, se continuarem… Estou muito admirada com as coisas que os meus amigos fazem por cá, como esta pequena livraria do Teo e a galeria do Rui Poças, a Pickpocket Gallery, que tem um significado cultural muito importante. É importante continuares a exercer a tua liberdade e continuares a fazer coisas inesperadas, isso expande a sociedade humana e faz com que ela avance. É uma missão muito importante.

 

 

 

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Irina Popova was present at the 5th Photography Book Fair of Lisbon to talk about her projects and conduct a workshop. Days later she make a performance where the public had the opportunity to edit along with her a photo book. In her conversation with Artecapital, the author of “Another Family” confessed she’s tired of answering the same questions about this project when there’s so much more to talk about. Maybe because of that, it was Irina who started this interview, talking about the performance that took place at 1359 book store.

 

By Natália Vilarinho and Liz Vahia


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IP: This is a new project, we are selecting the photos now and we are producing it together with the publisher of this space [shows her computer].

AC: How did this idea started?

IP: The idea came to me a few days ago when I realized that I try to put away all the barriers and I just let myself open to everything that comes to me, like texts and images. This project is very much about the process of creation and the idea is to use the unfinished things: we pick randomly the words, the texts and the images that I made here in Lisbon, and we put them together, which will make each one of the 20 copies unique. We’ll let the people come, I’ll have a half an hour dialogue with each of the visitors, which will result in the making of a book where I will put some new texts by hand writing.


AC: So it will be like a “assemblage”?

IP: Yes, the idea is to make every copy unique, as a result.


AC: Are you enjoying your stay in Lisbon?

IP: It’s a very productive period for me, because everything that’s happening here around me is very inspiring somehow. I have a work, I have a exhibition, I gave a presentation at the book market and now I’m giving a three days workshop, which I’m really looking forward to, because I already know that each one of the person who subscribed is very unique.


AC: Will you try to show how can a photographer get close to the people in the street?

IP: The idea behind it was to let the people go, put out all the barriers and just go, interact and look for the stories and follow them, get their adventures, get something unexpected - the whole idea was about the interaction with the city and the environment. What happened next was that I gave a presentation on Saturday at the book market and there someone asked me a question. As my work is a lot about privacy, someone asked if I would let someone photograph my life, as I photograph the life of other people. And I said “yes, of course, why not? I would be completely OK to let someone photograph my life” and what happened next was that one person (not the one who asked the question) wrote me a big letter the same evening saying: “you told at the presentation that you are totally ok with being photographed and you don’t have this perception of privacy so I would like to photograph you during your stay in Lisbon” and what could I say? I bite my tongue, because it’s also a kind of giving something back for the things you’ve got. So I said “OK, I can do it!”. But then what happened when I put this on facebook, was that the one who actually asked the question appeared and said: “Come on, that was me who asked the question! I want to photograph you!”. So what could I say? I told this guy, “OK so you can photograph me as well!”, so they do it in terms…

 


AC: So it’s a competition of photographs about you…

IP: No, it’s not like a competition, they have very different personalities, with very different approaches. I don’t pay attention to them, I don’t give them my energy, I just let them in, I’m completely myself. It’s interesting, because here we explore the border between the public and the private appearance, about consciousness of a person being photographed. As a photographer of course I understand about photography and about the way I’m photographed and I’m seen. For me it’s a very important experiment. So many things are happening… At the same time I’m making this book myself, which also takes a lot of energy because I interact with the city. This is a whole chain of different interactions: some people photograph me, I photograph the city, I write the texts, it’s very very interesting.


AC: Are they going to show these photographs?

IP: They will be a part of the workshop for sure, but I don’t know what they’re going to do with them. This is also a part of a experiment. I’m very inspired by Marina Abramovic, as a photographer I’m very much into the subject of privacy, so I do this as Marina Abramovic did one of her first performances, when she let other people do whatever they decided to do with her (Rhythm 0, 1974). So I let these photographers do whatever they decide to do with me. I took off all the barriers, it’s only their own inner censorship that will limit what they’re going to do, how they’re going to photograph, which situations and also what they’re going to do with the pictures, it’s up to them.


AC: It’s like Sophie Calle work when she hires a private detective to photograph her (Detective, 1980)…

IP: Yes, I’m also very inspired by her work. I don’t know that the result will be, I leave it all open to them. I don’t act, I’m very much myself. This will also add something to my personality. I can say that Lisbon is very intense and I’m living a whole life here.


AC: You can take advantage and construct a new Irina Popova.

IP: Yes, I can construct a new identity, I think this is a part of the process, changing ourselves and becoming a better person.


