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ENTREVISTA


Rui Horta Pereira.


Vista geral da exposição Mapa Luga, uma lacuna, de Rui Horta Pereira. Cortesia do artista.


Vista geral da exposição Mapa Luga, uma lacuna, de Rui Horta Pereira. Cortesia do artista.


Sem título (2019), Rui Horta Pereira. Lápis de cor e acrílico sobre papel em estrutura de cartão, 30x100x90cm (cada). Cortesia do artista.


Vista geral da exposição Mapa Luga, uma lacuna, de Rui Horta Pereira. Cortesia do artista.


Vista geral da exposição Mapa Luga, uma lacuna, de Rui Horta Pereira. Cortesia do artista.


Vista geral da exposição Mapa Luga, uma lacuna, de Rui Horta Pereira. Cortesia do artista.


Sem título (2019), Rui Horta Pereira. Guache sobre papel dobrado e vincado 29x21x2cm. Cortesia do artista.


Sem título (2018), Rui Horta Pereira. Guache e aguarela sobre papel recortado em lamela acrílica, 31,5x21cm. Cortesia do artista.

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RUI HORTA PEREIRA


 

 

Rui Horta Pereira é formado em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Apesar de afirmar que os formatos variam com o projecto a que se propõe, Rui Horta Pereira reconhece que é o desenho a prática mais constante e regular no seu percurso artístico. Este desenho é entendido não só como uma proposta formal, mas também como um caminho para as outras disciplinas sobre as quais se debruça o seu trabalho. Partindo da sua exposição “Mapa Luga, uma lacuna”, patente até 20 de Abril no Centro Cultural de Cascais, Sérgio Parreira conversou com o artista sobre o processo de concepção e produção que o levou às obras que se mostram agora, passando também pelos projectos paralelos e ritmos de trabalho. 

 

Entrevista por Sérgio Parreira
14 de Março 2019

 

 

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SERGIO PARREIRA (SP): Se tivesses de caracterizar a tua prática artística, num denominador plástico, ou eventualmente naquele mais prevalente, qual seria?

RUI HORTA PEREIRA (RHP): A prática é diversificada, no entanto é mais ou menos notório que o desenho se assume como constante e regular. A aceção do desenho é ampla, mas creio que o fundamental nem sequer é esse aspeto, a minha preocupação de dominar e usar uma determinada técnica está relacionada com o projeto que me proponho, com o "desafio" ao qual quero dar resposta; se isto implicar aventurar-me por caminhos que não controlo, tanto melhor! Transforma-se numa aprendizagem. Sei que mesmo que o resultado não seja o esperado que essa experiência aumenta a minha capacidade de resposta e o meu léxico visual e plástico. Isto acontece ou pode acontecer com detalhes aparentemente insignificantes. Concluo que aprendo muito ao fazer, penso mais ao executar, e isto é uma constante; os formatos, variam. 


SP: Pessoalmente, consigo identificar, exatamente o que acabas de descrever em todo o teu percurso artístico. É singular essa tua capacidade de iniciar recorrentemente novos “caminhos”. Queres enunciar o percurso que percorreste para executar os trabalhos que estão neste momento patentes na tua exposição individual na Fundação Dom Luís I no Centro Cultural de Cascais?

RHP: Criei um guião partindo de ideias sobre o espaço da criação ou, dito de outro modo, a que lugares chegamos quando executamos objetos, desenhos, imagens. Como é habitual fui colocando uma série de questões. Um caminho que enceta uma opção escultórica que experimenta um determinado desenho; fui compondo um elenco de possibilidades tentando não recorrer a uma repetição de processos. A intenção era a de questionar a tendência para criar séries e colocar em confronto peças com uma ligação menos evidente entre si, através de um fosso, uma lacuna na ligação entre estas. Revisitei alguns textos como o de Marc Augé ou Jonathan Crary que fui relendo e explorando. Muitas opções podem ser uma armadilha, mas ainda assim prefiro sempre o acidente e o inesperado. Dou quase sempre prevalência a esses fatores e esta exposição não é exceção, muito embora apresente duas séries de desenhos perfeitamente reconhecíveis como tal.


SP: Podes descrever-me um pouco o processo plástico / visual e que objetos concluíste e apresentas nesta exposição?

RHP: O processo na realidade é de continuidade, existem duas séries de desenhos mais ou menos contemporâneos e que procuram extravasar de alguma forma a sua limitação bidimensional. Essa tentativa concretiza-se nas dobras e nos recortes, de forma intensa, e na repetida utilização da cor. Esses desenhos foram angariando outras peças que por uma razão ou por outra não tinham encontrado a sua "narrativa" ou uma narrativa na qual pudessem participar; foram convocadas a dialogar. Refiro-me a uma escultura em gesso, a uma escultura em madeira forrada a pano ou a uma escultura/desenho colocada no chão. Todo o processo se foi desenvolvendo agregando sentidos, que formalmente podem ser ou não próximos. A ideia é garantir que existe uma flutuação na ligação entre os elementos presentes, preservando alguma independência entre os desenhos ou as esculturas: uma autonomia.