AC: Things have changed a lot since you made the “Another Family” project…

IP: Well, the photos, the main part of the book, were shot in 2008, so it’s quite a lot time ago. This project is still rolling around, still being shown in many places and people still react. You wouldn’t believe but I still get messages on the Internet every week, from different people, asking what happened to the family. To be honest I got very tired of it and that was my motivation to make the book, because I got so tired of answering the same questions, and the story is so… it has many details which have to be told to know the full story… I had to make this book to put all the materials together, just as an answer to the questions, and what happened? I published the book, there are 500 copies, it is available, there are lot of publications online, but people still keep on asking me questions about this. I don’t know what to do with this.


AC: It’s people from Russia that contact you mostly?

IP: No, from all over the world. I think I cannot fully understand why people are so amazed with the project, why they think it’s so strong, because that story could have happened any day, and it happens. Such kind of stories is not unique, there is nothing unique going on, it’s just the life of the people. Maybe what amazes people most it’s the closeness, how could I get so close to it, but I also don’t feel like I did something unique, I just made a step towards that people and then the things started happening in front of my camera. It’s not unique, it’s just a story.


AC: But the things that happened later with all the online reaction against the family, that is a strong issue, of people demanding “normality” in others. The whole project, the photographs and your reaction stating “I refuse to judge them”, it’s strong…

IP: Yes, this became a part of the book as well, as an answer, I included the comments from the internet. That’s also part of the story, about how our society functions and reacts. I photograph the things very close and it seems that people get very disturbed by the closeness, by being so close to this people. So they try to refuse it and built even more barriers.


AC: It’s your kind of approach that questions the audience because you’re not saying “I know this is a traumatized girl”, and you say it’s the “normal” life. Your “normal” attitude would be “no, this is terrible”, and your approach is not like that, so people are not comfortable with this.

IP: I think there is a deeper question about our reality functions. We have a society that’s not perfect and there are some people who are dumped to the marginality. This is my approach: that is just a story about just one family. To speak about the whole problem in our society needs a deeper analysis, it’s not just calling and sending her to a carrier.


AC: People just get confused with the material situation of this family and mix it all. There are middle-class families probably with the same problems.

IP: Yes, but I still don’t understand the whole fuzz about the situation in the family because every day you see gipsy or homeless people next to the metro, and they have children with them sometimes, and they beg for money. There are a lot of terrible things going on around the world, but people don’t notice them, they just look at them as a part of how the normal things are. And suddenly when they see the photos… this is also the way the medium of photography functions, it transforms it into a different level, it makes the invisible things visible. This is funny: the reality is invisible, but when a photographer puts it in a project it suddenly becomes visible. And it might be the whole way around: the reality is visible and the photography is like an eye which opens the things to the reality for you to see them.


AC: When you started photographing this project, you were trying to make a work about “feelings”.

IP: Yes, it was the starting point. I got an assignment, I was on a online photography workshop, which was very important for me. And I was just a starting photographer, I was just 21 years old. I was at St. Petersburg and I wasn’t sure what I was going to photograph, I tried several times to approach people to photograph them, which didn’t work out somehow. And then I just met these people on the street and I start following them. My assignment was just a trigger, just a thing that made me go and do something, because normally you are very passive, you don’t make a step out of your comfort zone to go and make something. This is interesting because actually making a step out of your comfort zone makes you start seeing things, you see a lot of possibilities.


AC: So you can say that these feelings were your feelings in the end?

IP: My feelings? No. I was looking for some extremely strong feelings. I was looking for some kind of passionate, expressionist, something really very strong. I didn’t care what it would be: love? hate? I was just looking for a very strong expression of feelings. Actually love and hate they go together.


AC: What do you think it’s the moral responsibility of the photographer when you photograph non-fiction subjects?

IP: I think that not to harm it’s the most important thing. Actually the interesting thing was that I just tried to follow my moral responsibility and that was the point where people started blaming me for being immoral because I decided not to complain to the police. But my starting point was to try to be neutral, to be not destructive, to be not judging and to try to save the reality. As an example, when an explorer goes into the nature, there are plants and butterflies which are very vulnerable, but as an explorer he will try not to step on this flowers and not to kill them. He will try to look how they grow and how they function but he is not there to kill these flowers. This is my point, just keep your track, watch wherever you step, just try not to harm or step occasionally on someone else’s life.


AC: Was all the reaction about “Another Family” that made you say goodbye to Russia?

IP: Saying goodbye to Russia is a decision with many sides. Of course it’s political, it is a political statement and the reactions to “Another Family” were one point. I was very depressed and disappointed, I wanted to stop being a photographer and for some period of time I didn’t photograph… But living in Russia is more complicate than that. Living in Russia made me feel that things were not going good. It’s not my country anymore, although I’m still attached to it, I keep my Russian side to myself.


AC: Why did you choose Holland?

IP: It was a coincidence, it was a country which opened it’s doors. I’ve had several exhibitions there, I’ve had an artist residency there for two years, which gave me a lot of possibilities. It’s a country in which you just feel safe and respected as an artist. You can make your statements, you can create your work and you will get your freedom and you will be treated with understanding and respect, that was the most important thing. There was a personal side as well, of course. I was very happy in Holland, I spent there 5 years, but now I’ve finished my project about the immigrant ghetto and I think it’s the last thing and I will find some other place to live. I’m finished with Holland.


AC: Can you tell us more of this project about the immigrants?

IP: I made a recent project, a book about a ghetto, an outside district of Amsterdam, and I called it “Atlas of People and Birds”. I was attracted to this place from the very beginning. When I came to Holland I immediately knew that this was the interesting place for me to be, the place where something is going on. It’s interesting, because Amsterdam, although very culturally advanced, with top things in publishing, graphic design, events, etc… at the same time it’s not a living city, it doesn’t have this quality of life now and here, it’s a touristic place, an artificial place. So for me the most interesting part, the only living place in Amsterdam, was this dead end of the metro line, this obscure place where all the immigrants live, the Africans, Suriname people… Where the life is just like boiling, where you get this feeling of being alive as well, and also a bit scary place. Stepping out of the comfort zone is a part of my work as well. It actually took me five years from the beginning, from the first time I got there, until I finished the project, because I had several steps of working on it. My first step was when I spent there one week, then I got robbed, my camera was stolen, and I caught the guy who did it, but I got very scared and depressed about this and I didn’t go back there for a long time. Then I produced a film for the Russian television about the immigrants situation in Holland, but it also didn’t satisfy me because it was an assignment and was politically engaged, which I didn’t like. So I went a third time, I asked for a artist residency there, and I got it. I had to wait one year, and when I got the residency, finally I could live there and be a part of it, that helped me a lot to produce the work, because I made friends with everybody, I went to the same bars, cafes and I became a local character as well.


AC: You said, about this work, that you wanted to run away from a journalistic point of view.

IP: I needed to make a new approach. This was a very important step in my work, because I wasn\\\\\\\'t satisfied with a photojournalistic approach as a whole, because it’s very limited, it limits you. You don’t realize it when you do it all the time, but when you make a step out of it you see how limited the visual language is and how much clichés you’ve created during the years of photojournalism. The contemporary world doesn’t give enough possibilities for photojournalism to develop, because the medias are engaged, etc, etc… And when I produced the film, I experienced this problem of being a part of the big political propaganda game, which I didn’t like. So I decided to make a step out and play with the meanings: when I say I create a “Atlas of People and Birds”, I actually speak about the problems of this place, but I pretend that I’m speaking about the birds. I use it as a metaphor.


AC: When you make a photojournalistic work you’re distant to the people?

IP: When you make a photojournalistic work you have a lot of prejudices in the visual language, which makes you repeat the clichés which were done before. You are always influenced by the works of Salgado and his work about the hungry children in Africa, it will always stay in your mind. You have to sometimes make a step out of this aesthetics and do something else.


AC: You think making “Another Family” influenced the way people approach your work?

IP: I have a big problem with being considered as a singer of one song. I have a very strong wish to really close this story. I have my book and I’ve stopped speaking about this story because I’ve said everything I could say about it. I have no more words about it, I cannot say anything new. And I know it’s my conscious decision not to continue following this story, because I have other works and I try to challenge myself to create something as strong and influential as this work. But then it will be something completely different.


AC: Can you explain the metaphor for the birds in your “Atlas”?

IP: The birds are creatures which are supposed to be totally free, they fly everywhere, they have no borders and don’t need passports to get into the countries. They choose freely the place to be. When I first came to this place I saw that there are so many birds there, birds which sometimes you will never see in any other place. I’ve have never been particularly interested in biology or in the animal world, I always found it boring. I am only interested in the human world and human beings, so it was a interesting challenge, because I started speaking about birds but actually my message was about the people and their problems. In the end you see these two big seagulls there which never saw the sea and they feed from the junk boxes and it looks horrible at the same time. I deconstruct the romantic image of the birds. It’s an “Atlas” because I’ve created a map of the place and where I met the people or particular situations and where I found the birds.


AC: With the help of your son.

IP: Yes, there are drawings made by me together with my son because we were exploring the place together. I’ve tried to make him really understand what I was doing, enjoy the process and make his input. So that was one part, to be with him and to produce a work at the same time which would be understood by him as well.