SP: Recordo-me de algumas series de trabalhos teu recentes em que utilizaste e exploraste bastante o desenho a grafite, preto/branco, e nuances intermédias. Qual é a posição ou importância da cor nos trabalhos nesta exposição?

RHP: Não encaro a cor como um elemento à parte ou separado, como tal, acho que acabo por fazer uma utilização um pouco displicente não lhe dando nem mais nem menos importância do que a outros elementos, é mais um, que amplia o elenco das possibilidades. Nos últimos anos tem sido muito presente daí que tenho dedicado alguma atenção a esse "fenómeno". Talvez o meu foco seja mais a luz, muito embora isto seja muito geral e vago…


SP: Há alguma coisa em particular nesta exposição em Cascais, e mesmo apesar de ser o resultado de um processo longo, que após a instalação te tenha surpreendido e que gostasses de destacar; seja esta em termos meramente visuais / espaciais, ou plasticamente de interação entre as diferentes obras que apresentas?

RHP: Por exemplo o facto dos elementos que despoletaram uma peça terem sido encontrados na rua, a sua manipulação inicial ter tido um resultado frustrante, a previsão e execução técnica ter sofrido muitas variantes e múltiplos ensaios, ter encontrado mesmo no final da execução, uma matéria muito mais adequada à que era a minha ideia inicial. Por último, corresponder a um efeito visual fruto de "aparentemente" um conjunto de casualidades.


SP: Para além da tua atividade como artista visual – digamos que a tempo inteiro – sei que colaboras com a Fundação Calouste Gulbenkian nos ateliers. Esta colaboração pedagógica contamina de alguma forma a tua produção plástica enquanto artista?

RHP: Fiz durante alguns anos trabalho pedagógico, depois fiz uma pausa e agora voltei a fazer novamente e não apenas na FCG. Centra-se em visitas-jogo, ateliers e oficinas diversas enquanto mediador. Encaro-o como um trabalho de partilha, e nesse sentido acho que contamina o resto e permite manter ativo um questionamento sobre o que fazer, como fazer... que reflexões, que resultados, ou que conclusões ... sinto que essas variantes pedagógicas me ajudam a estar alerta e desperto. São certamente fundamentais.


SP: Onde desenvolves habitualmente os teus projetos? Tens um atelier, um espaço que consideras especial e onde dedicas tempo à criação?

RHP: Posso dizer que vou desenvolvendo os projetos um pouco por todo o lado sejam em pequenos apontamentos escritos ou desenhados. A parte da execução está concentrada no atelier e é muito raro não passar por la nalgum momento do dia. Posso não estar muitas horas, mas tento ir sempre. Nos últimos dois anos intensifiquei as minhas caminhadas, e concluí que é uma forma muito produtiva e criativa. Há uma relação, muito importante, pelo menos para mim, entre caminhar e refletir, fico mais alerta, mais desperto, é um hábito banal e especial ao mesmo tempo. No atelier caminho de outra forma…


SP: Em termos de vendas, o comércio da arte pode ser extremamente adverso, e particularmente em mercados mais pequenos como é o caso do português - embora se esteja a verificar um exponencial crescimento nos últimos dois anos – como tem sido para ti ao longo da tua carreira esta realidade: Criação e Produção Vs. Vendas?

RHP: O meu ritmo de criação nunca teve grandes variantes, fui sempre produzindo, o mesmo não posso dizer da parte comercial que demorou muito tempo para acontecer e continua a ser instável. Em certa medida não creio que possa ser de outra forma, depende dos teus objetivos e como queres organizar a tua carreira, o teu processo, das oportunidades que se apresentam para exposições, se trabalhas com uma galeria ou não… um conjunto de fatores que muitas vezes não dependem direitamente do trabalho muito embora este seja o principal. É no trabalho que me tento focar, para tal vou fazendo algumas coisas paralelas para o deixar intacto incólume e livre... como se isso fosse possível…


SP: Tens alguns novos projetos ou exposições previstas até ao final deste ano que gostasses de partilhar?

RHP: Tenho duas participações em projetos com curadoria da Fátima Lambert, múltiplas atividades pedagógicas em curso, um filme de animação para continuar, e mais umas coisas programadas que a seu tempo divulgarei.

 

 

 

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RUI HORTA PEREIRA - Mapa Luga, uma lacuna
22 de fevereiro a 20 de abril
Centro Cultural de Cascais