AC: About the “Incomplete Princess Book”, did you get any reaction from someone whose picture you’ve used?

IP: No, but I had only an exhibition in Amsterdam, in a Museum, which brings it to a completely different level. I didn’t published this work online yet and I don\\\\\\\'t know what the responses will be. I haven’t published the book yet, I’m preparing several projects at the same time, but I will see what happens when I publish it. I’m prepared legally because I know that will be some reactions about the using of the photos of other people and I’m prepared to answer that question. I know that this question will be raised immediately and I know that I’m stepping again into a conflict territory, I know that this work will be partially attacked and not accepted. That makes me want even more to produce this work because this will raise the question about how the internet functions and how’s the use of the pictures, how the whole information society functions. That makes me want to make it even more.


AC: Would you like to say something about the small “Pick” zine?

IP: It was big fun, because it’s a small zine which is easy to make, a collaboration with the gallery, with the publisher, and with these people with whom we decided that we would bring these pictures together. It was an interesting experience to try to fit into the line of the other “Pick”. I saw the previous “Pick”, they are quite explicit, they’re quite open minded and most of them have a very erotical sexual context. They are quite challenging and honest and that made me also to want to challenge myself and my work: “what can I do strong enough, short and clear enough to fit into this line and not to lose myself at the same time”. It was very interesting and I like the result, it was a nice surprise.


AC: Do you always transform your projects in photo books?

IP: Photo books are the main representation of a project. In the contemporary society you have the most of the information online, which is very dangerous because “online” it’s something ephemeral, it doesn\\\\\\\'t have any physical existence, so it’s very easy to lose your work in a literal way, like lose your files. A book is something solid that will remain. The form of a exhibition is also important because is an event where something happens in a real space, but at the same time it doesn’t remain, so for me it’s less important than a photo book. Now I am the owner of my own publishing, which makes me the person in power, the one who can check, select, and choose myself what to do.


AC: Are you pretending to publish another Russian photographers?

IP: Yes, we are presenting many works of other people, there are some emergent photographers who are going to be published for the first time, and there are also some works which were never shown before. This makes it also very interesting because now Russia is becoming again a more closed country and one of our ways and steps to publish is to keep this communication and to present the works from Russians.


AC: Can you give us some names from Russia photographers with works you admire?

IP: There is a collective called Triva, three photographers from 70’s and 80’s that created a extremely important work in the soviet union, that was never shown or published. The first time they were presented abroad was at a festival in Amsterdam which we organized, the “Open Borders Festival”. There are also another names like Valeriy Schekoldin, Sergey Maximishin, Denis Tarasov, Sergey Poteryaev & Fyodor Telkov and Ksenia Yurkova.


AC: What do you think about the contemporary art, specially in Moscow with the Garage and the new NCCA - National Centre for the Contemporary Arts?

IP: I think Moscow has an inclination to become one of the most important new emerged cultural centres, but with this political situation now, I think it will be narrowly impossible to run something big and ambitious. I can predict that the most important cultural scene will be deep underground again, and will exist like it used to exist in the soviet union, in small groups with really important artists who will produce some really important works, but being shown in Russia becomes more and more difficult because of the censorship and etc and etc… It becomes really harsh and it’s not just talks or complains, because there are some exhibitions which are being cancelled because of the censorship like the “Icons” of Marat Guelman, a meditation on iconography. The religious community just said “we don’t allow this exhibition because it’s kind of offensive to the official religion”. It’s becoming a bit like Iran, politically and religiously. And Iran has also a very cultural underground scene.


AC: Did you get to know the work of some Portuguese photographers while in Lisbon?

IP: I totally love and enjoy the work of Nuno Awouters, he’s one of the authors of Pick as well, and I saw a recent book of João Pina called “Condor”, which is a very strong work.


AC: Do you want to add something to the interview?

IP: I sense that in Lisbon there is a lot of very culturally advanced people who run the things on their own, they make extremely beautiful and extremely advanced things, but they don’t get any support. They can exist and they can survive only just because it’s very cheap to live in Portugal. But comparing to my experience in the Netherlands, where culture gets a enormous support of the government, I think there could have been much much more of arts if it got some support. I think it’s great that people continue doing what they’re doing and believing in their mission. If they were not discovered already by now, a few years will pass and they will be surely discovered, if they just keep going… I’m very much admired by the things that my friends do here, like this small bookshop which is run by Téo and the gallery of Rui Poças, the Pickpocket Gallery, which has a very important cultural meaning. It’s important to continue to exercise your freedom, and to do unexpected things, that expands and advances the human society. It’s a very important mission.